CAPITULO 7

Camila

A voz do meu professor está ecoando lá no fundo do meu consciente, mas não consigo entender e muito menos filtrar nada do que ele está dizendo... Minha mente está longe, bem longe nesse momento.

Eu realmente não sei por que, mas eu não consigo tirar aquele delegadinho babaca da minha cabeça... Eu passei minha vida toda tendo pavor de qualquer homem envolvido com a polícia devido ao que me aconteceu, mas com ele é tão diferente, mesmo sem ao menos conhece-lo eu não sinto medo dele.

Ainda assim eu insisto em afasta-lo de mim. Eu não confio em homem nenhum e sei que um homem como ele não iria querer nada sério comigo... Apenas se divertir, então é melhor mantê-lo distante.

- Amiga, você está prestando atenção na aula?- A voz da Eloísa me fez despertar.

Virei-me em direção a ela, balancei a cabeça e forcei um leve sorriso.

- Tô... Tô sim!- menti.

Ando tão distraída ultimamente que não consigo me concentrar em nada... Tudo por culpa daquele maldito delegado, mas isso vai acabar. Vou tirar ele da cabeça de um jeito ou de outro, ou não me chamo Camila.

As aulas arrastaram lentamente até o acabar, então quando a última aula chegou ao fim eu fui a primeira a sair da sala.

- Hey, você está apressadinha demais, nem parece a Camila que eu conheço.- Eloísa me alcançou no corredor.

- Eu só quero chegar mais cedo no trabalho. O meu chefe tá pegando muito no meu pé.- A expliquei.

Eu não estou mentindo ao dizer isso, o meu chefe realmente tem estado mais chato que o normal ultimamente. Então tenho feito de tudo pra evitar reclamações... Pq qualquer deslize, qualquer que seja, ele já vem e nos ameaça de demissão.

Não que eu goste do meu trabalho, mas eu preciso muito dele. É com meu salário que eu ajudo nas contas da casa, compro alguns remédios que minha mãe precisa e algumas coisas pra mim. É só por isso que eu ainda aguento o maldito do Alessandro.

- É isso mesmo ou tem um certo delegado alugando sua cabeça?- Eloisa falou cheia de sorrisinhos e eu senti minha pele queimar de vergonha.

- Eloisa, de onde você está tirando isso? O Fernando é um estranho pra mim.- Tentei me explicar.

Ela me fitou desconfiada, sorriu de lado e se aproximou ainda mais de mim.

- Amiga, confessa pra mim que você está caidinha por ele...- Ele falou bem baixinho perto de mim e eu nem quis ouvir mais nada.

- Eloísa, acho melhor eu ir trabalhar. Porque a senhorita está com a vida ganha.- Falei e logo tratei de me despedir dela.

Depois de tantas reclamações do Alessandro cheguei cerca de quarenta minutos mais cedo no serviço e foi só me ver que ele já veio em minha direção.

- Camila, vai lavar as louças que estão na pia.- Ele ordenou aos gritos na frente dos clientes.

- Eu acabei de chegar, só vou colocar meu uniforme e já vou lavar tudo.- Avisei.

Alessandro me encarou impaciente, bufou feito um cavalo e me puxou pelo braço.

- Eu não perguntei nada a você, só faça logo o que estou mandando.- Ele disse aos gritos.

Senti meu olho tremer de tanta raiva e me segurei ao máximo pra não agredi-lo bem ali.

Calma, você tem contas a pagar - Meu subconsciente me avisou.

Um dia o Alessandro ainda vai me pagar por isso que ele está me fazendo passar. Eu juro!

Forcei o meu máximo pra dar um sorriso e acenei com a cabeça indo em direção ao banheiro dos fundos... Ali me troquei e fiz o cabelo em menos de dez minutos.

Acabou que o trabalho do dia foi tanto que acabei me esquecendo do episódio de mais cedo, e quando me dei por mim já era mais de oito horas da noite... Então só faltam duas horas pro meu expediente acabar.

Já havia feito todas as minhas tarefas do dia... Já tinha lavado as louças, o banheiro, organizado a salinha do Alessandro e por fim estava servindo os clientes no salão.

- Hoje o dia foi puxado!- Comentei com a Maria Luiza enquanto bocejava.

- É, e ainda é só terça feira.- Ela me lembrou e isso me deixou ainda mais cansada.

Ainda terei que aguentar o Alessandro por mais quatro dias nessa semana. Só Deus pra me ajudar!

- Seu cliente acabou de chegar.- Maria Luiza comentou chamando minha atenção

Limpava uma mesa quando a ouvir falar comigo e ao seguir seu olhar vi o Fernando entrando na cafeteria e se sentando em uma mesa por ali... Esse homem não cansa?

O Fernando vem aqui na cafeteria pelos menos umas três vezes na semana e já deu pra perceber que não é por causa do café, que cá pra nós nem é tão bom. Parece que na verdade ele vem pra incomodar, deve ser a razão dele vir tanto por aqui.

- Acho melhor você ir lá...- Maria Luiza disse, mas Julia, uma das nossas colegas de trabalho passou por nós indo até ele com um cardápio nas mãos. Boa sorte pra ela!

Julia parou em frente a mesa do Fernando e faltou se oferecer feito um canapé em uma bandeja, mas no segundo seguinte pude ver um olhar de decepção em seu rosto.

