Bruna foi até Maiquel e Catita, certa de que eles não estavam ali para alegrá-la.
- Bem... – disse Catita. – Eu vim lhe entregar uma coisa... Sei que deveria ter entregado antes, mas tive um sério problema e não consegui.
- O que é? – perguntou Bruna desconfiada.
Catita tirou do bolso da jaqueta preta de couro um minúsculo bilhete de papel amassado.
- Adrian me pediu que lhe entregasse isso.
Antes de abrir o bilhete, Bruna já imaginava o que estava acontecendo. Sabia o que a esperava e não sabia se teria coragem suficiente para enfrentar. No bilhete, em letras firmes e decididas:
Bruna
Desculpe-me, mas eu não posso fazer isso. Sei que sou um covarde e que neste momento você está me odiando. Ainda assim eu amo você. Nunca tenha dúvidas disto. Sempre a amarei e nunca deixarei de amá-la. Não espero que ent
Ângela abraçou Bruna com força e todos entraram e silêncio na casa. Bruna foi para o quarto da mãe e ficou olhando para o teto, como se naquele momento aquilo fosse a coisa mais importante do mundo. Enquanto isso Angela tirava suas joias, roupas e maquiagem rapidamente. Elas ainda não haviam conversado. E Bruna preferia que fosse assim. Aquele tempo para ela era importante... Olhar para cima sem pensar em nada. Lágrimas de vez em quando caíam por suas faces ardentes. Ângela colocou seu pijama e colocou a cabeça da filha sobre seu colo, limpando carinhosamente as lágrimas que caíam.- Eu acho que neste momento nada do que falar vai deixar você menos triste, Bruna. Isso é uma coisa que ninguém tem noção de como você está se sentindo... E embora doa meu coração imensamente vê-la desta maneira, só você vai poder se curar
Bruna pensou nos falatórios que surgiriam a respeito do ocorrido e não sabia se no momento tinha forças para suportar. Sabia que mais cedo ou mais tarde teria que enfrentar todos, até mesmo Adrian, mas não era chegada a hora ainda. Precisava estar fortalecida e segura quando isto acontecesse. Ela sabia que não precisava dar satisfação às pessoas. No entanto aquela situação havia sido vexaminosa, não só para ela mas para sua mãe e sua irmã. Elas também teriam que enfrentar todos e dar respostas. Respostas que ninguém tinha, somente Adrian. Então sim, era melhor estar longe por um tempo. Precisava se preparar para enfrentar tudo quando voltasse. Ainda precisava colocar em ordem seus sentimentos com relação a Adrian, visto que continuava sentindo ódio mesclado com amor. O que havia acontecido naquela noite nada nem ninguém apagaria da
A estrada até o aeroporto estava vazia e o caminho escuro.- Vocês três são muito ligadas, não é mesmo? – falou Dani.- Sim... Quando uma sofre, todas sofrem. – disse Bruna.Dani colocou a mão carinhosamente na perna da sobrinha:- Angela teve tanta sorte...- Por quê? – perguntou Bruna.- Teve duas filhas... Dois amores.- Mas ela perdeu o marido... Então não foi muita sorte. – contestou Bruna.- Eu também perdi o meu... E não tive filhos para me fazerem companhia e me darem razão para seguir em frente.- Eu... Sinto muito. – disse Bruna.- Não sinta... Está tudo bem. – falou Dani. – Todos sentem muito quando algo ruim lhe acontece... Mas na verdade ninguém sente... Só você sente. Não concorda?- Tia Dani, me desculpe seu eu...- E
Bruna achava que entendia sobre o amor. Mas naquele momento, ouvindo a tia e a forma que ela lidava com a morte do marido, fazia com que ela questionasse o que conhecia deste sentimento. Era o amor da renúncia, da dor, da doação, do sacrifício... Ela não entendia sobre este amor. O amor que Dani e Angela haviam perdido... Eram felizes em seus casamentos, mas ambas perderam os companheiros muito cedo e de forma muito triste. Desde então viviam sozinhas, agarradas nas lembranças do passado. Talvez ser deixada na porta da igreja, por pior que fosse, não era tão horrível quanto perder o amor da sua vida. Sim, ela havia perdido Adrian... Mas ele estava vivo. Certamente não ficariam juntos de novo, mas ela o veria ou pelo menos tinha a certeza de que ele estava bem. Lidar com a perda deveria ser algo doloroso demais... E Bruna achava que a perda do pai era algo horrível em sua vida. Principalmente o fato d
