A primeira coisa que Emanuele reparou quando finalmente chegou ao tribunal foi a quantidade de pessoas. Ela não se deu o trabalho de contar, mas apenas uma rápida passada de olhos entre os presentes revelou que havia pelo menos umas cinquenta. A maioria delas usava roupas imponentes, como ternos caros e roupas sociais de grife. Todos estavam complacentes, sérios e rígidos.Joshua e a moça logo se sentaram. As mãos dela estavam frias e trêmulas, e Joshua entrelaçou os dedos nos dela, fazendo o que podia para lhe passar firmeza e segurança.“Todos de pé para saudar o meritíssimo juiz Donovan Rincon.”O homem que entrou era quase tão velho quanto o próprio juiz responsável pelo julgamento de Emanuele. Assim que assumiu o seu lugar de praxe, todos voltaram a se sentar.E então trouxeram a ré. Sarah.A gêmea de Emanuele estava com os olhos brilhantes de choro, o que imediatamente a impactou. A última vez em que haviam se falado foi naquela breve visita, e a única coisa que implicou em lág
Emanuele precisa ser contida fisicamente por três policiais, enquanto outros cinco fazem um muro de proteção à frente de Sarah.“Não façam isso com ela! Não matem minha irmã!”, ela se esgoela, a própria voz falhando e machucando os próprios ouvidos. Lágrimas descem pelo rosto dela.Joshua rapidamente tenta fazer com que Emanuele volte a razão. Ele coloca as duas mãos no rosto bronzeado da jovem:“Ei. Ei, olha pra mim.”“ME SOLTA, JOSHUA!”“Emanuele, por favor, se acalme e ouça o que eu tenho a dizer.”“Não! Eu não quero ouvir nada de ninguém, eu só quero salvar a vida da minha irmã!”Joshua aperta com cuidado os ombros de Emanuele e tenta trazê-la para mais perto de si. Ele sabia que ela estava passando por um momento difícil e precisava de alguém em quem pudesse confiar e se apoiar.“Eu sei, eu sei que você quer salvá-la, mas você precisa se acalmar. Por favor, escute. Você pode acabar passando mal mais uma vez, ou até mesmo levada por esses policiais. Eu estou aqui. Olha pra mim.”E
Emanuele não conseguiu dormir nem comer direito nos dias que se seguiram.Tudo o que a moça conseguia fazer, e por insistência maciça de Joshua que cuidava dela sempre que podia, era tirar alguns cochilos e, muito a contragosto, colocar comida dentro do estômago. Ele tentava sempre estar o mais perto possível, embora precisasse trabalhar.Com o dinheiro do seguro, Joshua conseguiu recuperar quase nada do antigo apartamento, então optou por comprar uma nova mobília e decorar o apartamento de Alexandra, ou melhor, o apartamento dele. Fazer aquilo, no entanto, parecia inútil e até mesmo desrespeitoso, já que o momento atual era de luto, e não de comemoração.Quando o homem pediu desculpas pela atitude, Emanuele apenas deu de ombros e continuou olhando para algum ponto fixo na parede.Eles não dormiam juntos. Cada um ficava em seu próprio quarto na maior parte do tempo. Joshua tentava se aproximar fisicamente, mas se contentava em fazer cafuné e carícias respeitosas para consolá-la. Não e
O dia seguinte amanheceu cinzento, frio e absolutamente silencioso.É claro que os carros ainda continuavam passando de lá para cá, pessoas saíam de suas casas para trabalhar e crianças iam para a escola. Mas o ruído presente, aquele som típico que os ouvidos de Emanuele já estavam acostumados, não conseguiam penetrar a enorme bolha de silêncio que a envolvia.A ligação do delegado no dia anterior foi uma resposta que ela estava implorando para receber, mas agora que sabia que o último desejo de sua irmã era vê-la, um peso insuportável se apossou de seu coração. Sarah ia morrer. E tudo o que tiveram juntas foram breves conversas monitoradas e cronometradas.Emanuele olhou-se no espelho. Ela vestia um sobretudo preto e calça da mesma cor, assim como botas escuras. O cabelo tingido de ruivo estava preso num coque apertado, e por mais que tentasse disfarçar o rosto inchado e vermelho de choro com maquiagem, ainda era óbvio pra qualquer um que prestasse um pouco mais de atenção. Joshua
