Assim que o professor deu o último aviso todos os alunos se levantaram, e eu como não sou boba fiz exatamente o mesmo.
- o que você acha do trabalhos que o Patrício passou?- ela pergunta enquanto andávamos pelo corredor.
A encarei pensativa e acenei com a cabeça. Já havia dado início a esse trabalho há um tempinho.
- É complexo, mas é assunto um tanto quanto interessante.- Respondi.
- Ahh, pois eu achei bem difícil.- Ela disse tirando uma risada de mim.
- Mas está tudo nas matérias que ele passou, você vai tirar de letra.
Eloisa me olhou de lado sem me dar muito crédito e balançou a cabeça sem fé alguma e aquilo me fez gargalhar.
- É vamos ver... Eu já vou indo pra casa.
Vou tentar dar início a esse trabalho antes que minha cabeça exploda.- Ela falou me fazendo rir.Logo nos despedimos e ela seguiu para sua casa e eu para o meu trabalho.
Trabalho em uma espécie de pub que é bem pertinho da minha faculdade, então vou sempre a pé.
Não demorei nem dez minutos para chegar no trabalho e ao chegar a primeira coisa que fiz foi me vestir e me colocar a postos para servir as mesas.
- Sua inútil... Aquela mesa está cheia de clientes e você está aqui atoa. Vá servi-los agora!- Meu chefe sussurrou de forma ríspida em meu ouvido e eu decidi obedecer, afinal eu tenho contas a pagar.
Enquanto caminhava até aquela mesa reconheci um certo olhar sobre mim, mas de onde? Eu não consigo me lembrar, mas sei que esse olhar me causa arrepios.
- Boa tarde! Vocês estão prontos para fazer o pedido?- Os atendi dando o meu máximo para ser gentil.
- O que você me sugere, meu bem?- Ele falou enquanto me ficava sorrindo e eu
parei de sentir minhas pernas.Meu corpo ficou mole como uma gelatina, eu perdi as forças da minha mão e senti tudo começar a rodar.
- Hey, está tudo bem?- Uma voz firme veio de encontro a minha eu pude sentir braços fortes me amparando.
A última coisa que eu vi foram olhos verdes marcantes sobre mim e no segundo seguinte tudo escureceu.
.
..Sinto meu corpo preso em uma inércia, não consigo me mover, mas consigo ouvir vozes próximas a mim.
- Ela vai ficar bem? Já faz um tempo que ela está desmaiada.- Aquela voz máscula, mas suave invadiu meus ouvidos.
- Ela ficará bem... Ela só passou por um ataque de pânico.- Pude ouvir outra voz, mas essa eu não reconheci.
Aonde é que eu estou? Quem são essas pessoas? Eu quero sair daqui.
Aquele homem deve estar aqui e ele vai me machucar... Ele vai me machucar mais uma vez.
Eu me forcei lá no fundo da minha alma e naquele momento consegui abrir os olhos e me senti apavorada ao me ver dentro de um quarto de hospital com um médica, acredito eu, e aquele homem que me segurou, que é totalmente desconhecido por mim.
- Tá vendo?! Ela acordou. Como você está se sentindo?- A médica veio até mim com um sorriso meigo no rosto.
Tentei me levantar me sentindo totalmente indefesa, mas aqueles acessos me pararam. Eu só quero ir embora daqui, é só o que eu quero.
- Está tudo bem, fica calma.Nós estamos cuidando de você. Eu vou chamar o doutor Fábio para conversar com você...- A médica falou tentando me tranquilizar, mas ao me ver sozinha com aquele homem fiquei ainda mais amedrontada.
- Está tudo bem? Eu sei que a gente não se conhece, mas eu não podia te deixar passando mal lá no bar e seu patrão não queria te trazer.- ele se explicou, mas mesmo assim não me senti nenhum pouco confortável com sua presença.
Cadê aquele maldito que estava com ele? Será que ele também está aqui? Eu oro á Deus que não. Eu acho que ele não se lembra de mim, mas se ele se lembrar ele vai me matar. Eu não sei nem o porquê dele não ter me matado aquele dia. Ele já tinha tirado tudo de mim mesmo... Não sei porque ele não me matou.
- O seu ami...go também está aqui?- O questionei gaguejando enquanto olhava para os lados me sentindo acuada.
- O Matias? Não, ele tinha trabalho a fazer. Ele é um homem muito atarefado.
Suspirei aliviada ao ouvir sua resposta e no mesmo momento meu corpo se acalmou. Sei que não estou cem por cento segura, mas só de não tê-lo por perto me sinto um pouco mais segura.
