Mas que saco! Eram só nove horas da manhã e eu já estava tendo que ingerir umas duas mil calorias apenas para agradar o senhor certinho, que insistia em dizer que eu tinha perdido peso. E se tivesse mesmo? Era normal. Logan sabia que era normal. Ele sabia muitíssimo bem como era normal.— Odeio ovos no café da manhã! — Revirei o alimento no prato, e fiz careta. Era mentira, eu amava comer ovos, mas para infernizar Logan eu falaria qualquer coisa. — Há, no mundo, alguma coisa que você não odeie? Sério, existe algo que você ame, ou que você adore? Porque às vezes eu penso que você mesma se odeia, então, repito a minha pergunta… Há alguma coisa que você não odeie?Deixei minha postura suavizar e recostei no estofado macio da poltrona. É, eu odiava bastante coisa, mas muitas outras se salvavam desse meu sentimento, com certeza. — Amo marshmallow assado. O homem umedeceu os lábios e sorriu com cinismo.— Mas o que tem pra você comer agora é um café da manhã saudável, então, por favo
Eu não gostava de Kalid Clarkson, mas não gostava ainda mais de quem tinha a coragem de tentar fazer ela passar raiva além de mim. Maggie e Michael foram uma pequena parte de um pesadelo. Se ousassem retornar para arruinar a mulher de alguma forma, iam acabar conhecendo um lado meu que não costumava mostrar com frequência. — Uísque não vai te ajudar com a dor — pontuei, vendo ela servir mais um copo generoso de bebida. — Sua voz no meu ouvido também não vai. — Tem certeza disso? — sussurrei de propósito, bem perto de seu rosto.Kalid fez menção de se virar, mas permaneceu parada de frente para a pia da cozinha. Seus olhos, no entanto, me devoravam com ferocidade. Sabia que se ela pudesse, enfiaria um tapa em minha cara. — A forma como você pede por um tapa é bem interessante.Não falei?Sorri me afastando e acabei caminhando até a porta da frente, olhando para o lago próximo que refletia a luz do sol enquanto alguns patos pairavam pela superfície da água. — Vai voltar comigo, o
[8 anos antes] Quando cheguei no quarto após trombar com Logan no corredor, avistei Maggie e Carter juntos, mais especificamente, fodendo no chão.Foi isso que deixou Logan Baker com a cabeça soltando fumaça. A garota estava de quatro. Tinha o vestido levantado até a cintura e um dos seios estava para o lado de fora. Não havia sinal algum de calcinha, o que significava que ela não estava usando uma em momento algum da nossa festinha. Carter, que investia contra ela, de joelhos sobre o tapete, me viu parada na porta e sorriu safado.— Achei que você não ia vir, amor. Ele umedeceu os lábios cheios sem deixar de se movimentar, e a loira me olhou com tesão, deixando de apoiar uma das mãos no chão para me chamar com o indicador.— Vem, Kali! Eu deveria ir. Deveria me juntar a eles e fazer aquilo também, mas não encontrar o colar estava me deixando extremamente inquieta, então apenas sorri sem graça para os dois. — Esqueci de apagar as luzes! Já volto.Ouvi o resmungo deles, mas bat
Não tinha como negar que muitas vezes me senti culpado por coisas que fiz com ela. Nós éramos cruéis um com o outro, mas quem sofria mais sempre era ela, por mais que não mostrasse isso a ninguém, nem mesmo ao Carter.Só que, eu tinha uma mãe presente e super amorosa, tinha irmãos legais, e tinha uma ótima educação. Kalid, no entanto, tinha um homem que a visitava uma vez na semana para saber como ela estava, e que levava algumas coisas para tentar agradar a garota, mas nada mudava o fato de que vivia sozinha. Nada. Cheguei a me encontrar encantado com a coragem dela de viver na casa do lago, sem uma segurança real - além da arma que tinha -, e sem se preocupar com as diversas possibilidades de coisas horríveis que poderiam acontecer com uma garota desacompanhada. Ela parecia gostar de correr esse risco. — Ainda pensa nele? Kalid não se assustou com a minha voz. Sentada na beirada do lago, com um graveto na mão, ela continuou mexendo nas pedrinhas com tranquilidade. — Você nã
