Felizmente identificaram que Tom era o culpado e ele já estava preso. Isso deixou todos mais tranquilos. Mesmo assim, eu não conseguia dormir. Todo profissional responsável não descansa até um trabalho estar acabado.
Convidar Johnny para tomar um café era uma aposta alta, mas dessa vez eu ganhei.
Saímos no meio da noite congelante para ir até uma lanchonete – que para mim era mais um pulgueiro, mas ia servir muito bem para a necessidade – dispostos a tomar um café quente e discutir os últimos acontecimentos.
- Vou chamar um táxi – disse Johnny.
- Melhor não Johnny. A gente não conhece muito bem o lugar, quem garante que o motorista que nos irá atender não é um maluco, um psicopata? A essas horas, nesse lugar isolado, acho que não é bom arriscar. Por que você não empresta a van do hotel? É meio
Eu estava resistindo bem até aquele dia, mas todo aquele stress com a prisão do Tom tinha feito aquela vontade voltar com força. Eu precisava fazer aquilo.Tentei ao máximo evitar: tomei coca-cola, comi um hambúrguer, assisti TV, tentei dormir. Tudo em vão. A imagem do Tom saindo algemado não saía da minha cabeça.Olhei no relógio: duas horas da madrugada.Fechei os olhos e pensei na minha família. Na minha infância. No trabalho pendente.Olhei no relógio: duas horas e cinco minutos.Não resisti: peguei meu "produto" e saí.Ali no hotel eu poderia fazer o que precisava. Precisava de um lugar calmo e isolado.Mas como eu ia sair? A pé?Fui pedir um carro emprestado no hotel.- Infelizmente a van já foi emprestada. – me informou o atendente.Que azar! Quem empresta uma van em plena madrugada, n
Acordei com o som da batida na porta. Não me apressei em levantar; eu já esperava que alguém viesse me avisar que o herdeiro dochefãoDollar havia desaparecido.A pessoa batia insistentemente; olhei no celular e já eram 10:20 da manhã."Nossa, realmente desmaiei", pensei. Isso era de se esperar, pois eu andava exausta. Matar o Johnny foi como visitar o paraíso; tirar aquela pedra do meu caminho fez com que eu dormisse como um bebê saciado.Mas agora o teatro precisava continuar.Coloquei meu roupão e atendi a porta. Dei de cara com o imbecil do Philipe.-Bom Dia Philipe, perdi a hora. Por favor, não me diga que a van já partiu? Perdi o vôo?Eu sabia que ninguém voaria naquele dia, não antes de acharem o nosso chefinho espertalhão.Ou acharem o corpo dele.Ou melhor, acharem o que sobrou do corpo dele (se &e
Eu devia olhar para ela. Eu devia me preocupar com ela, afinal ela havia tentado me matar, mas eu só conseguia pensar em Alice e em meu pai.Quando Pam escutou minha voz e se virou para me ver, prestei atenção só por um segundo em sua expressão: realmente me senti um morto-vivo.Alice então correu até mim, e nos minutos seguintes só pensei em abraça-la e beijá-la. Depois enxuguei as lágrimas de meu pai e o abracei.- Obrigado Meu Deus, obrigado. – ele repetia.Quando voltei a observar Pam, ela ainda estava lá, imóvel. Esperei alguma expressão ou fala dela, o que não ocorreu. Parecia que eu podia ler seus pensamentos, sua mente tentando entender como eu havia sobrevivido. Ela mexeu os lábios, numa tentativa inútil de falar, e eu pude identificar a palavra "impossível".Estava na hora do acerto de contas.Dei um p
Por Johnny - Entra aí, seu cachorrão! Assim fui recebido por meu grande amigo Sezão; nossa amizade foi um dos poucos resultados positivos que consegui tirar de toda essa história. - Me dá um abraço aqui, seu filho da mãe! – respondi. Logo após o abraço, Sezão foi surpreendido por um tapa na cabeça; pelo barulho, pareceu ter doído. - Isso é jeito de receber nossos convidados? Vê se toma jeito homem! - Que isso Audinéia!Johnnãoé dos nossos, não tem frescura não. A mulher, que também se tornara uma grande amiga minha e de Alice, passou à frente de Sezão para nos cumprimentar. - Desculpe os maus modos do meu marido, viu gente? Ele não tá bem adestrado ainda. - Não precisa se desculpar Audinéia – respondeu Alice – nós que precisamos agradecer por vocês nos emprestarem a casa. Audinéia abraçou Alice. - Que bom que terminou tudo bem; receber vocês aqui é um
