Estou em choque com esse livro. A cada página e capítulo que eu terminava, a trama me deixava mais curiosa e muito envolvida. Eu passei a noite em claro, pois precisava de respostas urgentemente. Só me dei conta de que não tinha dormido, quando Betina entrou em meu quarto para avisar que o café estava para ser servido. Ela achou esquisito eu já estar acordada e sentada na cama, mas não disse mais nada e saiu de fininho.
No geral, eu não gostava de participar das refeições em conjunto com a minha família. É sempre indigesto. Mas hoje estava de bom humor, acho que encontrei um hobby novo que me faz ir a lugares sem sair de casa.
Nota mental: agradecer ao Daniel por me apresentar à leitura.
Por isso, quando me aproximei de meus pais na sala de jantar onde fazemos todas as refeições, carregava um sorriso idiota no rosto, como não tinha há muito tempo.
— Está atrasada, Safira! — meu pai disse, antes mesmo que eu os cumprimentasse. — Sente-se logo.
— Bom dia para o senhor, também! — respondi sem encará-lo.
— Bom dia, minha filha! — minha mãe respondeu, sorria estranhamente para mim, nunca a vi sorrir dessa maneira tão empolgada. — Tome seu café para que possamos conversar. Temos uma novidade para você.
— Podem falar agora. Não me importo de ouvir enquanto como.
— Fale logo, Liliane, a menina precisa saber logo.
Minha mãe levantou-se do seu lugar ao lado do meu pai e veio para o meu lado. Segurou minha mão que estava livre e então encarei-a. Havia uma expectativa pairando sobre nós duas. Eu não sabia se deveria ficar feliz com aquela mudança repentina ou sentir medo. Minha mãe suspirou forte, apertou minha mão e começou a falar:
— Seu pai e eu tomamos uma decisão muito importante para você. — É, devo ficar com medo, sem dúvidas.
— Que tipo de decisão? — Soltei minha mão que ela apertava entre as dela e voltei a beber meu café preto.
— Nós sabemos o quanto você deseja participar do Baile do Amor. — Meus olhos se arregalaram e balancei a cabeça em concordância, mastigando um pedaço de torrada. — E por isso decidimos que agora você poderá ir ao Baile com a gente!
Minha primeira reação foi não reagir. Parecia ser uma brincadeira, mas minha mãe me encarava com um sorriso enorme no rosto que me confirmava o que eu havia escutado.
— É sério? De verdade mesmo? — Minha mãe sacudia a cabeça em confirmação, e sem pensar muito a abracei. Não saberia dizer se o que eu sentia era alívio por poder finalmente viver de um jeito normal, se seria esperança por dias que seriam melhores a partir dali, ou se era a surpresa do abraço de minha mãe ser algo bom.
Meu pai observava nossa interação do outro lado da mesa, onde estava. Com um pigarro, nos interrompeu com um semblante totalmente contrariado.
— Sua mãe não explicou as coisas corretamente, Safira — ele falou, e olhei em sua direção.
— Pedro, nós já conversamos. — Minha mãe se levantou e voltou para seu lugar inicial. Meu pai apenas a ignorou.
— Você irá ao Baile, Safira. Mas irá acompanhada de uma pessoa selecionada por mim.
— O quê? — Pisquei algumas vezes, tentando entender o que estava acontecendo. — Alguém pode explicar o que está acontecendo?
— Eu já escolhi seu par, Safira. — Meu pai cruzou os braços e revirou os olhos. — Por favor, você tem cabeça, use-a para pensar um pouco. Não paguei professores caríssimos para você ser uma grande tapada.
— Pedro, por favor. — Meu pai suspirou fundo e então se colocou de pé. Eu não sabia o que fazer, muito menos o que dizer, por isso me mantive sentada.
— Recentemente, conheci o governador do estado de São Paulo. Obviamente, nos demos muito bem e ele demonstrou interesse em unir nossas famílias. Como sua mãe foi incapaz de me conceder um filho homem, tenho que usar outros métodos para conseguir o que eu quero.
— O que você quer dizer com isso? — perguntei, sentindo meu coração acelerar.
— Simples, usarei você para que eu consiga um patrocínio maior para a minha campanha da candidatura no ano que vem. Te apresentarei a sociedade no Baile do Amor. Só espero que essa coisa horrorosa que você carrega na cara, não atrapalhe meus planos.
— Espera, então só vou poder ir se for com quem o senhor escolheu? — Encarei os olhos azuis do meu pai, que se assemelhavam aos meus, e respirei fundo.
