Respirei fundo mais uma vez e saí do banheiro. Ele estava recostado no armário da cozinha, vendo algo no celular. Meus ouvidos captam o som da voz de Bruno Mars, e Daniel me viu enquanto me aproximava dele.
— Agora, sim, sou todo seu! — Ele piscou e eu senti meu rosto queimar mais uma vez. Droga de livro!
— Bom, então vamos acertar os detalhes do que precisaremos fazer.
Nos sentamos um do lado do outro. Retirei meu caderninho da pequena bolsa que eu carregava e abri onde fiz algumas anotações para não esquecer os pontos importantes do evento.
— Então, o baile começa às 20h no dia doze de junho. Será no jardim atrás da mansão.
— Ainda tem a fonte no meio do jardim?&nb
— O que foi? — ele me perguntou ao notar que eu continuava estática. — Tá tudo bem, Sari?— Não sei. Acho que sim. Talvez eu só precise de uma pausa. Deixa-me ir ao banheiro de novo. — Antes que eu me virasse, suas mãos me encontraram, prendendo-me a ele.— Você está fugindo de mim. — Enfiei o rosto entre as minhas mãos. — Está com vergonha de mim?— Sim. — A minha voz abafada pelas mãos o fez rir. — Não ria, por favor.— Estou achando engraçado seu constrangimento.— Mas não é. — Levantei o olhar e o encarei séria. Meu coração dava pulos sob minha pele. — Achei que você fosse me beijar, Dani. Acabamos de nos reencontrar, e eu nunca fui beijada por ninguém. Toda essa intimidade me causa med
— Encontrei a roupa perfeita para você e o gostosão usarem! — Betina entrou em meu quarto com toda empolgação do mundo, me tirando do meio de uma leitura para lá de quente. — Me assustou! — Me sentei na cama e ajeitei o cabelo em um rabo de cavalo. — Como é a roupa? — Olha aqui, ele é azul serenity, em lamê e lurex brilhoso. — Tina sentou-se ao meu lado e me mostrou a foto do vestido no celular. Meus olhos brilharam, e quando vi que havia bolsos fiquei ainda mais encantada. — Amei as alcinhas, e o fato de ele brilhar de cima a baixo. Uau! Você acertou muito. — Agora só precisamos arrumar uma máscara preta para você e para o Daniel. — Pensei em confeccionar, caso eu não ache nada. Me manda o link da loja desse vestido. Quando eu estiver com o Daniel, vou perguntar se posso pôr o vestido para chegar lá. — Sim, fala com ele. Não podemos correr o risco de você perder essa roupa. Agora, termina de se ajeitar, pois o jantar para você conhecer o filho do governador vai ser daqui alg
Quando chegamos ao restaurante italiano, no centro da cidade, a hostess nos encaminhou para o segundo piso, área exclusiva e reservada, onde o senhor governador já nos esperava com sua família. Absorvi todos os olhares que me direcionaram, respirei fundo e estampei o sorriso mais falso do mundo. Fui direcionada a me sentar ao lado do filho deles e reparei nele mais do que deveria. Olhos escuros, barba aparada e bem-feita, sorriso bonito, cabelos escuros, sua pele era de cor ocre, muito parecida com a luz marrom-suave que encontramos em um campo no fim de tarde de um outono, vestindo um conjunto cinza de linho e camiseta branca. Ele é muito bonito, não posso negar, mas também não posso evitar me sentir acuada perto dele. Nos cumprimentamos e ele beijou meu rosto duas vezes. Nossos pais sorriam e conversavam entre si. Olhava meu celular de dois em dois segundos, com expectativas de receber mensagen
A noite passou lentamente. Pietro não falou mais nada e quase não olhava em minha direção, o que deixou meu pai preocupado a ponto de ele sugerir que eu fosse ao baile acompanhada do moreno ao meu lado. Sorri, nervosa e em completo tormento por dentro, mas, por sorte, Pietro disse que já tinha um compromisso inadiável e que marcaria um dia para ir até a nossa casa a fim de me conhecer melhor.Seria tudo perfeito se não fosse o fato do meu pai estar me olhando há muito tempo com ódio exalando, suas írises azuis queimavam como fogo, suas narinas dilatadas me causam um frio na espinha. Parei em frente à porta do meu quarto e esperei que ele falasse alguma coisa. Minha mãe parecia contê-lo com as mãos em volta do braço dele, as pontas dos dedos esbranquiçadas com a força que parecia fazer.— O que você acha que foi fazer naquele jantar? — meu pai
Daniel segurava meu rosto com as duas mãos, por mais que meus olhos insistissem em ficar fechados, ele continuava a enxugar minhas lágrimas com seus polegares. Dani beijou meu rosto, um beijo de cada lado. Suas mãos desceram lentamente, mais uma vez afastando meus cabelos do meu rosto, acariciando meus braços, minha pele se arrepiando em resposta.— Não gosto de te ver assim, Sari. Minhas lembranças de você, sempre se remeteram ao seu sorriso acolhedor, a sua espontaneidade, a sua alegria contagiante. Não lembro de ter sequer um dia em que fiquei triste perto de você. Eu tive a melhor amiga que alguém poderia ter na infância.— Queria que você não tivesse ido embora — confessei.— Eu também. Sempre senti falta daqui. De você.Dani entrelaçou os dedos das noss
Quando o dia amanheceu, eu estava sozinha na cama. Havia um bilhete em cima do travesseiro em que Felipe dormiu.“Obrigado pela companhia, minha linda Sari!Tá cedo demais para pedir bis?”Beijei o bilhete como uma boba apaixonada e me levantei, ainda estava nua e corri para o banho de que fugi na noite anterior.Os ponteiros do relógio pareciam girar na velocidade 5 do creu. Fiz tantas coisas que nem vi o tempo passar. Tive aula de idiomas, balé e jazz, e mal vi minha amiga que também passou o dia atarefada. Quando nos sentamos para c
Olhei a minha volta e fiquei sem saber o que deveria fazer, mas precisava deixar os dois a sós. Peguei meu celular e enviei uma mensagem para Tina:“Amiga, peça a Pietro que te leve para casa.” Sorri assim que a mensagem foi dada como recebida. “A propósito, vocês dois formam um belo casal. Meu sexto sentido me diz que ele ainda é afim de você!” Enviei em seguida.Agora, do lado de fora, eu não tinha a menor ideia do que deveria fazer. Olhei para trás, vi o nome da pizzaria onde estávamos e coloquei no google. Nessas horas, ter passado uma vida inteira sem sair de casa sozinha me deixava em maus lençóis. Eu não s
Daniel AlbuquerqueTrês semanas antes do BaileEra bom poder voltar para Santa Cecília depois de dez anos sem pisar os pés sequer em São Paulo. Tenho muitas lembranças boas desse lugar e sempre quis saber como andavam as pessoas que ficaram por aqui. Safira é uma delas. Lembro da minha infância com carinho, principalmente por causa dela. Éramos crianças alegres e vivíamos aprontando pela mansão dos Medeiros. Algumas vezes, meus pais pediam para que ela fosse até nossa casa, e assim como em qualquer lugar, nós nos divertíamos com coisas simples. Ela era uma boa amiga. E por isso voltar aqui e saber como ela está hoje em dia, me deixa bem ansioso. Mas minha vinda para cá não é com esse propósito. A verdade é que preciso pôr minha antiga casa à venda. Minha mãe descobriu um câncer de mama há dois anos e meio, na época, meu pai ainda era vivo e nós dois cuidamos dela. Ela apresentou melhora e então descansamos. Seus cabelos voltaram a crescer, mas da noite para o dia, meu pai se senti