Capítulo 5

Bruna tomou seu banho mais demorado que o normal naquela manhã. Atrasava-se todos os dias mesmo então não estava preocupada com o tempo. Colocou todas as suas pulseiras novas, maquiou-se, o que era raro fazer e olhou-se no espelho satisfeita:

- O que esta vida lhe reserva, Bruna?

Quando ela entrou na sala não percebeu o olhar rotineiro de reprovação da professora por ela ter chegado atrasada, o que era estranho. Patrício incrivelmente não lhe perguntou se ela havia dado o recado a Adrian, como fazia sempre. Catita não pousou seus olhos sobre ela e Maiquel não olhou-a dos pés a cabeça desejoso, como habitualmente.

Ela sentou-se procurando não chamar muito a atenção, já que todos estavam prestando atenção na explicação da professora.

- Teve um homem que já veio procurar por você duas vezes na sala. – disse Patrício em voz baixa para que somente ela o escutasse.

- O que ele queria? – perguntou ela curiosa.

- Não sei... Bem vestido... Você se meteu em alguma confusão? – perguntou ele.

Ela riu:

- Claro que não. No que eu me meteria, Patrício? Sou muito correta para me meter em qualquer confusão.

- Talvez fosse um investigador... Ou algo assim.

Ela riu alto, sem conseguir se conter. Depois de uns olhares de reprovação, todos voltaram a prestar atenção na aula.

- Talvez eu tenha matado alguém no intervalo de tempo que saí da aula ontem. – falou ela achando engraçado o comentário dele.

A professora não falou nada, mas olhou-os com advertência e os dois pararam imediatamente de conversar. Ela começou a fazer suas anotações da aula e logo Patrício cochichou em seu ouvido:

- Deu meu recado a Adrian?

- Se eu disser que esqueci, você me perdoaria? – disse ela realmente sentindo muito, pois daquela vez realmente estava disposta a entregar o recado dele.

- Acho melhor eu ligar para ele, pois você sempre esquece, não é mesmo? Nem parece a namorada dele.

- Mas realmente não sou mais. – confessou ela.

- Como assim? – perguntou ele incrédulo. – Terminaram o noivado?

- Sim.

- O quê? – perguntou ele num tom de voz alto, esquecendo que estavam na aula.

Ela deu um tapinha no braço dele para ficar calado, mas ele insistiu:

- Eu sempre achei que vocês dois iriam casar.

Antes que sua vida particular virasse papo mais importante que a aula, ela decidiu terminar o assunto:

- Eu realmente não gostaria de discutir com você sobre isso, Patrício. Isso só diz respeito a mim e agora eu gostaria de prestar atenção na aula, se me dá licença.

Ela não tinha intenção de ser indelicada com ele, no entanto era a única forma de ele parar com aquele assunto. Mas logo Maiquel e Catita, que estavam próximos, entraram no assunto também:

- Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você iria perdê-lo, Bruna. Era só questão de tempo. – disse Catita.

Pelo visto Adrian não havia comentado com os amigos sobre o ocorrido, pois eles estavam bem surpresos. Bruna pensou em dizer algo para ela como forma de defesa ou que a atingisse de alguma forma, mas pensou melhor e achou que não deveria fazer aquilo ali, durante a aula. Ela mesma tinha a certeza de que ela e Adrian voltariam mais cedo ou mais tarde, pois sempre era assim. Mas não devia explicação aos amigos dele.

Uma batida de leve na porta fez a professora parar sua explicação para atender, enquanto alguns começaram a conversar sobre outras coisas. A professora fez sinal afirmativo com a cabeça, olhando para Bruna. Logo o homem elegante, vestido de terno e gravata entrou e atrás dele vários outros homens, todos carregando vários buquês de rosas de todas as cores possíveis.

- São para você, Bruna. – disse ele.

Eles foram colocando algumas sobre a mesa dela, outras nas mesas dos colegas próximos, outras no chão, ocupando um grande espaço ao redor.

- O-Obrigada... – disse ela quase sem palavras.

- Não me agradeça e sim ao homem que lhe mandou tudo isso. Confesso que em muitos anos nesta profissão nunca entreguei tantas flores para uma mesma mulher. – disse ele sorrindo amavelmente.

Assim como entraram repentinamente, eles saíram e ela ficou ali, confusa, trêmula, com o coração batendo descompassadamente, sem saber o que fazer.

