Capítulo três

JOHN COOPER

No quarto de hotel, reviro na cama de um lado para o outro, tentei de tudo, mas simplesmente, não consigo dormir. Vim a New York, para um congresso de tecnologia. O evento foi um sucesso e amanhã, retorno logo cedo para Sydney. Fazia tempos que não vinha para cá e o fuso-horário está me matando, mesmo cansado, não preguei o olho a noite toda.

Ao meu lado, na cama King Size, Camilla dorme tranquilamente, ela insistiu para vir comigo e concordei, afinal, eu iria querer transar uma hora ou outra. Camilla é uma mulher jovem, bonita e boa de cama. É modelo, a conheci por amigos em comum, e desde então temos saído. Recentemente, começou a me exigir um relacionamento sério, quer casar, mas já deixei claro que não estou disposto. Eu gosto dela, mas não a amo, nem sou apaixonado. Não consigo mais me relacionar dessa forma com ninguém. Estamos juntos, há cerca de seis meses e nesse período, me relacionei com várias outras mulheres, inclusive garotas de programa. Não me orgulho disso, mas foi a forma que encontrei, para não ser destruído novamente.

Atualmente vivo em modo automático, descontando no trabalho, todas as minhas frustrações. Tenho mais dinheiro do que preciso, tenho poder e posso conseguir a mulher que eu desejar, mas nada disso é capaz de suprir o vazio que sinto. Minha única alegria na vida, é Lívia e mesmo assim, não sou o pai que ela merece. Estou sempre ausente, permitindo que minha filha seja criada por babás. Sei que preciso dar jeito em minha vida, não posso ficar eternamente de luto. Eu não mereço isso, e muito menos a Lilly. Ela é só uma criança, não tem que pagar pelos erros das pessoas que a geraram.