— Muito bem, colocou a cabeça para funcionar — zombou.
— Pedro, para que falar isso a ela? A coitada já sofre com outras coisas, tadinha, não precisava falar isso.
— Coitada? Eu? — Olhei para minha mãe. A pena, o dó, estampados em suas feições falsamente pacificadoras. — Não sou uma coitada...
— De qualquer forma — ele me interrompeu —, não vai conseguir um par sem que eu a ajude. Então, por favor, não crie caso e faça exatamente o que ordenei.
— Você não pode me obrigar a sair com ninguém. Pode esquecer! E para sua informação, eu já tenho um par! — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava e consegui engolir de volta o nó que havia se formado em minha garganta.
Meu pai começou a rir e o som de sua risada era algo estranho para mim. Abria uma nova ferida onde ainda não havia cicatrizado a anterior.
— Sua falsa confiança é quase convincente. Mas não se preocupe, o jantar para você conhecer o filho do meu amigo governador será daqui alguns dias. Seja grata por eu ainda te dar a oportunidade de conhecer alguém, Safira. Pois não existe homem no mundo que não sinta repulsa olhando sua cara.
— Pedro! — minha mãe o repreendeu.
Meu pai voltou a se sentar à mesa, e eu saí correndo. As lágrimas a ponto de descer, e meus passos se tornando mais pesados a cada momento que eu me aproximava da porta do meu quarto.
— Safir! Safir! — Betina se aproximou de mim em passos largos e apressados. — Safir, espera, por favor!
— Quero ficar sozinha, Tina — falei, segurando a maçaneta da porta. — Por favor.
— Tudo bem! Quando quiser me ver, me chama.
entrei em meu quarto. Chorei deitada em minha cama, com os fones de ouvido berrando: No time To Die, da Billie Eilish, até pegar no sono. Não era sempre que isso acontecia, afinal, depois de anos, eu já havia me acostumado com os insultos tanto de meu pai como de minha mãe. Mas dessa vez tinha sido diferente, não por suas palavras, mas porque eu sentia algo em mim diferente. Havia uma esperança de as coisas serem diferentes, e ver que meu pai só pensa em mim para usar em seu próprio benefício, me doeu. Muito! Ainda dentro da banheira, estiquei os braços e alcancei uma toalha de rosto, enxuguei as mãos e a face, e peguei o celular que estava na bandeja ao lado. Era uma mensagem de Daniel. Abri um enorme sorriso assim que li seu nome no visor do aparelho. Cliquei e abri a mensagem: (Dani) “Esse negócio de te ver de longe é uma droga. Me deixa subir aí.” (Eu) “Não tem como. Estão marcando em cima.” (Dani) “Tenho um presente para você. Quero te ver. Estou aqui embaixo. Se você abrir a janela, eu subo.” (Eu) “Você tá doido!”, pensei, olhei pela janela do banheiro, voltei a encarar a tela do telefone e sorri antes de digitar a próxima mensagem. (Eu) “Já vou abrir. Estou saindo do banho.” Rapidamente, me levantei, me sequei e vesti o roupão. Meu quarto estava um pouco gelado, mas a adrenalina de tudo que estava por acontecer me deixava quente. Sequei o cabelo com uma toalha e o deixei solto com um ar despojado e meio úmido. Corri até a janela, mas não o vi em lugar algum. Peguei o celuCapítulo 06
Safira MedeirosBetina e eu montamos um cronograma do que precisávamos fazer para o plano do baile funcionar. Estava descendo as escadas para ir até a casa de meu amigo e vizinho, o dia de hoje está bem tranquilo, meus pais foram para cidade em um evento de política e eu pude ficar mais serena. A fofoca de ontem rendeu assunto para todos. Onde me viam, me paravam para perguntar como eu estava e por que me permitia passar por aquilo. Ainda não sabia responder essas perguntas que me faziam. Por isso, o fato de ter a casa de Dani para ir, era um grande alívio; um refúgio em meio ao caos. Tina vai me avisar quando estiver se aproximando a hora de eles chegarem, mas espero de coração que demorem o máximo que puderem. As árvores do nosso jardim estavam invadindo a casa do meu vizinho, as flores e folhas já caíam quase por completo e as calçadas ganhavam a cor alaranjada das folhas secas. O vento balançava meus cabelos soltos e meu vestido, que era de um pano leve da cor azul bebê e que re
