• PASSADO •
A quinta dose de vodka desceu pela minha garganta assim que perdi mais uma rodada. Fiz careta e revirei os olhos para Kalid. Aquela diaba sempre achava alguma brecha para me fazer beber. Ela sempre tinha uma pergunta bem elaborada ou uma informação que acabava com a minha reputação em segundos. Se bem que, minha reputação não era lá tão grande coisa. — Eu nunca transei com mais de duas pessoas que estão aqui nessa roda — Michael, ex namorado de Kalid, argumentou de propósito para atingi-la. Sim, eu amei, mas também pude ver a fúria de Carter aparecendo de repente. — Vocês homens podem contar vantagem por isso, não é? — Fechou a cara para ele mas não abaixou a cabeça. — Então eu também posso. Transei sim com mais de dois, até mais de três, e posso dizer que você foi o mais decepcionante. O alvoroço de zombaria surgiu de imediato e eu acabei rindo. Kalid e mais algumas pessoas beberam as doses de vodka e, dessa vez, pelo menos dessa vez, não tive que fazer isso. Não havia transado com ninguém que estava ali. Não ainda. — Acho que já chega por hoje. Vocês estão bêbados demais. É melhor cada um ir para o seu canto. Observei em silêncio quando Maggie, amiga de escola da insuportável, apareceu começando a recolher cada um dos copos. — Não faça isso, baby! — Kalid choramingou embriagada, apenas reforçando que a amiga estava certa. Já tinha dado a hora de todos sumirem dali. — Você não deve beber mais nada hoje. Sabemos o que acontece, e sabemos que é arriscado. Fiquei levemente tentado a perguntar o que é que acontecia quando a desmiolada bebia demais, mas isso só para provocar Kalid. Como se pudesse ler minha mente, Carter sorriu safado para a namorada e logo em seguida levou seus olhos para Maggie. Eu não queria ter entendido naquele momento, mas entendi. — Você sempre dá conta, mesmo que o problema seja enorme — balbuciou, se jogando em direção à Maggie. As duas acabaram se agarrando uma na outra no meio da roda, a loira tentando equilibrar os copos e o corpo da amiga, enquanto a morena a puxava pela cintura. O silêncio foi sepulcral. Todos pareciam esperar por algo que, sinceramente, não deveria acontecer bem ali. Não deveria, porque tinha garotos demais querendo matar vontades na mesma intensidade em que queriam alimentá-las. — Ok, ok. Sem showzinho aqui! — Carter se levantou e acabou ajudando Maggie com os copos, obrigando as duas a se separarem. As pessoas começaram a se dissipar, jovens alcoolizados e até mesmo drogados indo para suas casas que não ficavam tão perto da casa no lago. Bom, eu não tinha essa preocupação porque, assim como meu melhor amigo, ia dormir na casa de Kalid. Podíamos não suportar um ao outro, mas ela não me impedia de estar ali. Nunca. Quando toda a energia do ambiente foi amenizando e o ar fresco da noite passou a ser melhor aproveitado por mim, ouvi os passos cambaleantes de alguém e me virei de imediato, pensando ser Carter, que com certeza me daria um tapa nas costas ou algo assim. Mas, para a minha infelicidade, não era ele. — Esqueceu alguma coisa aqui? Ela me olhou com certo nojo e torceu o nariz após uma minuciosa avaliação em todo o meu corpo. — Está na minha casa e continua sendo um belo filho da puta — resmungou, olhando para o chão de madeira. — Se esqueci ou deixei de esquecer, é um problema meu, não acha? — Claro. Deve estar procurando a sua dignidade, não é? Acha que ela caiu aqui fora? Ou lá no banheiro, quando você fodeu e nem se preocupou em gemer baixo? Furiosa, Kalid ergueu os olhos para mim e fechou os punhos ao lado do corpo. — Por que você não cala essa sua boca, Logan? Eu tenho uma ideia bem interessante pra deixar ela fechada, e tenho quase certeza de que você vai amar. Com passos lentos e perigosos, a jovem se aproximou e praticamente me encurralou contra a proteção de madeira da varanda. Me