CAPÍTULO 03 — LOGAN 

• PASSADO •

A quinta dose de vodka desceu pela minha garganta assim que perdi mais uma rodada.

Fiz careta e revirei os olhos para Kalid.

Aquela diaba sempre achava alguma brecha para me fazer beber.

Ela sempre tinha uma pergunta bem elaborada ou uma informação que acabava com a minha reputação em segundos.

Se bem que, minha reputação não era lá tão grande coisa.

— Eu nunca transei com mais de duas pessoas que estão aqui nessa roda — Michael, ex namorado de Kalid, argumentou de propósito para atingi-la.

Sim, eu amei, mas também pude ver a fúria de Carter aparecendo de repente.

— Vocês homens podem contar vantagem por isso, não é? — Fechou a cara para ele mas não abaixou a cabeça. — Então eu também posso. Transei sim com mais de dois, até mais de três, e posso dizer que você foi o mais decepcionante.

O alvoroço de zombaria surgiu de imediato e eu acabei rindo.

Kalid e mais algumas pessoas beberam as doses de vodka e, dessa vez, pelo menos dessa vez, não tive que fazer isso.

Não havia transado com ninguém que estava ali.

Não ainda.

— Acho que já chega por hoje. Vocês estão bêbados demais. É melhor cada um ir para o seu canto.

Observei em silêncio quando Maggie, amiga de escola da insuportável, apareceu começando a recolher cada um dos copos.

— Não faça isso, baby! — Kalid choramingou embriagada, apenas reforçando que a amiga estava certa.

Já tinha dado a hora de todos sumirem dali.

— Você não deve beber mais nada hoje. Sabemos o que acontece, e sabemos que é arriscado.

Fiquei levemente tentado a perguntar o que é que acontecia quando a desmiolada bebia demais, mas isso só para provocar Kalid.

Como se pudesse ler minha mente, Carter sorriu safado para a namorada e logo em seguida levou seus olhos para Maggie.

Eu não queria ter entendido naquele momento, mas entendi.

— Você sempre dá conta, mesmo que o problema seja enorme — balbuciou, se jogando em direção à Maggie.

As duas acabaram se agarrando uma na outra no meio da roda, a loira tentando equilibrar os copos e o corpo da amiga, enquanto a morena a puxava pela cintura.

O silêncio foi sepulcral.

Todos pareciam esperar por algo que, sinceramente, não deveria acontecer bem ali.

Não deveria, porque tinha garotos demais querendo matar vontades na mesma intensidade em que queriam alimentá-las.

— Ok, ok. Sem showzinho aqui! — Carter se levantou e acabou ajudando Maggie com os copos, obrigando as duas a se separarem.

As pessoas começaram a se dissipar, jovens alcoolizados e até mesmo drogados indo para suas casas que não ficavam tão perto da casa no lago.

Bom, eu não tinha essa preocupação porque, assim como meu melhor amigo, ia dormir na casa de Kalid.

Podíamos não suportar um ao outro, mas ela não me impedia de estar ali. Nunca.

Quando toda a energia do ambiente foi amenizando e o ar fresco da noite passou a ser melhor aproveitado por mim, ouvi os passos cambaleantes de alguém e me virei de imediato, pensando ser Carter, que com certeza me daria um tapa nas costas ou algo assim.

Mas, para a minha infelicidade, não era ele.

— Esqueceu alguma coisa aqui?

Ela me olhou com certo nojo e torceu o nariz após uma minuciosa avaliação em todo o meu corpo.

— Está na minha casa e continua sendo um belo filho da puta — resmungou, olhando para o chão de madeira. — Se esqueci ou deixei de esquecer, é um problema meu, não acha?

— Claro. Deve estar procurando a sua dignidade, não é? Acha que ela caiu aqui fora? Ou lá no banheiro, quando você fodeu e nem se preocupou em gemer baixo?

Furiosa, Kalid ergueu os olhos para mim e fechou os punhos ao lado do corpo.

— Por que você não cala essa sua boca, Logan? Eu tenho uma ideia bem interessante pra deixar ela fechada, e tenho quase certeza de que você vai amar.

