Cap 2 / Reino

Susan passou a noite em claro, com os olhos brilhando pelas lágrimas que marcavam o rosto angelical, enquanto as olheiras evidenciaram a falta de sono.

Ela se levantou da cama já com tudo preparado para a viagem à capital real, mesmo estando sonolenta e com a mente lenta demais para acompanhar os próprios pensamentos e sentimentos.

Ao sair do quarto, deparou-se com o pai, que estava cabisbaixo e silencioso. Ao vê-la, seu semblante de surpresa e choque ao notar o rosto e o cabelo bagunçados a fez engolir em seco.

─ Filha... - ele murmurou, engasgando de preocupação.

Ela lhe ofereceu um sorriso doce e tranquilo, acenando um leve adeus enquanto se movia até a porta.

Ao chegar na igreja, sua presença chamou a atenção dos cavaleiros, da amiga e do padre. Alguns ficaram em choque ao verem seu rosto e suspiraram surpresos ao notarem o sorriso doce e despreocupado, apesar da evidente exaustão.

─ Você deveria descansar, Susan - aconselhou o padre, preocupado.

Ela soltou um riso fácil e enganador, respondendo com um sorriso.

─ Garanto que estou bem, só não estava preparada para o que foi dito - explicou, mentindo.

Mas, de canto de olho, ela percebeu o Cavaleiro Negro observando-a como se soubesse que ela estava mentindo para não preocupar mais ninguém.

A mentira funcionou, já que o padre e a amiga suspiraram, mais calmos do que antes.

─ Bom, quando partimos? - indagou, olhando para o relógio. Cada minuto contava para salvar Crystal.

─ Assim que eu passar a liberação da sua magia para um deles - avisou o padre, chamando a atenção dela.

O Cavaleiro Negro aproximou-se com uma expressão neutra e disse:

─ Fui enviado pelo rei exatamente para isso - informou, estendendo o braço para o padre, que colocou a pulseira, antes pertencente a ele, no pulso do cavaleiro.

Alguns minutos depois, na carruagem a caminho da capital, o cansaço começou a aparecer. Foi nesse momento que o Cavaleiro Negro e seu cavalo pararam ao lado da carruagem.

─ Algum problema? - perguntou ela, bocejando.

Ele a olhou com uma sobrancelha arqueada, mas não disse nada. Aquele silêncio a fez fechar os olhos.

Não se lembrava se havia dormido ou não, mas, quando acordou, estava na floresta, com a carruagem tombada. Levantou-se cambaleando e olhou ao redor: grama alta, árvores, arbustos, a carruagem destruída, e o cavalo negro... morto.

Ela encarou o animal imóvel até sentir uma mão tapando seus lábios e puxando-a para trás de uma árvore. Um barulho alto chamou sua atenção, e ela viu um ogro no local, terminando de devorar o cavalo cinza que puxava a carruagem.

Enquanto o ogro comia, Susan reconheceu a voz do Cavaleiro Negro pelo cheiro de madeira e capim, que a deixava tonta e levemente atraída por ele.

─ Ele atacou enquanto você dormia. Os outros estão seguros, mas nós não. Use sua magia - ordenou ele, com certa grosseria.

Ela tentou falar, mas a mão dele ainda estava em sua boca. Assim que ele a soltou, ela sussurrou de volta:

─ Não precisa falar, eu sei o que fazer. Não sou da sua equipe - respondeu, levemente irritada.

Ele a olhou com um sorriso sarcástico, o que a fez ficar em silêncio, esperando.

Sentiu um leve susto quando ele pressionou a mão em sua cintura, mantendo-a imóvel e colada ao tronco da árvore. As bochechas dela coraram, e ela ouviu o pequeno riso dele.

Ela tentou não se arrepiar, mas era impossível, ainda mais com ele a segurando assim. Soltou um suspiro lento e tortuoso.

O cavaleiro a girou tão rápido que, quando se deu conta, ele estava muito próximo, a ponto de ela sentir sua respiração e ver o canto da boca dele curvado em um sorriso sarcástico.

