Antony parou para pensar sobre o que Andreas falava. As coisas em sua vida começavam a se acalmar e ele precisava reconhecer que Andreas havia se esforçado bastante para ajudá-lo. Por outro lado, Andreas se calava, constrangido, como se tivesse cometido grandes erros e tivesse convicção de que Antony jamais o perdoaria. Só depois de um longo período de silêncio, a fim de tentar desfazer o mal-entendido, Andreas fez um pedido de desculpas.— Eu deveria ter contado que não encontrei a Giovana quando cheguei na fazenda — o tom de voz arrependida de Andreas foi mais do que suficiente para Antony entender que o garoto não estava nada feliz com o que havia acontecido — eu prometi para você que eu cuidaria da Giovana e eu não queria falhar mais uma vez.Antony riu com desdém, como se tivesse ouvido uma piada de muito mal gosto.— Sim, você deveria ter me avisado — ele respondeu com tranquilidade, desviando o olhar para o berçário, a sua frente — mas precisa parar de querer sempre me agradar.
Antony tinha uma ideia fixa na cabeça e pensava nela todas as vezes que olhava para Giovana. Havia passado aquela noite ao lado dela, segurando em sua mão enquanto ela dormia. Estava ansiosa para ver Nicolau, mas os médicos recomendavam que ela esperasse o efeito da anestesia passar antes de se levantar. No dia seguinte, quando Antony despertou, ela estava sentada, o que fez ele se assustar e correr para ajudá-la.— O que está fazendo? — Olhava para ela assustado, temendo que ela cometesse uma imprudência.— Eu quero ver o nosso filho — disse ela, já colocando as sandálias nos pés, dando a entender que ninguém a impediria.Antony jogou a cabeça para trás, enquanto fechava os olhos com força e soltava um suspiro de discordância, mas quando olhou para ela e viu uma tristeza profunda por ainda não ter conhecido o filho, ele logo cedeu.— Tudo bem — ele disse, enquanto agarrava nas mãos dela e a ajudava a caminhar —, vamos conhecer o Nicolau e no caminho conversaremos sobre algo muito imp
Antony entrou no carro ao lado de Xavier e foi levado até a empresa. Quando se viu em frente ao prédio, quase foi paralisado pelas lembranças daquele lugar. Mal se lembrava da última vez em que estivera ali. Havia almejado ser dono daquele império ainda quando Nicolau era vivo. Seus olhos enchiam-se de brilho quando se imaginava sendo dono de tudo aquilo. Agora, parado em frente a tudo o que conquistou, nada mais daquilo fazia sentido. No final das contas, a maior riqueza que recebeu foi ter se casado com Giovana.Entrou no elevador sozinho. Xavier foi embora com a missão de comprar as ações e devolvê-las a Antony. E imaginar que foi por causa daquelas ações que ele se casou com Giovana pela segunda vez. Agora sua vida girava em torno dela. Um sorriso repuxou seus lábios quando Antony chegou a essa conclusão. Havia prometido que jamais se apaixonaria por outra mulher além de Roberta e naquele momento estava perdido de amor pela sua mulher.Quando saiu do elevador, o primeiro rosto que
Algumas semanas depois, Nicolau recebeu alta. Quando Antony viu Giovana segurando o filho nos braços pela primeira vez, sentiu tantas coisas que não conseguiu decifrar o sentimento que mais pulsava em seu coração. Enquanto Giovana se aproximava com um sorriso genuíno no rosto, perguntou a ele se queria segurar o filho pela primeira vez. Nicolau era tão pequeno que Antony sentia medo de machucá-lo. Olhou para o menino, que dormia calmamente no colo da mãe e com um olhar cheio de afeto respondeu que sim. Segurar o filho pela primeira vez nos braços fez Antony entender o verdadeiro significado de amor. Uma foto foi tirada sem ele perceber, pelo próprio Ricardo, que imaginava aquela fotografia pendurada na parede da casa deles. Do outro lado do quarto, Tania arrumava as coisas para que Giovana partisse, com os olhos inundados de lágrimas. —Eu acho que não me esqueci de nada — ela passou os olhos rapidamente pelo ambiente, procurando qualquer coisa que pudesse ter ficado para trás, mas
