Quando Bruna entrou em casa, Angela já estava a sua espera sentada no sofá da sala. Ela chegou já passava das 19 h, pois depois da consulta ainda tinha ido dar mais um passeio pelas ruas da cidade. Ela adorava o final da primavera e o início do verão. Tudo parecia ficar mais alegre.
- Não me diga que estava na faculdade até este horário. – falou Angela olhando no relógio.
- Claro que não, mamãe... Eu tinha consulta no hospital as 16 horas e depois acabei me demorando por aí.
Bruna não queria incomodar Angela com sua briga com o namorado.
- Adrian ligou inúmeras vezes...
- Diga que não estou.
- Então é isso... Eu sabia que tinha alguma coisa errada. Você nunca chega em casa tão tarde. Vocês brigaram novamente?
- Sim. – confessou ela.
Angela riu:
- Não se preocupe em me contar, Bruna. Eu já nem me importo com as brigas de vocês... Isso é tão comum.
- Desta vez é um pouco mais sério. – disse ela sentando ao lado da mãe no sofá e largando sua bolsa.
- Todas as outras também eram. – observou Angela.
- Mas desta vez realmente não quero falar com ele, mamãe.
- O que houve agora?
- Nada importante.
- Mas você mesma disse que era sério. Por que não quer me contar?
- Mamãe, não quero incomodar você com meus problemas...
- Nunca esqueça que seus problemas são meus problemas. Mas respeito se você não quiser contar. E se ele vir aqui logo mais, o que provavelmente acontecerá, não deixarei ele ver você.
- É isso que quero.
- Como foi na consulta?
- Tudo tranquilo. Estou quase de alta. – disse ela levantando as mãos para o teto.
- E os medicamentos? Continua? Tem previsão de quando irá diminuir?
- Ainda não... Hoje eu nem insisti para ele diminuir. Achei que precisava.
- Por quê? Sentiu algo?
- Tudo bem, mamãe... Na verdade foi até engraçado o que me aconteceu, mas deixa pra lá. Coisa da minha cabeça.
Cassiane e Cristiano entraram, fazendo a conversa das duas parar por ali.
- O que houve entre você e Adrian? – perguntou Cristiano dando um beijo na bochecha dela.
- Por que quer saber? – perguntou ela confusa.
- Adrian encheu meu telefone de chamadas esta tarde. Imaginei que algo tinha acontecido entre vocês. – disse ele sorrindo e piscando o olho.
- Nós brigamos. – disse ela fazendo cara de entediada.
- De novo? – perguntaram Cristiano e Cassiane juntos, se olhando e caindo na risada depois.
Bruna aproveitou que os dois começaram a falar sobre a pergunta que fizeram ao mesmo tempo, pegou seus pertences e subiu para o seu quarto.
Ela tirou suas pulseiras, sua roupa, tomou um longo banho quente, colocou um roupão, colocou uma música no rádio e foi deitar. Incrivelmente não estava pensando muito em Adrian e na discussão que haviam tido naquele dia. O ar fresco e ao mesmo tempo perfumado entrava pela janela lhe dando sensações boas.
Ângela passou pelo corredor e disse:
- O jantar será servido, Bruna.
- Não vou jantar, mamãe. Não estou com fome.
Ângela abriu a porta e disse:
- Sim, você vai jantar. E adivinha? Adrian já está aí.
- Eu não vou falar com ele. – disse ela firmemente.
- Bruna, eu não sei o que houve, mas nunca o vi tão desesperado. Acho que realmente foi sério o que aconteceu entre vocês. Mas ele garante que tudo não passou de um mal entendido.
- Ele disse que foi uma brincadeira, mamãe, mas não foi. Se foi, me magoou muito. Ele precisa ter mais cuidado com as palavras dele.
- Se ele diz que foi uma brincadeira, tenho certeza de que foi, Bruna. Perdoe este garoto. Ele faz tudo por você.
- Não vou vê-lo. – insistiu ela.
Bruna tinha certeza de que ele estaria por perto, ouvindo tudo que ela dizia. E sua mãe, incrivelmente sempre ficava ao lado dele nas brigas. Ângela saiu e Adrian colocou a cabeça na porta:
- Não faça isso comigo, meu amor. Por favor. Você sabe que te amo. Não me faça sofrer deste jeito. Tudo que eu disse era uma brincadeira. Perdoe-me como eu perdoei você.
“Perdoei você?” Ela ficou indignada. Do que ele havia a perdoado se ela não havia feito nada errado?