agarrei no pilar fino como se eu tivesse medo, mas, não era bem isso. Era só que… ou eu me segurava, ou não responderia por mim. — Qual a sua sugestão para que eu fique quieto? — Ergui uma sobrancelha, a desafiando. Kalid umedeceu os lábios inchados, provavelmente por ter beijado demais, e com a aproximação pude sentir sua respiração se chocando na minha bochecha. — O Michael gosta das duas coisas. Ele ama uma boceta, mas não resiste a um pau. Então, vá até ele, enfie o caralho dele na sua boca, chupe até se lambuzar todo e, depois, tente foder o rabo dele sem gritar de prazer. Engoli em seco sentindo trezentos tipos de coisa ao mesmo tempo. Eu podia pegar Kalid pelo pescoço e simplesmente… simplesmente poderia sufocar a garota ao ponto de fazer com que nenhuma outra palavra saísse da sua boca atrevida e insana. Mas eu também podia ignorar, como Carter sempre me pediu. Podia ignorar suas provocações e fingir que a birra dela comigo não existia. — O que está procurando aqui fora? — insisti para desviar do assunto e da sua sugestão que não me era nada atrativa. Michael podia gostar do que quisesse, mas eu não era como ele. — Perdi a minha dignidade, esqueceu? — Voltou a olhar para o chão, e eu a acompanhei, apesar de não saber o que ela tanto queria achar. — É um baseado? — Continuei curioso. — Deve ser. Não está no seu rabo, não? — Talvez esteja no seu, já parou pra procurar? — Não, não parei. Quer fazer o favor de olhar pra mim? Como se fosse algo normal brincar comigo daquela forma, Kalid virou a bunda em minha direção e praticamente a empinou. A saia jeans, curta e justa, subiu de um modo que não deveria. Seu olhar, no entanto, era pior do que sua posição. Havia muita coisa nele. — O Carter vai amar te ver com a bunda virada desse jeito para o melhor amigo dele — debochei. — Você acha? — Endireitou a postura e voltou a procurar por algo, que insistia em não me dizer o que era. — Acho que se eu não posso te ajudar, então se vire sozinha. Vou dormir. — É o meu colar — disparou, por fim. — Se você achar, se… se ver ele por aí... Ah, o colar. Ok, não ia caçoar porque era uma jóia deixada por sua mãe, e seria injusto mexer em um ponto tão delicado. Então, o melhor a fazer era realmente ir dormir. — Se eu encontrar, te aviso. — Se quiser o lance com o Michael também, é só avisar. Ignorando Kalid, passei por toda a sala bagunçada e evitei olhar para a cozinha. No dia seguinte teríamos muito trabalho. Subi para o quarto destinado a mim e antes de entrar, ouvi um gemido gostoso partindo do final do corredor. Com a curiosidade aflorada caminhei devagar até lá, e quando parei na porta entreaberta do quarto da insuportável, pude ver Maggie e Carter fodendo no chão, mais especificamente, no tapete. Eu poderia simplesmente dizer o quanto essa relação deles me deixava confuso e até revoltado, mas preferia ficar quieto. Se Kalid, que era a namorada, não se preocupava nem um pouco com isso, então quem era eu para reclamar do que faziam ou deixavam de fazer? Não era interessante entrar nesses pontos com os dois, três, ou mais… Quando girei os calcanhares para voltar ao quarto de hóspedes, dei de cara com a jovem. Juro que normalmente via apenas tranquilidade em seu olhar diante àquelas situações, mas naquele momento algo foi diferente. Não sabia dizer se era incômodo ou se era só cansaço, e também não fiquei para saber. Passei trombando meu braço no dela e quando caí deitado na cama, o brilho de um pingente me chamou a atenção no travesseiro. O colar estava lá... O porquê disso, eu não sabia, mas ele estava lá.Até que número eu deveria contar para me manter paciente? Dez bilhões seria suficiente? Não... Não com Logan na minha casa, invadindo os meus dias. — Não tem porra nenhuma na geladeira. Você está há quantos dias sem se alimentar direito? Parei olhando para o