Mesmo contra a minha vontade, minha mente viaja para um dos momentos mais dolorosos da minha vida.

~~~

Quatro anos antes…

Fiquei uma semana em Madri, para fechar um negócio importante, que me traria muitos frutos futuramente.

Todavia, apesar de a empresa estar crescendo cada vez mais, na minha vida pessoal, as coisas estavam indo de mal a pior. Depois que Lilly nasceu, passei a sentir Sarah estranha, distante e sempre nervosa. Eu a amava, e não estava confortável em vê-la daquela forma. Eu trabalhava feito um condenado, para que não faltasse nada, nem a ela e muito menos a nossa filha. Mas, a minha ausência estava fazendo Sarah se afastar de mim. Pensando em melhorar a nossa situação, decidi fazer uma surpresa para minha esposa, e cheguei um dia antes da viagem.

Antes de encontrá-la, passei no quarto de Lilly, que dormia feito um anjinho. Ela continuou dormindo tranquilamente, enquanto a peguei no colo, beijei sua cabecinha e a coloquei de volta no berço. Havia acabado de completar seu primeiro aninho de vida. Lilly é meu sopro de vida, a força que me mantém de pé.

Ao sair do quarto de Lilly, ouvi ruídos altos vindo do meu. Corri e abri a porta rapidamente, imaginando que algo poderia estar acontecendo com Sarah. Entretanto, para a minha desgraça, encontrei minha esposa, nua e de quatro, gemendo alucinada enquanto era fodi.da, pelo meu sócio e melhor amigo.

— Mas que porra, é essa? — Gritei, sentindo como se meus olhos fossem explodir a qualquer momento. — Seu filho da puta! — Berrei ainda mais alto, puxando o desgraçado pelado, pelo pescoço.

— Calma, irmão! — Pediu em tom assustado, tentando subir as calças.

— Calma, irmão? Você tem coragem de me chamar de irmão, seu desgraçado?— Bradei, jogando o homem com força no chão.

Naquele momento, eu saí de mim. Soquei seu rosto com toda a minha força. Não enxerguei mais nada, além de ódio. Descontei nele, toda a minha ira e decepção. Ouvi os gritos desesperados de Sarah chamando pelos seguranças, e de repente, fui içado por eles do chão.

— Me solta, porra! Eu vou matar esse desgraçado! — Esbravejei, tentando me soltar dos quatro homens, que me imobilizaram com dificuldade.

Após me acalmar um pouco, eles me soltaram e removeram o corpo desmaiado e sangrando do meu grande amigo traidor. Encarei Sarah, que agora estava coberta com um roupão. E chorando copiosamente.

— John, não é nada dis… — Sarah tentou falar, mas a interrompi.

— Não ouse continuar essa frase!

— Amor, não! Pelo amor de Deus, me ouça… — Implorou, vindo em minha direção.

— Não chegue perto de mim, porra! Saia daqui, agora! Antes que eu perca o controle, Sarah! — Exigi, fazendo todo o esforço possível, para não descontar toda a minha ira sobre ela.

Senti como se meu coração tivesse sido arrancado do peito. O ódio me queimou por dentro e por fora. A dor da decepção, foi o sentimento mais amargo que já tive o desprazer de conhecer.

— Se for embora, levarei Lívia comigo! Vai conseguir viver sem a sua filhinha? — Ameaçou em tom de deboche, saindo completamente de seu personagem.

— Dê-se por satisfeita, em sair levando as suas roupas. A minha filha, você só tira daqui por cima do meu cadáver. — adverti. — Christina? Christina? — Na porta do quarto, berrei alto, chamando pela minha governanta.

— Isso não é justo, somos casados, eu tenho direitos. Se pensa que vou sair, com as mãos abanando, está muito enganado! — Ela berrava e foi apenas nesse momento, que entendi tudo.

Sarah não se importava nem um pouco comigo e muito menos com a filha. Sua única razão de permanecer nesse casamento era o meu dinheiro.

— É somente isso que te interessa, não é? Dinheiro! Saiba que nos casamos com separação total de bens, portanto, você não tem direito a porra nenhuma. — esclareci e ela arregalou os olhos.

— Senhor, já estou aqui! Do que precisa? — A mulher de meia-idade, com a pele parda e cabelos cor de ébano, me questionou assustada.

— Por favor, Chris, faça as malas dessa mulher! — Ordenei e ela me encarou com espanto. — Ela está indo embora daqui! — Pontuei.

— Não ouse, Christina! — Sarah advertiu. — Não sairei dessa casa!

— Pode ter certeza, que você sairá! Nem que eu mesmo, tenha que te colocar para fora. — Afirmei, furioso. — Faça o que pedi, Chris, por favor! — A mulher assentiu e se encaminhou para o closet.

— Você não pode fazer isso comigo, por causa de um erro, John! — Novamente, tentou se aproximar de mim.

— Não encoste em mim, caralho, já disse! Um erro, sua filha da puta? Há quanto tempo, Sarah? Há quanto tempo, você trepa com o meu melhor amigo, na nossa cama, com a minha filha dormindo ao lado? — Bradei, indo para cima dela.

— Foi a primeira vez, eu juro! — Disse ela, aos prantos. Mas é claro, que não acreditei.

— M*****a, mentirosa! Esqueça que a minha filha e eu existimos, eu nunca mais quero te ver na minha vida.

— Mas… — Ela tentou argumentar, mas a impedi.

— Ah é claro, o dinheiro. É isso que te preocupa? Fique tranquila, não irei te deixar morrer de fome! Apesar de ser exatamente o que você merece. — Meu tom era frio e cruel. Dentro de mim, havia apenas raiva e mágoa. — Você receberá muito bem pelo acordo de divórcio, mas que fique bem claro, se chegar perto de mim ou de Lívia, eu acabo com a sua raça Sarah, e você sabe que tenho poder o suficiente para isso. — Prometi e ela sabia que era verdade.

— John, não faça isso conosco! Eu te amo! Me perdoa, por favor! — Mentiu e seria digna de um Oscar, já que se debulhava em lágrimas de crocodilo.

Caiu de joelhos aos meus pés e agarrou as minhas pernas, implorando por perdão. Não senti pena, apenas tive asco.

— Tudo que sai dessa sua boca, são mentiras. Não quero mais ouvir a sua voz, junte suas tralhas e suma. — Me afastei, fazendo ela soltar as minhas pernas.

Ouvi o choro de Lilly e meu peito se apertou.

— Irei sair com a minha filha e quando retornar, não quero mais te ver aqui. — Avisei e abandonei o cômodo, deixando aquela mulher mentirosa para trás.

Sarah nasceu em uma família rica, mas seu pai perdeu tudo em jogos de azar. Quando a conheci, ela estava sozinha e falida. Dançando em uma boate, segundo ela, para pagar as dívidas do pai. Ela era doce, cativante e ingênua. Me compadeci com a sua situação e resolvi ajudá-la. Eu, e a minha mania de bancar o super-herói.

Aos poucos, fomos nos envolvendo e quando percebi, já estava perdidamente apaixonado. Contudo, percebi que era apenas um personagem. A mulher que um dia achei amar, na verdade, nunca existiu. Era tudo uma mentira, que eu mesmo criei. Me senti a criatura mais desgraçada dessa Terra, por ter acreditado tanto naquela mulher.

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