"Sejam bem vindos à Dollar S.I. Meu nome é Wanda, e ajudarei vocês no período de adaptação. É bom não me darem trabalho, ou terei que me livrar de vocês."
Esse é meu discurso de boas vindas aos novos estagiários. Sou responsável por recebê-los, analisar o perfil deles e então decidir em que setor ficarão pelo período de experiência, que dura seis meses. Embora eu pareça rabugenta, gosto muito de trabalhar com isso. Gente novata sempre traz boas energias. Eles chegam cheios de sonhos, e as vezes é bom ver alguns realizá-los. Também é bom ver alguns cretinos darem o fora, e eu posso fazer isso.
Entretanto, essa é a parte divertida do meu trabalho. Minha função principal é outra. Tenho 52 anos, e sou assistente pessoal do dono da empresa, John Dollar, há 20 anos. Fui contratada pelo pai dele quando o Johnny ainda nem havia atingido a maioridade. Eu vi o pequeno Johnny passar de um estudantezinho de ensino médio para um dos empresários mais bem sucedidos do mundo. Não, Johnny não é um caso clássico de pobre que ficou milionário; a família dele já era muito rica. Mas não dá pra tirar o mérito de Johnny, que sempre foi muito inteligente: graças a ele, a fortuna da família passou de milionária para bilionária.
Atualmente eu cuido da agenda do Johnny e tudo que envolve seus compromissos. No trabalho sou eu quem decido quem chega perto dele. E podem ter certeza que eu o protejo muito: a grande maioria dos funcionários nem sabe quem é o Johnny. Eu cuido do meu menino.
Voltando aos estagiários, era uma tarefa fácil, mas que requeria atenção. De cada cem que entrava, dois conseguiam ser efetivados. Para ficar na Dollar, era necessário ser diferente - no sentido positivo da palavra. Mas nenhuma estagiária fez tanta diferença quanto uma chamada Alice. Me lembro muito bem do primeiro dia dela. Quando vi ela no grupo de estagiários, quase caí de costas; ela era muito brega, especialmente para a idade. Apesar da timidez, tinha o olhar atento, mãos ágeis, atitudes firmes. Mostrava segurança. Meu instinto não se enganava: aquela ali tinha muito potencial.
Distribuí os estagiários em seus setores e deixei Alice por último.
- Então garota, qual setor te interessa? - perguntei.
- Fico feliz com qualquer oportunidade. - respondeu sorridente.
- Ok ok garota. Eu entendo que você quer ser agradável, mas aqui vai uma dica para você: você só vai fazer algo bem, se fizer algo que gosta. E se você não sabe do que gosta, não sabe que rumo seguir. Eu vou te colocar num setor qualquer, mas comece a pensar sobre o que você gosta. Ou você não vai ter futuro aqui.
- Sim senhora.
- E mais uma coisa: senhora tá no céu. Se me chamar de senhora de novo, eu tiro você do programa.
- Sim... Wanda.
- Melhor, bem melhor assim. Agora me siga - comecei a andar.
- Aliás...
Parei e me voltei à ela.
- Pois não?
- Eu gosto de criar coisas novas. Gosto de usar a criatividade. Gosto de fazer coisas diferentes.
- Hum, pensou rápido Aline...
- Alice...
- Alice! Certo. Vou te levar para um setor que você vai gostar então.
Levei ela para o setor de Projetos. Na realidade, eu já ia colocar ela lá de qualquer forma. Quando vi que ela carregava uma agenda (céus, alguém ainda usa agenda de papel) com uma capa customizada, percebi que era criativa.
E o setor de projetos era ótimo!
Exceto pela equipe. O setor deveria se chamar Selva, porque a equipe era de verdadeiros animais - no sentido negativo da palavra. Muita energia, mas estavam num período de escassez de criatividade.
Se Alice sobrevivesse a eles por uma semana, iria agregar muito valor a equipe.
Eu estava certa disso.
