Capítulo 2

Rosalyne

Assim que trocamos olhares, ele baixou o olhar e o fixou em Nicolau.

— Nico?! Onde você estava, rapaz? — ele disse um pouco confuso e franziu o cenho.

O cachorro começou a latir pra ele e eu o segurei para que não caísse. Que reação mais... amorosa?

— Nicolau, calma. — o acariciei e ele parou de latir na mesma hora, o que surpreendeu tanto eu quanto o homem a minha frente.

Fiz carinho no cachorro por ter se comportado e olhei curiosa para o homem a minha frente.

— Ele é seu? — perguntei, tentando entender a situação.

O homem coçou a nuca e se encostou na batente de sua porta.

— Ele é! — disse olhando para o cachorro. — Ou pelo menos era. — brincou ao olhar para mim e eu dei um sorriso.

— O que aconteceu? Ele fugiu?

— Eu nem sei ao certo. Acabei de chegar do trabalho e notei que ele não estava. Joguei as coisas num canto e peguei uma capa de chuva pra ir procurar ele... — ele disse enquanto observava o cachorro. — Mas parece que gostou tanto de você que não me quer mais.

Franzi o cenho e segurei o cachorro contra mim.

— Mas... por que ele latiu para você? Isso não é estranho?

O homem deu uma risada divertida, enquanto me olhava.

— Esse cachorro é interesseiro.

Olhei para o cachorro com a afirmação do suposto dono. O cachorro abanou o rabo e me lambeu.

Interesseiro? Uma fofura dessas?

— Pra provar o meu ponto, se você o colocar no chão, ele vai ir até onde estiver o interesse dele. Nicolau sempre me rejeita quando não quer ir embora. — ele explicou.

O que ele dizia até fazia sentido.

— Tudo bem. — disse um pouco curiosa e o coloquei no chão.

No instante seguinte, Nicolau correu novamente para dentro do apartamento.

Olhei intrigada para dentro e depois olhei para o homem.

— Eu posso entrar? Fiquei curioso para saber por que fui trocado.

— Claro. — dei espaço para ele entrar.

Encostei a porta e segui o homem até a cozinha. Dei uma risada quando vi Nicolau sentadinho, perto da mesa onde o macarrão esfriava.

— E com razão, o cheiro do macarrão está dando água na boca. — o homem comentou ao olhar para trás. — Olha como esse sem vergonha é interesseiro.

— Eu havia esquecido quão interessado ele ficou na comida. — cruzei os braços e sorri, mas fiquei um pouco desconcertada ao perceber como ele me observava. Não era apenas o cachorro que parecia interessado.

Ele desviou o olhar rapidamente, como se percebesse que havia me deixado constrangida. Limpou a garganta e mudou o foco:

— Então, onde você o encontrou?

— Bem perto do supermercado. Acho que deve ter uma hora.

Ele assentiu, mas o sorriso fácil de antes desapareceu. De repente, ficou pensativo demais. Observei seus olhos âmbar se estreitarem levemente enquanto fitavam Nicolau. Ele sustentou o olhar, como se estivesse esperando algo que eu ainda não tinha dito. Era difícil não se sentir avaliada sob aqueles olhos âmbar.

Ele passou os dedos pelos cabelos negros, o movimento lento e preciso, como se estivesse ponderando mais do que demonstrava.

— Isso é estranho... — murmurou.

— Estranho como? — perguntei, preocupada.

Ele coçou a nuca e suspirou:

— Quando eu sai essa manhã, me certifiquei de que tudo estava fechado e que Nico estava em sua casinha. Você notou algo estranho no apartamento ao lado durante o dia?

Um pouco mais pensativa, busquei em minha memória alguma informação importante, até que me lembrei sobre a mulher de mais cedo.

— Agora que você disse isso, quando fui pegar minha encomenda, vi uma mulher mais velha entrando em seu apartamento no mesmo instante.

O homem cruzou os braços e parecia ponderar sobre o que eu havia dito.

— Eu não pedi limpeza hoje, mas parece que a diarista veio mesmo assim. — seus olhos pareciam intrigados.

Franzi o cenho:

— Você acha que ela soltou Nicolau de propósito?

