Largando o celular no assento do sofá e jogando a cabeça para trás, Giovana mal conseguia acreditar naquilo que acabara de ler nos jornais. Seu rosto estava estampado em vários perfis de redes sociais como a ex-mulher do bilionário Antony. Muitos deles gesticulavam uma traição da parte dela.
Aquilo fez o sangue de Giovana ferver.
Já havia uma semana desde o divórcio, que ela havia se enfestado na casa que Nicolau havia dado a ela, e não saiu de lá para quase absolutamente nada. Ainda sentia a dor da perda de Nicolau e Gina. Era como uma faca cravada no seu peito, que doía, mas não sangrava. Os armários estavam cheios de comida. Xavier o havia entregado uma casa limpa, organizada e abastecida para dois meses no mínimo. Giovana certamente não teria muito com o que se preocupar, mas a sua paz havia terminado naquela manhã.
Sua reputação estava em jogo. Além das notícias de que ela era uma traidora, ainda circulava pela internet um depoimento da própria Irma, acusando-a de assassinar a própria Gina.
Pegou o celular novamente e ligou para Xavier.
Meia hora depois o homem já estava lá.
— Eu não sei se você é advogado criminal – ela arregalava os olhos, enquanto andava freneticamente de um lado ao outro –, mas precisa me ajudar com essas acusações absurdas que estão circulando por aí.
— Precisa manter a calma, Giovana – o que Xavier sabia que seria difícil – não atuo nessa área, mas posso ajudá-la. Precisa conversar com o Antony.
— Impossível. – Ela balançou a cabeça – Isso resolveria o quê?
— As acusações de traição podem ter vindo do próprio Antony.
Ela pestanejou surpresa. Xavier parecia não ter muita certeza da acusação. Precisou bem mais do que um minuto para digerir aquela informação.
— Por qual motivo o Antony faria isso?
— Para manter a reputação dele – concluiu –, você mesmo disse que ele a obrigou a assinar o divórcio.
Antony sabia bem o que estava fazendo.
Mas Giovana não parecia acreditar muito naquela teoria. Contudo, se lembrou que Antony sempre a fez se sentir assim, culpada de todo o mal que acontecia com ele.— Que loucura – falou ela – o que podemos fazer sobre a acusação da Irma?
— A acusação dela é infundada – disse com certeza –, sua mãe não tem como provar que por sua causa a Gina morreu.
— Mas se eu estivesse lá, doando o meu sangue para ela, ao invés de assinando o meu divórcio, Gina certamente estaria viva.
— O tempo para se lamentar já passou, senhora Giovana – ele se levantou indicando que estava pronto a partir –, não deve se preocupar com essas acusações. Eu darei um jeito de resolver isso para você. Até lá se prepare para contar ao Antony que ele terá que dividir a empresa com você.— Tenho mesmo que fazer isso?
— Era o desejo do Nicolau.
O problema era que Giovana estava cansada de sempre cumprir os desejos do Nicolau, enquanto sua vida passava entre a dor e o sofrimento. Giovana nunca quis assumir uma empresa, muito menos casar-se com Antony, mas quando se lembrava de Nicolau e de tudo que ele a livrou, sabia que no fim valeria a pena. Ela devia a sua vida aquele homem.
— Concordo – disse antes de Xavier partir.
Não havia uma data certa para esse acontecimento. Até lá, Giovana não tinha a mínima ideia do que iria fazer. Temia sair às ruas e ser reconhecida.
Uma semana depois ela começou a se sentir mal. Fortes dores de cabeça, com enjoos constantes, quase a fizeram desmaiar. Giovana se viu obrigada a sair e ver o que acontecia lá fora. Era preciso encarar a realidade ou morrer sozinha e trancada naquela tão aconchegante casa.Tomou um rápido banho e saiu. O sol estava alto e fez os olhos de Giovana se contraírem como se ela nunca tivesse visto o brilho dele antes. Chamou um táxi e quando chegou ao hospital os sintomas pareciam bem mais fortes. Era o mesmo hospital em que Gina havia morrido e as cenas daquele dia se misturaram com o mal-estar, fazendo tudo ficar muito pior.
