A Wanda era durona, mas era legal. Algum tempo depois da nossa primeira conversa fiquei sabendo que ela era a assistente pessoal do sr. John Dollar, ou seja, não devia ser nenhuma maluca irresponsável. Mesmo assim, todos a chamavam de "cão de guarda".
No primeiro dia na Dollar S.I. já conheci minha equipe de trabalho, super agradável! #sqn
Quando Wanda e eu entramos na sala de Projetos estava a maior bagunça. Duas mulheres, uma loira e uma morena, estavam em pé discutindo, enquanto o restante do pessoal assistia. Se não fosse pela bela aparência de ambas, passariam fácil por duas vizinhas barraqueiras.
- Você não sabe do que está falando, então não se meta! - esbravejou a loira.
- A loira aqui é você! Você que é burra e não entende nada! - berrou a morena.
- Eu não te chamei de burra, mas já que você assumiu o posto, só faltam as orelhas!
- Sua branquela, eu vou fazer você engolir esses dentes!!!
Uma mulher ruiva, sentada no fundo da sala, observava quieta. Quando percebeu que nós havíamos entrado, ela se levantou e deu um murro na mesa. A morena e a loira se calaram na hora.
- Seja bem vinda Wanda. Desculpe o ambiente. Espero que está moça que está com você seja uma enfermeira, porque estou precisando internar duas funcionárias no hospício. Ou talvez elas prefiram só perder o emprego mesmo.
As duas moças ficaram ruborizadas.
- Tudo bem Pam. Sei bem que você domina essas feras. - falou Wanda, sorrindo.
- Em que posso ajudá-la?
- Pam, essa é a Alice, a nova estagiária.
- Que bom Wanda, já era hora. Bem vinda Alice.
- Bem, está entregue Alice. Agora é com você. Tenho que cuidar de outras coisas. Tchau meninos. E para as meninas, keep calm, ok? Stress dá celulite.
Todos deram tchau à Wanda, que antes de sair me puxou pelo braço e sussurrou no meu ouvido:
- Boa sorte querida, você vai precisar. Lembre-se: não há força que resista a resiliência.
E saiu.
Pam então fez as apresentações:
- Meu nome é Pam e sou a gerente do departamento de projetos. Você responderá para mim.
Pam aparentava uns 40 anos, era uma mulher bonita, magra, de longos cabelos cacheados. Muito séria, podia-se perceber que era exigente e rigorosa.
- Esta é Adele, responde pelo marketing dentro do nosso setor.
Adele era a loira da discussão. Alta, magra e elegante. Lembrava uma "patricinha".
- Bem vinda, honey. - ela disse.
- Esta é Megan, que cuida do orçamento e planejamento.
Tratava-se da morena desbocada. Fazia o estilo mulherão sensual, mas de boba não tinha nada. Ali, aliás, ninguém tinha.
- Desculpe a má impressão, mas às vezes a gente tem que por "alguém" na linha. - falou Megan, sob o olhar de reprovação de Pam.
- Diego, da parte de criação.
Diego era uma figura. Usava roupas descoladas, coloridas; sempre estava com um sorriso no rosto e tinha um bom humor incrível. Adorei ele desde a primeira palavra.
- Bem vinda Alice! Que bom que está aqui. Vai ser maravilhoso ter alguém doce no meio desse azedume todo. Ah, adorei os óculos! - falou, enquanto me abraçava.
- Estes são Tom e Ed, da programação e toda parte de TI.
Posteriormente descobri que esta era a dupla principal do time de projetos. Eles que faziam as idéias dos demais se converterem em realidade virtual. E entre os dois, Ed era o gênio. Tom sabia fazer muita coisa, mas Ed sabia o que fazer, como fazer e a melhor maneira de fazer. Nenhum projeto ia adiante se o Ed não afirmasse que era possível fazê-lo. E no entanto, dos dois, Ed era o mais simples e modesto. Tímido, não falava muito, mas quando falava era um poço de gentileza e educação.
Já Tom... era o galanteador da turma. Depois eu viria a saber pelo próprio Tom que ele era o real motivo do ódio fervente entre Adele e Megan.
