Bruna ainda ouvia a voz de Adrian ecoando em sua mente. Ficou um pouco arrependida de ter iniciado aquela conversa por telefone. Era algo que deveria ter feito pessoalmente, ver a reação dele. Foi até o toalete e escovou os dentes. Olhou-se no espelho. Estava magra, como sempre e detestava os ossos aparentes em sua pele. Comia super bem, mas nunca engordava. Os olhos azuis pareciam mais brilhantes conforme o tempo passava. Os cabelos louros e lisos estavam no meio das costas. Ela não cortara mais desde que saíra de um dos tratamentos. Havia prometido pra si mesma que trataria de arranjar mais tempo para se dedicar aos fios dourados que nunca dera importância. E estava realmente tentando hidratar, cortar as pontas e manter eles sedosos, em nada lembrando o que foram no passado. Ela abriu o armário e retirou os vários frascos de comprimidos e juntos todos na mão direita, engolindo de uma vez. O hábito de tomar um gole de água da torneira da pia não mudava, mesmo com as várias recomendações e xingamentos de Angela. Ela retirou da mão direita as mais de 10 pulseiras de metal e colocou sobre o balcão. Depois a pulseira de couro larga que cobria o outro pulso. Olhou para as marcas visíveis nos braços claros. De nada se orgulhava de ter tentado um dia tirar a própria vida. Mas também sabia que o que mais lhe doía era a dor que havia causado em sua mãe e sua irmã e não o fato de ter tentado tirar a própria vida em si. Pouco falavam sobre aquilo na casa. Angela e Cassiane tentavam de toda forma possível fazê-la esquecer aquele passado doloroso para todas. Mas os medicamentos e as consultas semanais sempre a faziam lembrar. Ela já ia sozinha nos médicos e embora enjoada da mesmice das consultas, seguia com o tratamento, pois sabia que Angela jamais deixaria que ela parasse de consultar. Mas ela tinha a certeza de que estava bem e que não tentaria novamente tirar a própria vida. Hoje era feliz ao lado de Adrian e satisfeita com sua vida. Aquele vazio que ela sentia e a sensação de que lhe faltava algo talvez fizesse parte da vida. Por isso ela achava que casar poderia preencher o que ela sentia. Filhos lhe ocupariam cada espaço vazio que havia para pensar em qualquer coisa. Os próprios médicos já haviam dito que ela estava bem. Mas talvez a terapia fosse para sempre. Adrian mudou completamente sua vida. Ele lhe deu forças para seguir em frente, com sua alegria e disposição. Ela falava com ele sobre todos os seus sentimentos, por isso sabia que deveria também lhe contar sobre sua vontade de antecipar a vida a dois. E assim, olhando para o teto branco e pensando em Adrian, ela adormeceu.
Bruna acordou quando o relógio despertou pela terceira vez, como sempre fazia. Saiu correndo da cama, tomou um banho rápido, vestiu-se com jeans e uma blusa branca e um tênis da mesma cor, pegou sua bolsa e saiu correndo. Voltou para amarrar os cabelos num rabo de cavalo. Quando chegou na cozinha Angela estava com a xícara de café e um sanduíche pronto para ela. Cassiane estava de saída também.
- Mamãe, você me salvou. Atrasei-me novamente. – disse ela.
- E isso não acontece todos os dias? – Cassiane riu pegando a bolsa e beijando a mãe.
Bruna riu. Não havia como discutir uma verdade daquelas. Cassiane lhe deu um beijo estalado na testa:
- Dormiu bem?
- Se eu disser que não estaria mentindo... Mas tive um sonho estranho...
-Você e Adrian casando numa ilha deserta? – perguntou ela rindo.
Bruna ficou séria. Não havia dado importância ao sonho, mas naquele momento, enquanto iria contar, lhe soou um pouco estranho:
- Acredita que sonhei com um homem que eu nunca vi na minha vida?
- Acredito... Sonhos são sonhos. – Cassiane saiu.
- Mamãe, eu também preciso ir. Quando sair pode deixar a louça que eu lavo tudo quando chegar, prometo. – disse Bruna.
- Vou mais tarde hoje para o trabalho... Não se preocupe. Não gosto que você faça tudo sempre às pressas...
- Está tudo bem, mamãe... Acho que sou uma eterna preguiçosa.