— Não sei. — Ele deu um sorriso curto e sem humor, tentando disfarçar. — Provavelmente, estou apenas paranoico. Mas essa não é a primeira vez que algo assim acontece.

Arqueei as sobrancelhas:

— Não é?

Antes que ele respondesse, Nicolau latiu alto, como se quisesse interromper a conversa. Seu latido ecoou na cozinha e nos fez olhar para ele. O homem pareceu relaxar, deixando escapar uma risada baixa.

— Talvez eu esteja só exagerando... — ele disse, passando a mão pelos cabelos. Mas seus olhos, fixos em Nicolau, mostravam que ainda não estava totalmente convencido.

Me aproximei, instintivamente pousando a mão no pequeno cachorro, que agora olhava para nós dois como se entendesse a tensão no ar.

— Pode ser só um descuido mesmo. Ele não parece machucado ou assustado agora. — minha voz saiu suave, mas, internamente, eu também me perguntava: será que ele tinha razão? Não fazia muito sentido Nicolau ter ido parar tão longe sem que ninguém notasse.

Ele soltou um suspiro longo e então me olhou diretamente. A intensidade daquele olhar me fez engolir em seco.

— Obrigado... por cuidar dele.

Meu estômago deu um pequeno salto, mas consegui sorrir.

— Não foi nada. Nicolau foi uma ótima companhia. — baguncei o pelo de Nicolau e me levantei.

Ele riu baixinho, balançando a cabeça.

— Nico. Ele sempre dá um jeito de ser o centro das atenções.

De repente, ele franziu o cenho como se tivesse acabado de se dar conta de algo.

— Mas, falando nisso, você cuidou tão bem dele e... nem sei o seu nome. — ele sorriu de lado, o que me deixou ligeiramente nervosa.

— Ah, claro. — respondi, desviando o olhar. — Eu sou Rosalyne, mas pode me chamar de Rosa...

— Rosa... — ele repetiu, como se estivesse experimentando meu nome na boca. Me arrepiei. — Bonito. Combina com você.

Minhas bochechas queimaram, mas antes que pudesse dizer algo, Nicolau latiu e correu para junto da panela de macarrão esfriando. Era como se estivesse reivindicando sua parte também.

O homem riu, quebrando o clima estranho.

— Parece que ele não está pronto para ir embora. — comentei humorada, cruzando os braços.

— Certo, Nico, você venceu. — ele suspirou dramaticamente e se virou para mim com um sorriso fácil. — Acho que vou precisar de uma desculpa para voltar e buscá-lo depois. Você se importaria?

Ergui as sobrancelhas, tentando disfarçar meu próprio sorriso.

— Uma desculpa, é?

— Com certeza. Mas, só por curiosidade... se eu voltar, devo chamar você de Rosa ou tem mais alguma surpresa no nome? — sua voz tinha uma leve provocação.

Soltei uma risada leve, me sentindo mais à vontade.

— Só Rosa está ótimo. E você? Como devo chamar o dono desse cachorrinho tão fofo?

Ele pareceu surpreso por um momento, mas logo me deu um sorriso genuíno.

— Cesare. — disse, estendendo a mão, como se quisesse formalizar. — Se pronuncia "Sizare".

Olhei para a mão dele, achando aquilo engraçado, mas apertei-a mesmo assim.

— É um prazer, Cesare. — respondi, rindo.

— O prazer é meu, Rosa. E do Nicolau, claro.

Dei uma risada assoprada e o observei ir até a porta do apartamento. Ele segurou a porta e olhou para trás.

— Boa noite, Rosa. E... cuide bem do meu traidorzinho, por favor.

Fiquei parada na cozinha por alguns segundos após ele sair, olhando para Nicolau, que agora tinha a cara mais inocente do mundo enquanto se encolhia aos meus pés.

— Parece que você arrumou uma casa temporária, Nicolau. — murmurei, me abaixando e acariciando sua cabeça.

Do lado de fora, ouvi o som distante da chuva diminuindo. Algo em mim sabia que aquele encontro era apenas o começo de algo inesperado. Nesse dia, eu realmente não tinha ideia do tipo de homem que estava me envolvendo.

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