O som estridente da buzina e pneus derrapando na pista fizeram Giovana soltar a bolsa que segurava e fechar os olhos tão fortemente, que poderia sentir a cabeça latejar de dor. Ainda tremula, ela sentiu o vapor quente que saía do capô do carro tocar a sua perna. Quando abriu, enfim, os olhos, mal pode acreditar que o veículo estava assim tão perto de matá-la. Seria outra terrível tragédia em menos de vinte e quatro horas. Levantou o olhar até o motorista, que já saía do carro em meio a um trânsito caótico, e caminhava furioso em direção a ela. — Mulher maluca! – Salivas escapuliam entre os seus dentes cerrados – Se não olhar por onde anda, da próxima vez não terá tanta sorte. Porém, ela não tinha tempo para aquelas ameaças. Mal olhou nos olhos do homem e voltou a caminhar para longe, quando se lembrou da bolsa que deixou cair. Cinco passos, estava de volta ao lugar em que quase morreu, e o motorista irresponsável, continuava lá, falando coisas absurdas que ela nem teria chance de re
Há dois dias o Nicolau, pai do Antony, foi enterrado com honrarias de um homem bom. Nicolau foi o homem que salvou Giovana das maldades de Irma, quando ela ainda era uma adolescente. Essa era uma história que Giovana não conseguiria explicar direito, por achar ironia demais do destino ou sorte, mas sabia que antes do seu pai morrer, fez o Nicolau prometer que cuidaria dela e que daria a própria vida para salvá-la das maldades da própria mãe. E foi o que ele fez em memória e respeito ao melhor amigo. Apadrinhou Giovana, colocou ela para estudar em uma das melhores faculdades e a deu paz e dignidade. Mas a grande surpresa viria depois. Nicolau fez um pedido inusitado a Giovana, que por gratidão, não teve como recusar: — Case-se com o meu filho Antony – dizia ele. Na época, Giovana mal conhecia Antony, apenas por fotos ou histórias que o próprio Nicolau contava sobre ele. Antony residia nos Estados Unidos há mais de cinco anos. Estudava engenharia em uma da melhor faculdade daquele paí
Gina Morreu. Essas palavras pareciam o remédio perfeito para enlouquecer Giovanna de vez. Ela colocou as duas mãos na cabeça e sentiu como se aquilo não fosse real. Uma moça jovem, que tinha sonhos, se foi. E a culpa de tudo aquilo era apenas dela, e da sua incapacidade de enfrentar o próprio marido. Se tivesse sido só mais um pouco corajosa uma única vez, Gina ainda estaria viva. As lembranças de dois dias atrás, quando deu adeus ao Nicolau, invadiram a sua mente. A dor imensurável, a perda de um homem que havia lhe salvado, ainda destruía seu coração. Agora se misturavam com a dor de perder a irmã. — O que você tinha de tão importante para fazer, que não pode salvar a Gina? – Irma, agora com a maquiagem borrada, segurava pela blusa de Giovanna com força, mas o terror estava em seus olhos, – Por que você foge quando as pessoas mais precisam de você? Como se a dor a calasse, ela não conseguiu dizer mais nada. Irma ainda berrava, mas ela não era a única a se sentir assim. — Des
Era uma manhã chuvosa. Giovana estava parada na janela do hotel onde havia se hospedado no dia anterior. Por pior que pudesse estar se sentindo, ela sabia que precisava ser forte e encarar a realidade. Estava sozinha, sem marido e sem a única família que tinha. Gina estava partindo. Enquanto se vestia para ir ao funeral da sua irmã, imaginou encontrando-se com Antony no cemitério. Giovana já havia imaginado a cena em sua mente. Ele a surpreenderia diante do caixão, fingiria que não se importava, abraçaria Irma e partiria. Podia até sentir o desprezo correr pelas suas veias. Mas, no fundo, ela não acreditava que ele iria até lá. Antony nunca se importou com nada que envolvesse a vida dela durante aqueles três longos anos de casamento, certamente não se importaria agora. Os portões do cemitério estavam abertos. Ela correu os olhos por meia dúzia de veículos estacionados, procurando pelo carro de Antony, e ficou sem fôlego quando não o viu. Antony não estava ali. Pensou nos anos de s