- Você sabe que não vivo sem você, Bruna.
Ela fingiu que não o ouvia. Desviou o olhar dele e ficou olhando para o teto. Ela sempre o perdoava de tudo e naquele momento não estava preparada para mais uma vez passar por cima do que ele havia feito. Ela realmente estava muito magoada. Ainda ecoava em sua mente o que ele havia dito duramente: “Não vou casar com eles e nem com você”. Ele saiu desistiu e saiu e ela deixou as lágrimas virem, inicialmente tímidas, depois escorrendo grossamente por suas bochechas coradas do sol da tarde. Seu coração partia ao tratá-lo daquela maneira, mas às vezes achava que era necessário. Por que tinha que gostar tanto dele para ser tão possessiva? Tudo que ela tinha em mente era casar com ele para ficarem juntos mais tempo e, no entanto estavam mais separados do que nunca. Ela sabia que seu ciúme atrapalhava bastante o relacionamento dos dois, no entanto não conseguia controlar. Era instigada na terapia a achar o motivo e sempre dizia que o amava por demais e por isso sentia aquela possessão sobre ele. Mas nem ao certo ela sabia o motivo, pois não tinha dúvidas dos sentimentos dele por ela. Ele até poderia ter receio de casar, mas os sentimentos dele eram sinceros. O relacionamento deles sempre fora assim, com idas e vindas, briguinhas sem motivo, às vezes um pouco mais sérias, mas no fim eles sempre reatavam e ficava tudo bem. Tanto Angela quanto Cassiane achavam Adrian um rapaz extremamente sensato e amável e tinham a mania de sempre achar que ele estava certo. Mas por algum motivo, naquele momento, ela se perguntou se algum dia aquele relacionamento poderia se transformar de tempestade para calmaria. Seria normal ser sempre daquela forma? Cassiane e Cristiano brigavam muito pouco. Algum dia aquela agitação toda poderia se transformar em tranquilidade? Algum dia ela olharia para ele sem temer que ele fosse o centro da atenção de outra pessoa?
Ela tinha a sensação de que tudo sempre dava errado em sua vida, por isso o tratamento, os remédios e tudo mais que ela fazia para se manter longe da depressão. Sabia da atenção e carinho que todos tinham por ela, no entanto era sempre o vazio que tomava conta de tudo. Tinha a sensação de que nunca seria realmente feliz. E naquele momento sentia que seu noivado estava indo por água abaixo e não sabia o que fazer para salvá-lo, pois seu orgulho era muito forte. Seria seu orgulho maior que seu amor por Adrian? Amor... Não tinha dúvida de que sentia isso por ele, mesmo sendo seu primeiro namorado. Adorava estar ao lado dele, ouvir suas palavras de carinho, especialmente quando ele lhe dizia que a amava. Para ela aquilo era muito importante. E ele sempre dizia. Ainda assim preferia manter-se virgem e entregar-se a ele após o casamento. Inicialmente achava que aquilo era realmente o que queria, sem bem ao certo saber o porquê. Com o passar do tempo, percebeu que isso poderia fazer com que Adrian decidisse casar-se logo, então passou a usar como forma de antecipar a vida deles a dois. No entanto, vivia pensando que ele tinha outras mulheres que provavelmente o satisfaziam sexualmente, o que lhe deixava insegura e com crises frequentes de ciúme. Então não sabia ao certo qual era a melhor coisa a fazer.
E foram poucas as vezes que pensou em ceder ao desejo. O fato de estar com ele simplesmente lhe satisfazia, tamanho amor que sentia por ele. Por vezes tinha a impressão de que traçara seu futuro sem ao menos consultá-lo e simplesmente o colocou ali, sem ele nem ao certo ter certeza do que realmente queria. Sim, eles precisavam conversar mais seriamente sobre isso... No entanto raramente conseguiam fazer isso sem brigar um pouco. Então ela muitas vezes preferia decidir tudo e não ouvir a opinião dele para não haver discussão. E ele aceitava, pois também não queria discutir sendo que sempre acabava cedendo e fazendo o que ela queria.
O celular tocou, tirando-a de seus pensamentos. Ela viu o nome de Adrian no visor e não atendeu. Ele tentou por várias vezes mas ela não atendeu.
Antes de dormir, Cassiane foi ver Bruna e ela contou a irmã com detalhes como havia sido a briga entre eles.
- Ele errou... Não deveria ter brincado com isso sendo que é bem importante para você. – falou Cassiane.
