Alexandra fechou o zíper da última mala, bufando logo em seguida pelo esforço de colocá-la no chão. Faltavam menos de uma hora para ela ir embora, pegar o voo e partir em direção ao sítio antigo que lhe foi herdado.Encostado à porta do que seria seu novo quarto, Joshua cruzou os braços e perguntou:“Tem certeza de que não quer que eu te leve até o aeroporto?”“Tenho, sim, mas agradeço pela gentileza”, ela responde de forma formal. “Você precisa sair daqui a pouco de qualquer forma, não é?”“Não posso deixar Emanuele sozinha nessa questão.”“Eu sei que não.” Alexandra prende o cabelo num coque apertado acima da cabeça e o encara. “Como ela está?”“Preocupada. Aflita. Calada e nervosa, andando pelos cantos.”“Acha que ela gosta da irmã? Mesmo sabendo que foi ela que assassinou a própria mãe?”Joshua dá de ombros.“Não compete a mim julgar.”“Foi apenas uma pergunta. Não estou julgando.”“Bom, mesmo depois de eu tentar matar nosso pai, você ainda gosta de mim. Eu acho.”Silêncio.“Não t
Emanuele cobre a própria boca com a mão ao ouvir a confissão de Alexandra. A irmã de Joshua não fez menção de contar nada para a ruiva depois do julgamento, e a própria também não quis insistir no assunto. Afinal, apesar de ser uma curiosidade, não era uma informação exatamente vital.Dentro do quarto, a própria Alexandra respira fundo e controla o tom de voz.“Foi um inferno sair da minha casa, pensando que agora as coisas iriam ficar bem, apenas para parar em outro. E por isso eu trabalhei muito para recuperar o meu lugar de direito. Desisti daquele nome e daquele sobrenome, e meu único arrependimento foi não ter saído correndo daquela casa assim que eu cheguei.”Limpando as lágrimas com o dorso da mão, a mulher continua:“E não se engane, Joshua. Quis que você perdoasse nosso pai, mas eu mesma nunca consegui. Pode me chamar de hipócrita, mas queria que ao menos um de nós conseguisse ter a droga de uma vida normal.”“Alexandra-”“Não tente me consolar. Você falou sobre a herança com
Crimson sabia que o dia seria tão ou mais agitado quanto o do julgamento de Emanuele, mas mesmo assim, não conseguiu conter o semblante de surpresa ao ver a quantidade de pessoas sentadas em seus lugares, aguardando ansiosamente o início da sessão.Por questões de segurança, apenas os diretamente envolvidos no caso de Emanuele puderam entrar, com exceção dos funcionários do serviço de streaming. No entanto, o julgamento de Sarah foi aberto a mais pessoas, principalmente membros importantes jurídicos que ativamente estavam envolvidos para deter os esquemas de corrupção de Laketown.Aquele estava sendo o crime do século. Muitos médicos e policiais estavam sendo investigados, e famílias inteiras sendo descobertas como farsantes. Ninguém jamais esqueceria das proporções que aquela verdadeira onda de terror causou naquela e em outras cidades.O delegado agora olhava para a ré, que estava de pé no corredor, devidamente escoltada por dois agentes. Apesar da carranca e do olhar mal-encarado,
A primeira coisa que Emanuele reparou quando finalmente chegou ao tribunal foi a quantidade de pessoas. Ela não se deu o trabalho de contar, mas apenas uma rápida passada de olhos entre os presentes revelou que havia pelo menos umas cinquenta. A maioria delas usava roupas imponentes, como ternos caros e roupas sociais de grife. Todos estavam complacentes, sérios e rígidos.Joshua e a moça logo se sentaram. As mãos dela estavam frias e trêmulas, e Joshua entrelaçou os dedos nos dela, fazendo o que podia para lhe passar firmeza e segurança.“Todos de pé para saudar o meritíssimo juiz Donovan Rincon.”O homem que entrou era quase tão velho quanto o próprio juiz responsável pelo julgamento de Emanuele. Assim que assumiu o seu lugar de praxe, todos voltaram a se sentar.E então trouxeram a ré. Sarah.A gêmea de Emanuele estava com os olhos brilhantes de choro, o que imediatamente a impactou. A última vez em que haviam se falado foi naquela breve visita, e a única coisa que implicou em lág