- E... Sobre seu sonho? Tudo bem?
- Sim, tudo bem. Só achei estranho. Se fecho os olhos, vejo a imagem dele.
- Era bonito pelo menos? – Angela riu. – Você disse sonho, não pesadelo...
Bruna riu:
- Sim, ele era bonito eu acho...
- Adrian que se cuide nos sonhos... – disse Angela rindo e dando um beijo em Bruna que saiu apressada.
Quando saiu na porta ela olhou para os pulsos e viu que havia esquecido das pulseiras. Subiu as escadas correndo e colocou todas novamente nos pulsos. Pronto, agora podia ir.
Ela chegou atrasada na faculdade, como de costume. Ela sentou-se ao lado de Patrício, como sempre fazia. Ele era muito inteligente e lhe ajudava com quase tudo que era proposto nas aulas.
Ali sentada, olhava para a professora falando, mas pouco conseguia prestar atenção ou se concentrar. Ela era sempre assim: pensava demais e o tempo todo. E muitas vezes não conseguia prestar atenção ao que acontecia no momento. Enquanto balançava a caneta na mão ela parou um pouco constrangida, ouvindo o barulho das próprias pulseiras ecoando na sala. E assim era todos os dias aquela vida na faculdade. Ela nem tinha certeza se queria fazer administração de empresas. Na verdade nem sabia se queria fazer faculdade, mas Angela não lhe deu a opção de ficar em casa, então foi obrigada a escolher um curso para fazer. Na verdade ela só queria ficar com Adrian o tempo todo.
- Bruna? Tudo bem?
Ela olhou para Patrício:
- Que foi?
- Nada... É que estou te chamando a algum tempo e você não me responde... – falou ele confuso.
- Desculpe... Nem percebi. Acho que eu estava longe. – falou ela sorrindo.
Quando ela se virou para Patrício seu olhar cruzou com o de Catita, que a observava atentamente.
- Mas o que você queria, afinal? – perguntou ela.
- Vai encontrar Adrian hoje?
- Sim, combinamos de almoçar juntos.
- Gostaria que falasse para ele ir na minha casa hoje à noite. Tenho uns games novos que ele vai gostar.
Ela fez uma cara de falsa irritação:
- Tudo bem, aviso se lembrar.
Ele riu:
- Este é o problema. Você nunca lembra de dar meus recados.
- Me desculpa, Patrício... Mas realmente esqueço. Quando nos encontramos temos tantas coisas para falar sempre que acabo esquecendo dos recados. Mas prometo que desta vez vai ser diferente... Ele vai curtir os games. – disse ela pisando o olho.
Ele riu, certo de que Bruna não daria o recado ao amigo.
Logo chegou o horário do intervalo. Ela foi até a lanchonete pegar um suco, pois já estava com fome novamente. Quando entrou viu Catita e Maiquel sentados lanchando. Ela fingiu que não os viu, pegou seu suco e foi saindo pela outra porta para não ser notada. Bruna não suportava Catita, mas fingia que estava tudo bem entre as duas. Maiquel era o melhor amigo e fiel escudeiro dela, por isso Bruna não gostava dele também. Enquanto tentava cortar caminho, Maiquel a chamou. Ela tentou fingir que não ouviu, mas Patrício fez questão de dizer:
- Maiquel está chamando você.
- Sério? Nem escutei. – mentiu ela.
Ela foi até eles e Patrício a acompanhou.
- Me chamou? – perguntou ela com o suco na mão.
- Sim... Queria ver se gostariam de nos fazer companhia. Tem lugar pra todos aqui. – disse ele.
-Estou com um pouco de pressa... Tenho prova depois e preciso estudar mais um pouco durante o intervalo. – mentiu ela.
- Duvido que você precise estudar... Sempre tira notas boas. – observou ele.
Ela olhou no relógio:
- Realmente hoje não vai dar...
- Você e Adrian vão se ver hoje? – perguntou ele.
- Sim... Por quê? – perguntou ela desconfiada.
- Se ele não viesse eu ia convidá-la para almoçarmos juntos. – disse ele.
- Mas ele vem...
- Ele foi ao jogo ontem. – falou Catita ironicamente.
- Sim, sei. Ele me convidou, mas detesto futebol.
