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CAPÍTULO 04 - KALID

Até que número eu deveria contar para me manter paciente?

Dez bilhões seria suficiente?

Não... Não com Logan na minha casa, invadindo os meus dias.

— Não tem porra nenhuma na geladeira. Você está há quantos dias sem se alimentar direito?

Parei olhando para o céu ensolarado e até cheguei a pensar na pergunta.

Talvez três, ou quatro dias. Não me recordava muito bem.

— Estou saudável, pode ter certeza.

— Eu te ouvi dizendo isso quando a gente era mais novo, até que um dia o Carter precisou te levar às pressas para o hospital porque estava desnutrida.

Soltei a fumaça do cigarro pela boca e olhei de soslaio para Logan.

Ele odiava cigarros. Odiava com todas as suas forças, e era exatamente por isso que eu estava fumando na varanda logo pela manhã.

Provocar o homem sempre seria o meu hobby preferido.

— Você ainda se lembra de muita coisa, não?

— Me lembro de você chutando o meu saco, me lembro de que você espalhou pra todo mundo a mentira de que perdi a virgindade com outro garoto, e me lembro de quando me fez passar a maior vergonha da minha vida na nossa formatura.

Umedeci os lábios tentando esconder um sorriso vitorioso e voltei a tragar o cigarro.

— Você sabe que foi cruel comigo.

— E você não foi comigo, Kalid? Em nenhum momento? — Ao questionar, apoiou um braço na cerca da varanda e não deixou de me encarar.

Também me virei para ele e soltei a fumaça com cheiro forte de nicotina, bem na sua cara, ação perfeita para deixá-lo extremamente irritado.

Logan não se importou se poderia queimar a mão, ele simplesmente agarrou o cigarro e o jogou para longe, sem nem o apagar.

— Isso pode provocar um incêndio! — Apontei na direção em que arremessou o cigarro.

— Acho que tem várias coisas aqui que podem provocar um incêndio, não acha? — resmungou, sério.

— Depende. Se temos fogo, e temos combustível, sim. Mas, se só temos um desses elementos…

— Dá pra explodir tudo de qualquer jeito, porque é você. Quando foi que deixou de incendiar só porque fez as coisas sozinha?

— Sozinha? — Ri com sarcasmo, tentando não entrar naquele assunto.

Se eu desejasse prolongar a conversa, as coisas não iam seguir um rumo ao qual nós dois queríamos.

— Você tem tudo o que precisa nas mãos, não tem? Então sim. Você, sozinha, causa um incêndio.

— Como se você não fosse responsável nem um pouquinho, né? — Tentei dar as costas para ele, mas Logan segurou meu braço e me puxou para perto de seu peito.

— Eu preciso da droga da sua colaboração. Então vá se arrumar para que a gente possa sair e tomar um café decente. E se você pensar em colocar outro cigarro na boca, eu vou ter que dar um jeito de deixar ela bem ocupada com outra coisa.

Ah, mas era só o que me faltava!

Logan agora fazia ameaças, era isso mesmo?

— O que o Carter diria se te ouvisse falando isso? — provoquei, sem desviar meus olhos dos seus.

— Nós sabemos o que ele diria, e você ia amar ouvir ele dizendo.

É, talvez o filho da puta não estivesse tão errado quanto a isso. Haviam algumas coisas que eu amava ouvir saindo da boca do meu noivo.

Coisas bem específicas. Coisas que nunca mais ia ouvir.

— Se tem tanta certeza de que sou capaz de causar um incêndio, então deveria tomar cuidado, Logan. Posso me queimar, posso te queimar, e posso, de uma vez por todas, acabar com toda essa merda.

— Sabe onde é que você vai acabar? Com a bunda sentada em uma cadeira na lanchonete do senhor Merlin. Agora vai se trocar.

Me soltando como se eu fosse um objeto qualquer, o homem se encarregou de entrar para dentro da casa e eu precisei respirar fundo antes de tomar coragem e o seguir.

Subi até meu quarto, me enfiei no banheiro a fim de lavar os cabelos depois de uma semana sem fazer isso, e por fim, escolhi um conjunto de moletom para usar no nosso maravilhoso café da manhã.

Só percebi que não ia conseguir manter minha cabeça no lugar quando voltei para a área externa e encontrei Logan usando jeans preto, camiseta justa na mesma cor, e seu coturno militar de sempre.

Eu odiava aquela imagem.

Odiava porque me fazia lembrar de Carter, e mais ainda… me fazia lembrar do meu pai, dos momentos felizes que tive com ele, e de como Logan Baker era parecido com o primeiro homem que amei na vida.

Inferno!

Só podia estar pagando por todo mal que lhe fiz um dia. O karma era real. Teria que suportar, como ele suportou.

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