Diga Rômulo.
— Quando resolveu essa palhaçada toda? — O seu amigo lhe pergunta com voz de riso.
— Hoje. Ideias do Lu.
— É sério isso, Will. Isso é ridículo! Tem certeza de que essa exigência é real? Será que não é invenção do Luciano?
— Não creio. Analisei os papéis que ele me deu e, de fato, dos funcionários aos parceiros todos são casados. E por favor, não me venha me chamar de Will há essa hora. Já estou com a cabeça cheia demais para me aborrecer com essa lembrança.
— Faz cinco anos que você levou aquele fora e aquele tapa épico. Ainda guarda mágoa disso? — Rômulo sorri.
— Guardo sim. Como você disse, foi épico! Enfim, resolva todas as questões necessárias, mas avise a Carolina que eu quero essa festa para o fim de semana que vem. No sábado. E... Bom, deixe claro no contrato que eu posso beijar a minha noiva ou ir para a cama com ela se eu quiser. Deixe isso bem claro. — Ele ri antes de terminar. — Já que é para fingir um casamento, ao menos que isso seja divertido.
Rômulo ri alto da "cláusula" do amigo. — Pode deixar. Duvido que isso seja motivo de algum problema. Tenho certeza de que todas, exceto aquela moça, fará questão de ser beijada pelo noivo. — Ele volta a citar o incidente do passado.
— Vá à merda Rômulo! — William sorri. — Providencie essa papelada para sexta-feira. Já quero divulgar o tal concurso neste dia.
William sorri de sua missão surreal, pensando na loucura que vai fazer apenas para fechar um contrato bilionário, diga-se de passagem. Ele vai gastar alguns de seus milhões para comprar toda a rede do senhor Ching, que vai lhe render o triplo do seu investimento, em um ano. Fora a quantidade de pessoas que ele vai poder empregar quando a construção do resort seis estrelas for construído na Ilha das Rosas. Além do hospital. Será um marco para a Firenze. Se seu bisavô pudesse imaginar aonde essa empresa chegaria estaria muito mais orgulhoso de sua descoberta.
Um marco!
Ele mal podia conter-se tamanha a ansiedade que essa possibilidade lhe causava. Em contrapartida tinha essa exigência.
Um casamento por contrato. Onde já se viu? ele pensa.
Ele ri lembrando-se da cara de Carolina e da reação de Luciano ao ver que ele aprovou o plano mirabolante dele. Isso no mínimo será divertido, refletiu outra vez.
Seus pensamentos são cortados assim que Helena entra em sua sala, anunciando que Antônio quer falar com ele.
— Helena, Antônio é meu primo. Não precisa anunciá-lo quando eu estiver sozinho em minha sala. — ele diz, rispidamente.
Ela assente, e sai com todo aquele seu mau-humor habitual, contrariada por ter que facilitar as coisas para Antônio. Ela não o suporta.
Eles são primos. Helena é sobrinha de Luiz, pai de Antônio. Luiz é casado com a tia de William, irmã de sua falecida mãe.
Helena sempre fez de tudo para se aproximar de William de maneira romântica, sem sucesso. já chegou a pedir a ajuda do primo, que sempre negava.
Antônio passa pela prima sorrindo de forma debochada. Adentra a sala de William e fecha a porta atrás de si com o pé.
— Bom dia! Qual será o nome do reality show? — Antônio ironiza, sorrindo e se sentando de forma largada na cadeira.
Antônio é o diretor de recursos humanos.
— Isso será responsabilidade de Carolina. — Willian diz e sorri.
— é até difícil de acreditar nessa maluquice sendo aprovada, apoiada e idealizada por você. — Ele cruza os dedos na frente do corpo.
— Não foi minha ideia, e sim do Luciano, eu só fiz concordar. É uma exigência do Ching, não quero perder a oportunidade do século. Tem ideia dos números que entrarão em nossa conta, caso fechemos o contrato? E tem mais, somos a opção número um dele. Para estar no papo eu só preciso me casar.
— Não pensou em conhecer alguém e fazer isso de uma forma normal? — Antônio pergunta.