- Ele quer que você vá atende-lo.- Julia falou ao passar por mim com uma cara de poucos amigos.

Ele sempre faz isso, vem aqui e nunca aceita ser atendido por qualquer uma das garçonetes. Tem que ser eu, e se eu estiver em outra função, ele espera eu acabar.

Peguei um cardápio, caminhei até ele parando em frente a sua mesa e sorri fraco.

- Boa noite! O que o senhor gostaria de pedir hoje?- Tentei ser simpática.

Fernando pegou o cardápio, mas não olhou para ele nem um segundo se quer, aliás, ele manteve seus olhos presos aos meus.

- O que a senhorita me sugere?

Abaixei a cabeça desviando meu olhar do dele e apontei para um prato do cardápio.

- O croissant tá saindo bastante.- Respondi.

Pude ver um sorrisinho de lado em seus lábios, ele balançou a cabeça assentindo e em seguida me devolveu o cardápio.

- Pode ser... Pode me trazer também uma dose de conhaque.- Ele complementou.

Assenti com a cabeça ao anotar o pedido e logo em seguida levei para a cozinha.

- Camila, o que você está esperando para laçar esse boy gostoso? Ele está tão na sua!- Malu falou me fazendo rir.

- Maria Luiza, você acha mesmo que esse boy iria querer algo comigo? Eu sou só uma garçonete e ele é um delegado. Ele só deve estar querendo diversão, e eu não sou esse tipo de mulher.- Fui franca.

Eu já conheci um milhão de homens como o Fernando. Mulheres como eu para ele são vistas apenas como uma mera diversão de fim de noite, nada mais do que isso.

- Camila, venha até o meu escritório.- O Alessandro gritou por mim de sua salinha.

- Lá vem...- Comentei com Malu, mas logo fui responder ao seu chamado.

Quando o Alessandro chama assim, já dá pra saber que coisa boa não pode ser.

Entrei em seu "escritório" e fechei a porta atrás de mim indo até ele.

- Pode sentar aí.- Ele falou enquanto olhava para o seu computador.

Sentei-me de frente pra ele sem entender o que ele estava querendo de mim.

- Aqui está seu pagamento, assine o seu recibo.- Alessandro falou me entregando um envelope.

Os dias tem sido tão corridos pra mim que eu nem me lembrava que havia chegado o dia do nosso pagamento. Eu realmente já estava precisando muito desse dinheiro.

- Ahh sim, muito obrigada!- Falei ao assinar aquele papel.

- Eu coloquei cinquenta reais a mais no seu envelope. Preciso que você faça um serviço por fora pra mim... Você pode me esperar hoje depois do serviço.- Alessandro falou me deixando confusa, muito confusa.

Do que esse homem está falando?

- Que tipo de serviço?- Perguntei sem saber do que aquele homem estava falando.

Alessandro trouxe os seus olhos até mim, sorriu de uma forma nojenta e me olhou como se eu fosse um pedaço de carne.

- Você não é criança, Camila. Acho que você sabe muito bem do que eu estou falando.- Ele manteve aquele olhar em seu rosto.

Me senti enojada ao ouvi-lo falar daquela forma e me olhar daquele jeito... Dessa vez ele passou de todos os limites. Isso eu não vou aceitar!

- Não, eu não sei do que o senhor está falando!- Fui firme.

Eu não sou mais uma menina boba e eu não vou aceitar nenhum homem me tratar daquela forma mais uma vez. Não vou!

- Vou ser direto então. Estou falando de sexo! Me espere após o serviço, você vai ser paga pra isso.- Ele teve coragem de repetir.

Senti meu sangue ferver dentro das minhas veias e não consegui me segurar... Quando vi já havia jogado aquele envelope bem na cara do Alessandro. Esse patife!

- Você está achando que eu sou o que? Me respeita! Eu não estou a venda. Seu velho nojento!- Gritei tomada pela irá.

- Fala baixo sua vagabunda! Tem clientes lá fora... Se você der mais um grito, te coloco no olho da rua.- Ele me ameaçou.

Eu tentei o meu máximo me controlar, mas eu não consegui... Ele passou de todos os limites, ele conseguiu me tirar do sério.

- Eu prefiro ficar desempregada do que me deitar com um porco igual a você... Você é nojento!

Alessandro ficou vermelho ao me ouvir falar, ele se levantou e de repente já estava ao meu lado me arrastando pelo braço.

- Você quer aparecer? Então tá bom! É hoje que eu te coloco no olho da rua.- Ele falou e saiu do seu escritório me arrastando junto a ele.

Eu tentei me soltar dele, mas ele me segurava tão forte que chegou a machucar meu braço... Esse filho de uma mãe.

- Vai pro olho da rua... Lá que é seu lugar!- Ele falou enquanto me arrastava pelo salão.

Me senti um lixo ao ser humilhada daquela forma no meio de todos aquelas pessoas.

O Alessandro já estava pronto para me jogar no passeio como um animal, mas no mesmo segundo uma voz imponente soou atrás de nós o fazendo parar rapidamente.

- Solta o braço dela agora ou eu não me  respondo por mim.- Pude ouvir Fernando dizer.

Pude ver que Alessandro exitou e em seguida ele paralisou como quem não sabe o que fazer.

- Eu vou contar até três... 

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