Era verão e o sol irradiava intensamente no céu. Giovana estava agachada em frente à horta da fazenda, colhendo cebolinha para o almoço. O contato da terra molhada com suas mãos dava a ela uma sensação de paz. Giovana havia decidido que ocuparia a mente com tudo o que fosse possível, para não pensar tanto em Antony.Já fazia alguns dias que ela não tinha notícias dele. Não ousara ligar para ninguém, e ninguém havia ligado para ela. Antony já tinha seus próprios problemas para se preocupar, e Giovana não pretendia se tornar mais um.Quando se levantou, sentiu uma leve fisgada nas costas, fechando os olhos. Ouviu o barulho de um carro se aproximando e quando abriu os olhos, os raios de sol embaçaram a visão por alguns segundos. Ela não reconhecia aquele veículo. Contudo, observou o carro parar e duas figuras masculinas descerem de lá.Giovana apressou-se na direção dos rapazes com um largo sorriso no rosto. Embora esperasse que Antony também descesse, não se importou quando percebeu que
—Vocês foram visitar a Giovana sem eu saber?— Antony parecia inconformado. Olhava para Andreas e Ricardo, que não demonstravam nenhum arrependimento sobre aquilo, pelo contrário, falavam cada detalhe da viagem a ele, fazendo a revolta se alargar dentro de Antony.—Desde quando vocês dois são amigos?— Interrompeu a empolgação. Seus olhos pareciam frios, como gelo. Era uma mirada forte o suficiente para intimidar qualquer um dos dois.—Não somos amigos—, Ricardo gaguejou, sentindo a voz falhar, —eu estou apenas ajudando ele a resolver os problemas da empresa.—A fazenda não faz parte da empresa—, Antony rosnou de volta, —não podem tirar de mim o direito de resolver os meus próprios problemas. Aquele lugar é um problema meu.Por um momento os rapazes se assustaram com a ferocidade dele.—Está frustrado porque não pode ir visitar a Giovana—, Andreas disse, mas se arrependeu logo em seguida quando contatou o rosto de Antony se contorcer de fúria, —mas compreendemos ser normal se sentir ass
No dia seguinte, Antony voltou para a mesma parada de ônibus do dia anterior, mas dessa vez o sol estava ainda mais forte e o ônibus demorou mais do que ele imaginou. Estava impaciente e angustiado. Talvez quando chegasse na casa de Irma fosse tarde demais. Ela fugiria certamente para bem longe e ele perderia a grande chance de recuperar sua liberdade. Esses pensamentos só fizeram o buraco em seu peito se alargar em proporções inimagináveis.Vinte minutos exatamente, o ônibus parou ao lado dele. A casa de Irma era longe dali, praticamente do outro lado da cidade. Por um instante de insanidade, Antony até pensou em ir a pé até lá, mas não conseguiria ir muito longe.Enquanto o veículo avançava, ele elaborava um plano. Pensou nas diversas possibilidades e consequências. Precisaria fazer tudo corretamente para não ser descoberto e falhar em suas tentativas de fazer Irma confessar tudo.Quando desceu do ônibus, seu coração disparou. Caminhou mais alguns metros, quando avistou a casa ao lo
Uma foto de Antony beijando Roberta, publicada no jornal mais lido do país, fez Giovana perder completamente a cor que havia em seu rosto. Suas pernas fraquejaram quando soube que Antony estava foragido e Roberta desaparecida.Eles insinuavam que Antony havia fugido com sua amante.Os olhos de Giovana encheram-se de lágrimas. Suas mãos tremiam ao segurar o jornal, e ela sentia que já não tinha forças para continuar lendo tantos absurdos.Mal percebeu Tania se aproximar e ficar preocupada com o estado em que ela se encontrava. Quando voltou à realidade, percebeu que a antiga empregada estava de joelhos diante dela, olhando fixamente em seus olhos, tentando acalmá-la.— Diga-me o que aconteceu, senhora — a mulher insistia, mas Giovana era incapaz de dizer qualquer coisa.Esticou o braço na direção dela, entregando-lhe o jornal. Sem compreender, Tania abaixou a cabeça e começou a ler o que estava escrito. A foto de Antony com Roberta já dizia tudo, embora Tania não acreditasse que o ex-p