— Não tenho tempo para isso Antônio, você sabe. Preciso fechar esse negócio o quanto antes. Tem muita gente de olho nesse patrimônio. Ching não teve herdeiros, por isso quer garantir que a pessoa que assuma o que construiu seja merecedor de tal coisa. Ele não está exatamente vendendo, pelo preço que está pedindo é como se ele estivesse doando seus bens de herança para alguém.
— Compreendi. Acho interessante isso tudo. Só espero que você deixe esse contrato bastante claro, o suficiente para que essa moça que se casar com você não se apegue e sofra com isso tudo. É preciso pensar no sentimento alheio. — William encara o amigo.
— Você tem razão. — O primo sorri.
— Então trate de dar um acompanhamento psicológico após a separação, e uma boa indenização. Mas... Mudando de assunto, Luciano veio falar comigo sobre a contratação de uma intérprete e assistente pessoal? Desde quando precisa de uma assistente pessoal?
— Isso foi uma exigência dele, que eu empregasse a intérprete na empresa. Não só durante a negociação com os japoneses. Tony, você não acreditaria se eu te contasse a maneira como ele veio defender esse emprego dessa garota. Se eu não tivesse plena ciência de sua opção sexual, diria que ele era apaixonado pela Vilense. Ele quase chorou quando não permiti que comprasse roupas para ela.
— Foi justamente essa exigência dele que me trouxe a sua sala. Ele foi lá saber qual seria o valor do salário que íamos pagar a essa fulana para ver se era vantajoso para a garota, como se fosse advogado dela. E ainda me exigiu acompanhá-lo até o encontro dessa moça na vila para conversarmos com ela juntos. Parece até que é uma coisa extremamente rara o que ela faz. Tive vontade de rir quando ele me exigiu um cartão corporativo para comprar as roupas. — Ambos sorriem. — Estou curioso para conhecer a tal poliglota da Vila, agora.
— Aquele crápula não me disse onde uma garota tão humilde como ele diz, aprendeu a falar tantos idiomas. — William sorri outra vez.
— Fiz essa mesma pergunta a ele, que me deu a seguinte resposta: assistindo filmes via internet. Você acredita nisso? Essa garota passou a lábia nele, só pode. — William gargalha.
— Então a jovem é poliglota e autodidata? Por favor! — Willian se espreguiça. — Mas de todo modo darei a ela esse emprego, ao menos foi útil ao ajudá-lo de graça com as averiguações.
— Não sei mais se acredito ter sido de graça, não depois de ele exigir tanto para contratá-la.
— Bom, na verdade foi uma sugestão minha. Ele nem mesmo ia-me dizer como conseguiu tais informações sem saber falar japonês. — Willian volta a apoiar as mãos sobre a mesa. — Só depois que eu disse que convidasse essa garota para trabalhar conosco, inicialmente de forma temporária, foi que ele começou a brigar pelos direitos trabalhistas. Ele garantiu que eu vou amá-la.
— Só há uma pessoa naquela vila que você poderia amar. A mulher mascarada. — Antônio ri.
— Por favor, Tony... Engraçado que é a segunda vez que esse assunto vem à tona, somente hoje. E aquilo tudo foi culpa sua e de Rômulo, seu sacana! Eu nunca tinha pisado meus pés naquela porra de Vila. Muito menos no Baile. E aí vocês me infernizam para ir e vejam só no que deu? A porra de uma garota de 15 anos, moradora da Vila, me deu um tapa e um fora.
— Se ela soubesse que era você, duvido que tenha feito aquilo. — William sorri. — Nunca pensou em procurá-la? Sei lá, você a levou em casa, nunca teve curiosidade de saber como é o rosto dela, ou como ela está agora com 20 anos? Ou se ainda vive na Vila?
— Não. Não tenho o menor interesse. Você por acaso não estaria interessado em saber, para reencontrar a amiga dela, não é? A que tirou a virgindade da sua boca? — Ele cai na gargalhada e Antônio atira um pedaço de papel no primo.
— Idiota! — Tony se levanta da cadeira sorrindo e retorna para sua sala. Quando ele fecha a porta, William fica se sentindo culpado por ter mentido para o primo e melhor amigo. A verdade é que sabendo do segredo de Iza — de que ela ia todos os dias admirar as estrelas à meia noite — ele fazia o mesmo de sua mansão. De lá de cima, em um local privilegiado, ele pegava um binóculo extremamente potente em alcance e a vigiava de lá até a hora em que ela entrava para dormir. Ele via o seu rosto e admirava como era linda.
