Belinda saiu e após poucos minutos aquele homem voltou e jogou um jato de água em mim. Me deu uma calça caqui e camiseta branca. Eu não iria para casa.
Eu estava na penitenciária do estado. Não poderia lutar por Belinda.Na cela havia uma cama de cimento com um colchão velho sem lençol, uma pia e um vaso sanitário. Ouvi a fechadura ser trancada e fiquei ali sozinho.Alguns dias depois minha mãe foi me visitar.-E o papai?
-Não veio. Não pode suportar ver você aqui. Aí meu filho sabemos que essas acusações são falsas.-E de que me acusam?-Dizem que você tentou matar a filha dos Castro...-Estevão...-Sim. Belinda me procurou. Ela me contou a verdade e disse que teve que aceitar as ameaças dele.-Belinda? -Sim. Ela está aqui.-Belinda está aqui?Minha mãe não respondeu. Apenas se levantou e abriu a porta.
-Venha querida.
Belinda entrou. Ela estava claramente abatida. Seus olhos fundos e quilos mais magra. Parecia mu
Algo estranho aconteceu. Eu sempre ia ao cemitério da cidade vizinha. Como não sabia onde tinha espalhado as cinzas de Debbie, ia sempre lá como uma forma de visitá-la.Eu tinha uma foto dela que Estevão havia conseguido para mim. Nossa filha não se parecia com ela. Ela era loira e tinha os olhos extremamente azuis. O retrato sorria para mim. Ele disse que essa foto havia sido tirada por mim por isso ela sorria. Ele disse que havia encontrado amassada no jardim, logo após me deixar na casa. Mas o sorriso dela não chegava aos olhos. Parecia forçado. Talvez algo a afligisse.Fui mais uma vez ao cemitério e dessa vez levei minha filha para que ela pudesse aprender que sua mãe não estava mais entre nós. Parei em frente a um túmulo e fiquei ali pensando em Debbie. Ao longe havia uma mulher mais velha e uma garota, próximo a um túmulo. Elas choravam muito. Fiquei realmente curioso para saber quem era digno das lágrimas de duas belas mulheres. Então me escondi e qua
Envenenada.Foi isso que meus exames constaram. Eu estava sendo envenenada aos poucos há pelo menos seis meses. Eis o motivo do nascimento prematuro e morte da minha filha. Só que o mais estranho, era que no meu estômago não haviam vestígios do veneno, apenas na minha corrente sanguínea existia uma grande concentração de arsênico, portanto não era na comida que ele estava sendo colocado. Sem veneno, sem provas. Podia ser qualquer um, apesar de que, eu tinha certeza que era Estevão. Mas infelizmente não podia provar. E muito menos denunciar, já que era Uli quem cuidava de minhas coisas e com toda certeza Estevão a culparia.Ele entrou no quarto logo após a saída do médico.-O que quer aqui?-Vim ver como você está.-Estou ótima, já pode ir.Apertei a campainha que chama a enferme
O sono me abandonou. Belinda saiu daquele quarto mas eu ainda podia sentir o seu perfume. Sentia ódio de Estevão. Ele estava envenenando Belinda. O que o impediria de me matar e a minha filha? Nada. Apesar de que para ele eu era inofensivo por não me lembrar de Belinda. Mas suponho que seu intuito era outro. Ele a queria morta. Não a mim. Ele queria que eu sentisse sua perda. Como ele sentiu.Desde o início eu sabia que me envolver com Belinda traria graves consequências. Mas imaginei uma briga sem fim com o pai dela e não um marido indesejado. Ela tinha apenas dezoito anos mas já sofrera por toda uma vida. O que leva um pai a obrigar a própria filha a se casar com um homem que não ama? Estevão era apenas dois anos mais velho do que Belinda. Me lembro de vê-lo olhar para ela na escola. Seus pais morreram pouco antes de Belinda voltar, deixando em suas mãos todos os negócios da familia. Ao menos era o que se dizia nos corredores da escola. Todas as garotas o queriam (ou