Meu nome é John Dollar Smith, tenho 36 anos e trabalho em uma multinacional de produção de Softwares inovadores, a Dollar S.I. Nada de anormal até aí, tirando o fato de que sou o dono da empresa, bilionário, colecionador de arte e um autêntico boêmio. Ah, toco guitarra também. Faço parte de uma banda, só de amigos. Toco por pura diversão (uma das poucas coisas que faço na vida sem visar lucro). Parte da minha fortuna foi de herança, mas grande parte é resultado do meu trabalho, administrar as empresas da família. Sou um verdadeiro workholic. Gosto do que faço e, modéstia à parte, sou muito bom nisso. Meu pai me chama de "o multiplicador de oportunidades". Sempre acho uma forma de ganhar mais dinheiro, diga-se de passagem, sempre honesto. Quanto às mulheres, eu as aprecio. Fisicamente, intelectualmente. Adoro as patricinhas, mas me encanto pelas guerreiras. Porém, não quero compromisso com ninguém. Não me leve a mal, sei que as mulheres tem
Pai metalúrgico, mãe doméstica, três irmãos mais novos, casa alugada, colégio público, metrô: resumindo, essa é minha vida. Treze palavras e você já consegue perceber que minha família é pobre ou - na melhor das hipóteses - classe média baixa. Beeem baixa.Sendo assim, ninguém tem grandes expectativas relacionadas ao meu futuro. Isso é bom? Seria, se eu também não tivesse expectativas, mas passar o resto da vida contando cada centavinho para pagar as contas estava longe do que eu queria para mim.Sempre corri atrás de me qualificar, até porque quem não corre não avança. Com dizem por aí, quem não faz pó, come pó (na vila onde moro, a frase poderia ser trocada por "quem não fabrica pó, cheira pó", se é que vocês me entendem).Fiz ingl
Para o meu primeiro dia na Dollar S.I. planejei estar espetacular. OK, espetacular é um pouco de exagero, mas confesso que minha expectativa estava bem alta.Emprestei da minha vizinha uma saia preta (com o comprimento na altura do joelho, para não ficar vulgar), coloquei uma blusa vermelha de mangas longas com um decote retangular e um sapato de salto médio. A princípio prendi o cabelo em coque, mas achei que para minha idade estava senhora demais. Cabelo solto? Hummm, não posso perder a seriedade, e cabelo solto ficaria informal demais. Bem, um rabo-de-cavalo clássico resolveria. Pronto, discreta e chique. E a cereja do bolo: meu óculos com armação branca.Cheguei na Dollar confiante; mas toda essa confiança ficou já na porta de entrada. Eu imaginava que o lugar seria grande e bem decorado, mas o que eu vi era imensamente melhor. Sofisticado seria a palavra adequada para o descrever. Imenso
"Sejam bem vindos à Dollar S.I. Meu nome é Wanda, e ajudarei vocês no período de adaptação. É bom não me darem trabalho, ou terei que me livrar de vocês."Esse é meu discurso de boas vindas aos novos estagiários. Sou responsável por recebê-los, analisar o perfil deles e então decidir em que setor ficarão pelo período de experiência, que dura seis meses. Embora eu pareça rabugenta, gosto muito de trabalhar com isso. Gente novata sempre traz boas energias. Eles chegam cheios de sonhos, e as vezes é bom ver alguns realizá-los. Também é bom ver alguns cretinos darem o fora, e eu posso fazer isso.Entretanto, essa é a parte divertida do meu trabalho. Minha função principal é outra. Tenho 52 anos, e sou assistente pessoal do dono da empresa, John Dollar, há 20 anos. Fui contratada pelo p