Luciana
— Você... — Otávio começou a falar olhando para mim, assim que chegou à sala de estar, mas eu o cortei.
— Sou a filha da Amélia. — Exclamei abruptamente, antes que ele terminasse de me reconhecer. — Você deve ser o médico que minha mãe chamou. Siga-me, por favor. Vou levá-lo aos aposentos dela.
Se Otávio mostrasse que me conhecia, iriam desconfiar que ele poderia me ajudar a fugir. Por sorte, ele entendeu rapidamente o significado da minha atitude.
— Imediatamente, senhorita. — Ele fez uma mesura a Maurício e me seguiu.
Uma coisa que não posso negar é o profissionalismo de Otávio.
No passado, eu confundi essa característica com afeto.
Otávio deve ter visto que aquela chácara era bem isolada, provavelmente teve trab
Luciana— O quê? — Christofer indagou, e eu pude sentir a dor imensa em sua voz. Ele não ficou surpreso, ficou amargurado. — Diga que é mentira, Luciana.— Não é o que está pensando! — Tratei de garantir. Era muito simbólico estar na casa do homem por quem já fui apaixonada, o mesmo homem que disse que agora tinha interesse em mim. Ainda mais àquela hora da manhã.— E o que eu estou pensando, Luciana?! — A voz dele estava cheia de rancor. Eu tenho certeza que ele estava esmagando o celular com as mãos.— Chris, eu fui sequestrada. — Soltei de uma vez, para que ele soubesse antes de desligar o telefone na minha cara e tirasse suas próprias conclusões de frases soltas.Ele emudeceu de novo. Eu não sei se a ligação caiu, ou se ele tinha jogado o celular contr
NarradorLuciana acordou um pouco indisposta. Dormir à tarde não era particularmente do agrado dela.Ela se lembrou que estava no apartamento de Christofer, que, por sinal, estava vazio. O relógio da parede marcava 17:32. Não foram muitas horas de sono, mas ajudaram para que a dor dela se aliviasse. Ela encontrou alguns remédios sobre a mesa, gentilmente separados, acompanhados por um copo cheio de água. Eles iriam aliviar sua dor de cabeça. Ela sorriu ao se lembrar de como Christofer era cuidadoso.Ela ingeriu os remédios e sentiu um dissabor pelo gosto amargo. Achou melhor tomar um banho para aliviar o mal-estar. Quando a água caiu em seus cabelos, ela viu um fio levemente avermelhado escorrer por seu corpo novamente. Ainda restava sangue em suas feridas, e ela os limpou pacientemente, sentindo arder um pouco.Após o banho, ela limpou as gotículas
Luciana— Como assim? — Indaguei.— Eu não quero que ninguém mais se aproxime de você por causa dela. — Christofer esclareceu. Acho que estava com um pouco de vergonha pelo pedido.— Tem medo que as pessoas o chamem de interesseiro, não é? — Perguntei, um pouco decepcionada. — Todos que se aproximam de mim recebem essa alcunha.— Eu tenho medo que pense o mesmo. — Ele disse, completamente desolado.Ele ainda tinha medo dos meus pensamentos? Eu não queria voltar ao tempo em que ele era completamente refém das minhas palavras ao ponto de ficar pensando nelas por dias.A vida é assim: pensamos que vamos suportar tudo e todos, mas Christofer estava experimentando fracassos e desconfiança em si mesmo desde que me conheceu.— Sabe que nunca vou pensar isso. — Falei, apesar de Suzana j
Luciana— O quê?! — Dei um pulo do sofá e fiquei reflexiva. Christofer ficou me olhando, parado com a língua de fora. — Me manda sua localização que eu vou aí.— Obrigada, amiga. Depois te conto tudo com detalhes.Desliguei.— Já vi que é grave. — Ele comentou, inconsolável. Eu podia ver a marca da excitação na roupa dele.— Mais ou menos.Pegamos um trânsito e tanto. Claro que o Christofer quis me levar, principalmente por causa da questão da Amélia.Eu também não sabia tanto assim da relação entre Alessandra e Luana, mas se ela me ligou é porque realmente precisava de mim. Alessandra nunca pedia ajud
LucianaEu estava sem chão. Lacrimejei, pressionando meus olhos com angústia e uma raiva insana. Como ela ousava sugerir que matou meu pai só para me meter medo?— Do que está falando? — Meu tom foi odioso. Ela não podia estar falando sério.— O seu pai, com toda a importância dele, até hoje não foi vingado, querida. Por que será? — Amélia disse com uma amarga frieza, mas ela queria ser convincente na ameaça. Era um jogo.— Não pode ser verdade. — Assimilei, apertando meus olhos com os dedos. — Está blefando para me amedrontar! Você é baixa!Eu senti culpa por falar assim com a mulher que me pariu, mas existem limites para a loucura, e um deles é o crime.— Ama mesmo esse rapaz? — Ela indagou, num tom agressivo. Ela também
LucianaEle começou a tirar a camisa apressadamente.— P-Pare. — Pedi, mas ele era muito rápido e se debruçou sobre mim. Quando senti o corpo dele me apertando contra o sofá e aquela língua provocante deslizando pela minha garganta, não resisti e gemi.Subitamente, o que era uma punição mostrou-se uma tentativa frustrada, pois ele ficou bem inebriado de paixão. Christofer ficou me olhando, tentando entender como ele mudou de perspectiva tão facilmente.— Droga, você me deixa louco. — Ele reclamou.<
NarradorLuana quebrou o videogame de Lucas. A TV. Os jogos. Rasgou as revistas, a cortina. Furou o colchão. Não faltava muito para tirar as calças por cima, ela estava num misto de cólera, agonia e loucura.— Já acabou? — Disse Lucas, apoiando-se no batente da porta de seu quarto enquanto observava o surto da irmã. O olhar dele transmitia a imensa enxaqueca que surrava sua cabeça. — Pode quebrar o que quiser, mas não pode mudar o que aconteceu.— É para não quebrar a sua cara! — Ela apontou o dedo para ele. Estava agressiva, injuriosa e ameaçadora. A raiva lhe deu muita energia. — E para que se lembre do que me fez! Ela USOU você, idiota! Ela gosta de buceta!— Ela gozou. — Lucas disse em tom baixo, mas logo se arrependeu.Luana arremessou uma mala vazia sobre o irmão, incapaz de e
NarradorQuando Luciana e Alessandra chegaram ao hospital, elas estavam ofegantes. Correram bastante depois de receberem a notícia, abandonando todos os seus afazeres para entenderem o que estava acontecendo.Christofer e Renan estavam de pé, próximos a Lucas, num dos muitos corredores de espera do pronto-socorro. Cada um estava de um lado do amigo, e não conversavam, mas precisavam estar ali para dar suporte.Lucas permanecia sentado com o rosto coberto pelas mãos, chorando como uma criança. Não tinha uma parte seca entre seus dedos, ele só sabia choramingar e se culpar. Seus pais estavam em outro lugar naquele hospital, ele tinha brigado com a família quando explicou o motivo do surto de Luana. A tensão era palpável e o clima não era convidativo.A ruiva se aproximou de Lucas, hesitante, sentindo tanto ou mais culpa que ele. Ela não