O médico que a atendia a reconheceu.
— Lembro-me de você no dia da morte da pobre Gina – comentou com um tom melancólico –, e como está a sua mãe?
Giovana sentiu seus lábios tremerem.— Há muitos dias eu não tenho notícias da Irma – evitava chamá-la de mãe, porque era um título ao qual Irma não merecia ter –, o senhor pode me dizer se o que eu estou sentindo é grave?
— Grave? – Soltou uma risada – não é grave. Pelo contrário, é uma boa notícia.
Giovana franziu o cenho completamente, confusa. O que pode ser bom em sentir-se prestes a morrer?
— O senhor está querendo me dizer que não é tão grave como eu imaginava?
— Estou querendo dizer que você não está doente – estendeu até ela um papel – você está grávida.
Sua boca ficou seca. Giovana parecia quase à beira das lágrimas. Não era possível que a vida fosse tão cruel com ela, permitindo que ela engravidasse do seu ex-marido. Logo do Antony.
— Isso só pode ser um erro – as palavras fizeram Giovana sentir um bolo na garganta – eu não posso estar grávida.
— Não há nenhum erro, Giovana – inclinou o exame na direção dela mostrando o resultado positivo – está com doze semanas de gestação.
Giovana foi pega desprevenida outra vez. Demorou algum tempo para voltar à realidade e prestar atenção nas instruções que o médico dava. Milhões de coisas passavam pela sua mente. Lembrou-se de quando era uma adolescente e jurou para si mesma que jamais seria mãe solteira. Que escolheria bem o pai dos seus filhos para que nenhum deles passasse pelo mesmo que ela havia passado com Irma. Olha que bela surpresa do destino. Agora Giovana estava grávida de um homem rude, egoísta e arrogante, que nunca teve olhos para ninguém além deles mesmo. Que futuro o seu filho teria com um pai como o Antony? A angústia explodiu no seu peito conforme os pensamentos se intensificavam. Giovana desejou que aquilo fosse um pesadelo, mas era real.
Instantes depois ela foi embora, sem saber ao certo o que fazer com a mais nova informação da sua vida. Estava confusa e com medo do que o futuro reservava para ela e aquela criança.
Caminhava pela rua, enquanto o sol já se escondia por detrás das montanhas, quando o som estridente de um carro freou bem em cima dela e um braço a agarrou, tirando-a do meio da rua. O coração de Giovana saltava tão desenfreadamente dentro do seu peito, que ela podia sentir tocando seu tórax. Ainda sem entender o que estava acontecendo, ouviu uma voz masculina perguntando.
— Você está bem?
Ela ergueu os olhos encarando o homem à sua frente. Não o conhecia, mas os seus olhos eram lindos e intensos. Quando percebeu que ele havia salvando-a de ser atropelada.
— Estou bem – ela deu um meneio vigoroso com a cabeça, como se quisesse enfatizar a resposta – Obrigada por me salvar de mais uma tragédia.
Mas no fundo Giovana desejou que aquele carro a tivesse acertado, assim evitaria tanta dor.— Que bom que está bem – Giovana reparou o quanto o sorriso dele era bonito –, eu sou o Matteo.
Estendeu a mão até ela, com um cavalheirismo que há muito tempo Giovana não via em um homem. Nos últimos tempos, tudo o que ela havia lidado era com a frieza de Antony.
— Eu sou a Giovana – apertou a mão dele, com um sorriso no rosto.
— Estou feliz em conhecê-la, Giovana – outro sorriso fez Giovana ver todo aquele acidente de outra forma.
Não existem coincidências, apenas o destino.
