Mara ainda estava ajoelhada na clareira, seus soluços ecoando na vastidão da floresta que agora parecia adormecer ao redor dela. A sensação de perda era avassaladora, e o vazio deixado pela partida de Susan pesava em seu peito como um ferimento aberto. Por um momento, ela ficou ali, sem saber o que fazer. A clareira antes sombria agora estava iluminada por um brilho pálido e suave, como se a floresta finalmente estivesse em paz, mas o preço era alto demais.
Ela sentiu uma brisa leve passar por seus cabelos, trazendo consigo um sussurro familiar. Era a voz de Susan, suave e distante, como se viesse de um lugar entre os mundos. — Você precisa continuar, Mara. O reino ainda precisa de você. Levantando-se com dificuldade, Mara enxugou as lágrimas e olhou para a clareira, onde agora apenas uma marca cintilante na pedra negra lembrava do sacrifício de sua amiga. Ela sabia que a missão ainda não havia acabado. O pacto estava desfeito, mas a maldição não desapareceria tão facilmente. O espírito mencionou que alguém deveria tomar o fardo, e agora ela entendia o que isso significava. Ela olhou para a espada em sua mão e, com uma determinação renovada, seguiu em frente. Mara seguiu adiante, a clareira desaparecendo gradualmente atrás dela conforme mergulhava mais fundo na floresta. A névoa que antes dançava ao seu redor agora se dissipava, e o caminho à frente parecia mais claro, mas isso não a reconfortava. Sem Susan ao seu lado, cada passo parecia mais pesado, e a escuridão, apesar de recuar, ainda sussurrava lembranças e dores não resolvidas. Ela continuou até a borda da floresta, onde os primeiros raios do amanhecer cortavam o horizonte. Por um momento, ela se permitiu parar e observar o nascer do sol, um brilho dourado que contrastava com a escuridão que havia carregado por tanto tempo. O reino estava livre da maldição que por gerações os aprisionara, mas o preço ainda reverberava em seu coração. Ao se aproximar do vilarejo, os habitantes a olharam com um misto de esperança e apreensão. Eles sabiam que Mara e Susan haviam partido em busca de uma solução, mas o retorno solitário de Mara já dizia o suficiente. Uma anciã aproximou-se, os olhos marcados pela sabedoria e pelas perdas que tantos outros ali também carregavam. — Você conseguiu? — a mulher perguntou, sua voz embargada pela expectativa e pelo medo. Mara assentiu lentamente, os olhos marejados, mas firmes. — O pacto foi desfeito. O reino está livre... mas Susan se sacrificou para que isso fosse possível. Houve um silêncio coletivo, como se todo o vilarejo prendesse a respiração ao mesmo tempo. A anciã colocou a mão no ombro de Mara, num gesto de conforto. — O preço da liberdade muitas vezes é alto. Susan sabia o que estava em jogo — disse a mulher, com um tom de respeito e tristeza. Mara sentiu a dor crescer em seu peito, mas ela também sabia que precisava seguir em frente. Havia um reino para reconstruir, pessoas que precisavam de esperança e de uma nova direção. Ela não poderia se perder em seu luto; precisava honrar o sacrifício de Susan, tornando-o o alicerce de um novo começo. — O espírito disse que aquele que desfez o juramento seria o novo guardião, preso entre os mundos. Susan aceitou o fardo para que todos pudessem viver livres. — Ela fechou os olhos por um momento, sentindo a brisa suave que passava pelo vilarejo. — Não deixaremos que seu sacrifício tenha sido em vão. Os aldeões começaram a se juntar ao redor dela, formando um círculo de apoio. O luto ainda estava presente, mas uma chama de esperança começava a surgir em seus olhos. Eles sabiam que Mara era agora sua líder, alguém que carregava não apenas a força, mas também a memória de Susan. — Vamos honrá-la, reconstruindo o que foi perdido — disse Mara, com a voz mais firme do que antes. — O reinado da escuridão acabou. É hora de trazer luz de volta às nossas vidas. Enquanto os aldeões murmuravam em concordância, Mara sentiu um leve toque em seu ombro, como se uma mão invisível estivesse ali, confortando-a. Ela sabia que Susan, mesmo aprisionada entre os mundos, continuaria presente de alguma forma, guiando-a e oferecendo sua força. A partir