Gina Morreu.
Essas palavras pareciam o remédio perfeito para enlouquecer Giovanna de vez. Ela colocou as duas mãos na cabeça e sentiu como se aquilo não fosse real. Uma moça jovem, que tinha sonhos, se foi. E a culpa de tudo aquilo era apenas dela, e da sua incapacidade de enfrentar o próprio marido. Se tivesse sido só mais um pouco corajosa uma única vez, Gina ainda estaria viva. As lembranças de dois dias atrás, quando deu adeus ao Nicolau, invadiram a sua mente. A dor imensurável, a perda de um homem que havia lhe salvado, ainda destruía seu coração. Agora se misturavam com a dor de perder a irmã.
— O que você tinha de tão importante para fazer, que não pode salvar a Gina? – Irma, agora com a maquiagem borrada, segurava pela blusa de Giovanna com força, mas o terror estava em seus olhos, – Por que você foge quando as pessoas mais precisam de você?
Como se a dor a calasse, ela não conseguiu dizer mais nada. Irma ainda berrava, mas ela não era a única a se sentir assim.
— Desde quando você nasceu só trouxe desgraças para minha vida – berrou mais uma vez. Irma atropelava as palavras demonstrando que já não raciocinava direito.
Giovanna a olhou pela última vez e virou as costas saindo do hospital. Nessa hora, já respirando o ar puro e observando o movimento da avenida logo a sua frente, pensou que seria bom se aquele carro a tivesse atropelado naquela manhã. Seria menos doloroso do que todos os acontecimentos que vieram em seguida. Ela não se lembrava como havia chegado ao carro tão depressa. Ela manobrou o veículo na direção da estrada. Seu mundo estava borrado pelas lágrimas. Quando, enfim, chegou na mansão, olhou pelo retrovisor e conteve um soluço à medida que a imagem de Gina, tão cheia de vida, aumentava em suas memórias. Desceu do carro com dificuldade, como se carregasse o mundo nas costas. A mansão estava silenciosa, apenas os empregados faziam os serviços diários. Subiu as escadas e assim que entrou no quarto, a dor ganhou dimensões imensuráveis, fazendo Giovana gritar tanto, que o seu desespero ecoou por toda a mansão. Meia hora depois, foi para o banheiro. O jato d’água-forte acoitou sua pele como um castigo. Quando finalmente saiu do banho, vestiu uma roupa qualquer e começou a guardar todas as outras na mala. Lembrou-se que não havia mais motivos para permanecer ali. Nicolau se foi, e como o próprio Antony havia dito, aquele casamento também. Sobre isso, ela ainda não conseguia pensar direito, como se a realidade não tivesse batido a sua porta.
A dor pela morte de Gina ocupava todo o espaço e a culpa não a deixava raciocinar. Porém, mesmo quando sua mente começou a desacelerar, Giovana se deu conta que ainda não estava pronta para ir embora. Em vez disso, sentou-se na cama, pela última vez e observou o sol enfraquecer, se escondendo atrás da montanha, deixando a escuridão se espalhar delicadamente pelo quarto. Se perguntou, se um dia se perdoaria por aquela falha que custou a vida da própria irmã. Quando, enfim, desceu as escadas, com as malas nas mãos, ouviu a voz de Antony vindo do escritório. Caminhou até lá, percebendo conhecer a segunda voz que vinha do ambiente. Era Ricardo, o amigo de Antony.
— Você se divorciou dela? – Ricardo falava em voz baixa. Giovana deu uma espiada e viu Antony encostado na mesa do escritório com uma taça de vinho nas mãos, como se comemorasse aquele momento.
— Minha irmã acabou de falecer, e ele está comemorando?
Sentiu-se enojada ao vê-lo em tal posição.
— Você sabe que ela é uma boa esposa. Tudo o que ela fez foi amar você. Continuou Ricardo. Antony riu, encarando o homem com ironia.
— Eu nunca desejei o amor dela – ele franziu a testa e bebeu mais um longo gole de vinho, — Só me submeti a esse papel de marido para ter minha parte na herança.
Giovana imediatamente se viu obrigada a parar de escutar. Era brutal ouvi-lo dizer aquilo em voz alta. Agora conseguia entender que o divórcio havia sido uma solução para metade dos seus problemas. Enquanto caminhava para fora da mansão, se questionou do porquê permitiu ser tão humilhada por Antony. Durante aqueles três longos anos havia sido tratada como algo sem valor. Antony a desprezava e tudo o que ela fez foi obedecê-lo e amá-lo.
— Para onde está indo, senhora? – Tania interrompeu sua jornada, obrigando Giovana a parar ainda na porta.
— Não sou mais a sua senhora – respondeu ela, olhando bem nos olhos da governanta, – estou divorciada do Antony.
— Está me dizendo que vai embora? – Havia lágrimas nos olhos da mulher.