A professora, vendo sua confusão, decidiu ajudar:

- Quem sabe você procura um cartão, Bruna, para sabermos quem enviou esta linda surpresa?

No buquê próximo dela realmente havia um pequeno cartão branco preso por um clipes dourado e fino. Ela abriu com as mãos trêmulas, mas sabia quem havia mandado todas aquelas flores. Ela olhou para Catita, para ter certeza se sua rival estava olhando tudo que estava acontecendo. E pelo olhar dela, ela também tinha certeza de quem havia feito aquilo. Ela começou a ler em voz alta:

Bruna, não sei qual a melhor maneira de pedir desculpas. Nunca tive intenção de magoá-la com minha brincadeira. Só que em meio à possibilidade de ficar sem você, me veio uma certeza: meu amor. Não vivo sem você. Aceita ser novamente minha noiva? Ou melhor, quer ser minha esposa?

Adrian

Bruna olhou para todos confusa e emocionada.

- Pelo visto você agora vai poder dar o meu recado. – disse Patrício rindo alegremente.

Bruna abraçou-o, pois estava imensamente feliz. E sim, precisava dividir aquela felicidade que transbordava em seu coração com alguém. Logicamente todos já estavam esperando por aquilo e não demorou para ela receber uma salva de palmas pela linda forma como foi pedida em casamento. Ela olhou para Catita, que também batia palmas sorrindo, o que a deixou confusa. Por que ela parecia feliz? Ou teria ela tanto autocontrole para fingir que aquilo não a abalava? Mas pouco importava o pensamento de Catita naquele momento. Bruna precisava pensar nela, em Adrian, e no casamento que iria acontecer em breve.

- Eu acho que vou precisar sair, professora. – disse Bruna sorrindo.

- Eu imaginei. – falou ela sorrindo. – Você transformou minha aula numa baderna. – fingiu ela descontentamento.

Bruna saiu da sala sorrindo. Iria imediatamente para a casa de Adrian, o agradeceria, pediria desculpas pela forma como havia agido, na verdade como vinha agindo nas últimas semanas. Mas quando chegou ao fim do corredor, viu Adrian esperando por ela, escorado no pilar. Ele estava com as mãos dentro do bolso da calça jeans desbotada, com a camisa um pouco para dentro e outro pouco para fora, usando um sapato casual e os cabelos perfeitamente arrumados com gel. Ela fitou dentro daqueles olhos verdes que ela tanto amava. Ela tinha vontade de correr até ele, mas suas pernas tremiam tanto que ela não conseguia se mover. Ela abriu os braços e ela correu até ele, que a levantou facilmente do chão, abraçando-a com força.

- Estou perdoado? – perguntou ele.

- E ainda pergunta? Sempre estará perdoado.

- Ainda me ama?

- Ainda mais...

- Te amo tanto, Bruna.

Ele a levou para almoçar num restaurante em outra cidade. Era muito elegante e bonito e a vista da janela dava para um pequeno lago com um gazebo de flores.

- Como você consegue me surpreender tanto, Adrian? – perguntou ela. – Não precisava ter feito tudo aquilo... Eu teria te perdoado de qualquer forma. – confessou ela.

- Por que não avisou antes? Eu teria economizado muito dinheiro. – brincou ele pegando a mão dela carinhosamente.

Os dois riram:

- Estou brincando. – disse ele. – Por você eu faria qualquer coisa.

- Eu... Estou sem palavras, Adrian. Sinto-me a mulher mais feliz do mundo. Nunca pensei que algum dia você fizesse isso por mim.

- Minha romântica incurável... – disse ele olhando-a ternamente. – Eu queria muito ser desculpado, Bruna. – disse ele em tom mais sério. – Eu jamais quis dizer aquilo. Juro que foi brincadeira.

- Eu acredito em você, Adrian. Eu sei que agi errado. Poderíamos ter conversado e resolvido isso ontem à noite. Não sei o quanto estou arrependida de minha atitude... Eu te perdoo, claro. Não sei se algum dia eu serei capaz de não perdoá-lo, pois você é minha vida. Mas não abuse disto que acabei de confessar. – disse ela rindo.

