Antony havia passado aquela noite nas ruas. O primeiro lugar que a polícia iria procurá-lo seria na sua antiga casa, mas ele precisava voltar lá, se quisesse se manter longe da prisão. Somente depois de algumas horas, parado em frente à casa, escondido atrás de um muro, é que ele teve coragem de avançar.
A rua estava deserta, era madrugada e restavam algumas horas para o dia clarear. Em passos largos, avançou, tirando a chave do bolso e abrindo a porta. Quando ligou a luz, um grito de pavor foi ouvido. Andreas saltou do sofá, com os olhos arregalados, sentindo o coração bater tão freneticamente no peito, que parecia que morreria ali mesmo. Sem dizer nenhuma palavra, Antony correu na direção dele, fulminando-o com o olhar.
— Sou eu, Andreas — girou o pescoço em direção à janela, mas a rua continuava deserta.
Mal percebeu
Matteo chegou tarde à empresa naquele dia. Agora, sendo um dos sócios, não se preocupava com horários e não tinha muito ânimo para o trabalho como de fato deveria ter. Saiu do elevador distraído, não percebendo a presença de Valeria se aproximar. Quando levantou o olhar, levou um susto, de modo que até mesmo o seu corpo aqueceu como um ferro esquentado a mil graus. Valeria julgou seu comportamento estranho, mas não comentou nada em relação àquilo. Franziu o cenho ao ver a reprovação no olhar de Matteo, como se tivesse sido pego fazendo algo errado. — O Andreas está furioso com o seu atraso — alertou ela, mas Matteo bufou, revirando os olhos, insatisfeito. — Eu sou dono da metade dessa empresa — lembrou a ela da realidade. — Sendo assim, chegarei a hora que eu quiser. — Isso não é bom para os negócios — as palavras dela fizeram ele mudar o comportamento. Agora Matteo tinha uma expressão furiosa no rosto. — O que me faz julgar que ser dono da empresa é mais uma vaidade sua, do que um
Antony já não suportava a solidão de viver naquela casa pequena e vazia, longe dos seus amigos e da sua família. Permanecia incomunicável com o mundo e não sabia até quando conseguiria suportar.A notícia do assassinato de Roberta havia arruinado o seu mundo. Se culpava constantemente por tomar a decisão de procurá-la e envolvê-la. Lembrava-se do rosto dela todos os dias, do quanto ela foi importante em sua vida, do quanto a amou. Agora, além de carregar o peso das acusações de tentar matar Giovana, Antony também era acusado do assassinato de Roberta.Saía de casa todas as manhãs para caminhar. Havia murmurinhos pela vizinhança sobre a chegada dele, embora Antony tentasse manter sua identidade secreta, o modo como agia, sempre encobrindo o rosto, fez os vizinhos desconfiarem dele rapidamente. Ele não poderia ficar ali por muito tempo, já pensava em um plano de fuga quando, em certa manhã, recebeu uma visita inesperada.Andreas bateu na sua porta logo pela manhã. Antony se assustou, ma
Estava escuro lá fora. Giovana estava parada em frente à janela da casa, vendo as mariposas voarem no quintal, enquanto um vento gélido indicava que uma tempestade se aproximava. Horas antes, Xavier havia ligado, avisando a ela que Antony recusara o pedido de divórcio. Ao menos ela sabia que ele estava bem e seguro em algum lugar perdido por aí. Nem mesmo isso reconfortava o seu coração estraçalhado.Ouviu a voz de Tania e Maria que vinha da cozinha. As mulheres haviam se tornado grandes amigas e isso deixava o coração de Giovana mais tranquilo. Tania havia abandonado toda a vida que tinha para trás para acompanhá-la e embora parecesse injusto, a mulher estava feliz em servir a ex-patroa.Abaixou a cabeça por um momento e observou a barriga, que já estava grande. Um sorriso brotou dos seus lábios, enquanto uma lágrima escorria dos seus olhos. A última vez que havia ido ao médico, descobrira estar com vinte e cinco semanas de gestação e que o bebê que carregava era um menino. Imaginou
As gotas de chuva caindo no telhado eram o único som que se ouviu na casa por longos segundos. Era como se ninguém acreditasse no que via, Antony parado na porta, com a roupa completamente encharcada, olhando fixamente nos olhos de Giovana.– Senhor, Antony –, Tania derramou lágrimas ao vê-lo e foi a primeira a romper o silêncio. Mas depois disso não conseguiu dizer mais nada.Antony deu um passo à frente, mas Giovana não recuou. Para ele, só ela existia; nada mais ao redor importava. Era como se Giovana estivesse grudada no chão, completamente imóvel, sem acreditar no que via. Outro passo e ele estava apenas alguns centímetros dela, com o rosto próximo demais. Giovana conseguiu sentir a respiração dele tocando seu rosto, enquanto sua roupa molhada encharcava o chão com as gotas constantes, que não paravam de cair.– Oi –, Antony sussurrou, quando abaixou o olhar diretamente no ventre de Giovana. A barriga revelava que o filho gerado estava grande. Seus olhos encheram de emoção. Levan