- Fiquei muito magoada, Cassi.
- Foi um erro, mas ele está arrependido, Bruna. E por este motivo está feito louco atrás de você. Eu duvido que você não tenha certeza do amor de Adrian.
- Ele brincou com algo muito sério para mim...
- Foi uma brincadeira... Não o torture desta forma, Bruna. Você sabe que ele está sofrendo e você também, pois o ama.
- Eu tenho tanto medo, Cassi...
- Do que você tem medo, Bruna?
- Da minha mente. – confessou ela.
Bruna não conteve as lágrimas e Cassiane a abraçou.
- Não quero que ele me deixe. – falou Bruna.
- Ele nunca vai deixá-la, meu amor. Ele a ama de verdade e todos sabem disso. Não deixe esta insegurança estragar tudo. Deixe que ele se explique e o perdoe. Ele é humano, ele comete erros. Não vale a pena você perder tanto tempo por uma briguinha de nada. Vocês precisam amadurecer esta relação. Já está na hora... Faz muito tempo que estão juntos.
- As palavras dele foram como uma facada no meu coração.
- E você precisa esquecer estas palavras, pois estão fazendo com que você sofra à toa e ele também.
Cassiane saiu e deixou Bruna ali, fingindo que havia parado de chorar. Assim que a porta se fechou, ela deixou que as lágrimas rolassem. Mas ela nem sabia ao certo o motivo. Sabia que não era tão sério o que ele havia feito para ela agir daquela forma. No entanto não se sentia bem consigo mesma e tinha muito medo. Sofria por antecedência por medo de seus novos pensamentos, do homem de seu sonho que havia visto por duas vezes naquele dia e pelo que sua mente podia fazer. Não queria voltar a ter pensamentos suicidas. Não queria voltar a tomar mais remédios controlados, para tristeza de sua mãe e sua irmã. Tampouco queria voltar para a clínica psiquiátrica.
Bruna tomou seu banho mais demorado que o normal naquela manhã. Atrasava-se todos os dias mesmo então não estava preocupada com o tempo. Colocou todas as suas pulseiras novas, maquiou-se, o que era raro fazer e olhou-se no espelho satisfeita:- O que esta vida lhe reserva, Bruna?Quando ela entrou na sala não percebeu o olhar rotineiro de reprovação da professora por ela ter chegado atrasada, o que era estranho. Patrício incrivelmente não lhe perguntou se ela havia dado o recado a Adrian, como fazia sempre. Catita não pousou seus olhos sobre ela e Maiquel não olhou-a dos pés a cabeça desejoso, como habitualmente.Ela sentou-se procurando não chamar muito a atenção, já que todos estavam prestando atenção na explicação da professora.- Teve um homem que já veio procurar por você duas vezes na sala. –
Logo que chegou em casa Bruna contou para a mãe com detalhes tudo que havia acontecido naquele dia. As flores ocupavam todos os cômodos da casa e ela se sentia imensamente feliz. Aguardava ansiosa a chegada de Cassiane para lhe contar tudo.Ângela passou a mão carinhosamente pelo rosto da filha e disse:- Eu te amo tanto, Bruna... Não quero que você se arrependa da sua decisão.- Eu não vou me arrepender, mãe. Você sabe que sempre desejei isso.- Não é um capricho seu? Uma forma de mantê-lo preso de alguma forma para acabar com esta sua insegurança?- Mãe, como você pode dizer isso?- Eu me preocupe com você... Sempre vou me preocupar. Eu quero que você seja feliz. E que tenha certeza de que está tomando a decisão certa. Para mim você ainda é uma menina.- Eu tenho certeza... Se isso a deixa
O telefone tocou, tirando Bruna de seus pensamentos. Era Adrian:- Adivinha no que estou pensando?Ela riu:- Nossa, pergunta difícil... Poderia ser tantas coisas...- Estou pensando em ir agora para sua casa, subir até o seu quarto e...- E dormir comigo. – disse ela rindo, certa dos pensamentos dele.- Não entendo como você consegue sempre me surpreender. – disse ele.- Não sou surpreendente... Na verdade é você que é muito previsível.Ele riu:- Bruna, andei pensando...- Hum, você pensando... Isso sim é surpreendente.Ele riu:- Puxa, eu não disse? Você sempre consegue me surpreender com o que diz. Consegue sempre saber o que estou pensando, mas eu nunca consigo imaginar o que passa nesta sua cabecinha.- Sim, eu o conheço muito bem, Adrian.- Acho que no fundo ninguém co
