CAPITULO 5

Camilla

Já faz um tempo que a noite caiu.

Incrivelmente o movimento da cafeteria está bem calmo, mesmo sendo uma sexta feira a noite, o que não é nada normal.

- Se bem que o Alessandro podia liberar a gente mais cedo hoje, né? Não tem nem alma penada entrando aqui.- Maria Luiza, minha colega de trabalho, comentou me fazendo rir.

O que ela disse realmente é um fato, faz mais de meia hora que o salão está vazio, mas não há possibilidade daquele velho nós liberar mais cedo. Esse lugar não vai parar nem no dia da morte dele.

- Mais fácil a rainha Elizabete aparecer

aqui e me dizer que eu sou a neta perdida

dela.- Falei sendo irônica, nem tanto.

Não deu dois segundos que estávamos conversando e o Alessandro saiu da sua salinha nós repreendendo, pra variar.

"Que homem insuportável"- Meu subcomandante gritou.

- O que as duas estão fazendo paradas aí? Tem muito trabalho a se fazer.- Ele gritou conosco como sempre.

O Alessandro é aquele típico patrão que adora humilhar os funcionários. Parece que ele faz por puro prazer, ainda mais quando tem clientes no salão. Aí que ele se aparece mesmo... Mas vai chegar um dia que eu vou achar algo melhor que isso, e eu vou falar tudo que tenho vontade pra ele.

- Mas Senhor Alessandro, nós já fizemos tudo e o salão está vazio.- Malu logo tratou de dar uma explicação.

- Então vão lavar uma louça, um banheiro ou limpar o salão. Só não fiquem paradas iguais duas estátuas, até porque eu não pago vocês pra isso.- Ele gritou bem na nossa cara.

Engoli seco, respirei fundo e apenas acenei com a cabeça... Mais um grito e eu juro que iria bater nesse velho.

Malu e eu logo fomos cumprir nossas tarefas e deixamos o salão impecável para não haver reclamações.

As dez em ponto fechamos a cafeteria e ao sair de lá Eloisa já me esperava em frente ao seu carro.

Eloisa passou a semana inteira me atazanando sobre um show de MPB que iria acontecer hoje e eu juro que esgotei todas minhas desculpas e ainda assim ela não desistiu, então praticamente fui coagida a sair hoje com ela.

Eu adoro a Eloísa, ela é uma das únicas pessoas que eu confio e posso chamar de amiga, mas eu não gosto de sair. Eu gosto de ficar em casa, de baixo das minhas cobertas e assitir minhas séries.Eu sou uma idosa presa no corpo de uma jovem, é isso.

- Eloisa? Achei que a gente iria se encontrar no clube.- Falei surpresa ao vê-la ali.

- Ahh, mas eu vim te buscar. Sabe por que? Porque aí a senhorita não arruma uma desculpinha pra me deixar na mão.- Ela falou me fazendo rir.

Era provável? Sim, então ela com a razão.

Da cafeteria até o clube demorou por volta de vinte minutos e ao chegarmos lá já estava um pouquinho cheio, mas conseguimos nos acomodar em um canto.

- Vamos pedir alguma coisa? Eu acho que eu vou querer uma cervejinha bem gelada e alguns petiscos... E você?- Eloisa questionou.

- Eu vou querer alguns desses mini hambúrguers e um suco de laranja.- Também fiz meu pedido.

- Amiga, você não vai beber? Hoje é sexta feira, se solta!- Elô falou animada.

Eu não tenho boas lembranças da

última vez que eu bebi. Eu não deveria

ter bebido, até porque eu nem tinha idade pra isso, tinha apenas dezeseis anos e quis me fazer de adulta. No fim carrega as marcas desse fatídico dia até hoje.

- Não amiga, eu estou muito bem com meu suquinho. Obrigada!

Eloisa deu os ombros pegando seu copo de cerveja e me deixou em paz, pelo menos por momento.

O ambiente do clube é até que agradável. O espaço e grande, é parcialmente iluminado, a música que está tocando é calma e trás paz e as pessoas falam alto e se divertem. É o tipo de lugar que eu voltaria.

Eu não curto muita muvuca, então aprecio esse tipo de ambiente.

- Amiga, não olha agora, mas tem um gato que não tira o olho de você.- Eloisa se aproximou de mim e falou bem baixinho no meu ouvido.