E foi muito bom estar na Praia do Porto. Pelo menos na primeira semana. Dani era uma pessoa muito simpática e fazia Bruna se sentir muito bem sempre. Na segunda semana Dani pareceu ficar um pouco cansada de fazer coisas com a sobrinha e se fechou um pouco em seu mundo. Preferia ficar em casa, mas incentivava Bruna a sair. Mas Bruna não conhecia nada e sair sozinha pela praia para desbravar não lhe interessava muito.Sem ter o que fazer, com a saudade da família muito forte ela começou a lembrar de novo do passado, do que havia acontecido e de Adrian. Perguntava-se como ele estaria. E se culpava por se preocupar com ele. Durante as noites ela começou a ter pesadelos constantes e repetitivos. Sonhava com casamento que não se realizava e no altar havia um noivo que ela não conseguia ver o rosto. Nas primeiras vezes ela achou normal devido ao que havia acontecido com ela. Mas depois passou a ter um pouco de medo dos sonhos e
Bruna acordou cedo naquela manhã, antes de Dani. Colocou um short confortável e uma regata branca e tênis de caminhada. Em meio às presilhas encontrou um lenço vermelho que ganhara de Adrian. Gostava do presente e não sabia se ele lhe trazia lembranças naquele momento. Não hesitou em prender o cabelo num rabo de cavalo e ornamentar com o lenço. Preparou o café para ela e a tia. Dani ficou surpresa quando viu a mesa posta:- Acordou mais cedo que o normal hoje, Bruna. E ainda fez café... E parece gostoso.Dani sentou à mesa.- Não dormi nada bem por conta da tempestade. – confessou Bruna.- Eu avisei que eram um pouco assustadoras. Menos mal que elas geralmente são só à noite. E já amanheceu um dia lindo e quente novamente. Aproveite-o.- Sim... Hoje vou correr um pouco. Preciso me exercitar para ocupar um pouco o tempo.
Bruna fechou a porta de vidro da sacada. Estava ventando muito. Ela ficou um tempo olhando o mar pelo vidro. Como poderia amar tanto aquela paisagem? O mar estava tão calmo e tranquilo. Em nada parecia o que ela havia visto na noite anterior, durante a tempestade, com ondas enormes e violentas. O sol forte refletia na areia branca, dando um tom dourado próximo das ondas que corriam mansas engolindo a areia. Tudo ali era lindo e perfeito. Ela sabia que não ficaria ali para sempre... Um dia teria que partir. No entanto, não importava onde estivesse e quanto tempo se passasse, levaria para sempre na memória aquele lugar e os momentos tranquilos que tivera ali, encontrando a si mesma. Ela moraria ali para sempre facilmente... Não se importava com a solidão. Começava a se acostumar com tudo... E inesperadamente estava gostando muito. Mas não podia se empolgar, pois aquele não era seu lugar, muito menos seu mundo. Dani
Conforme ia andando, Bruna se surpreendia com a paisagem que ia mudando. O mar realmente começava a ficar mais calmo e as ondas mais fracas. A água continuava cristalina e convidativa. Mas formações rochosas começaram a aparecer dentro da água e também próximo da mata. E iam ficando maiores conforme ela caminhava. Árvores frondosas proporcionavam sombras enormes, tornando a areia fresca. Ela parou por alguns momentos para observar a paisagem de cima das pedras. A ilha era linda, mas naquele lugar parecia ser mais fabulosa ainda. Ela já não tinha mais o hábito de usar celular ali, mas naquele momento fez falta, pois daria belas fotos. Cassiane e Angela não acreditariam na beleza que ela via naquele momento... Ver somente a imensidão do mar à sua frente lhe trazia tranquilidade e paz de espírito. Era como se fosse somente ela e o mar para sempre. Ralf latiu, tirando-a de seu