Isso se tornou uma obsessão. Quando ele precisou fazer uma viagem longa — a cerca de um ano atrás — decidiu pôr câmeras com acesso via satélite escondidas no muro, de forma que ele pudesse ver Iza todas as noites, mesmo não estando na mansão.
Ele ainda se lembrava do sabor de seu beijo, o cheiro de seu perfume e da maciez de seus longos cabelos lisos, longos e retos. Iza não havia mudado nada ao longo desse tempo.
Mesmo ela tendo feito o que fez, mesmo ele a odiando por isso, ele a amava e não conseguia não contemplar a sua imagem. E não rir quando ela dançava e parecia cantarolar para o céu sobre o banco de cerâmica.
Só de lembrar-se dela fazendo isso, ele sorri agora mesmo.
— Onde estava? Procurei-te diversas vezes hoje. — Nina esperava Eliza em seu quarto e a questiona assim que ela adentra apressada. — Estava com os turistas fazendo meu serviço de guia. Nina, todos estão amando os sorvetes da tia Cissa. Tem sido um sucesso! — ela diz já tirando a blusa e o short, para entrar no banho. — Graças a Deus e a você por isso. Mas essa história de fazer bicos como guia turística e tradutora, olha só no que deu? Está indo de novo para a floricultura sem almoçar. Precisa pensar na saúde Eliza. — Provoca Nina. Sentada na cama de Eliza enquanto ela se despe e entra no banheiro. — Eu vou descer e fico um pouco lá para você, para que possa almoçar antes de ir. — Não precisa amiga. Deixei a marmita arrumada para comer lá mesmo, quando não tiver movimento. — Eliza fala de dentro do banheiro. Nina se j**a na cama, deitando-se. — Nina o que vai fazer hoje à tarde? Devia ajudar sua mãe... Aquilo ali e
— Olá Mon' amour! Ainda se lembra de mim Princesse? — Luciano pergunta colocando uma perna de seus óculos na boca. — Oui, monsieur Luciano. — Eliza responde e Nina se sente perdida com tantas palavras estrangeiras. O outro homem loiro, de cabelos curtos, de óculos escuros e uma barba por fazer, alto e esguio, encara Liz encantado. É Antônio, que veio junto com Luciano para falar de negócios com Liz. Ele resolve testá-la, antes. — Ciao, signorina, ho sentito parlare diverse lingue. Sono curioso di sapere come hai imparato tutto questo? (Olá, senhorita, ouvi dizer que fala diversos idiomas. Estou curioso para saber onde aprendeu tudo isso?). — Piacere di conoscerti. Ho imparato alcune lingue a guardare film classici attraverso siti web e film presi in affitto. Cassette tape e DVD. (Prazer em conhecê-lo. Aprendi algumas línguas assistindo a filmes clássicos
Depois de acreditar que Iza estava em um relacionamento, William ficou tão triste e irritado que não conseguiu voltar a olhar sua amada durante toda a semana. No dia anterior, embora tivesse sentido muita vontade de olhá-la, não fez. Ele não entendia bem o que estava acontecendo, nem o porquê daquela tristeza toda, ou por que havia aquela angústia em seu coração. Mas estava magoado e essa era a única certeza que podia afirmar. Hoje era sexta-feira e aquela maluquice de concurso para noiva havia começado. O e-mail tinha sido encaminhado para cada funcionária solteira da rede. Somente para as unidades Firenze da Ilha das Rosas. Embora houvesse deixado claro que o e-mail era algo confidencial e de ali conter todas as informações de que aquele noivado não passaria de um negócio, um contrato, não pôde deixar de notar os olhares cobiçosos e desejosos de suas funcionárias para si. À medida que passava de andar a andar, alguns cochichos eram not