- Para finalizar Alice, essa é Susan, responsável pela pesquisa de opinião.
Susan aparentava ser bem nova, em torno de uns 25 anos, mas se vestia de forma que aparentava bem mais. Era clássica, mas também parecia... triste. Não sei se triste ou mal humorada. Sem falar que me olhou com cara de nojo.
- O que faz exatamente a pessoa que é responsável pela pesquisa de opinião? - perguntei.
A própria Susan respondeu:
- O desenvolvimento de um produto ou serviço só é viável se tiver alguém para comprá-lo. Meu papel, basicamente, é descobrir o que as pessoas querem e precisam, e quanto estão dispostas a pagar por isso.
- Nossa, que leg... - tentei falar.
- Mas eu não esperava que você soubesse disso. Estagiários nunca sabem muita coisa. - finalizou.
Não sei porque, mas acho que ela não simpatizou muito comigo.
- Bem Alice, é isso. Já conhece todo mundo, todo mundo já te conhece, agora vamos trabalhar.
- E por onde eu começo Pam?
- Começa trazendo um café para todos nós. - respondeu, e todos comemoraram.
A Wanda estava certa.
Eu precisaria de sorte. Muita sorte.
Eu estava muito preocupado. Wanda percebeu isso logo que entrou em minha sala e me viu olhando fixamente para a tela do computador. Poucas pessoas me conheciam tão bem quanto ela. - Oi Wanda. Vem cá, puxa a cadeira e senta aqui perto. - O que houve Johnny? Essa sua cara está me dando calafrios. - Olha aqui na tela. Me diz o que você vê. Wanda colocou os óculos e fez uma careta, forçando para poder enxergar. Em outra ocasião eu acharia graça. - É um aplicativo para controle financeiro. - É um aplicativo quase idêntico ao que vamos lançar semana que vem. -Quase idêntico?Mas que droga Johnny! Você acha que seremos acusados de plágio? - Se fosse só isso eu não estaria tão preocupado. O problema é que este é o segundo caso em menos de seis meses. Eu acho é que o nosso aplicativo foi copiado. Wanda ficou paralisada, como se estivesse em estado de choque. - John, você acha q
Aquele primeiro dia não havia sido nada fácil, mas finalmente tinha acabado. Absolutamente diferente de qualquer coisa que eu pudesse ter imaginado.O pessoal do setor de projetos parecia um bando de loucos; mesmo os mais legais, como o Diego e o Ed, não eram muito normais. Será que foi por isso que a Wanda me colocou lá? Vai ver eu também não sou muito normal.Seja como for, estava na hora de eu ir pra casa. Fui ate o estacionamento e peguei minha bicicleta. Na hora de escolher minha roupa não me dei conta do quanto era inapropriada para andar de bicicleta. Dica: sempre se vista de forma apropriada ao seu meio de transporte. A parte boa é que na volta eu tinha uma preocupação a menos que na vinda: podia amassar a roupa.Saí do estacionamento da empresa e seguia tranquilamente pela ciclovia; parei no semáforo e aguardei ele "fechar" para os carros. Quando o sinal fic
Apesar de ainda estar preocupado, terminei o dia um pouco mais aliviado por já ter um plano.Seguia de carro para casa e Wanda estava comigo . Fazia questão de lhe dar carona todos os dias, simplesmente porque conversar com ela me ajudava a clarear minhas idéias. Era como uma segunda mãe.Conversávamos sobre um assunto qualquer, quando Wanda gritou, enquanto apontava para algo fora do carro:- Johnny olha!!! Naquele outdoor, a propaganda do aplicativo concorrente! Desgraçados...Eu examinava o outdoor quando Wanda deu um novo grito e senti um leve baque no carro. Freei de imediato.Foi exatamente nessa sequencia: grito-outdoor-grito-baque-freio.Olhei pra frente e vi uma moça e uma bicicleta caídos no chão. Fui sair imediatamente, mas Wanda segurou meu braço.- Não sai Johnny.-Tá louca Wanda, eu preciso ver se a garota s