- Ontem estava incrivelmente perfeito o jogo. Aposto que você iria adorar. – falou ela.
- Você... Foi? – perguntou Bruna incrédula.
- Claro... Os rapazes sabem que sou louca por futebol.
- Prometo que no próximo eu vou. – falou Bruna tentando não transparecer a raiva que sentia.
- Seu namorado estava animadíssimo.
- Pudera, ele ama ver os jogos no estádio não é mesmo? Principalmente se o time dele ganha. – arriscou ela sem realmente saber o resultado do jogo.
- Sim, sempre foi um amante do futebol... E de outras coisas boas. – observou ela.
Bruna chegou a sentir o copo tremer sobre seus dedos. Respirou fundo e disse:
- Sim, realmente. Mas estou mesmo com pressa, pessoal. Outra hora nos falamos melhor. – disse ela saindo sem explicações.
Catita estava estonteante, como sempre. Era morena, tinha os cabelos lisos e os olhos verdes brilhantes e grandes. A pele parecia sempre recém saída de uma temporada na praia. Tinha um corpo com formas arredondadas, seios fartos sempre mostrados em decotes profundos e uma maquiagem impecável todos os dias. Ela tinha cheiro de sensualidade. Bruna não tinha como negar a beleza da ex-namorada de seu noivo, embora a achasse um tipo comum de se encontrar em qualquer lugar. E o que mais lhe irritava era Catita era a confiança e segurança que ela tinha.
O restante da manhã demorou a passar. Bruna sabia que era assim sempre que iria ver Adrian. Ela estava com saudade, mas temia o encontro entre os dois devido ao assunto que queria tratar com ele. A saudade estava misturada ao nervosismo. Era mais fácil falar pelo telefone do que pessoalmente, mas enfrentaria aquilo. Riu de si mesma e de seus pensamentos loucos. Não iria lhe propor nada ruim... Era só um pedido de casamento. Sabia que tinham planos para isso então era só adiantar o que já estava combinado.Quando estava perto do portão principal ela viu Catita e começou a andar um pouco mais rápido para passar por ela. Fazia questão de ser vista com Adrian pela moça. Ele estava lá, encostado no portão, com sua calça Jeans clara e uma camisa amarela que ela amava. O coração dela derretia quanto o via daquele jeito, tentando um ar mais casual. Quando a viu ele n
Quando Bruna entrou em casa, Angela já estava a sua espera sentada no sofá da sala. Ela chegou já passava das 19 h, pois depois da consulta ainda tinha ido dar mais um passeio pelas ruas da cidade. Ela adorava o final da primavera e o início do verão. Tudo parecia ficar mais alegre. - Não me diga que estava na faculdade até este horário. – falou Angela olhando no relógio. - Claro que não, mamãe... Eu tinha consulta no hospital as 16 horas e depois acabei me demorando por aí. Bruna não queria incomodar Angela com sua briga com o namorado. - Adrian ligou inúmeras vezes... - Diga que não estou. - Então é isso... Eu sabia que tinha alguma coisa errada. Você nunca chega em casa tão tarde. Vocês brigaram novamente? - Sim. – confessou ela. Angela riu: - Não se preocupe em me contar, Bruna. Eu já nem me importo com as brigas de vocês... Isso é tão comum. - Desta vez é um pouco mais sério. – disse ela senta
Bruna tomou seu banho mais demorado que o normal naquela manhã. Atrasava-se todos os dias mesmo então não estava preocupada com o tempo. Colocou todas as suas pulseiras novas, maquiou-se, o que era raro fazer e olhou-se no espelho satisfeita:- O que esta vida lhe reserva, Bruna?Quando ela entrou na sala não percebeu o olhar rotineiro de reprovação da professora por ela ter chegado atrasada, o que era estranho. Patrício incrivelmente não lhe perguntou se ela havia dado o recado a Adrian, como fazia sempre. Catita não pousou seus olhos sobre ela e Maiquel não olhou-a dos pés a cabeça desejoso, como habitualmente.Ela sentou-se procurando não chamar muito a atenção, já que todos estavam prestando atenção na explicação da professora.- Teve um homem que já veio procurar por você duas vezes na sala. –
