Quando chegamos ao restaurante italiano, no centro da cidade, a hostess nos encaminhou para o segundo piso, área exclusiva e reservada, onde o senhor governador já nos esperava com sua família. Absorvi todos os olhares que me direcionaram, respirei fundo e estampei o sorriso mais falso do mundo. Fui direcionada a me sentar ao lado do filho deles e reparei nele mais do que deveria. Olhos escuros, barba aparada e bem-feita, sorriso bonito, cabelos escuros, sua pele era de cor ocre, muito parecida com a luz marrom-suave que encontramos em um campo no fim de tarde de um outono, vestindo um conjunto cinza de linho e camiseta branca. Ele é muito bonito, não posso negar, mas também não posso evitar me sentir acuada perto dele. Nos cumprimentamos e ele beijou meu rosto duas vezes. Nossos pais sorriam e conversavam entre si. Olhava meu celular de dois em dois segundos, com expectativas de receber mensagen
A noite passou lentamente. Pietro não falou mais nada e quase não olhava em minha direção, o que deixou meu pai preocupado a ponto de ele sugerir que eu fosse ao baile acompanhada do moreno ao meu lado. Sorri, nervosa e em completo tormento por dentro, mas, por sorte, Pietro disse que já tinha um compromisso inadiável e que marcaria um dia para ir até a nossa casa a fim de me conhecer melhor.Seria tudo perfeito se não fosse o fato do meu pai estar me olhando há muito tempo com ódio exalando, suas írises azuis queimavam como fogo, suas narinas dilatadas me causam um frio na espinha. Parei em frente à porta do meu quarto e esperei que ele falasse alguma coisa. Minha mãe parecia contê-lo com as mãos em volta do braço dele, as pontas dos dedos esbranquiçadas com a força que parecia fazer.— O que você acha que foi fazer naquele jantar? — meu pai
Daniel segurava meu rosto com as duas mãos, por mais que meus olhos insistissem em ficar fechados, ele continuava a enxugar minhas lágrimas com seus polegares. Dani beijou meu rosto, um beijo de cada lado. Suas mãos desceram lentamente, mais uma vez afastando meus cabelos do meu rosto, acariciando meus braços, minha pele se arrepiando em resposta.— Não gosto de te ver assim, Sari. Minhas lembranças de você, sempre se remeteram ao seu sorriso acolhedor, a sua espontaneidade, a sua alegria contagiante. Não lembro de ter sequer um dia em que fiquei triste perto de você. Eu tive a melhor amiga que alguém poderia ter na infância.— Queria que você não tivesse ido embora — confessei.— Eu também. Sempre senti falta daqui. De você.Dani entrelaçou os dedos das noss
Quando o dia amanheceu, eu estava sozinha na cama. Havia um bilhete em cima do travesseiro em que Felipe dormiu.“Obrigado pela companhia, minha linda Sari!Tá cedo demais para pedir bis?”Beijei o bilhete como uma boba apaixonada e me levantei, ainda estava nua e corri para o banho de que fugi na noite anterior.Os ponteiros do relógio pareciam girar na velocidade 5 do creu. Fiz tantas coisas que nem vi o tempo passar. Tive aula de idiomas, balé e jazz, e mal vi minha amiga que também passou o dia atarefada. Quando nos sentamos para c
Olhei a minha volta e fiquei sem saber o que deveria fazer, mas precisava deixar os dois a sós. Peguei meu celular e enviei uma mensagem para Tina:“Amiga, peça a Pietro que te leve para casa.” Sorri assim que a mensagem foi dada como recebida. “A propósito, vocês dois formam um belo casal. Meu sexto sentido me diz que ele ainda é afim de você!” Enviei em seguida.Agora, do lado de fora, eu não tinha a menor ideia do que deveria fazer. Olhei para trás, vi o nome da pizzaria onde estávamos e coloquei no google. Nessas horas, ter passado uma vida inteira sem sair de casa sozinha me deixava em maus lençóis. Eu não s