— Você tem alguma notícia da Giovana? – Antony direcionou a palavra até a governanta, sempre com um tom autoritário. — Não, senhor – abaixou a cabeça “desde quando ela se foi, nunca mais conversamos”. — Eu espero que você não esteja mentindo para mim, Tania – com um olhar gélido e um tom de voz seco, ele comunicou – eu não terei nenhum receio em demiti-la. Aquelas palavras fizeram a governanta estremecer. Ela até tentou jurar pela própria mãe que falava a verdade, mas com uma arrogância que poucas vezes ela havia visto em alguém, foi deixada para trás, falando sozinha. O que fez a empregada entrar em desespero. Antony se trancou no escritório. Sua cabeça doía todas às vezes que ele pensava nos problemas que Giovana vinha lhe trazendo depois da separação. Ele jamais imaginou que Nicolau conseguisse oferecer cinquenta por cento das ações da empresa a ela e fazer isso se tornar público só depois que ele já havia assinado o divórcio. Era como se Nicolau previsse os passos de Antony. C
Matteo disse alguma coisa e Giovana sorriu, as palavras se perderam no rumor. Ao fundo, por cima dos ombros dela, viam-se apenas algumas pessoas caminhando pelas calçadas. A presença de Matteo trazia tanta paz, que Giovana até havia se esquecido que estava gravida. Droga, eu estou gravida! Ela se lembrou. Esse fato quase estragou o resto. — O que você disse? – Ela realmente não havia escutado as palavras dele. — Se gostaria que eu a acompanhasse até em casa. O que pareceu uma oferta irresistível para Giovana, mas arriscada demais. — Não quero parecer intrometido – ele sorriu – mas estou realmente querendo ser gentil e me certificar que você chegará bem em casa. Será que aquilo era real? Giovana indagou. Quem encontraria um homem bonito e romântico assim, solto pelas ruas? Matteo era certamente casado, e Giovana estava fugindo de problemas. — Eu agradeço a sua preocupação Matteo – ele suspirou – mas não precisa. Ela o avaliou com cuidado e percebeu que Matteo não usava uma ali
Antony ordenou a secretária:— Marque uma reunião com a Giovana.Valéria usava um terno cinza que deixava a cor do seu batom em contraste. A mulher franziu o cenho, confusa e irritada com aquele pedido.— Não entendi, Senhor – fez-se de desentendida.— Qual foi a parte de marcar uma reunião com a Giovana que você não entendeu? – o tom de voz seco constrangeu a mulher.— O que eu não entendi é como eu vou achá-la, senhor – limpou a garganta, abaixando o olhar. Era incapaz de olhar nos olhos de Antony por muito tempo –, eu não entendo o que a sua ex-mulher teria a ver com a empresa.— Você não é paga para entender as minhas decisões, precisa apenas obedecê-las – se levantou e pegou um cartão, entregando à mulher – Ligue para o Xavier e marque a reunião com ele. Xavier sabe onde encontrar a Giovana.Valeria segurou o cartão confusa e, ao mesmo tempo, furiosa. Quem olhasse para ela e analisasse bem seu comportamento diante de Antony, perceberia imediatamente que a secretária era apaixonad
Giovana acordou com o vibrar insistente do celular sobre a cabeceira da cama. Aquela já era a terceira vez que a ligação estava sendo ignorada. Quando, enfim, decidiu atender, se arrependeu imediatamente quando ouviu o que Xavier tinha para te dizer.— Peça ao Antony ir para o inferno.Era claro que os seus insultos não eram direcionados ao Xavier, mas quando ela encerrou a ligação brutalmente, acabou ofendendo-o também.Quando indelicadeza da parte dela.Levantou-se sentindo que o seu dia não seria dos melhores. Sentia-se extremante irritada com a insistência de Antony em vê-la. Quando estavam casados, Oliver raramente direcionava palavras a ela. Mantinha-se sempre distante e inalcançável. Agora que ela finalmente estava livre dele, ele a procurava incansavelmente.Mas Giovana sabia que esse momento chegaria. O reencontro com Antony deveria acontecer. Ela só queria um pouco de tempo para se preparar.Enchia uma xícara com café quando o celular vibrou novamente. Grunhiu desapontada. P