Será que esse homem não vai embora? Ele já me trouxe para o hospital, não há mais nada para ele fazer por aqui... Ou será que ele está junto com esse Matias? É uma possibilidade.
- Seu nome é Camila, certo?- Ele se aproximou de mim se sentando na poltrona que há ao lado da minha "cama".
Franzi a sobrancelha ao ouvir sua pergunta e o olhei surpresa.
- Como você sabe meu nome?
- Eu tive que olhar seus documentos.Não podia dar entrada no hospital sem seus dados... O meu nome é Fernando, eu sou delegado federal. Você não precisa ter medo de mim, eu só quero te ajudar.- Ele logo se explicou.
Ele não faz ideia, mas sua profissão não me deixa nenhum pouco segura. Aliás, ela me trás medo, muito medo. Até porque foi um homem da mesma profissão que ele que me atacou quando eu ainda era uma menina e não sabia nada da vida... Então não, eu não me sinto segura com ele aqui.
- Você pode ir embora, eu vou ligar para minha mãe vim me fazer companhia... Você deve ter muito trabalho a fazer.- O respondi sem rodeios.
O Fernando me olhou de um jeito estranho e cerrou os olhos parecendo estar confuso. Qual o problema dele?
- É impresso minha ou você tem algo a esconder? Primeiro você passa mal ao ver dois homens da lei e agora fica tentando me afastar daqui.- Ele falou enquanto me olhava desconfiado.
O que ele está pensando? Eu não tenho nada preso na justiça, eu apenas tenho medo por tudo que me aconteceu.
Eu não quero estar com um policial por
perto, porque se esse Matias não me matou aquele dia, ele vai me matar assim que descobrir quem eu sou e o risco que ele corre.- Eu não tenho nada a esconder. Apenas não te conheço, então não me sinto confortável em te ter aqui.- Fui franca.
- Você é muito mal agradecida. Se não fosse eu você estaria jogada na cozinha daquele bar imundo. Eu te salvei daquela crise.- Ele se vangloriou.
- Quer que eu te agradeça por isso?- Fui sarcástica.
Fernando estava pronto para me dar uma boa resposta, mas no segundo seguinte minha mãe adentrou pela porta do quarto do hospital vindo correndo até mim.
- Minha menina! Que bom que está tudo bem com você... Eu fiquei com tanto medo quando me ligaram.- Ela falou enquanto segurava meu rosto aflita.
- Está tudo bem, mãe. Eu estou bem, foi apenas um susto.- Tentei deixa-la mais tranquila.
Ela se sentou ao meu lado na cama e me abraçou bem forte.
- Deve ter sido por causa daquele pesadelo que você teve... Eu já te falei pra buscar pela ajuda de um profissional. Ninguém pode viver assim, Camila. Você tem algo dentro de si, que eu não sei o que é, mas você precisa se curar disso.- Ela falou e eu pude ouvir preocupação em sua voz.
Eu sei que eu já devia ter superado tudo que eu passei, mas não é fácil. Eu ainda me lembro do cheiro gosto daquele homem, do cheiro dele e da sua voz... Eu ainda sinto nojo de mim. As vezes eu queria apenas esquecer tudo isso, mas é tão difícil.
- Bom, eu vou deixar vocês a sós.- Fernando falou se levantando da poltrona e saindo e nos deixando sozinhas no quarto.
Tomara que ele vá embora e eu não tenho que vê-lo nunca mais. Se Deus quiser!
- Esse rapaz foi muito bem com você. Foi ele que me ligou me avisando. Pelo carrasco do seu chefe você ficava jogada no passeio do bar.- Minha falou.
É, de uma certa forma ele foi gentil, mas ainda assim quero distância dele.
Eu acabei passando toda a tarde no hospital tomando algumas medições e passando por alguns exames, e no fim só fui liberada ao por do sol... Eu deixei o meu quarto de hospital com minha mãe ao meu lado e quando já estava quase saindo pela porta do hospital pude ouvir alguém me chamar.
- Camila... Eu levo vocês em casa.
O que esse homem está fazendo aqui até agora? Ahh, que pé no saco.
- Não precisa. Nós vamos pegar um táxi ali na frente, mas obrigada.- Logo o respondi.
- Que falta de educação, Camila. O moço te trouxe para o hospital e ficou esperando durante a tarde toda. Obrigada Senhor Fernando, nós vamos aceitar essa gentileza sim.- Minha mãe falou por mim.
