Capítulo 04

Estou em choque com esse livro. A cada página e capítulo que eu terminava, a trama me deixava mais curiosa e muito envolvida. Eu passei a noite em claro, pois precisava de respostas urgentemente. Só me dei conta de que não tinha dormido, quando Betina entrou em meu quarto para avisar que o café estava para ser servido. Ela achou esquisito eu já estar acordada e sentada na cama, mas não disse mais nada e saiu de fininho.  

No geral, eu não gostava de participar das refeições em conjunto com a minha família. É sempre indigesto. Mas hoje estava de bom humor, acho que encontrei um hobby novo que me faz ir a lugares sem sair de casa. 

Nota mental: agradecer ao Daniel por me apresentar à leitura. 

Por isso, quando me aproximei de meus pais na sala de jantar onde fazemos todas as refeições, carregava um sorriso idiota no rosto, como não tinha há muito tempo.

— Está atrasada, Safira! — meu pai disse, antes mesmo que eu os cumprimentasse. — Sente-se logo. 

— Bom dia para o senhor, também! — respondi sem encará-lo. 

— Bom dia, minha filha! — minha mãe respondeu, sorria estranhamente para mim, nunca a vi sorrir dessa maneira tão empolgada. — Tome seu café para que possamos conversar. Temos uma novidade para você. 

— Podem falar agora. Não me importo de ouvir enquanto como.  

— Fale logo, Liliane, a menina precisa saber logo. 

Minha mãe levantou-se do seu lugar ao lado do meu pai e veio para o meu lado. Segurou minha mão que estava livre e então encarei-a. Havia uma expectativa pairando sobre nós duas. Eu não sabia se deveria ficar feliz com aquela mudança repentina ou sentir medo. Minha mãe suspirou forte, apertou minha mão e começou a falar: 

— Seu pai e eu tomamos uma decisão muito importante para você. — É, devo ficar com medo, sem dúvidas.  

— Que tipo de decisão? — Soltei minha mão que ela apertava entre as dela e voltei a beber meu café preto.  

— Nós sabemos o quanto você deseja participar do Baile do Amor. — Meus olhos se arregalaram e balancei a cabeça em concordância, mastigando um pedaço de torrada. — E por isso decidimos que agora você poderá ir ao Baile com a gente!  

Minha primeira reação foi não reagir. Parecia ser uma brincadeira, mas minha mãe me encarava com um sorriso enorme no rosto que me confirmava o que eu havia escutado.  

— É sério? De verdade mesmo? — Minha mãe sacudia a cabeça em confirmação, e sem pensar muito a abracei. Não saberia dizer se o que eu sentia era alívio por poder finalmente viver de um jeito normal, se seria esperança por dias que seriam melhores a partir dali, ou se era a surpresa do abraço de minha mãe ser algo bom.  

Meu pai observava nossa interação do outro lado da mesa, onde estava. Com um pigarro, nos interrompeu com um semblante totalmente contrariado.  

— Sua mãe não explicou as coisas corretamente, Safira — ele falou, e olhei em sua direção. 

— Pedro, nós já conversamos. — Minha mãe se levantou e voltou para seu lugar inicial. Meu pai apenas a ignorou. 

— Você irá ao Baile, Safira. Mas irá acompanhada de uma pessoa selecionada por mim. 

— O quê? — Pisquei algumas vezes, tentando entender o que estava acontecendo. — Alguém pode explicar o que está acontecendo? 

— Eu já escolhi seu par, Safira. — Meu pai cruzou os braços e revirou os olhos. — Por favor, você tem cabeça, use-a para pensar um pouco. Não paguei professores caríssimos para você ser uma grande tapada. 

— Pedro, por favor. — Meu pai suspirou fundo e então se colocou de pé. Eu não sabia o que fazer, muito menos o que dizer, por isso me mantive sentada. 

— Recentemente, conheci o governador do estado de São Paulo. Obviamente, nos demos muito bem e ele demonstrou interesse em unir nossas famílias. Como sua mãe foi incapaz de me conceder um filho homem, tenho que usar outros métodos para conseguir o que eu quero. 

— O que você quer dizer com isso? — perguntei, sentindo meu coração acelerar.

— Simples, usarei você para que eu consiga um patrocínio maior para a minha campanha da candidatura no ano que vem. Te apresentarei a sociedade no Baile do Amor. Só espero que essa coisa horrorosa que você carrega na cara, não atrapalhe meus planos.

— Espera, então só vou poder ir se for com quem o senhor escolheu? — Encarei os olhos azuis do meu pai, que se assemelhavam aos meus, e respirei fundo.  

— Muito bem, colocou a cabeça para funcionar — zombou.  

— Pedro, para que falar isso a ela? A coitada já sofre com outras coisas, tadinha, não precisava falar isso. 

— Coitada? Eu? — Olhei para minha mãe. A pena, o dó, estampados em suas feições falsamente pacificadoras. — Não sou uma coitada...  

— De qualquer forma — ele me interrompeu —, não vai conseguir um par sem que eu a ajude. Então, por favor, não crie caso e faça exatamente o que ordenei.  

— Você não pode me obrigar a sair com ninguém. Pode esquecer! E para sua informação, eu já tenho um par! — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava e consegui engolir de volta o nó que havia se formado em minha garganta. 

Meu pai começou a rir e o som de sua risada era algo estranho para mim. Abria uma nova ferida onde ainda não havia cicatrizado a anterior. 

— Sua falsa confiança é quase convincente. Mas não se preocupe, o jantar para você conhecer o filho do meu amigo governador será daqui alguns dias. Seja grata por eu ainda te dar a oportunidade de conhecer alguém, Safira. Pois não existe homem no mundo que não sinta repulsa olhando sua cara.  

— Pedro! — minha mãe o repreendeu. 

Meu pai voltou a se sentar à mesa, e eu saí correndo. As lágrimas a ponto de descer, e meus passos se tornando mais pesados a cada momento que eu me aproximava da porta do meu quarto. 

— Safir! Safir! — Betina se aproximou de mim em passos largos e apressados. — Safir, espera, por favor! 

— Quero ficar sozinha, Tina — falei, segurando a maçaneta da porta. — Por favor. 

— Tudo bem! Quando quiser me ver, me chama.  

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