daquele dia, Mara jurou não apenas liderar seu povo, mas também proteger o reino contra as trevas que pudessem ameaçá-los novamente. A floresta, que outrora era um símbolo de medo e desespero, seria lembrada como o lugar onde a coragem de duas amigas libertou a todos. E assim, a lenda de Susan, a Guardiã do Sacrifício, começou a ser contada.Mara, agora aclamada como a heroína do vilarejo, passou os dias seguintes coordenando a reconstrução das casas e cuidando dos feridos. Apesar da dor pela perda de Susan, ela se manteve firme, utilizando a memória de sua amiga como combustível para seguir adiante. A presença dela parecia estar em cada ato de bondade, em cada sorriso que ela via nos rostos daqueles que ela ajudava. Uma noite, enquanto descansava em sua pequena tenda nos limites do vilarejo, Mara sentiu uma inquietação no ar. O vento carregava consigo um sussurro familiar, como se as folhas das árvores estivessem cantando. Ela se levantou, seguindo o som até a borda da floresta, onde a luz da lua iluminava o caminho. Era como se a floresta a estivesse chamando. Ao se aproximar das primeiras árvores, a névoa reapareceu, mas, desta vez, era mais sutil, menos ameaçadora. Ela fechou os olhos e escutou o que parecia ser a voz de Susan, distante, mas clara. — Não tenha medo, Mara. O caminho ainda não terminou. A voz er
Depois de descansarem no templo purificado, o grupo se preparou para seguir em frente. As sombras pareciam mais leves e a floresta, menos opressiva. Mas todos sabiam que, com cada fragmento destruído, os desafios se tornariam mais complexos. A própria essência da maldição tentaria impedi-los de alcançar o sucesso final. Elara, estudando o mapa antigo que trouxera, mapeou o próximo destino: as Ruínas de Norr, uma cidade antiga e esquecida, agora um ponto de concentração da energia sombria. Era ali que, segundo os textos, o próximo fragmento estava escondido. As ruínas estavam localizadas ao norte, além de um desfiladeiro que cortava a terra como uma cicatriz. — As Ruínas de Norr são um lugar de memória e perda — explicou Elara, enquanto o grupo se preparava. — Dizem que antes da maldição, era uma cidade próspera, mas as traições que ocorreram ali a tornaram um túmulo para almas inquietas. Precisamos estar prontos para enfrentar essas memórias. O grupo partiu, caminhando por trilh
A manhã trouxe com ela uma neblina espessa e um frio cortante que se espalhava pelo vilarejo. Mara se preparava para partir em sua nova jornada, acompanhada por um grupo de quatro pessoas que haviam se voluntariado para ajudá-la. Havia Rael, o caçador, cuja habilidade com o arco era conhecida por todos; Lena, uma curandeira jovem e promissora; Dorin, um ferreiro de coração nobre; e Elara, uma estudiosa das antigas magias, cujos conhecimentos seriam cruciais para decifrar as pistas que encontrariam. O grupo se reuniu na clareira central, com as expressões carregadas de determinação e incerteza. Mara olhou para eles com gratidão e força. Sabia que não poderia enfrentar essa jornada sozinha, e ver que tantos estavam dispostos a lutar ao seu lado renovava sua coragem. — Obrigada por estarem aqui — disse Mara. — Esta jornada será perigosa, e as sombras que enfrentaremos não são apenas criaturas da floresta. As marcas da maldição ainda estão enraizadas no coração do reino, e só unidos s
Enquanto avançavam pela floresta, o grupo se tornava mais unido, cada um desempenhando seu papel com precisão e coragem. As sombras ao redor pareciam mais intensas, e a sensação de serem observados aumentava a cada passo. Mara sabia que os fragmentos restantes se tornariam mais difíceis de encontrar, e que os guardiões que os protegiam seriam ainda mais perigosos. Em uma clareira aberta, o grupo decidiu fazer uma pausa. Lena preparava ervas para curar as feridas que Dorin havia sofrido na última batalha, e Rael observava atentamente os arredores, sempre em alerta. Elara estava sentada no chão, de olhos fechados, tentando sentir a energia mágica que emanava da floresta. Mara se aproximou dela. — Elara, está tudo bem? — perguntou, percebendo a expressão de preocupação no rosto da amiga. — Sinto algo estranho — respondeu Elara, sua voz baixa. — Os espíritos estão mais agitados, e há um fragmento próximo, mas é diferente dos outros. Parece mais poderoso, mais antigo. Mara franziu