Respirei fundo mais uma vez e saí do banheiro. Ele estava recostado no armário da cozinha, vendo algo no celular. Meus ouvidos captam o som da voz de Bruno Mars, e Daniel me viu enquanto me aproximava dele.— Agora, sim, sou todo seu! — Ele piscou e eu senti meu rosto queimar mais uma vez. Droga de livro!— Bom, então vamos acertar os detalhes do que precisaremos fazer.Nos sentamos um do lado do outro. Retirei meu caderninho da pequena bolsa que eu carregava e abri onde fiz algumas anotações para não esquecer os pontos importantes do evento.— Então, o baile começa às 20h no dia doze de junho. Será no jardim atrás da mansão.— Ainda tem a fonte no meio do jardim?&nb
— O que foi? — ele me perguntou ao notar que eu continuava estática. — Tá tudo bem, Sari?— Não sei. Acho que sim. Talvez eu só precise de uma pausa. Deixa-me ir ao banheiro de novo. — Antes que eu me virasse, suas mãos me encontraram, prendendo-me a ele.— Você está fugindo de mim. — Enfiei o rosto entre as minhas mãos. — Está com vergonha de mim?— Sim. — A minha voz abafada pelas mãos o fez rir. — Não ria, por favor.— Estou achando engraçado seu constrangimento.— Mas não é. — Levantei o olhar e o encarei séria. Meu coração dava pulos sob minha pele. — Achei que você fosse me beijar, Dani. Acabamos de nos reencontrar, e eu nunca fui beijada por ninguém. Toda essa intimidade me causa med
— Encontrei a roupa perfeita para você e o gostosão usarem! — Betina entrou em meu quarto com toda empolgação do mundo, me tirando do meio de uma leitura para lá de quente. — Me assustou! — Me sentei na cama e ajeitei o cabelo em um rabo de cavalo. — Como é a roupa? — Olha aqui, ele é azul serenity, em lamê e lurex brilhoso. — Tina sentou-se ao meu lado e me mostrou a foto do vestido no celular. Meus olhos brilharam, e quando vi que havia bolsos fiquei ainda mais encantada. — Amei as alcinhas, e o fato de ele brilhar de cima a baixo. Uau! Você acertou muito. — Agora só precisamos arrumar uma máscara preta para você e para o Daniel. — Pensei em confeccionar, caso eu não ache nada. Me manda o link da loja desse vestido. Quando eu estiver com o Daniel, vou perguntar se posso pôr o vestido para chegar lá. — Sim, fala com ele. Não podemos correr o risco de você perder essa roupa. Agora, termina de se ajeitar, pois o jantar para você conhecer o filho do governador vai ser daqui alg
Quando chegamos ao restaurante italiano, no centro da cidade, a hostess nos encaminhou para o segundo piso, área exclusiva e reservada, onde o senhor governador já nos esperava com sua família. Absorvi todos os olhares que me direcionaram, respirei fundo e estampei o sorriso mais falso do mundo. Fui direcionada a me sentar ao lado do filho deles e reparei nele mais do que deveria. Olhos escuros, barba aparada e bem-feita, sorriso bonito, cabelos escuros, sua pele era de cor ocre, muito parecida com a luz marrom-suave que encontramos em um campo no fim de tarde de um outono, vestindo um conjunto cinza de linho e camiseta branca. Ele é muito bonito, não posso negar, mas também não posso evitar me sentir acuada perto dele. Nos cumprimentamos e ele beijou meu rosto duas vezes. Nossos pais sorriam e conversavam entre si. Olhava meu celular de dois em dois segundos, com expectativas de receber mensagen
A noite passou lentamente. Pietro não falou mais nada e quase não olhava em minha direção, o que deixou meu pai preocupado a ponto de ele sugerir que eu fosse ao baile acompanhada do moreno ao meu lado. Sorri, nervosa e em completo tormento por dentro, mas, por sorte, Pietro disse que já tinha um compromisso inadiável e que marcaria um dia para ir até a nossa casa a fim de me conhecer melhor.Seria tudo perfeito se não fosse o fato do meu pai estar me olhando há muito tempo com ódio exalando, suas írises azuis queimavam como fogo, suas narinas dilatadas me causam um frio na espinha. Parei em frente à porta do meu quarto e esperei que ele falasse alguma coisa. Minha mãe parecia contê-lo com as mãos em volta do braço dele, as pontas dos dedos esbranquiçadas com a força que parecia fazer.— O que você acha que foi fazer naquele jantar? — meu pai