Com passos lentos e perigosos, a jovem se aproximou e praticamente me encurralou contra a proteção de madeira da varanda.

Me agarrei no pilar fino como se eu tivesse medo, mas, não era bem isso. Era só que… ou eu me segurava, ou não responderia por mim.

— Qual a sua sugestão para que eu fique quieto? — Ergui uma sobrancelha, a desafiando.

Kalid umedeceu os lábios inchados, provavelmente por ter beijado demais, e com a aproximação pude sentir sua respiração se chocando na minha bochecha.

— O Michael gosta das duas coisas. Ele ama uma boceta, mas não resiste a um pau. Então, vá até ele, enfie o caralho dele na sua boca, chupe até se lambuzar todo e, depois, tente foder o rabo dele sem gritar de prazer.

Engoli em seco sentindo trezentos tipos de coisa ao mesmo tempo.

Eu podia pegar Kalid pelo pescoço e simplesmente… simplesmente poderia sufocar a garota ao ponto de fazer com que nenhuma outra palavra saísse da sua boca atrevida e insana.

Mas eu também podia ignorar, como Carter sempre me pediu.

Podia ignorar suas provocações e fingir que a birra dela comigo não existia.

— O que está procurando aqui fora? — insisti para desviar do assunto e da sua sugestão que não me era nada atrativa.

Michael podia gostar do que quisesse, mas eu não era como ele.

— Perdi a minha dignidade, esqueceu? — Voltou a olhar para o chão, e eu a acompanhei, apesar de não saber o que ela tanto queria achar.

— É um baseado? — Continuei curioso.

— Deve ser. Não está no seu rabo, não?

— Talvez esteja no seu, já parou pra procurar?

— Não, não parei. Quer fazer o favor de olhar pra mim?

Como se fosse algo normal brincar comigo daquela forma, Kalid virou a bunda em minha direção e praticamente a empinou.

A saia jeans, curta e justa, subiu de um modo que não deveria.

Seu olhar, no entanto, era pior do que sua posição.

Havia muita coisa nele.

— O Carter vai amar te ver com a bunda virada desse jeito para o melhor amigo dele — debochei.

— Você acha? — Endireitou a postura e voltou a procurar por algo, que insistia em não me dizer o que era.

— Acho que se eu não posso te ajudar, então se vire sozinha. Vou dormir.

— É o meu colar — disparou, por fim. — Se você achar, se… se ver ele por aí...

Ah, o colar.

Ok, não ia caçoar porque era uma jóia deixada por sua mãe, e seria injusto mexer em um ponto tão delicado.

Então, o melhor a fazer era realmente ir dormir.

— Se eu encontrar, te aviso.

— Se quiser o lance com o Michael também, é só avisar.

Ignorando Kalid, passei por toda a sala bagunçada e evitei olhar para a cozinha.

No dia seguinte teríamos muito trabalho.

Subi para o quarto destinado a mim e antes de entrar, ouvi um gemido gostoso partindo do final do corredor.

Com a curiosidade aflorada caminhei devagar até lá, e quando parei na porta entreaberta do quarto da insuportável, pude ver Maggie e Carter fodendo no chão, mais especificamente, no tapete.

Eu poderia simplesmente dizer o quanto essa relação deles me deixava confuso e até revoltado, mas preferia ficar quieto.

Se Kalid, que era a namorada, não se preocupava nem um pouco com isso, então quem era eu para reclamar do que faziam ou deixavam de fazer?

Não era interessante entrar nesses pontos com os dois, três, ou mais…

Quando girei os calcanhares para voltar ao quarto de hóspedes, dei de cara com a jovem.

Juro que normalmente via apenas tranquilidade em seu olhar diante àquelas situações, mas naquele momento algo foi diferente.

Não sabia dizer se era incômodo ou se era só cansaço, e também não fiquei para saber.

Passei trombando meu braço no dela e quando caí deitado na cama, o brilho de um pingente me chamou a atenção no travesseiro.

O colar estava lá...

O porquê disso, eu não sabia, mas ele estava lá.

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