Até que número eu deveria contar para me manter paciente?
Dez bilhões seria suficiente? Não... Não com Logan na minha casa, invadindo os meus dias. — Não tem porra nenhuma na geladeira. Você está há quantos dias sem se alimentar direito? Parei olhando para o céu ensolarado e até cheguei a pensar na pergunta. Talvez três, ou quatro dias. Não me recordava muito bem. — Estou saudável, pode ter certeza. — Eu te ouvi dizendo isso quando a gente era mais novo, até que um dia o Carter precisou te levar às pressas para o hospital porque estava desnutrida. Soltei a fumaça do cigarro pela boca e olhei de soslaio para Logan. Ele odiava cigarros. Odiava com todas as suas forças, e era exatamente por isso que eu estava fumando na varanda logo pela manhã. Provocar o homem sempre seria o meu hobby preferido. — Você ainda se lembra de muita coisa, não? — Me lembro de você chutando o meu saco, me lembro de que você espalhou pra todo mundo a mentira de que perdi a virgindade com outro garoto, e me lembro de quando me fez passar a maior vergonha da minha vida na nossa formatura. Umedeci os lábios tentando esconder um sorriso vitorioso e voltei a tragar o cigarro. — Você sabe que foi cruel comigo. — E você não foi comigo, Kalid? Em nenhum momento? — Ao questionar, apoiou um braço na cerca da varanda e não deixou de me encarar. Também me virei para ele e soltei a fumaça com cheiro forte de nicotina, bem na sua cara, ação perfeita para deixá-lo extremamente irritado. Logan não se importou se poderia queimar a mão, ele simplesmente agarrou o cigarro e o jogou para longe, sem nem o apagar. — Isso pode provocar um incêndio! — Apontei na direção em que arremessou o cigarro. — Acho que tem várias coisas aqui que podem provocar um incêndio, não acha? — resmungou, sério. — Depende. Se temos fogo, e temos combustível, sim. Mas, se só temos um desses elementos… — Dá pra explodir tudo de qualquer jeito, porque é você. Quando foi que deixou de incendiar só porque fez as coisas sozinha? — Sozinha? — Ri com sarcasmo, tentando não entrar naquele assunto. Se eu desejasse prolongar a conversa, as coisas não iam seguir um rumo ao qual nós dois queríamos. — Você tem tudo o que precisa nas mãos, não tem? Então sim. Você, sozinha, causa um incêndio. — Como se você não fosse responsável nem um pouquinho, né? — Tentei dar as costas para ele, mas Logan segurou meu braço e me puxou para perto de seu peito. — Eu preciso da droga da sua colaboração. Então vá se arrumar para que a gente possa sair e tomar um café decente. E se você pensar em colocar outro cigarro na boca, eu vou ter que dar um jeito de deixar ela bem ocupada com outra coisa. Ah, mas era só o que me faltava! Logan agora fazia ameaças, era isso mesmo? — O que o Carter diria se te ouvisse falando isso? — provoquei, sem desviar meus olhos dos seus. — Nós sabemos o que ele diria, e você ia amar ouvir ele dizendo. É, talvez o filho da puta não estivesse tão errado quanto a isso. Haviam algumas coisas que eu amava ouvir saindo da boca do meu noivo. Coisas bem específicas. Coisas que nunca mais ia ouvir. — Se tem tanta certeza de que sou capaz de causar um incêndio, então deveria tomar cuidado, Logan. Posso me queimar, posso te queimar, e posso, de uma vez por todas, acabar com toda essa merda. — Sabe onde é que você vai acabar? Com a bunda sentada em uma cadeira na lanchonete do senhor Merlin. Agora vai se trocar. Me soltando como se eu fosse um objeto qualquer, o homem se encarregou de entrar para dentro da casa e eu precisei respirar fundo antes de tomar coragem e o seguir. Subi até meu quarto, me enfiei no banheiro a fim de lavar os cabelos depois de uma semana sem fazer isso, e por fim, escolhi um conjunto de moletom para usar no nosso maravilhoso café da manhã. Só percebi que não ia conseguir manter minha cabeça no lugar quando voltei para a área externa e encontrei Logan usando jeans preto, camiseta justa na mesma cor, e seu coturno militar de sempre. Eu odiava aquela imagem. Odiava porque me fazia lembrar de Carter, e mais ainda… me fazia lembrar do meu pai, dos momentos felizes que tive com ele, e de como Logan Baker era parecido com o primeiro homem que amei na vida. Inferno! Só podia estar pagando por todo mal que lhe fiz um dia. O karma era real. Teria que suportar, como ele suportou.