Angela tirou a semana de folga para ajudar Bruna com os preparativos do casamento, pois tinham pouco mais de 2 semanas para organizarem o casamento perfeito. Bruna já havia feito muitas coisas, mas Angela sabia que nas últimas semanas ela ficaria nervosa. A data marcada foi 3 de dezembro.Bruna nem viu o tempo passar de tantas coisas que teve para fazer na última semana. E quanto percebeu estava há dias do evento que seria o mais importante da sua vida. Naquele dia, enquanto colocava suas pulseiras, olhando especialmente para a última que ganhara de Adrian, ela lembrou de quanto entregara o convite do casamento para Maiquel e Catita. Ela tinha a impressão de que os dois ainda se casariam um dia, pois eram muito próximos. Ela havia entregue na faculdade. Fizera questão de ela entregar e não irem os dois juntos, como haviam feito com os demais convidados. Adrian nem se dera conta das más intençõ
E havia chegado o grande dia de Bruna realizar o seu sonho. Ela havia passado a semana excitada com os preparativos, muito dedicada a cada detalhe e também imensamente feliz por tudo aquilo que estava acontecendo. Sem perceber ela sorria na cama quando acordou.Ela foi tomar um banho gelado. Estava quente já cedo do dia. Verão chegando com temperaturas escaldantes. Enquanto a água escorria por seu corpo ela pensou em Adrian. Ele não havia ligado na noite anterior, como fazia sempre. Ela riu sozinha das insistências dele diárias em tentar convencê-la a fazer amor com ele. E o grande dia dela havia chegado, assim como a noite que ele tanto esperava. Bruna não estava nervosa pelo que aconteceria na noite de núpcias. Estava preparada há muito tempo para tudo que estava acontecendo. E aguardava ansiosa para estar nos braços de seu marido. Ela achara um pouco estranho ele não ter ligado na noit
- Quem é você? – perguntou Angela com os olhos cheios de lágrimas quando viu a filha.- Eu mesma, mamãe... Ou minha versão sexy eu acho. – disse Bruna sorrindo.- Conseguiu ficar ainda mais linda. – disse Dani.- Filha, estou tão orgulhosa de você. – disse Angela.- Mamãe, obrigada por tudo... Que você sempre fez por mim. – falou Bruna com lágrimas nos olhos, tentando não deixar elas escorrerem para não estragar a maquiagem.- Não precisa me agradecer, minha filha... Eu sempre fiz isso de coração e quando é feito de coração não há necessidade de agradecimentos.- Sei que ela está realmente estonteante, mas precisamos ir senão ela vai se atrasar, como sempre. Hoje não há tempo para atrasos... Temos o tempo cronometrado para tu
Bruna foi até Maiquel e Catita, certa de que eles não estavam ali para alegrá-la.- Bem... – disse Catita. – Eu vim lhe entregar uma coisa... Sei que deveria ter entregado antes, mas tive um sério problema e não consegui.- O que é? – perguntou Bruna desconfiada.Catita tirou do bolso da jaqueta preta de couro um minúsculo bilhete de papel amassado.- Adrian me pediu que lhe entregasse isso.Antes de abrir o bilhete, Bruna já imaginava o que estava acontecendo. Sabia o que a esperava e não sabia se teria coragem suficiente para enfrentar. No bilhete, em letras firmes e decididas:BrunaDesculpe-me, mas eu não posso fazer isso. Sei que sou um covarde e que neste momento você está me odiando. Ainda assim eu amo você. Nunca tenha dúvidas disto. Sempre a amarei e nunca deixarei de amá-la. Não espero que ent
Ângela abraçou Bruna com força e todos entraram e silêncio na casa. Bruna foi para o quarto da mãe e ficou olhando para o teto, como se naquele momento aquilo fosse a coisa mais importante do mundo. Enquanto isso Angela tirava suas joias, roupas e maquiagem rapidamente. Elas ainda não haviam conversado. E Bruna preferia que fosse assim. Aquele tempo para ela era importante... Olhar para cima sem pensar em nada. Lágrimas de vez em quando caíam por suas faces ardentes. Ângela colocou seu pijama e colocou a cabeça da filha sobre seu colo, limpando carinhosamente as lágrimas que caíam.- Eu acho que neste momento nada do que falar vai deixar você menos triste, Bruna. Isso é uma coisa que ninguém tem noção de como você está se sentindo... E embora doa meu coração imensamente vê-la desta maneira, só você vai poder se curar