— Não se lamente, Tania – deu dois passos para frente, abraçando Tania, – avise ao seu patrão que eu já desocupei a mansão, e que o enterro da Gina será amanhã.
Após jogar a mala no banco do carona, Giovana deu partida no carro, prometendo não olhar para trás. De qualquer forma, aquela parte da sua vida estava resolvida. Era o momento de fazer novos planos. De recomeçar. Vinte minutos depois, Tania entrou no escritório, fazendo o que Giovana havia pedido.
— Gina morreu? – Perguntou com urgência, os olhos arregalados e o espanto da notícia espalhado no semblante. Antony pegou o celular e ligou para Irma. Ele precisava entender qual havia sido a parte da história em que ele se perdeu.
— Gina precisava de uma transfusão de sangue e como o banco de sangue do hospital estava vazio, apenas Giovana poderia doar o sangue para a irmã. Mas por algum motivo, Giovana foi embora, e quando voltou ao hospital já era tarde demais.
Quando a ligação foi encerrada, ela se sentou com cuidado, a cabeça latejando, o estômago embrulhado. Juntou as peças e chegou a uma conclusão dolorosa: ele a obrigou a assinar os papéis do divórcio enquanto a Gina morria no hospital. Por isso Giovana dizia que Gina precisava dela.
— Preciso encontrar Giovana – disse com desespero.
— Giovana não está mais na mansão – comunicou Tania, – ela foi embora.
Seus pensamentos se voltaram para Giovana e ele foi invadido por uma enorme solidão.
Era uma manhã chuvosa. Giovana estava parada na janela do hotel onde havia se hospedado no dia anterior. Por pior que pudesse estar se sentindo, ela sabia que precisava ser forte e encarar a realidade. Estava sozinha, sem marido e sem a única família que tinha. Gina estava partindo. Enquanto se vestia para ir ao funeral da sua irmã, imaginou encontrando-se com Antony no cemitério. Giovana já havia imaginado a cena em sua mente. Ele a surpreenderia diante do caixão, fingiria que não se importava, abraçaria Irma e partiria. Podia até sentir o desprezo correr pelas suas veias. Mas, no fundo, ela não acreditava que ele iria até lá. Antony nunca se importou com nada que envolvesse a vida dela durante aqueles três longos anos de casamento, certamente não se importaria agora. Os portões do cemitério estavam abertos. Ela correu os olhos por meia dúzia de veículos estacionados, procurando pelo carro de Antony, e ficou sem fôlego quando não o viu. Antony não estava ali. Pensou nos anos de s
Largando o celular no assento do sofá e jogando a cabeça para trás, Giovana mal conseguia acreditar naquilo que acabara de ler nos jornais. Seu rosto estava estampado em vários perfis de redes sociais como a ex-mulher do bilionário Antony. Muitos deles gesticulavam uma traição da parte dela. Aquilo fez o sangue de Giovana ferver. Já havia uma semana desde o divórcio, que ela havia se enfestado na casa que Nicolau havia dado a ela, e não saiu de lá para quase absolutamente nada. Ainda sentia a dor da perda de Nicolau e Gina. Era como uma faca cravada no seu peito, que doía, mas não sangrava. Os armários estavam cheios de comida. Xavier o havia entregado uma casa limpa, organizada e abastecida para dois meses no mínimo. Giovana certamente não teria muito com o que se preocupar, mas a sua paz havia terminado naquela manhã. Sua reputação estava em jogo. Além das notícias de que ela era uma traidora, ainda circulava pela internet um depoimento da própria Irma, acusando-a de assassinar a
— Você tem alguma notícia da Giovana? – Antony direcionou a palavra até a governanta, sempre com um tom autoritário. — Não, senhor – abaixou a cabeça “desde quando ela se foi, nunca mais conversamos”. — Eu espero que você não esteja mentindo para mim, Tania – com um olhar gélido e um tom de voz seco, ele comunicou – eu não terei nenhum receio em demiti-la. Aquelas palavras fizeram a governanta estremecer. Ela até tentou jurar pela própria mãe que falava a verdade, mas com uma arrogância que poucas vezes ela havia visto em alguém, foi deixada para trás, falando sozinha. O que fez a empregada entrar em desespero. Antony se trancou no escritório. Sua cabeça doía todas às vezes que ele pensava nos problemas que Giovana vinha lhe trazendo depois da separação. Ele jamais imaginou que Nicolau conseguisse oferecer cinquenta por cento das ações da empresa a ela e fazer isso se tornar público só depois que ele já havia assinado o divórcio. Era como se Nicolau previsse os passos de Antony. C