A Wanda era durona, mas era legal. Algum tempo depois da nossa primeira conversa fiquei sabendo que ela era a assistente pessoal do sr. John Dollar, ou seja, não devia ser nenhuma maluca irresponsável. Mesmo assim, todos a chamavam de "cão de guarda".No primeiro dia na Dollar S.I. já conheci minha equipe de trabalho, super agradável! #sqnQuando Wanda e eu entramos na sala de Projetos estava a maior bagunça. Duas mulheres, uma loira e uma morena, estavam em pé discutindo, enquanto o restante do pessoal assistia. Se não fosse pela bela aparência de ambas, passariam fácil por duas vizinhas barraqueiras.- Você não sabe do que está falando, então não se meta! - esbravejou a loira.- A loira aqui é você! Você que é burra e não entende nada! - berrou a morena.- Eu não te chamei de burra, mas j&aacut
Eu estava muito preocupado. Wanda percebeu isso logo que entrou em minha sala e me viu olhando fixamente para a tela do computador. Poucas pessoas me conheciam tão bem quanto ela. - Oi Wanda. Vem cá, puxa a cadeira e senta aqui perto. - O que houve Johnny? Essa sua cara está me dando calafrios. - Olha aqui na tela. Me diz o que você vê. Wanda colocou os óculos e fez uma careta, forçando para poder enxergar. Em outra ocasião eu acharia graça. - É um aplicativo para controle financeiro. - É um aplicativo quase idêntico ao que vamos lançar semana que vem. -Quase idêntico?Mas que droga Johnny! Você acha que seremos acusados de plágio? - Se fosse só isso eu não estaria tão preocupado. O problema é que este é o segundo caso em menos de seis meses. Eu acho é que o nosso aplicativo foi copiado. Wanda ficou paralisada, como se estivesse em estado de choque. - John, você acha q
Aquele primeiro dia não havia sido nada fácil, mas finalmente tinha acabado. Absolutamente diferente de qualquer coisa que eu pudesse ter imaginado.O pessoal do setor de projetos parecia um bando de loucos; mesmo os mais legais, como o Diego e o Ed, não eram muito normais. Será que foi por isso que a Wanda me colocou lá? Vai ver eu também não sou muito normal.Seja como for, estava na hora de eu ir pra casa. Fui ate o estacionamento e peguei minha bicicleta. Na hora de escolher minha roupa não me dei conta do quanto era inapropriada para andar de bicicleta. Dica: sempre se vista de forma apropriada ao seu meio de transporte. A parte boa é que na volta eu tinha uma preocupação a menos que na vinda: podia amassar a roupa.Saí do estacionamento da empresa e seguia tranquilamente pela ciclovia; parei no semáforo e aguardei ele "fechar" para os carros. Quando o sinal fic
Apesar de ainda estar preocupado, terminei o dia um pouco mais aliviado por já ter um plano.Seguia de carro para casa e Wanda estava comigo . Fazia questão de lhe dar carona todos os dias, simplesmente porque conversar com ela me ajudava a clarear minhas idéias. Era como uma segunda mãe.Conversávamos sobre um assunto qualquer, quando Wanda gritou, enquanto apontava para algo fora do carro:- Johnny olha!!! Naquele outdoor, a propaganda do aplicativo concorrente! Desgraçados...Eu examinava o outdoor quando Wanda deu um novo grito e senti um leve baque no carro. Freei de imediato.Foi exatamente nessa sequencia: grito-outdoor-grito-baque-freio.Olhei pra frente e vi uma moça e uma bicicleta caídos no chão. Fui sair imediatamente, mas Wanda segurou meu braço.- Não sai Johnny.-Tá louca Wanda, eu preciso ver se a garota s
Sou um cara bem vivido para minha idade, mas tenho que confessar que toda aquela história de disfarce estava sendo emocionante pra mim.Wanda, como de costume, foi fundamental na execução do plano, a começar pelo meu figurino.- Querido, vou fazer você parecer um gatinho dez anos mais jovem. - falou, ao me entregar as roupas que tinha comprado.E ela tinha razão; a calça jeans, a camiseta manga curta sobreposta a manga longa, o tênis all star e o óculos de grau fake realmente me rejuvenesceram.- Não tá meio forçado isso aqui não? - perguntei.- Falta um detalhe.Wanda bagunçou meu cabelo e depois , com a ajuda de uma escova e um spray, arrepiou meu cabelo.Me olhei no espelho e fiquei impressionado. Eu parecia um nerd! Mas um nerd quase jovem, o que atendia perfeitamente o plano.- Wanda, eu te amo.- Sei di
- Alice, nós estamos passando a entrada do restaurante.- Estamos passando a entrada do restaurante dos efetivados, a dos estagiários fica mais pra frente.- Desculpa, não sei se entendi. Os estagiários tem que almoçar em local separado?- Isso mesmo colega. Olha só, é aqui.Admito que não conhecia aquela parte da empresa; desconhecia inclusive essa regra de restaurantes separados. Absurda, por sinal. No mínimo os buffets deveriam ser iguais, mas constatei que tudo ali era inferior: menos opções de comida, espaco menor, cadeiras piores, poucos aparelhos de ar condicionado. Como aquilo passou batido por mim?- E só os estagiários almoçam aqui? - questionei, indignado.- Não, o restaurante atende estagiários, pessoal da limpeza e da segurança. Não entendo como a alta direção da empresa permitiu
Nos encontramos num restaurante no centro da cidade, conforme o combinado. Ele chegou às 12 horas, pontualmente. Era a primeira vez que o via, mas sabia que era ele por causa do bordado na pasta que carregava: "Templateh Company".- Bom dia, sente-se por favor. - falei.- Obrigado.- Quer que chame o garçom?- Não, agradeço, mas estou com uma certa pressa.- Que bom, eu também. Vamos logo ao assunto então. Você é o dono da empresa, certo?- Na realidade, sou um representante. Ele me enviou.Me levantei.- Então acho que há um equívoco aqui. Deixei bem claro que desta vez só aceitaria falar com o dono. Vou embora. Passe bem.- Espere. Ele sabia o quanto você dava valor que ele estivesse presente, mas teve um imprevisto. Em compensação ele já mandou um demonstrativo de seu interesse no neg&o
- Ele é bem gato, pena que é mais um pobretão. - disse Adele.- Ou seja, o homem perfeito para uma boa diversão. - rebateu Megan.As duas conversavam serenamente, sentadas no sofá da ante sala do setor de projetos. Quem as via ali, não imaginava a quantidade de barracos que já protagonizaram. Eu já estava lá quando elas chegaram, mas como de costume, agiram como se eu nem estivesse presente.- Ah não sei se rende diversão não. Apesar de bem cuidado, ele não é tão novinho assim. Pra ainda ser estagiário não deve ter muita inteligência.Nossa, só podiam estar falando do Johnny, o novo estagiário. Ele entrou um dia depois que eu, mas aparentemente foi melhor aceito pelo grupo; enquanto ele ajudava o Tom a fazer planilhas, eu ainda estava so buscando café ou digitalizando documentos. Eu não sabia o porqu&ecir