Antony achou que tinha ouvido errado devido ao trovão que abafou a voz de Giovana. Então ele olhou para ela, confuso, como alguém que não acreditava no que acabara de ouvir:— Eu amo você, Antony — Giovana repetiu as palavras, dessa vez nítidas, enquanto alargava o sorriso para ele — e eu estou desistindo do divórcio.Antony contraiu as sobrancelhas ao ouvir aquela confissão. Ele olhava fixamente para a sua esposa com admiração. Como não havia percebido antes o quanto ela era formosa e cheia de qualidades? Como não conseguira amá-la antes?Com o corpo relativamente colado no dela, Antony não conseguia mais pronunciar nenhuma palavra. Seu cabelo longo e ondulado, sua pele macia, o perfume doce que exalava do seu corpo, o brilho dos seus olhos. Giovana parecia uma princesa de conto de fadas, irresistível. Ele já estava pronto para beijá-la quando sentiu um chute atingindo sua barriga.— O que foi isso? — ele abaixou o olhar direto para a barriga de Giovana.— Seu filho está te dando as
Antony já tinha tudo em mente. Ele aproveitaria o máximo daquele dia ao lado da sua mulher e quando o dia estivesse partindo, ele partiria também. Escolheria um lugar seguro para se entregar, de modo que ninguém descobrisse onde Giovana estava.Antony temia que Irma soubesse onde Giovana se refugiava e fosse até a fazenda terminar o que havia começado.O almoço foi servido. O clima na casa era festivo, embora todos soubessem que dali a algumas horas Antony partiria direto para o matadouro. Mas Giovana, todo aquele tempo sofreu muito, e agora tudo que ela mais queria era um pouco de consolo.— A mansão está a venda — Antony deixou o prato de lado e depositou sua atenção em Giovana — quando for vendida, metade do valor será depositado em sua conta.— Não deveria se preocupar com isso — demonstrou leveza, embora seu coração estivesse em pedaços pela aproximação do fim, ela queria transparecer paz para Antony — o Andreas tem cuidado de tudo, não permitindo que nada nos falte.Antony se ir
Irma havia recebido um telefonema naquela manhã, avisada de que Antony havia sido encontrado. A voz do outro lado da linha pedia para ela ligar a TV que a localização de Giovana seria revelada.Ela andava ansiosa pela casa, esperando o momento em que colocaria seu plano em prática. Sua alma só teria paz quando Giovana estivesse morta. Quando entrou na sala, a televisão transmitia ao vivo a prisão de Antony. Ela parou e olhou para a tela pequena e viu o rosto de Giovana. Seus olhos brilharam de emoção. Ela, enfim, havia encontrado a assassina da sua amada filha Gina.Uma sensação de mal-estar surgiu de repente em seu coração, enquanto ela se apressava para fazer as malas e partir. Viu Gina passar pelo corredor e um calafrio percorreu sua espinha. Irma vinha sendo atormentada por visões e aparições de Gina constantemente. Certamente delírio da sua mente, mas ela acreditava que o espírito de Gina só teria paz quando Giovana pagasse finalmente com a vida pelo crime que cometera.— Eu vou
Antony estava em uma sala, sendo vigiado por agentes da polícia. À sua frente, Xavier mantinha-se falando apenas sobre assuntos que não levantassem nenhuma suspeita. O advogado já sabia das provas contra Irma e se preparava para colocar seu plano em ação.— Peça para o Andreas ir até a Giovana — disse, olhando para a parede espelhada, imaginando a figura do delegado olhando para ele por trás dos vidros. — Mantenha ela em segurança.— O Andreas já se deslocou para a fazenda — disse, limpando o suor do rosto. — Eu vou tirá-lo dessa prisão hoje mesmo, Antony. Proponho acabarmos de uma vez por todas com essa injustiça.Xavier tinha pressa, embora Antony insistisse em saber quem havia sido o responsável por descobrir sua localização. Xavier não tinha a menor ideia de quem havia sido. Saiu da sala de interrogatório, exigindo falar com o delegado.O homem era soberbo, achava por si só que merecia receber um prêmio por prender um foragido da polícia, o que certamente Xavier discordava. Coloco