Que saco! Pelo visto terei que aguentar a presença desse homem por mais algum tempo... Mal posso esperar para chegar em casa.
Fernando assentiu com a cabeça e nós guiou até o carro. Nós duas sentamos no banco de trás e ele logo começou a conduzir o mesmo.
Levantei a cabeça olhando para frente e meus olhos se cruzaram com os dele pelo retrovisor do carro e não sei porque, mas me deu um frio na barriga ao sentir seus olhos sobre mim... E eu nunca senti isso antes, em toda minha vida.
FernandoEu tenho andado tão pensativo esses dias que mal tenho conseguido focar minha cabeça no trabalho. Desde o incidente com aquela garçonete Macchiato eu não consigo pensar em outra coisa.Tem algo naquela garota que me intriga muito... Há algo nos olhos dela que me fazem perder a noção do tempo e eu vou descobrir exatamente o que é.- Doutor Ávila, os relatórios.- Helena, minha secretária avisou ao entrar na minha sala.Meus pensamentos se dispersaram e eu apenas acenei com a cabeça em forma de resposta... Helena ia saindo da sala, mas chamei por ela interrompendo seus passos.- Helena, aquele caso Madeline?- A questionei.- Até o momento nenhuma, senhor. Inclusive as vítimas estão retirando as queixas, creio que estão sofrendo algum tipo de represálias, o que dificulta muito o nosso trabalho.- Ela respondeu.- Okay. Qualquer novidade pode entrar em contato comigo.- A avisei.O caso Madeleine tem sido muito complexo. Há algum tempo atrás uma jovem veio até às autoridades denunci
CamillaJá faz um tempo que a noite caiu.Incrivelmente o movimento da cafeteria está bem calmo, mesmo sendo uma sexta feira a noite, o que não é nada normal.- Se bem que o Alessandro podia liberar a gente mais cedo hoje, né? Não tem nem alma penada entrando aqui.- Maria Luiza, minha colega de trabalho, comentou me fazendo rir.O que ela disse realmente é um fato, faz mais de meia hora que o salão está vazio, mas não há possibilidade daquele velho nós liberar mais cedo. Esse lugar não vai parar nem no dia da morte dele.- Mais fácil a rainha Elizabete aparecer aqui e me dizer que eu sou a neta perdida dela.- Falei sendo irônica, nem tanto.Não deu dois segundos que estávamos conversando e o Alessandro saiu da sua salinha nós repreendendo, pra variar."Que homem insuportável"- Meu subcomandante gritou.- O que as duas estão fazendo paradas aí? Tem muito trabalho a se fazer.- Ele gritou conosco como sempre.O Alessandro é aquele típico patrão que adora humilhar os funcionários. Parec
Fernando Ouço o som do mar correndo agitado, vejo as pessoas sentadas na área clara da praia e sinto uma brisa leve tocando meu rosto.Nesse exato momento me encontro na sacada da minha cobertura fumando um cigarro pra me acalmar, mas ainda assim sinto um turbilhão de pensamento dentro da minha cabeça... Me sinto atordoado.- Doutor Castro, sua mãe está te ligando.- Maria, minha empregada avisou chegando na porta da sacada.- Diga que eu estou trabalhando.Não quero falar com ninguém hoje.- Avisei e ela prontamente concordou me deixando a sós novamente.A minha relação com a minha família é muito complicada e perturbada... Eu nasci em um lar muito pobre, precário e cheio de violência. Meus genitores são usuários de entorpecentes, eles usavam todo tipo de drogas e isso afetou muito minha infância.Eu cresci vendo meus "pais" acabarem com as vidas deles e consequentemente com as nossas vidas... Era muito difícil viver em uma casa de dois cômodos, apanhar todos os dias e nem ter o que
CamilaA voz do meu professor está ecoando lá no fundo do meu consciente, mas não consigo entender e muito menos filtrar nada do que ele está dizendo... Minha mente está longe, bem longe nesse momento.Eu realmente não sei por que, mas eu não consigo tirar aquele delegadinho babaca da minha cabeça... Eu passei minha vida toda tendo pavor de qualquer homem envolvido com a polícia devido ao que me aconteceu, mas com ele é tão diferente, mesmo sem ao menos conhece-lo eu não sinto medo dele.Ainda assim eu insisto em afasta-lo de mim. Eu não confio em homem nenhum e sei que um homem como ele não iria querer nada sério comigo... Apenas se divertir, então é melhor mantê-lo distante.- Amiga, você está prestando atenção na aula?- A voz da Eloísa me fez despertar.Virei-me em direção a ela, balancei a cabeça e forcei um leve sorriso.- Tô... Tô sim!- menti.Ando tão distraída ultimamente que não consigo me concentrar em nada... Tudo por culpa daquele maldito delegado, mas isso vai acabar. Vou