O aroma do ambiente ainda era o mesmo. A música que tocava ao fundo trouxe com suas notas musicais a nostalgia que quase nocauteou Giovana. Seu corpo estava rígido e seu coração acelerava a cada passo que ela dava em direção à mesa. As veias azuis na testa de Giovana latejavam. Naquele momento ela percebeu que ainda amava Antony, e o pior de tudo foi perceber que sentia falta dele.Com um sorriso frio no rosto, Giovana olhou para Matteo que puxava uma cadeira para que ela se acomodasse. Logo o gerente do restaurante apareceu sorridente, feliz por ver Giovana novamente.— Estou muito feliz em revê-la senhora, – era claro que ele tentava ser discreto, mas acabou falhando miseravelmente, – achei que nunca mais a veria depois do divórcio.Com isso, ela olhou involuntariamente para os olhos brilhantes de Matteo, sabendo que ele podia ver o terror no seu semblante. Matteo podia ler cada movimento sutil dela. Giovana apenas sorriu e olhou para cima, na direção do gerente.— Estou feliz em re
Como Antony havia a encontrado? Giovana sentia essa pergunta atormentá-la nos poucos segundos em que o silêncio foi tudo o que restou entre eles. — O que você está fazendo aqui? – Com os dentes a mostra, Giovana sentia o sangue ferver ao olhar para Antony novamente. — Pelo que eu me lembro, essa casa sempre foi da minha família, – Antony disse, – Mas percebo que Nicolau me traiu novamente quando resolveu oferecê-la a você. — Como me encontrou? – Uma lágrima se formou em seus olhos, mas Giovana deu um jeito de impedi-las. — Sou eu quem faz as perguntas aqui, Giovana, – deu um passo em direção a ela e observou Giovana se encolher, – Porque não atende os meus telefonemas. — Eu não sou mais a sua esposa, Antony, – vociferou, sentindo-se arruinada, – Não há por que eu manter conversas amigáveis com você. — Temos negócios a tratar, – de repente o olhar dele se desviou para a figura masculina que estava parada logo atrás da sua ex-esposa, – Matteo foi mais ágil do que eu, a encontrand
Antony não havia percebido que estava ainda dentro do carro, olhando para ela até que o seu olhar se encontrasse com o dela e o envolvesse em um enorme constrangimento. Foi só então que ele ligou o motor do carro e saiu de lá.No caminho ligou para o Ricardo e pediu para que ele o encontrasse na empresa o mais rápido possível. Ricardo não era apenas o seu melhor amigo, mas havia sido o CEO da empresa no período em que Nicolau havia ficado seriamente doente. Ele era o responsável por tornar aquele negócio um verdadeiro sucesso.Antony se lembrava desse fato como se uma faca estivesse fincada em seu coração. Lembrar que o próprio pai preferiu confiar os negócios da família a alguém que não fosse ele, o fazia guardar grandes mágoas do Nicolau. Não era a capacidade de Ricardo que estava em jogo, mas por ser um único herdeiro era ele quem deveria ter assumido a presidência na ausência do pai.Nicolau tinha os seus motivos para isso, e de algum modo Giovana sempre estava envolvida em suas d
Giovana viu o dia passar devagar enquanto era consumida pelas incertezas. A visita de Antony quase a fez perder o bebê. Ligou para Xavier assim que entrou em casa, mas o advogado disse que não poderia ir vê-la naquele dia.No dia seguinte, quando o sol já estava alto no céu, alguém bateu na porta. Giovana ainda estava deitada, no sono profundo e demorou mais do que deveria para ir conferir quem era. Ainda sonolenta, caminhava com os olhos semiabertos, desejando que não fosse Matteo, muito menos Antony para perturbá-la logo cedo.Alegrou-se quando viu Xavier parado a esperando.Serviu café ao advogado, antes de servir a si mesma. No segundo seguinte ao primeiro gole, Giovana revelou o seu segredo, fazendo Xavier se engasgar com o líquido quente.— Eu estou grávida – assim que ela percebeu que o homem estava momentaneamente atordoado, ela concluiu, – O filho que eu espero é do Antony.Giovana não pretendia guardar esse segredo por muito tempo, mas depois que Antony apareceu em sua porta