[8 anos antes]Maldito garoto curioso! Logan nunca estava satisfeito em entrar na minha vida de enxerido. Para completar sua invasão, além de roubar meu colar há umas duas semanas, tinha também ligado para Carter a fim de contar o estado em que me encontrou durante a noite. Caída. Na varanda de casa. Sozinha… Queimada. E daí que eu tinha me machucado? Qual a porra do problema? Por que ele fingia se preocupar, quando na verdade ninguém se importava de verdade? Me abaixei na beirada do lago e juntei as mãos formando uma concha para pegar a água e jogar contra meu rosto. Respirei fundo, tentando despertar e não pensar em mil formas de matar Logan Baker estraçalhado. Nada foi capaz de amenizar a raiva. Carter estava voltando para casa e eu ainda teria que me justificar quando ele visse meu braço. — Aí está você! Me assustei com a voz rouca e de imediato deixei a postura ereta, buscando pelo filho da mãe.Logan estava bravo. Seus olhos repletos de lágrimas diziam que aquele ne
Erros constantes foram o que fizeram eu e Kalid chegarmos a extremos. Ambos, juntos, erramos várias vezes e isso causou nossa maior ruína. Tinha certeza disso. Talvez eu nunca vá me perdoar por tudo, mas se um dia chegar ao ponto de estar bem comigo mesmo, acho que será reconfortante e enfim vou saber o que é ter paz outra vez. Nossos persistentes erros destroçaram o que ainda restava de bom em nós, e depois disso, acho que restou muito pouco, ou nada. — Me conte algo que eu não sei. — A guerra é uma merda. Uma merda bem grande que tira de você tantos e tantos princípios que… puta que pariu! É uma porra enorme. O senhor Merlin, dono da melhor lanchonete da cidade, riu como se isso não fosse segredo algum.— Eu sei disso. Ainda me lembro dos meus dias como fuzileiro. O que quero saber é, como você está após perder o Carter. Desci meus olhos para a xícara de chá que estava sobre o balcão e pensei seriamente que deveria tomar alguma bebida forte, ao invés de ervas calmantes. Acho
Eu perdi as contas da quantidade de vezes que ouvi alguém me fazendo uma pergunta muito específica…"Como você consegue não sentir ciúmes?"E bom… para essa pergunta eu tinha sempre uma resposta preparada. Não sentia ciúmes de Carter porque eu não era possessiva, não era cem por cento apegada, e porque, acima de qualquer coisa, eu confiava nele de olhos fechados. Claro, tínhamos a regra de não fazer sexo sem camisinha, tanto nos relacionamentos com outras pessoas, como no nosso, e exames de três em três meses eram de lei. Mas de resto, era tudo bem tranquilo. Na verdade, eu gostava da ideia de sentirmos atração por outras pessoas e confessar isso um para o outro, sem ter medo de DRs, de ciúmes maluco, e de inseguranças.Eu nunca fui insegura com ele. Não até descobrir algo que…Três batidas na porta me fizeram ter um sobressalto na cama. Quase me esqueci de que tinha companhia no meu refúgio. — Pode entrar — falei, deixando o álbum de fotos que tinha em mãos, na mesinha de cabece
[8 anos antes]Por alguma razão, Carter mudou de ideia. Quando soube que ele pretendia mudar de cidade e sequer tinha me dito isso, é, e fiquei com uma raiva surreal de Kalid porque aquilo seria culpa dela. Eu estaria perdendo a porra do único amigo que tinha, apenas porque ele tentava proteger aquela desmiolada, quando ela não queria proteção alguma.Mas agora ele estava ali, bebendo e cantando no palco improvisado que montamos entre algumas árvores, ao lado da casa da insuportável. O som das caixas ressoavam alto e acho que até alcançava a floresta do outro lado do lago. A noite estava fria, mas o calor dos corpos que dançavam pelo ambiente, acabava deixando o clima gostoso. E eu estaria muito contente e alegre, se não fosse por ela…— Que tal uma bebida especial? Olhei para o lado e vi Maggie com um sorriso enorme no rosto, me oferecendo um copo azul que eu sabia que não deveria pegar. — Foi a Kalid quem mandou você me oferecer isso, não foi? Bêbada, ela não conseguiu escon