céu ensolarado e até cheguei a pensar na pergunta. Talvez três, ou quatro dias. Não me recordava muito bem. — Estou saudável, pode ter certeza. — Eu te ouvi dizendo isso quando a gente era mais novo, até que um dia o Carter precisou te levar às pressas para o hospital porque estava desnutrida. Soltei a fumaça do cigarro pela boca e olhei de soslaio para Logan. Ele odiava cigarros. Odiava com todas as suas forças, e era exatamente por isso que eu estava fumando na varanda logo pela manhã. Provocar o homem sempre seria o meu hobby preferido. — Você ainda se lembra de muita coisa, não? — Me lembro de você chutando o meu saco, me lembro de que você espalhou pra todo mundo a mentira de que perdi a virgindade com outr
• PASSADO • As pessoas corriam apressadas quase trombando umas nas outras, me fazendo rir ainda mais. Chamaram a polícia, e agora o som alto tinha cessado, as garotas não mais dançavam alegres, e os jovens que tinham um alto teor de substâncias ilícitas em suas veias tentavam passar pelos policiais sem serem notados. Eu avisei, mas ninguém quis me escutar. — Se eu descobrir quem foi o filho da puta, juro que vou arrancar o pau! Olhei para Michael e tentei não mostrar os meus dentes enquanto ria de sua decepção. Julgava que, no meio das pernas do responsável por aquilo, não havia pênis algum, e sim uma boceta da qual ele já havia provado, como sempre gostava de proclamar. Tinha sido ela, com certeza tinha. Não deixar que Kalid fosse para sua festa de aniversário foi um tiro no pé, agora o garoto teria que lidar com as consequências dessa tamanha desfeita com sua ex. — Eu tenho a leve impressão de que, se ela te mandar ficar de quatro, você fica — provoquei, e logo após beb
Mas que saco! Eram só nove horas da manhã e eu já estava tendo que ingerir umas duas mil calorias apenas para agradar o senhor certinho, que insistia em dizer que eu tinha perdido peso. E se tivesse mesmo? Era normal. Logan sabia que era normal. Ele sabia muitíssimo bem como era normal.— Odeio ovos no café da manhã! — Revirei o alimento no prato, e fiz careta. Era mentira, eu amava comer ovos, mas para infernizar Logan eu falaria qualquer coisa. — Há, no mundo, alguma coisa que você não odeie? Sério, existe algo que você ame, ou que você adore? Porque às vezes eu penso que você mesma se odeia, então, repito a minha pergunta… Há alguma coisa que você não odeie?Deixei minha postura suavizar e recostei no estofado macio da poltrona. É, eu odiava bastante coisa, mas muitas outras se salvavam desse meu sentimento, com certeza. — Amo marshmallow assado. O homem umedeceu os lábios e sorriu com cinismo.— Mas o que tem pra você comer agora é um café da manhã saudável, então, por favo
Eu não gostava de Kalid Clarkson, mas não gostava ainda mais de quem tinha a coragem de tentar fazer ela passar raiva além de mim. Maggie e Michael foram uma pequena parte de um pesadelo. Se ousassem retornar para arruinar a mulher de alguma forma, iam acabar conhecendo um lado meu que não costumava mostrar com frequência. — Uísque não vai te ajudar com a dor — pontuei, vendo ela servir mais um copo generoso de bebida. — Sua voz no meu ouvido também não vai. — Tem certeza disso? — sussurrei de propósito, bem perto de seu rosto.Kalid fez menção de se virar, mas permaneceu parada de frente para a pia da cozinha. Seus olhos, no entanto, me devoravam com ferocidade. Sabia que se ela pudesse, enfiaria um tapa em minha cara. — A forma como você pede por um tapa é bem interessante.Não falei?Sorri me afastando e acabei caminhando até a porta da frente, olhando para o lago próximo que refletia a luz do sol enquanto alguns patos pairavam pela superfície da água. — Vai voltar comigo, o