Susan o observou descaradamente, reparando na barba feita, nos cabelos escuros, na boca marcada pela covinha que às vezes aparecia, nos olhos que pareciam mudar de cor, do cinza de uma tempestade para um vermelho intenso.

─ Eu sei que sou lindo e irresistível, não precisa me olhar assim, senhorita Vernon - murmurou ele, em tom baixo.

Ela piscou, saindo do transe. Sua observação pareceu inflar ainda mais o ego dele.

Ele a segurou com certa rapidez, e, quando piscou, estavam mais longe do ogro. A árvore onde se esconderam estava agora caída no chão.

Ela se soltou dele, levantou a mão, e o ogro virou lama na mesma velocidade que ela se virou para o cavaleiro, com a mão na cintura, enquanto ele se encostava em outra árvore.

─ O que você é, afinal? - perguntou ela, agora mais séria.

Ele bagunçou o próprio cabelo com a mão, e ela notou quando a mesma mão foi parar em seu queixo, um sorriso rápido aparecendo junto com a covinha e os olhos em um tom escuro de vermelho.

─ O que acha, que sou uma bruxa? - perguntou ele, com a voz levemente rouca, o rosto neutro, mas com certo divertimento.

─ Não sei, ainda estou em dúvida entre vampiro, lobisomem ou híbrido - respondeu ela, defensiva.

Ele cruzou os braços no peito e sorriu arrogantemente.

─ Se continuar assim, vou achar que quer me levar para a cama - avisou, descarado.

O rosto dela esquentou rapidamente com a declaração, e ela se virou para o outro lado.

─ Não seja tão arrogante. Não o acho tão atraente assim - retrucou.

Mas, então, sentiu uma brisa e virou-se rapidamente, quase caindo, se ele não a tivesse segurado. Ela soltou um resmungo.

─ Porra, não me assuste assim! Poderia ter te prendido na árvore - reclamou, ainda com ele a segurando. Ele arqueou a sobrancelha.

─ Você tem uma boca bem suja para alguém com cara de anjo - comentou, se aproximando mais.

Ela arqueou a sobrancelha em desafio, e ele a soltou. Ela respondeu:

─ Não me lembro de ter dito que sou um anjo... Ou disse, e não estou me lembrando? - perguntou, inclinando a cabeça.

Ele parou lentamente, observando-a com sarcasmo e divertimento, um sorriso brincando em seu rosto antes de dizer:

─ Tem razão, você nunca disse que era um anjo, coelhinha - murmurou, divertido.

─ O que você disse? - perguntou ela, confusa pela língua diferente no final da frase dele.

─ Quantas línguas você sabe? - perguntou ele, começando a andar na frente dela.

Ela começou a segui-lo rapidamente e soltou um suspiro.

─ Até onde sei, latim para a magia, embora eu possa simplesmente pensar na magia em português - respondeu, e ele riu.

─ Imaginei. Precisa conhecer mais línguas - aconselhou ele, com um sorriso sarcástico.

Ela pensou em socá-lo, mesmo sem saber seu nome. Parou, passou a mão pelos cabelos e soltou um riso.

─ Crystal me mataria se visse essa falta de educação que cometi sem perceber - murmurou.

─ E qual seria essa falta, coelhinha ? - perguntou ele, sarcástico.

─ Não me apresentei e nem perguntei seu nome - avisou, suspirando.

─ Eu sei o seu nome, coelhinha - disse ele, coçando a cabeça.

─ Mas eu não sei o seu... - respondeu ela, mas foi derrubada no chão quando um pequeno lobo apareceu abanando o rabinho, e o cavaleiro riu.

─ Susan, Time, venha aqui! - ouviu uma voz familiar que não escutava há muito tempo.

O lobinho saiu de cabeça baixa, e ela riu ao se levantar.

─ É bom revê-lo, Time... Mirl - disse ela, com o rosto levemente corado.

─ Oi, Susan. Veio por causa do meu pai? - perguntou Mirl.

Ela soltou um suspiro preso, enquanto o cavaleiro não tirava os olhos dela.

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