Joshua imediatamente abraça Emanuele assim que ela, ainda muito chorosa e emotiva, sai da sala onde Sarah está presa. Ela se agarra à roupa do homem, soluçando terrivelmente. Seus olhos estão inchados e vermelhos.“Eu estou aqui”, murmura ele. “Estou bem aqui, meu amor.”A moça mal consegue responder ou dizer qualquer coisa. Um homem trajando vestes religiosas aparece. Ele tem meia-idade e usa óculos de aros grossos. Em sua mão, uma bíblia. A voz do homem é paciente e dócil, e ele usa de toda a sua delicadeza quando se aproxima de Emanuele.“Que a infinita misericórdia de Deus possa acalmar o seu coração, criança. Sinto muito pela sua perda.”Aparentemente, o padre já estava muito bem informado da situação. A garota não responde, apenas se afunda ainda mais no peito de Joshua, que não faz menção de soltá-la. O policial responsável pela vigilância de Sarah acompanha o homem religioso.O protocolo era aquele. Antes de ser formalmente executada, Sarah teria o direito de se consolar e ao
A madrugada de inverno é fria.Um mês se passou desde que Emanuele viu a irmã morrer. Um mês, e mesmo assim, a lembrança continuava latente e terrível.A moça já tinha ido à terapia, mas os pesadelos continuavam atormentando-a. Joshua não sabia mais o que fazer, já que todas as noites, às duas da manhã, os gritos de terror da garota o acordava.O professor se levantou da própria cama em meio à penumbra. O relógio do celular dizia que eram uma hora e cinquenta minutos, ou seja, dez minutos antes dos pesadelos acontecerem.Pé ante pé, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho excessivo, Joshua abriu a porta de seu quarto, indo em direção à porta de Emanuele.Mas a porta estava aberta.Franzindo a testa, o homem se aproxima do cômodo. A cama dela está vazia.Ainda sem tomar decisões precipitadas, Joshua vai até a sala, igualmente vazia. O coração dele só desacelera quando ele vê a garota sentada à mesa, bebendo um copo de água. Ela o observa sem dizer nada, então volta a sorver o lí
Assim que fecha a porta, Joshua dá beijos quentes e suaves na pele sensível do pescoço de Emanuele. O homem suspira, quase que embriagado de paixão, e murmura:“Eu amo o seu cheiro.”Com toda a delicadeza e romantismo do mundo, Joshua apoia o tronco da ruiva na cama, deixando as pernas e pés tocando o chão. Ele a acaricia por cima da roupa. Emanuele geme.“Da última vez em que estivemos juntos assim, fiz apenas uma demonstração do que poderia vir a seguir. Lembra-se?”Ele a estimula mais com a ponta do polegar, em movimentos circulares sutis e suaves. “Aquelas foram as palavras de um homem tomado de desejo, e até luxúria, se eu estiver disposto a admitir. Hoje talvez eu esteja novamente com esses sentimentos em meu corpo, mas… Há uma diferença. Agora tenho certeza de que te amo.”Ainda com o polegar no clitóris de Emanuele, Joshua a beija com vontade; o movimento da língua é suave e quente. Murmúrios saem de sua garganta, como se o professor estivesse se deliciando com aquele momento
Por alguns segundos, tudo o que Emanuele consegue fazer é encarar fixamente Joshua. Os dois ainda estão nus, e a distância entre seus corpos é a mínima possível. “O quê?” Ela pergunta, baixinho. Será que tinha escutado direito? Suas emoções a deixaram atordoada o suficiente para que ela ouvisse tal pedido?Ele dá uma risada discreta, então abre um sorriso confiante e sentimental.“Você quer se casar comigo?”A moça imediatamente se senta, encostando-se na cabeceira da cama. Ela cobre a própria nudez com o cobertor, ainda olhando para o homem, que também se senta.“Eu…”Várias coisas passam pela sua cabeça.A primeira era de que não, ela não poderia se casar. Nem naquela vida nem nunca. Todas as desgraças que lhe aconteceram, todos os traumas horríveis e infelizmente marcantes que estavam gravados na sua pele; tudo aquilo fazia do casamento em si uma ideia terrível.De acordo com os livros que a jovem lia, principalmente durante a adolescência, casamento era a união de duas pessoas. T