Sou um cara bem vivido para minha idade, mas tenho que confessar que toda aquela história de disfarce estava sendo emocionante pra mim.Wanda, como de costume, foi fundamental na execução do plano, a começar pelo meu figurino.- Querido, vou fazer você parecer um gatinho dez anos mais jovem. - falou, ao me entregar as roupas que tinha comprado.E ela tinha razão; a calça jeans, a camiseta manga curta sobreposta a manga longa, o tênis all star e o óculos de grau fake realmente me rejuvenesceram.- Não tá meio forçado isso aqui não? - perguntei.- Falta um detalhe.Wanda bagunçou meu cabelo e depois , com a ajuda de uma escova e um spray, arrepiou meu cabelo.Me olhei no espelho e fiquei impressionado. Eu parecia um nerd! Mas um nerd quase jovem, o que atendia perfeitamente o plano.- Wanda, eu te amo.- Sei di
- Alice, nós estamos passando a entrada do restaurante.- Estamos passando a entrada do restaurante dos efetivados, a dos estagiários fica mais pra frente.- Desculpa, não sei se entendi. Os estagiários tem que almoçar em local separado?- Isso mesmo colega. Olha só, é aqui.Admito que não conhecia aquela parte da empresa; desconhecia inclusive essa regra de restaurantes separados. Absurda, por sinal. No mínimo os buffets deveriam ser iguais, mas constatei que tudo ali era inferior: menos opções de comida, espaco menor, cadeiras piores, poucos aparelhos de ar condicionado. Como aquilo passou batido por mim?- E só os estagiários almoçam aqui? - questionei, indignado.- Não, o restaurante atende estagiários, pessoal da limpeza e da segurança. Não entendo como a alta direção da empresa permitiu
Nos encontramos num restaurante no centro da cidade, conforme o combinado. Ele chegou às 12 horas, pontualmente. Era a primeira vez que o via, mas sabia que era ele por causa do bordado na pasta que carregava: "Templateh Company".- Bom dia, sente-se por favor. - falei.- Obrigado.- Quer que chame o garçom?- Não, agradeço, mas estou com uma certa pressa.- Que bom, eu também. Vamos logo ao assunto então. Você é o dono da empresa, certo?- Na realidade, sou um representante. Ele me enviou.Me levantei.- Então acho que há um equívoco aqui. Deixei bem claro que desta vez só aceitaria falar com o dono. Vou embora. Passe bem.- Espere. Ele sabia o quanto você dava valor que ele estivesse presente, mas teve um imprevisto. Em compensação ele já mandou um demonstrativo de seu interesse no neg&o
- Ele é bem gato, pena que é mais um pobretão. - disse Adele.- Ou seja, o homem perfeito para uma boa diversão. - rebateu Megan.As duas conversavam serenamente, sentadas no sofá da ante sala do setor de projetos. Quem as via ali, não imaginava a quantidade de barracos que já protagonizaram. Eu já estava lá quando elas chegaram, mas como de costume, agiram como se eu nem estivesse presente.- Ah não sei se rende diversão não. Apesar de bem cuidado, ele não é tão novinho assim. Pra ainda ser estagiário não deve ter muita inteligência.Nossa, só podiam estar falando do Johnny, o novo estagiário. Ele entrou um dia depois que eu, mas aparentemente foi melhor aceito pelo grupo; enquanto ele ajudava o Tom a fazer planilhas, eu ainda estava so buscando café ou digitalizando documentos. Eu não sabia o porqu&ecir
- Wanda, eu preciso da sua ajuda. Acho que só você vai conseguir me ajudar.Nem precisei insistir muito para que a Wanda soubesse que eu estava falando sério, afinal não era comum eu aparecer na casa dela a noite, ainda mais sem avisar.- Claro Johnny, entra. Senta aí. Quer algo pra beber?- Não, obrigada. Desculpa vir a essa hora.- Você sabe que entre nós não tem essas formalidades. Agora me fala, o que houve?- Eu agi por impulso Wanda. Uma droga de um impulso. Justo eu, tão controlado. Agora eu tô com um problema que não tem MBA no mundo que me ajude a resolver. Mas você pode. De todo mundo que eu conheço, só você pode.___________________________________________Para você entender como fui chegar nesse ponto, preciso voltar um pouco no tempo, mais precisamente no começo do dia.Cheguei na empresa e