• PASSADO • As pessoas corriam apressadas quase trombando umas nas outras, me fazendo rir ainda mais. Chamaram a polícia, e agora o som alto tinha cessado, as garotas não mais dançavam alegres, e os jovens que tinham um alto teor de substâncias ilícitas em suas veias tentavam passar pelos policiais sem serem notados. Eu avisei, mas ninguém quis me escutar. — Se eu descobrir quem foi o filho da puta, juro que vou arrancar o pau! Olhei para Michael e tentei não mostrar os meus dentes enquanto ria de sua decepção. Julgava que, no meio das pernas do responsável por aquilo, não havia pênis algum, e sim uma boceta da qual ele já havia provado, como sempre gostava de proclamar. Tinha sido ela, com certeza tinha. Não deixar que Kalid fosse para sua festa de aniversário foi um tiro no pé, agora o garoto teria que lidar com as consequências dessa tamanha desfeita com sua ex. — Eu tenho a leve impressão de que, se ela te mandar ficar de quatro, você fica — provoquei, e logo após beb
Mas que saco! Eram só nove horas da manhã e eu já estava tendo que ingerir umas duas mil calorias apenas para agradar o senhor certinho, que insistia em dizer que eu tinha perdido peso. E se tivesse mesmo? Era normal. Logan sabia que era normal. Ele sabia muitíssimo bem como era normal.— Odeio ovos no café da manhã! — Revirei o alimento no prato, e fiz careta. Era mentira, eu amava comer ovos, mas para infernizar Logan eu falaria qualquer coisa. — Há, no mundo, alguma coisa que você não odeie? Sério, existe algo que você ame, ou que você adore? Porque às vezes eu penso que você mesma se odeia, então, repito a minha pergunta… Há alguma coisa que você não odeie?Deixei minha postura suavizar e recostei no estofado macio da poltrona. É, eu odiava bastante coisa, mas muitas outras se salvavam desse meu sentimento, com certeza. — Amo marshmallow assado. O homem umedeceu os lábios e sorriu com cinismo.— Mas o que tem pra você comer agora é um café da manhã saudável, então, por favo
Eu não gostava de Kalid Clarkson, mas não gostava ainda mais de quem tinha a coragem de tentar fazer ela passar raiva além de mim. Maggie e Michael foram uma pequena parte de um pesadelo. Se ousassem retornar para arruinar a mulher de alguma forma, iam acabar conhecendo um lado meu que não costumava mostrar com frequência. — Uísque não vai te ajudar com a dor — pontuei, vendo ela servir mais um copo generoso de bebida. — Sua voz no meu ouvido também não vai. — Tem certeza disso? — sussurrei de propósito, bem perto de seu rosto.Kalid fez menção de se virar, mas permaneceu parada de frente para a pia da cozinha. Seus olhos, no entanto, me devoravam com ferocidade. Sabia que se ela pudesse, enfiaria um tapa em minha cara. — A forma como você pede por um tapa é bem interessante.Não falei?Sorri me afastando e acabei caminhando até a porta da frente, olhando para o lago próximo que refletia a luz do sol enquanto alguns patos pairavam pela superfície da água. — Vai voltar comigo, o
[8 anos antes] Quando cheguei no quarto após trombar com Logan no corredor, avistei Maggie e Carter juntos, mais especificamente, fodendo no chão.Foi isso que deixou Logan Baker com a cabeça soltando fumaça. A garota estava de quatro. Tinha o vestido levantado até a cintura e um dos seios estava para o lado de fora. Não havia sinal algum de calcinha, o que significava que ela não estava usando uma em momento algum da nossa festinha. Carter, que investia contra ela, de joelhos sobre o tapete, me viu parada na porta e sorriu safado.— Achei que você não ia vir, amor. Ele umedeceu os lábios cheios sem deixar de se movimentar, e a loira me olhou com tesão, deixando de apoiar uma das mãos no chão para me chamar com o indicador.— Vem, Kali! Eu deveria ir. Deveria me juntar a eles e fazer aquilo também, mas não encontrar o colar estava me deixando extremamente inquieta, então apenas sorri sem graça para os dois. — Esqueci de apagar as luzes! Já volto.Ouvi o resmungo deles, mas bat