[8 anos antes] Quando cheguei no quarto após trombar com Logan no corredor, avistei Maggie e Carter juntos, mais especificamente, fodendo no chão.Foi isso que deixou Logan Baker com a cabeça soltando fumaça. A garota estava de quatro. Tinha o vestido levantado até a cintura e um dos seios estava para o lado de fora. Não havia sinal algum de calcinha, o que significava que ela não estava usando uma em momento algum da nossa festinha. Carter, que investia contra ela, de joelhos sobre o tapete, me viu parada na porta e sorriu safado.— Achei que você não ia vir, amor. Ele umedeceu os lábios cheios sem deixar de se movimentar, e a loira me olhou com tesão, deixando de apoiar uma das mãos no chão para me chamar com o indicador.— Vem, Kali! Eu deveria ir. Deveria me juntar a eles e fazer aquilo também, mas não encontrar o colar estava me deixando extremamente inquieta, então apenas sorri sem graça para os dois. — Esqueci de apagar as luzes! Já volto.Ouvi o resmungo deles, mas bat
Não tinha como negar que muitas vezes me senti culpado por coisas que fiz com ela. Nós éramos cruéis um com o outro, mas quem sofria mais sempre era ela, por mais que não mostrasse isso a ninguém, nem mesmo ao Carter.Só que, eu tinha uma mãe presente e super amorosa, tinha irmãos legais, e tinha uma ótima educação. Kalid, no entanto, tinha um homem que a visitava uma vez na semana para saber como ela estava, e que levava algumas coisas para tentar agradar a garota, mas nada mudava o fato de que vivia sozinha. Nada. Cheguei a me encontrar encantado com a coragem dela de viver na casa do lago, sem uma segurança real - além da arma que tinha -, e sem se preocupar com as diversas possibilidades de coisas horríveis que poderiam acontecer com uma garota desacompanhada. Ela parecia gostar de correr esse risco. — Ainda pensa nele? Kalid não se assustou com a minha voz. Sentada na beirada do lago, com um graveto na mão, ela continuou mexendo nas pedrinhas com tranquilidade. — Você nã
[8 anos antes]Maldito garoto curioso! Logan nunca estava satisfeito em entrar na minha vida de enxerido. Para completar sua invasão, além de roubar meu colar há umas duas semanas, tinha também ligado para Carter a fim de contar o estado em que me encontrou durante a noite. Caída. Na varanda de casa. Sozinha… Queimada. E daí que eu tinha me machucado? Qual a porra do problema? Por que ele fingia se preocupar, quando na verdade ninguém se importava de verdade? Me abaixei na beirada do lago e juntei as mãos formando uma concha para pegar a água e jogar contra meu rosto. Respirei fundo, tentando despertar e não pensar em mil formas de matar Logan Baker estraçalhado. Nada foi capaz de amenizar a raiva. Carter estava voltando para casa e eu ainda teria que me justificar quando ele visse meu braço. — Aí está você! Me assustei com a voz rouca e de imediato deixei a postura ereta, buscando pelo filho da mãe.Logan estava bravo. Seus olhos repletos de lágrimas diziam que aquele ne
Erros constantes foram o que fizeram eu e Kalid chegarmos a extremos. Ambos, juntos, erramos várias vezes e isso causou nossa maior ruína. Tinha certeza disso. Talvez eu nunca vá me perdoar por tudo, mas se um dia chegar ao ponto de estar bem comigo mesmo, acho que será reconfortante e enfim vou saber o que é ter paz outra vez. Nossos persistentes erros destroçaram o que ainda restava de bom em nós, e depois disso, acho que restou muito pouco, ou nada. — Me conte algo que eu não sei. — A guerra é uma merda. Uma merda bem grande que tira de você tantos e tantos princípios que… puta que pariu! É uma porra enorme. O senhor Merlin, dono da melhor lanchonete da cidade, riu como se isso não fosse segredo algum.— Eu sei disso. Ainda me lembro dos meus dias como fuzileiro. O que quero saber é, como você está após perder o Carter. Desci meus olhos para a xícara de chá que estava sobre o balcão e pensei seriamente que deveria tomar alguma bebida forte, ao invés de ervas calmantes. Acho