Em sua frente, sentado, ele empurrou as pulseiras pesadas e seus dedos encontraram as cicatrizes nos pulsos dela. Ele alisou delicadamente o pulso e disse:

- Como eu quero você, Bruna.

Ela baixou os olhos e disse:

- Eu sei disso, Adrian... Também o quero. Mas você sabe o que penso sobre isso... Será no dia do nosso casamento.

Ele retirou as mãos e deu um suspiro. Ela sabia que era hora de conversarem sobre aquele assunto seriamente. Afinal, toda a briga havia sido em função do assunto casamento, quando ele havia garantido que não se casaria com ela. Mas ele precisava dizer com palavras o que havia escrito no cartão ou ela não acreditaria nele.

- Adrian, sobre o que estava escrito no cartão...

- Eu escrevi o que penso... E vou cumprir com minhas palavras.

- Adrian, não se trata de cumprir com a sua palavra. Trata-se de você querer isso para si, entende? Para mim é muito importante... E se não é para você, é preciso que me fale a verdade.

- Mas é o que você mais quer, Bruna.

- Sim, é o que eu mais quero: casar e formar uma família. E se você não quer isso, não é a pessoa certa para mim, Adrian. – ela disse seriamente, e desta vez não era como uma ameaça para que ele ficasse com ela, mas realmente um ultimato para deixá-la livre se ele não tinha a mesma intenção de futuro que ela.

- Como pode me dizer isso, Bruna?

- Adrian, sei da sua insegurança quanto ao casamento, mas sinceramente não entendo o seu medo...  Mas sei que temos divergido muito sobre isso desde muito tempo. Não tenho dúvidas do seu amor por mim, por isso para mim é ainda mais difícil entender porque você foge disso. Tenho me perguntado se nosso futuro é juntos...

- Não tenho nenhuma dúvida de que quero você no meu futuro, Bruna. E não me vejo sem você lá. Só não entendo a sua pressa nisso tudo... Somos jovens, temos tantas coisas para viver ainda. Quero me casar com você, tenho certeza disto... Só não tenho certeza se quero isso agora.

- Eu pensei que o cartão era uma certeza com relação ao casamento...

- Claro... Eu... Eu tenho medo, sim. Não vou dizer que não. E nem pergunte do que tenho medo, pois eu mesmo não saberia responder. Mas estou disposto a superar isso... Pois você estará do meu lado. Vamos nos casar... Quando você quiser.

- Adrian, eu não quero que se sinta obrigado.

- Mas às vezes você me deixa com esta sensação, Bruna. – confessou ele.

Bruna levantou-se da cadeira e saiu confusa. Ele realmente não tinha certeza do que queria. E ela sabia exatamente o que queria para o seu futuro. E embora o amasse muito, queria que ele fosse sincero e a deixasse caso não tivesse o mesmo interesse que ela. Ela queria casar e formar uma família. E estava preparada para aquilo. Não queria mais esperar, pois estava com o homem que era ideal para ser seu parceiro para sempre. Ele foi atrás dela, como sempre fazia:

- Bruna, por favor...

- A sua confusão me deixa atordoada, Adrian... E mais confusa que você eu acho. – falou ela parando.

- Eu te amo.

- Tem certeza disto, Adrian?

- Como pode ter dúvida depois de tudo que fiz por você hoje?

- Acha que rosas são prova de amor, Adrian?

- Eu quero casar com você, Bruna... Eu quero muito... Ajude-me a perder este medo. Você pode escolher a data... Eu estou preparado.

- Início de dezembro. – falou ela firmemente.

- Mas... Falta menos de 2 meses...

- Não me importo com grandes preparativos. Pode ser tudo bem simples. – garantiu ela. – Não abro mão do vestido de noiva e da igreja.

- Tudo bem... Casaremos-nos início de dezembro. – falou ele sorrindo.

-Jura?

- Quer que eu assine um termo de compromisso? – falou ele cruzando os dedos em tom de brincadeira.

Ela riu e o abraçou com carinho.

- Eu te amo, Adrian... Nem acredito que vamos casar...

- Eu também te amo...

Eles voltaram para o restaurante e almoçaram juntos. Ele não foi trabalhar naquela tarde. Passaram a tarde caminhando pela cidade onde estavam, conhecendo alguns lugares e planejando sobre o casamento. Ela achou que ele passou a ficar bastante empolgado conforme falavam sobre como seria.

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