Não tinha como negar que muitas vezes me senti culpado por coisas que fiz com ela. Nós éramos cruéis um com o outro, mas quem sofria mais sempre era ela, por mais que não mostrasse isso a ninguém, nem mesmo ao Carter.Só que, eu tinha uma mãe presente e super amorosa, tinha irmãos legais, e tinha uma ótima educação. Kalid, no entanto, tinha um homem que a visitava uma vez na semana para saber como ela estava, e que levava algumas coisas para tentar agradar a garota, mas nada mudava o fato de que vivia sozinha. Nada. Cheguei a me encontrar encantado com a coragem dela de viver na casa do lago, sem uma segurança real - além da arma que tinha -, e sem se preocupar com as diversas possibilidades de coisas horríveis que poderiam acontecer com uma garota desacompanhada. Ela parecia gostar de correr esse risco. — Ainda pensa nele? Kalid não se assustou com a minha voz. Sentada na beirada do lago, com um graveto na mão, ela continuou mexendo nas pedrinhas com tranquilidade. — Você nã
[8 anos antes]Maldito garoto curioso! Logan nunca estava satisfeito em entrar na minha vida de enxerido. Para completar sua invasão, além de roubar meu colar há umas duas semanas, tinha também ligado para Carter a fim de contar o estado em que me encontrou durante a noite. Caída. Na varanda de casa. Sozinha… Queimada. E daí que eu tinha me machucado? Qual a porra do problema? Por que ele fingia se preocupar, quando na verdade ninguém se importava de verdade? Me abaixei na beirada do lago e juntei as mãos formando uma concha para pegar a água e jogar contra meu rosto. Respirei fundo, tentando despertar e não pensar em mil formas de matar Logan Baker estraçalhado. Nada foi capaz de amenizar a raiva. Carter estava voltando para casa e eu ainda teria que me justificar quando ele visse meu braço. — Aí está você! Me assustei com a voz rouca e de imediato deixei a postura ereta, buscando pelo filho da mãe.Logan estava bravo. Seus olhos repletos de lágrimas diziam que aquele ne
Erros constantes foram o que fizeram eu e Kalid chegarmos a extremos. Ambos, juntos, erramos várias vezes e isso causou nossa maior ruína. Tinha certeza disso. Talvez eu nunca vá me perdoar por tudo, mas se um dia chegar ao ponto de estar bem comigo mesmo, acho que será reconfortante e enfim vou saber o que é ter paz outra vez. Nossos persistentes erros destroçaram o que ainda restava de bom em nós, e depois disso, acho que restou muito pouco, ou nada. — Me conte algo que eu não sei. — A guerra é uma merda. Uma merda bem grande que tira de você tantos e tantos princípios que… puta que pariu! É uma porra enorme. O senhor Merlin, dono da melhor lanchonete da cidade, riu como se isso não fosse segredo algum.— Eu sei disso. Ainda me lembro dos meus dias como fuzileiro. O que quero saber é, como você está após perder o Carter. Desci meus olhos para a xícara de chá que estava sobre o balcão e pensei seriamente que deveria tomar alguma bebida forte, ao invés de ervas calmantes. Acho
Eu perdi as contas da quantidade de vezes que ouvi alguém me fazendo uma pergunta muito específica…"Como você consegue não sentir ciúmes?"E bom… para essa pergunta eu tinha sempre uma resposta preparada. Não sentia ciúmes de Carter porque eu não era possessiva, não era cem por cento apegada, e porque, acima de qualquer coisa, eu confiava nele de olhos fechados. Claro, tínhamos a regra de não fazer sexo sem camisinha, tanto nos relacionamentos com outras pessoas, como no nosso, e exames de três em três meses eram de lei. Mas de resto, era tudo bem tranquilo. Na verdade, eu gostava da ideia de sentirmos atração por outras pessoas e confessar isso um para o outro, sem ter medo de DRs, de ciúmes maluco, e de inseguranças.Eu nunca fui insegura com ele. Não até descobrir algo que…Três batidas na porta me fizeram ter um sobressalto na cama. Quase me esqueci de que tinha companhia no meu refúgio. — Pode entrar — falei, deixando o álbum de fotos que tinha em mãos, na mesinha de cabece