Matteo disse alguma coisa e Giovana sorriu, as palavras se perderam no rumor. Ao fundo, por cima dos ombros dela, viam-se apenas algumas pessoas caminhando pelas calçadas. A presença de Matteo trazia tanta paz, que Giovana até havia se esquecido que estava gravida. Droga, eu estou gravida! Ela se lembrou. Esse fato quase estragou o resto. — O que você disse? – Ela realmente não havia escutado as palavras dele. — Se gostaria que eu a acompanhasse até em casa. O que pareceu uma oferta irresistível para Giovana, mas arriscada demais. — Não quero parecer intrometido – ele sorriu – mas estou realmente querendo ser gentil e me certificar que você chegará bem em casa. Será que aquilo era real? Giovana indagou. Quem encontraria um homem bonito e romântico assim, solto pelas ruas? Matteo era certamente casado, e Giovana estava fugindo de problemas. — Eu agradeço a sua preocupação Matteo – ele suspirou – mas não precisa. Ela o avaliou com cuidado e percebeu que Matteo não usava uma ali
Antony ordenou a secretária:— Marque uma reunião com a Giovana.Valéria usava um terno cinza que deixava a cor do seu batom em contraste. A mulher franziu o cenho, confusa e irritada com aquele pedido.— Não entendi, Senhor – fez-se de desentendida.— Qual foi a parte de marcar uma reunião com a Giovana que você não entendeu? – o tom de voz seco constrangeu a mulher.— O que eu não entendi é como eu vou achá-la, senhor – limpou a garganta, abaixando o olhar. Era incapaz de olhar nos olhos de Antony por muito tempo –, eu não entendo o que a sua ex-mulher teria a ver com a empresa.— Você não é paga para entender as minhas decisões, precisa apenas obedecê-las – se levantou e pegou um cartão, entregando à mulher – Ligue para o Xavier e marque a reunião com ele. Xavier sabe onde encontrar a Giovana.Valeria segurou o cartão confusa e, ao mesmo tempo, furiosa. Quem olhasse para ela e analisasse bem seu comportamento diante de Antony, perceberia imediatamente que a secretária era apaixonad
Giovana acordou com o vibrar insistente do celular sobre a cabeceira da cama. Aquela já era a terceira vez que a ligação estava sendo ignorada. Quando, enfim, decidiu atender, se arrependeu imediatamente quando ouviu o que Xavier tinha para te dizer.— Peça ao Antony ir para o inferno.Era claro que os seus insultos não eram direcionados ao Xavier, mas quando ela encerrou a ligação brutalmente, acabou ofendendo-o também.Quando indelicadeza da parte dela.Levantou-se sentindo que o seu dia não seria dos melhores. Sentia-se extremante irritada com a insistência de Antony em vê-la. Quando estavam casados, Oliver raramente direcionava palavras a ela. Mantinha-se sempre distante e inalcançável. Agora que ela finalmente estava livre dele, ele a procurava incansavelmente.Mas Giovana sabia que esse momento chegaria. O reencontro com Antony deveria acontecer. Ela só queria um pouco de tempo para se preparar.Enchia uma xícara com café quando o celular vibrou novamente. Grunhiu desapontada. P
O aroma do ambiente ainda era o mesmo. A música que tocava ao fundo trouxe com suas notas musicais a nostalgia que quase nocauteou Giovana. Seu corpo estava rígido e seu coração acelerava a cada passo que ela dava em direção à mesa. As veias azuis na testa de Giovana latejavam. Naquele momento ela percebeu que ainda amava Antony, e o pior de tudo foi perceber que sentia falta dele.Com um sorriso frio no rosto, Giovana olhou para Matteo que puxava uma cadeira para que ela se acomodasse. Logo o gerente do restaurante apareceu sorridente, feliz por ver Giovana novamente.— Estou muito feliz em revê-la senhora, – era claro que ele tentava ser discreto, mas acabou falhando miseravelmente, – achei que nunca mais a veria depois do divórcio.Com isso, ela olhou involuntariamente para os olhos brilhantes de Matteo, sabendo que ele podia ver o terror no seu semblante. Matteo podia ler cada movimento sutil dela. Giovana apenas sorriu e olhou para cima, na direção do gerente.— Estou feliz em re
Como Antony havia a encontrado? Giovana sentia essa pergunta atormentá-la nos poucos segundos em que o silêncio foi tudo o que restou entre eles. — O que você está fazendo aqui? – Com os dentes a mostra, Giovana sentia o sangue ferver ao olhar para Antony novamente. — Pelo que eu me lembro, essa casa sempre foi da minha família, – Antony disse, – Mas percebo que Nicolau me traiu novamente quando resolveu oferecê-la a você. — Como me encontrou? – Uma lágrima se formou em seus olhos, mas Giovana deu um jeito de impedi-las. — Sou eu quem faz as perguntas aqui, Giovana, – deu um passo em direção a ela e observou Giovana se encolher, – Porque não atende os meus telefonemas. — Eu não sou mais a sua esposa, Antony, – vociferou, sentindo-se arruinada, – Não há por que eu manter conversas amigáveis com você. — Temos negócios a tratar, – de repente o olhar dele se desviou para a figura masculina que estava parada logo atrás da sua ex-esposa, – Matteo foi mais ágil do que eu, a encontrand