A minha última lembrança antes de morrer foi o som da chuva, do carro derrapando na pista, da batida no caminhão de gasolina e a explosão. Depois de fechar os olhos, só lembro de abrir novamente e estar viva em outro lugar. Era um campo de grama, flores e a árvore em que eu estava apoiada, vestindo um vestido de época e com um livro de romance no colo, enquanto o vento soprava meu cabelo trançado que ia até a cintura. Ao longe, uma moça se aproximava com um lindo sorriso e uma cesta de flores, o vestido verde musgo combinando com o corpete preto que ela usava. ─ Ah, finalmente achei as flores certas para a coroa de flores do casamento da minha irmã ─ disse ela, suspirando com o rosto iluminado por uma beleza incrível. Inclinei a cabeça para a cesta, vendo as flores que ela colhera, e meu sorriso surgiu meio inclinado. ─ São lindas, bela escolha ─ mencionei, com os olhos brilhando de felicidade. Em seguida, por um breve momento, fechei os olhos e suspirei com a leve brisa que
Susan passou a noite em claro, com os olhos brilhando pelas lágrimas que marcavam o rosto angelical, enquanto as olheiras evidenciaram a falta de sono. Ela se levantou da cama já com tudo preparado para a viagem à capital real, mesmo estando sonolenta e com a mente lenta demais para acompanhar os próprios pensamentos e sentimentos. Ao sair do quarto, deparou-se com o pai, que estava cabisbaixo e silencioso. Ao vê-la, seu semblante de surpresa e choque ao notar o rosto e o cabelo bagunçados a fez engolir em seco. ─ Filha... - ele murmurou, engasgando de preocupação. Ela lhe ofereceu um sorriso doce e tranquilo, acenando um leve adeus enquanto se movia até a porta. Ao chegar na igreja, sua presença chamou a atenção dos cavaleiros, da amiga e do padre. Alguns ficaram em choque ao verem seu rosto e suspiraram surpresos ao notarem o sorriso doce e despreocupado, apesar da evidente exaustão. ─ Você deveria descansar, Susan - aconselhou o padre, preocupado. Ela soltou um
Ela ficou em silêncio por um tempo, até que uma garota ruiva apareceu com sua amiga. A ruiva se curvou e, com um sorriso, disse: — Olá, princesa. É bom revelá-la — indagou com um tom enigmático. A outra garota, visivelmente incomodada com a presença da ruiva, soltou um murmúrio de desgosto, mas logo levou um leve peteleco de sua companheira. — Susan Vernon, sua presença aqui certamente vai tornar as coisas mais interessantes — disse uma voz familiar, carregada de ironia. Susan, surpreendida, quase caiu para trás ao ver a garota diante dela. Só não se desequilibrou completamente porque o cavaleiro ao seu lado a segurou a tempo. — Imperatriz... — sussurrou ela, incrédula. A imperatriz sorriu brevemente, mas logo seu sorriso desapareceu, dando lugar a uma expressão pálida, quase aterrorizada, ao fixar os olhos no rapaz ao lado de Susan. Ela tentou disfarçar o nervosismo, mas não conseguiu evitar olhar por cima do ombro, onde o rapaz estava. Sua figura parecia distorcida, co
Susan e Mara agora estavam diante de um desafio mais perigoso do que imaginavam. A criatura, feita de pura escuridão, era um guardião, protetor de segredos antigos, e atacá-la de frente seria fatal. Susan sabia que precisavam provar que eram dignas de descobrir o que a floresta escondia, e a solução não estava em força, mas em sabedoria. Lembrando-se de um antigo feitiço de comunicação, Susan começou a recitar palavras em uma língua há muito esquecida. A entidade hesitou por um momento, sua forma oscilando como sombras ao vento. O tom gutural de sua voz retornou: — Por que deveriam vocês, seres de carne e osso, ter acesso aos segredos que protejo? Apenas os corajosos de espírito podem avançar. Mara, aflita, perguntou em um sussurro: — O que fazemos agora? Susan manteve a calma. A floresta reagia a magia antiga, e elas precisavam se conectar a esse poder. Sabendo disso, Susan recitou um verso sobre coragem e verdade. A escuridão ao redor pareceu absorver suas palavras, enquanto a