Toquei a campainha e a porta se abriu sem muita cerimônia. Já havia sido anunciada pelo porteiro.-Belinda!Que surpresa boa.-Precisamos conversar Verônica.Há muito já havia deixado de chamá -la formalmente. Ela havia exigido que eu a chamasse pelo nome.-O que aconteceu, querida?-Preciso te contar uma coisa... Sobre Cristian.-Meu menino, sinto tanto sua falta. Tenho ódio daquele homem cada vez que penso no meu filho.-Com o que vou lhe contar sentirá ainda mais ódio, mas deverá se controlar.-Você está me assustando.-Verônica...Cristian... Ele... Ele está vivo.-Como disse, querida?Acho que não ouvi direito.-A senhora ouviu perfeitamente bem.-Não brinque comigo Belinda.-Não estou brincando e quase morri de susto, tanto quanto você.Ela não respondeu.-Verônica, ouça. Lembre-se daquele rapaz que vimos no cemitério?-Sim.-Era ele.-Não era, ele teria vindo até nós.&n
Acordei sentindo minha mente enevoada. Flashes do que ocorreu no cemitério surgiram. Eu estava sozinha num quarto. A luminosidade era parca e cheirava a mofo. O colchão sob o meu corpo fedia a uma mistura de suor e poeira. Me forcei a sentar e olhei em volta a procura de uma pista de onde eu estava. Nada. Era um quarto pequeno e não tinha móveis, além do colchão no qual eu me encontrava. Havia duas portas. Me levantei e fui até a primeira. Trancada. Provavelmente a saída. A segunda porta se abriu para revelar um banheiro onde havia um vaso sanitário e um cano no lugar que deveria ser o chuveiro.O cheiro era de água sanitária.Olhei pelo pequeno vitrô do banheiro. Não reconheci o lugar. Era deserto. Havia um descampado e mais a frente podia - se notar uma densa floresta.As horas se arrastaram até que Estevão apareceu. Ouvi a porta se abrir e fechei os olhos para fingir que dormia.-Acorde - Vociferou.Abri os olhos para dar de cara com u
A dor era escruciante. Não parecia real. Era forte demais para ser real.Eu tinha visões. Imagens desfocadas que envolviam Estevão e Cristian. Mas eu não saberia explicá -las posteriormente.Senti algo gelado em minha testa e abri os olhos. Eles pareciam pesados. Um rosto que eu não conhecia olhava para mim com olhar preocupado.-Oi. Achei que não fosse acordar - Falou com um sotaque que eu conhecia mas não me lembrava de onde.-Quem é você? -Me chamo Maya.-Onde eu estou?-Na floresta da Tijuca. -Eu...Não me lembro o que houve.-Você foi picada por uma cobra. Teve sorte de eu estar lá. -Você mora na floresta da Tijuca? -Bem no meio dela - Disse sorrindo.-Não imaginei que fosse possível. -Mas é. Agora descanse enquanto preparo algo para você comer.-Não estou com fome.-Você está há qua
Minha vida quase voltara a rotina normal, a que eu tinha antes de tudo, se não fosse pelo fato de que eu ainda achava que Belinda estava viva.Eu fiz uma prova e com isso conclui a faculdade. Minha filha falou mamãe e por mais que eu pedisse a ela que dissesse papai, só o que ouvia era um sonoro "mamã ", seguido de uma gostosa gargalhada.Quase um mês após o sumiço de Belinda ela não havia aparecido. Ainda....Maya me ajudou com o cabelo, eu queria estar apresentável quando chegasse em casa.Fui com ela até o carro e todos entramos. Ela foi quem dirigiu. Ouvia algo no som que eu não prestei atenção. Meus olhos focaram na estrada. Então percebi porque mesmo depois de ter me curado, mesmo quando estava com raiva de Ben, eu não voltei. Foi porque estava com medo. Medo de enfrentar Estevão. De correr o risco de ser tocada por ele novamente. Mas eu precisav
Acordei com uma batida na porta.-Quem é?-Eu meu filho.-Pode entrar mãe.Ela abriu a porta e entrou fechando - a atrás de si.-Tem alguém que quer vê-lo.-Não quero ver ninguém.-Tenho certeza que vai gostar.-Olha mãe...-Desça, Cristian e se não gostar da visita pode subir de volta.Senti que minha mãe escondia algo. Suspirei.-Está bem mãe. Desço em cinco minutos.Ela sorriu e saiu do quarto.Fui ao banheiro e lavei o rosto. Passei os dedos nos cabelos e coloquei uma camiseta. Abri a porta e sai sem vontade. Desci as escadas e quando cheguei a sala de estar minhas pernas falharam. Bem no meio da sala, em pé estava Belinda. Corri até ela e a abracei. Meu rosto já estava banhado em lágrimas.-Você está viva!-Estou Cristian.Comecei a soluçar. Não me contive, não quis me conter e dei vazão ao choro. Meus membros tremiam. A dor era escruciante, mas o alívio era ainda maior.