Daniel AlbuquerqueTrês semanas antes do BaileEra bom poder voltar para Santa Cecília depois de dez anos sem pisar os pés sequer em São Paulo. Tenho muitas lembranças boas desse lugar e sempre quis saber como andavam as pessoas que ficaram por aqui. Safira é uma delas. Lembro da minha infância com carinho, principalmente por causa dela. Éramos crianças alegres e vivíamos aprontando pela mansão dos Medeiros. Algumas vezes, meus pais pediam para que ela fosse até nossa casa, e assim como em qualquer lugar, nós nos divertíamos com coisas simples. Ela era uma boa amiga. E por isso voltar aqui e saber como ela está hoje em dia, me deixa bem ansioso. Mas minha vinda para cá não é com esse propósito. A verdade é que preciso pôr minha antiga casa à venda. Minha mãe descobriu um câncer de mama há dois anos e meio, na época, meu pai ainda era vivo e nós dois cuidamos dela. Ela apresentou melhora e então descansamos. Seus cabelos voltaram a crescer, mas da noite para o dia, meu pai se senti
Safira Medeiros Queria saber exatamente o que dizer para começar isso aqui, mas a verdade é que não sei por onde devo começar a contar minha história. Certamente deveria ser pelo início, mas são anos de uma vida privada por um motivo idiota que, até hoje, não consigo entender por que me permiti viver daquela maneira. Mas, vamos lá. O início de alguma coisa nunca é fácil, e comigo não foi diferente. Minha família, ou melhor, a família Medeiros, sempre foi uma das mais bem-vistas e apreciadas aqui em Santa Cecília, interior de São Paulo. Sempre participamos das maiores celebrações da cidade, sendo os convidados do prefeito ou os anfitriões de festas celebradas em nossa residência. Para mim, tudo era divertido, tudo virava brincadeira, ainda mais para uma menina espoleta de oito anos. E foi assim, em uma brincadeira, que tudo mudou da água para o vinho. Eu brincava de bola com Daniel, meu vizinho e melhor amigo, na época. Ele já tinha uns doze anos, mas como só havia nós dois na viz
Safira Medeiros Aparentemente, segundo a Tina, sou uma pessoa de sorte e é o meu destino conhecer meu novo vizinho, mas sinto que meu estômago vai se dar por vencido a qualquer minuto. Nosso plano era bem simples: ir até a casa dele, sorrir, ser simpática e perguntar se ele gostaria de participar do Baile do Amor, organizado pela minha família, uma tradição na cidade, sendo o meu par. Caso ele diga que não, terei que implorar por sua ajuda e era exatamente isso que me preocupava. Não gostava de pedir favores e isso se dava a uma personalidade trabalhada no orgulho. Já era ruim ter que aguentar meus pais me olhando com pena, pedir ajuda é ter mais um olhar piedoso de alguém e acho que não suportaria. Olhei por cima dos ombros para minha fiel escudeira e toquei a campainha da casa ao lado da minha. Betina estava escondida e só iria interferir caso eu gritasse ou fizesse nosso sinal de perigo, que nada mais era que um cruzar de dedos atrás ou acima da cabeça.Respirei e inspirei três
Vi que uma sombra de culpa passou em seus olhos e isso mexeu com algo em meu peito. Era um sentimento novo e diferente, sem dúvidas despertado pela nossa velha amizade e toda a lembrança do que éramos quando crianças. Daniel segurou minha mão e depositou um beijo em seu dorso, afastando os lábios lentamente. — Bom, agora que você já sabe das minhas razões — falei, quebrando aquele silêncio que havia se instaurado — preciso saber se vai me ajudar. Pois, senão, tenho que pensar em outra solução. — Te ajudo, sim, mas com uma condição. — Dani! — Desferi um leve tapa em seu ombro, e ele riu. — Depois de tudo que te contei, ainda vai impor uma condição? — Claro! Não posso ficar sem ganhar nada! — Você vai ganhar uma amiga grata por todo apoio. — Hum... É pouco. Preciso de mais ganhos. — Seu tom brincalhão me fazia rir espontâneamente. — Você é um péssimo amigo! Diga logo o que quer, antes que eu me arrependa. — Bom, você me disse que tem o hábito de assistir comédias românticas, cer