Eu não me importo quem é ou o quão gato esse cara seja, eu não quero nem saber de homem nenhum.

Eu nunca me envolvi com homem nenhum desde que fui atacada no passado, e isso não vai mudar agora. Homens geralmente só querem uma coisa, e eu não quero e nem estou pronta para dar isso para ninguém... Pra ninguém.

- Aí meu Deus...- Reclamei.

- Aí Camilla, deixa de ser chata. Pelo menos olha pro cara, ele é um gato.- Ela insistiu quase me obrigando a olhar.

Esse homem pode ser o Thor, eu não quero saber de homem nenhum.

Virei na direção que ela citou e ao me deparar com o homem em questão senti meu coração vibrar.

"Aí, não é possível" - Pensei desacreditada.

O que esse homem está fazendo aqui? Meu Deus! Isso só pode ser perseguição... Ou seria o destino?

"Aí Camila, deixa de ser tola!" - Meu subconsciente me advertiu me fazendo acordar.

Esse Fernando nunca iria querer nada com uma mulher como eu, e mesmo se ele quisesse, ele deve ser exatamente igual a todos os outros caras.

- Amiga, j**a um charme pra ele. Sei lá, faz alguma coisa.- Eloisa falou.

- Eloisa, abaixa o faixo! Esse cara não tá nem olhando pra mim, é só impressão sua.- Falei tentando tirar sua atenção do Fernando.

Foi só eu fechar a boca e pude ouvir a voz dele atrás de mim. Merda!

- Camilla! Como vai?- Sua voz soou com uma certa calma e suavidade.

Eloisa me olhou com a testa franzida e com surpresa no olhar.

- Vocês já se conhecem?- Ela falou surpresa. - Quer saber? Eu tenho que ir no banheiro, com licença.- Ela falou e saiu rapidamente me deixando a sós com aquele babaca.

Respirei fundo, contei até dez e me virei em direção ao Fernando.

- Eu acho que o destino está brincando com a gente. Eu quase nunca saio para baladas, e quando saio te encontro.- ele falou com seus olhos sobre mim.

- O destino as vezes é um pouco inconveniente.- Fui franca.

Fernando sorriu de lado, sentou-se perto de mim e me olhou no profundo dos meus olhos... E isso me fez arrepiar.

- Eu preciso de confessar uma coisa.- Ele falou me deixando curiosa.

- O que?- Soltei ao menos sem pensar.

- Tem algo em você que me deixa tão confuso. Seus olhos... Seus olhos passam um ar de calmaria, mas tem algo lá no fundo de tão sombrio.- Ele falou.

O que há de errado com esse homem?

Não me diga que agora ele sabe ler mentes.

- Você está vendo coisas demais. Não há nada demais no meu olhar.

Fernando ficou ainda mais próximo de mim e cerrou os olhos como quem tentava de desvendar.

- Por que você desmaiou aquele dia? Os médicos não explicaram uma causa. Eu queria saber.

Ao ouvir a pergunta do Fernando tudo aquilo me veio a tona... Minha respiração ficou ofegante, meu coração acelerou e senti meu corpo ficar fraco.

Eu odeio me lembrar daquelas cenas. E como se eu estivesse vivendo aquilo de novo, e de novo... Eu não aguento mais.

- Fernando, me deixa em paz!- Falei com a voz fraca e com os pensamentos confusos.

- Camilla...- Ele começou a falar, mas eu não o deixei terminar.

Levantei-me daquele lugar pegando minha bolsa, saí sem olhar para trás e pude ouvi-lo vindo atrás de mim... Eu só quero ficar só, é esse homem me persegue.

- Camila, calma! Eu só quero conversar.- Pude ouvir ele falar enquanto saia pela porta do clube.

Eu saí de lá sem olhar para trás e atravessei a rua sem ao menos olhar para o lado, e nesse exato momento ouvi um barulho de uma buzina bem em cima de mim... No segundo seguinte senti braços fortes me puxando, meu corpo foi aparado por ele e parece que o tempo parou.

Nesse momento Fernando esta me segurando forte, os seus olhos estão sobre mim e sinto meu coração ir a mil... O que acabou de acontecer aqui? Eu não sei, e nesse momento meu coração está preso em um empasse. Metade de mim quer que ele se afaste, e outra quer que ele nunca mais me solte.

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