Emanuele precisa ser contida fisicamente por três policiais, enquanto outros cinco fazem um muro de proteção à frente de Sarah.“Não façam isso com ela! Não matem minha irmã!”, ela se esgoela, a própria voz falhando e machucando os próprios ouvidos. Lágrimas descem pelo rosto dela.Joshua rapidamente tenta fazer com que Emanuele volte a razão. Ele coloca as duas mãos no rosto bronzeado da jovem:“Ei. Ei, olha pra mim.”“ME SOLTA, JOSHUA!”“Emanuele, por favor, se acalme e ouça o que eu tenho a dizer.”“Não! Eu não quero ouvir nada de ninguém, eu só quero salvar a vida da minha irmã!”Joshua aperta com cuidado os ombros de Emanuele e tenta trazê-la para mais perto de si. Ele sabia que ela estava passando por um momento difícil e precisava de alguém em quem pudesse confiar e se apoiar.“Eu sei, eu sei que você quer salvá-la, mas você precisa se acalmar. Por favor, escute. Você pode acabar passando mal mais uma vez, ou até mesmo levada por esses policiais. Eu estou aqui. Olha pra mim.”E
Emanuele não conseguiu dormir nem comer direito nos dias que se seguiram.Tudo o que a moça conseguia fazer, e por insistência maciça de Joshua que cuidava dela sempre que podia, era tirar alguns cochilos e, muito a contragosto, colocar comida dentro do estômago. Ele tentava sempre estar o mais perto possível, embora precisasse trabalhar.Com o dinheiro do seguro, Joshua conseguiu recuperar quase nada do antigo apartamento, então optou por comprar uma nova mobília e decorar o apartamento de Alexandra, ou melhor, o apartamento dele. Fazer aquilo, no entanto, parecia inútil e até mesmo desrespeitoso, já que o momento atual era de luto, e não de comemoração.Quando o homem pediu desculpas pela atitude, Emanuele apenas deu de ombros e continuou olhando para algum ponto fixo na parede.Eles não dormiam juntos. Cada um ficava em seu próprio quarto na maior parte do tempo. Joshua tentava se aproximar fisicamente, mas se contentava em fazer cafuné e carícias respeitosas para consolá-la. Não e
O dia seguinte amanheceu cinzento, frio e absolutamente silencioso.É claro que os carros ainda continuavam passando de lá para cá, pessoas saíam de suas casas para trabalhar e crianças iam para a escola. Mas o ruído presente, aquele som típico que os ouvidos de Emanuele já estavam acostumados, não conseguiam penetrar a enorme bolha de silêncio que a envolvia.A ligação do delegado no dia anterior foi uma resposta que ela estava implorando para receber, mas agora que sabia que o último desejo de sua irmã era vê-la, um peso insuportável se apossou de seu coração. Sarah ia morrer. E tudo o que tiveram juntas foram breves conversas monitoradas e cronometradas.Emanuele olhou-se no espelho. Ela vestia um sobretudo preto e calça da mesma cor, assim como botas escuras. O cabelo tingido de ruivo estava preso num coque apertado, e por mais que tentasse disfarçar o rosto inchado e vermelho de choro com maquiagem, ainda era óbvio pra qualquer um que prestasse um pouco mais de atenção. Joshua
Joshua imediatamente abraça Emanuele assim que ela, ainda muito chorosa e emotiva, sai da sala onde Sarah está presa. Ela se agarra à roupa do homem, soluçando terrivelmente. Seus olhos estão inchados e vermelhos.“Eu estou aqui”, murmura ele. “Estou bem aqui, meu amor.”A moça mal consegue responder ou dizer qualquer coisa. Um homem trajando vestes religiosas aparece. Ele tem meia-idade e usa óculos de aros grossos. Em sua mão, uma bíblia. A voz do homem é paciente e dócil, e ele usa de toda a sua delicadeza quando se aproxima de Emanuele.“Que a infinita misericórdia de Deus possa acalmar o seu coração, criança. Sinto muito pela sua perda.”Aparentemente, o padre já estava muito bem informado da situação. A garota não responde, apenas se afunda ainda mais no peito de Joshua, que não faz menção de soltá-la. O policial responsável pela vigilância de Sarah acompanha o homem religioso.O protocolo era aquele. Antes de ser formalmente executada, Sarah teria o direito de se consolar e ao