FernandoEu sempre fui a pessoa mais racional do mundo... Aliás, quando se trabalha para a polícia você PRECISA ser racional. Não tem essa história de agir com os sentimentos ou o coração, você age com a cabeça e com os seus extintos... Não sei o que bem o que tem acontecido comigo, mas ultimamente não tenho sido assim.- Solta o braço dela agora ou eu não me respondo por mim.- Eu falei os olhos fixos sobre aquele babaca.Já faz um tempo que venho frequentando esse "bar" que a Camila é garçonete e já deu pra reparar que esse imbecil do chefe dela é um grande babaca. Ele trata todas as suas funcionárias feito animais e isso é nojento.Eu sei que eu não deveria intervir no meio de um assunto deles, mas não vou deixa -lo maltratar a Camila e nenhuma das outras garotas dessa forma... Mas não vou mesmo.Aquele velho imbecil me fitou com irá no olhar, ele exitou, mas não a soltou.- Eu vou contar até três!- Fui firme.Acho que aquele babaca pensou bem, pois no segundo seguinte ele soltou a
CamilaAinda não consigo acreditar que aceitei trabalhar na casa daquele tal de Fernando.Não sei o que deu nele pra me fazer essa proposta e muito menos o que deu em mim para aceitar... Sei lá, a gente mal se conhece e de repente começa a se cruzar toda hora.Parece até uma coisa do destino."Camila, não seja bobinha!"- Meu subconsciente me alertou.Eu não quero ficar pensando muito nesse Fernando, não quero que ele fique por aqui rondando meus pensamentos... Dizem que quanto mais longe da cabeça, mais longe da mente.- Aí Camila, esse moço foi tão bom com você. Você tem que ser muito grata a ele.- A voz de minha mãe soou atrás de mim.A minha mãe ao menos conhece o Fernando, mas ela o idólatra como se o conhecesse. Agora então, depois dele me ofertar essa oportunidade de emprego. É Deus no céu e o Fernando na terra!- É mãe, ele realmente foi muito gentil. Agora eu quero ver o que ele está querendo por trás dessa proposta...- Falei pensativa.- Aí Camila, para de desconfiar das pesso
FernandoHá uma enorme pilha de papéis espalhados sobre a minha mesa e isso está fazendo a minha mente da um nó... Nada disso está se encaixando. Me sinto preso em um grande labirinto!Eu atuo na corporação federal há mais de doze anos e eu confesso que nunca peguei um caso tão complicado em toda a carreira.Eu tenho certeza que há algum peixe grande por trás do caso "Madeleine". As coisas estão andando em passos de lesma e nada se encaixa... Porque quando tudo se encaixa, alguém grande se dará mal.- Doutor Castro, com licença! Eu posso entrar?- Helena questionou abrindo a porta da minha sala e chamando minha atenção.Deixei aquela papelada de lado, já que não está saindo nada daqui, e dei um pouco da minha atenção para a secretária.- Pode entrar!- Com licença! O senhor Matias Ferreira acabou de ligar para confirmar a reunião de hoje a tarde... Eu posso confirmar? Ele pediu pra confirmar o local também.- Ela disse tudo de uma vez só.Matias e eu quase nunca nos encontramos aqui na
CamilaA minha juventude foi tão diferente da juventude das minhas amigas. Eu sempre as via apaixonadas, com namoradinhos ou comentando sobre um novo boy. Eu nunca tive isso... Nunca me permitir gostar de um cara ou permitir que algum cara se quer se aproximasse de mim... Eu simplesmente tinha medo, e até hoje eu tenho medo.A primeira experiência que tive com um homem foi totalmente contra o meu desejo. Aquele homem asqueroso tirou o que eu tinha de mais precioso sem ao menos me pedir permissão e eu carrego as marcas disso até hoje, eu sinto o cheiro nojento da pele dele até hoje e lembro de cada detalhe do que ele me fez passar... Então vê-lo aqui, dentro do apartamento do Fernando me trás pânico e me faz lembrar de tudo que eu luto tanto pra esquecer todos os dias.Eu não sabia que esse monstro desse homem frequentava essa casa, se soubesse jamais que teria aceitado a proposta do Fernando.- O que aconteceu no escritório, Camila? Aquela louça que você quebrou custou uma fortuna...