— Querida Eliza, preciso adiantar uma coisa a você. Muito importante! Nosso chefe, o CEO, quer falar contigo pessoalmente. Ele ficou bastante irritado por você não ter aceitado a proposta antes e por isso ele quer fazer sua entrevista, em pessoa. O homem queria até desistir de contratá-la, mas por muita lábia de Antônio aceitou que viesse dar a resposta somente hoje. Eu sei que você veio aceitar a proposta, então, por favor, não seja tão exigente minha linda. O nosso belo chefe consegue ser insuportável quando quer. — Ele pede a Liz, carinhosamente. — Lu, eu adoro você, e sei o quanto fez para eu estar aqui. Eu realmente preciso do emprego, mas eu não estou mendigando. Foi a Firenze quem foi atrás de mim, portanto, eu sinto muito, mas vou manter minha posição. Ainda não sou funcionária dele, então não vou abaixar a cabeça. — Luciano se preocupa, mas ao mesmo tempo ele fica feliz. É devido a essa postura que acredita nela. Sabe que Liz te
— Olha Eliza, temos alguns pontos a ajustar. Eu realmente preciso de você aos fins de semana. Não todos, é claro, mas vez ou outra tenho reuniões, jantares ou eventos que preciso comparecer. E você não é exatamente uma funcionária da empresa, e sim minha. — Ele diz isso com certo sabor. — Você será minha assistente pessoal. Será como minha sombra e inclusive os dias em que não estiver comigo terá que estar com um celular em que eu possa falar com você sempre que julgar necessário. Mas fique tranquila que será muito bem remunerada e não terá nenhum ônus quando necessitar estar ao meu lado nesses eventos. Incluindo fora da ilha. Eu preciso que me acompanhe também nas viagens, mas será tudo por minha conta e você terá uma excelente hospedagem. Pago suas horas extras caso ultrapasse seu horário de trabalho e u
Liz sibila a cabeça e depois diz: — Sim senhor. — Ele entrega tudo para ela. — Senhor, como são muitas coisas eu preciso lhe dizer que eu não tenho como levar para casa tudo isso hoje. Estou de bicicleta e as coisas não cabem na cestinha.— Você está de bicicleta? — Luciano pergunta espantado. Depois olha para William que está encarado para Eliza.— Senhorita, a senhora veio da Vila até aqui em uma bicicleta? — William pergunta a ela irritado. Mas não é irritação com ela e sim com ele mesmo. Coitada da pobre menina.— Sim senhor. É o meu meio de transporte. — Luciano sorri. E William acaba rindo também.— Tudo bem senhorita, eu mando levar e entregar tudo em sua casa. A senhorita já pode ir.— Obrigada senhor. A
— É sério, assim que bati os olhos nele eu o achei familiar. A boca dele é tão linda quanto à do rapaz que me beijou só que o Sr. Firenze tem uma barba por fazer. Os olhos também são verdes e pequenos. Os cabelos são loiro escuro exatamente como aquele rapaz e o nome do Senhor todo poderoso, é William. Vejam William, Will.— Aí meu Deus... Será Liz? Será que você, naquela noite, beijou o Sr. Firenze? Caraca... — Nina diz segurando o queixo.— Liz, você precisa fazer um teste. Tem que falar seu nome como sendo Iza, na frente dele, para ver se ele reage, ou coisa do tipo.— Fala sério meninas. O homem parece que passa cada noite com uma mulher diferente, ele pega várias funcionárias bonitonas dele e tudo mais. Nem mesmo deve se lembrar de um beijo, um simple
Eles descem a montanha e passam pelo portão de castelo, pela casa de Eliza e seguem em direção ao porto, descendo a preciosa ladeira. Ao chegar à entrada do porto, avistam Eliza sentada na beirada da ponte do cais junto com um rapaz loiro e de cabelos lisos compridos, sorrindo demasiadamente.Juvenal espia o chefe pelo espelho interno central e vê as narinas de William abrirem e fecharem. Sua raiva é tamanha que pela primeira vez, ele salta daquele carro e vai até o casal.— Eliza! — Chama-a com uma voz grave, fazendo Liz dar um pequeno pulo de susto.— Sr. William? — Ela fica muito surpresa ao vê-lo ali. E tão cedo.— Me acompanhe até o carro. — O chefe profere. Ela olha para Maurício que estranha tudo aquilo.A expressão de William é de poucos amigos. Ele