Logo que chegou em casa Bruna contou para a mãe com detalhes tudo que havia acontecido naquele dia. As flores ocupavam todos os cômodos da casa e ela se sentia imensamente feliz. Aguardava ansiosa a chegada de Cassiane para lhe contar tudo.Ângela passou a mão carinhosamente pelo rosto da filha e disse:- Eu te amo tanto, Bruna... Não quero que você se arrependa da sua decisão.- Eu não vou me arrepender, mãe. Você sabe que sempre desejei isso.- Não é um capricho seu? Uma forma de mantê-lo preso de alguma forma para acabar com esta sua insegurança?- Mãe, como você pode dizer isso?- Eu me preocupe com você... Sempre vou me preocupar. Eu quero que você seja feliz. E que tenha certeza de que está tomando a decisão certa. Para mim você ainda é uma menina.- Eu tenho certeza... Se isso a deixa
O telefone tocou, tirando Bruna de seus pensamentos. Era Adrian:- Adivinha no que estou pensando?Ela riu:- Nossa, pergunta difícil... Poderia ser tantas coisas...- Estou pensando em ir agora para sua casa, subir até o seu quarto e...- E dormir comigo. – disse ela rindo, certa dos pensamentos dele.- Não entendo como você consegue sempre me surpreender. – disse ele.- Não sou surpreendente... Na verdade é você que é muito previsível.Ele riu:- Bruna, andei pensando...- Hum, você pensando... Isso sim é surpreendente.Ele riu:- Puxa, eu não disse? Você sempre consegue me surpreender com o que diz. Consegue sempre saber o que estou pensando, mas eu nunca consigo imaginar o que passa nesta sua cabecinha.- Sim, eu o conheço muito bem, Adrian.- Acho que no fundo ninguém co
Angela tirou a semana de folga para ajudar Bruna com os preparativos do casamento, pois tinham pouco mais de 2 semanas para organizarem o casamento perfeito. Bruna já havia feito muitas coisas, mas Angela sabia que nas últimas semanas ela ficaria nervosa. A data marcada foi 3 de dezembro.Bruna nem viu o tempo passar de tantas coisas que teve para fazer na última semana. E quanto percebeu estava há dias do evento que seria o mais importante da sua vida. Naquele dia, enquanto colocava suas pulseiras, olhando especialmente para a última que ganhara de Adrian, ela lembrou de quanto entregara o convite do casamento para Maiquel e Catita. Ela tinha a impressão de que os dois ainda se casariam um dia, pois eram muito próximos. Ela havia entregue na faculdade. Fizera questão de ela entregar e não irem os dois juntos, como haviam feito com os demais convidados. Adrian nem se dera conta das más intençõ
E havia chegado o grande dia de Bruna realizar o seu sonho. Ela havia passado a semana excitada com os preparativos, muito dedicada a cada detalhe e também imensamente feliz por tudo aquilo que estava acontecendo. Sem perceber ela sorria na cama quando acordou.Ela foi tomar um banho gelado. Estava quente já cedo do dia. Verão chegando com temperaturas escaldantes. Enquanto a água escorria por seu corpo ela pensou em Adrian. Ele não havia ligado na noite anterior, como fazia sempre. Ela riu sozinha das insistências dele diárias em tentar convencê-la a fazer amor com ele. E o grande dia dela havia chegado, assim como a noite que ele tanto esperava. Bruna não estava nervosa pelo que aconteceria na noite de núpcias. Estava preparada há muito tempo para tudo que estava acontecendo. E aguardava ansiosa para estar nos braços de seu marido. Ela achara um pouco estranho ele não ter ligado na noit
- Quem é você? – perguntou Angela com os olhos cheios de lágrimas quando viu a filha.- Eu mesma, mamãe... Ou minha versão sexy eu acho. – disse Bruna sorrindo.- Conseguiu ficar ainda mais linda. – disse Dani.- Filha, estou tão orgulhosa de você. – disse Angela.- Mamãe, obrigada por tudo... Que você sempre fez por mim. – falou Bruna com lágrimas nos olhos, tentando não deixar elas escorrerem para não estragar a maquiagem.- Não precisa me agradecer, minha filha... Eu sempre fiz isso de coração e quando é feito de coração não há necessidade de agradecimentos.- Sei que ela está realmente estonteante, mas precisamos ir senão ela vai se atrasar, como sempre. Hoje não há tempo para atrasos... Temos o tempo cronometrado para tu