Antony havia passado aquela noite nas ruas. O primeiro lugar que a polícia iria procurá-lo seria na sua antiga casa, mas ele precisava voltar lá, se quisesse se manter longe da prisão. Somente depois de algumas horas, parado em frente à casa, escondido atrás de um muro, é que ele teve coragem de avançar.A rua estava deserta, era madrugada e restavam algumas horas para o dia clarear. Em passos largos, avançou, tirando a chave do bolso e abrindo a porta. Quando ligou a luz, um grito de pavor foi ouvido. Andreas saltou do sofá, com os olhos arregalados, sentindo o coração bater tão freneticamente no peito, que parecia que morreria ali mesmo. Sem dizer nenhuma palavra, Antony correu na direção dele, fulminando-o com o olhar.— Sou eu, Andreas — girou o pescoço em direção à janela, mas a rua continuava deserta.Mal percebeu
Matteo chegou tarde à empresa naquele dia. Agora, sendo um dos sócios, não se preocupava com horários e não tinha muito ânimo para o trabalho como de fato deveria ter. Saiu do elevador distraído, não percebendo a presença de Valeria se aproximar. Quando levantou o olhar, levou um susto, de modo que até mesmo o seu corpo aqueceu como um ferro esquentado a mil graus. Valeria julgou seu comportamento estranho, mas não comentou nada em relação àquilo. Franziu o cenho ao ver a reprovação no olhar de Matteo, como se tivesse sido pego fazendo algo errado. — O Andreas está furioso com o seu atraso — alertou ela, mas Matteo bufou, revirando os olhos, insatisfeito. — Eu sou dono da metade dessa empresa — lembrou a ela da realidade. — Sendo assim, chegarei a hora que eu quiser. — Isso não é bom para os negócios — as palavras dela fizeram ele mudar o comportamento. Agora Matteo tinha uma expressão furiosa no rosto. — O que me faz julgar que ser dono da empresa é mais uma vaidade sua, do que um
Antony já não suportava a solidão de viver naquela casa pequena e vazia, longe dos seus amigos e da sua família. Permanecia incomunicável com o mundo e não sabia até quando conseguiria suportar.A notícia do assassinato de Roberta havia arruinado o seu mundo. Se culpava constantemente por tomar a decisão de procurá-la e envolvê-la. Lembrava-se do rosto dela todos os dias, do quanto ela foi importante em sua vida, do quanto a amou. Agora, além de carregar o peso das acusações de tentar matar Giovana, Antony também era acusado do assassinato de Roberta.Saía de casa todas as manhãs para caminhar. Havia murmurinhos pela vizinhança sobre a chegada dele, embora Antony tentasse manter sua identidade secreta, o modo como agia, sempre encobrindo o rosto, fez os vizinhos desconfiarem dele rapidamente. Ele não poderia ficar ali por muito tempo, já pensava em um plano de fuga quando, em certa manhã, recebeu uma visita inesperada.Andreas bateu na sua porta logo pela manhã. Antony se assustou, ma
Estava escuro lá fora. Giovana estava parada em frente à janela da casa, vendo as mariposas voarem no quintal, enquanto um vento gélido indicava que uma tempestade se aproximava. Horas antes, Xavier havia ligado, avisando a ela que Antony recusara o pedido de divórcio. Ao menos ela sabia que ele estava bem e seguro em algum lugar perdido por aí. Nem mesmo isso reconfortava o seu coração estraçalhado.Ouviu a voz de Tania e Maria que vinha da cozinha. As mulheres haviam se tornado grandes amigas e isso deixava o coração de Giovana mais tranquilo. Tania havia abandonado toda a vida que tinha para trás para acompanhá-la e embora parecesse injusto, a mulher estava feliz em servir a ex-patroa.Abaixou a cabeça por um momento e observou a barriga, que já estava grande. Um sorriso brotou dos seus lábios, enquanto uma lágrima escorria dos seus olhos. A última vez que havia ido ao médico, descobrira estar com vinte e cinco semanas de gestação e que o bebê que carregava era um menino. Imaginou