Louise
EU E SCARLETT, minha irmã, estamos na cozinha, sentadas à mesa com o aroma do café fresco pairando no ar. Era mais um de nossos momentos tranquilos, antes da agitação do dia começar.
— Vamos, Louise.
Respiro fundo.
— Tá bom, Scar. Eu vou — respondo, dando um gole no café ainda quente.
— Sabe que eu te amo, né?! — Ela me abraça com carinho.
— Eu também te amo. — Um sorriso involuntário surge em meu rosto.
— Posso saber aonde vocês vão? — meu pai pergunta, assim que entra na cozinha.
— Em um dos jantares da família do Adam — Scar explica a ele e se vira para mim no mesmo instante, parecendo se dar conta de algo apenas agora. — Ah, você precisa de um vestido.
— Não posso ir de moletom?
— Não, né – responde e revira os olhos.
Ela já me falou muitas vezes sobre a empresa, mas acabei nunca prestando a devida atenção. Tento disfarçar ao tomar mais um pouco do café e, por sorte, o assunto foi para o trabalho.
— E quando que é a sua entrevista?
— Hoje, após o almoço — falo, sem muitas expectativas.
— Volte a trabalhar conosco — meu pai pede.
— Eu agradeço, pai, mas não.
— Não sei como você aguenta trabalhar com a mamãe — Scar debocha.
— Meninas, isso é com o tempo. — Meu pai ri enquanto enche a sua caneca de café.
Meus pais têm uma escola, na qual meu pai é professor de gastronomia, minha mãe cuida da parte administrativa, e eu ajudo com o marketing da empresa. Como a minha mãe não é uma pessoa muito fácil de se lidar, eu me demiti, após mais uma de nossas pequenas discussões recorrentes. Meu pai sempre tentou amenizar nossas brigas, e eu continuava trabalhando com eles, mas não deu dessa vez. Eu não aguentei.
— Eu também não sei — brinco, e todos rimos.
— Achei que você não ia durar muito tempo — meu pai afirma.
— Dois anos já foram o bastante pra mim.
— Do que vocês estão falando? — minha mãe pergunta assim que entra na cozinha.
— Sobre a entrevista da Louise. — Scar muda de assunto.
— Filha, volte a trabalhar com a gente — minha mãe pede.
— Não, mãe. Já tenho 23 anos, quero conhecer novos ares — tento explicar, pois não quero magoá-la.
Terminei a faculdade há um ano, mas apenas trabalhei com os meus pais até agora. Então essa ideia de procurar outro emprego me assusta um pouco. Ao mesmo, me causa um friozinho na barriga, ansiosa por vivenciar coisas novas.
— Tudo bem. Caso mude de ideia…
— Obrigada, mãe — interrompo.
— Vamos, Charles — ela chama o meu pai, que ainda está saboreando o seu café. – Já estamos atrasados.
— Me deixe terminar o meu café.
— Não, não temos tempo. — Minha mãe manda e desmanda no meu pai. Ele sempre a obedece, nunca o vi contrariando-a nem uma vez sequer. — Vai tomando no carro — ordena e, claro, ele obedece.
— Tchau, meninas. Amo vocês — os dois falam ao mesmo tempo e saem.
— Olha, eu admiro muito o papai com esse autocontrole todo com a mamãe.
— Todos nós.
Scarlet é minha irmã mais nova, com seus 18 anos, e já tem um pouco mais de um ano que ela está namorando com o Adam.
Ele é um fofo com ela, e até hoje as nossas famílias ainda não se conheceram, meus pais nunca têm tempo, e nem os deles. Adam trabalha com o irmão mais velho, embora isso não signifique que seja fácil. Ele só tempo para a Scar, o que me deixa muito feliz. Quando ela estava na oitava série, um menino partiu seu coração, o que me deixou muito furiosa. Por mais que ela já seja uma moça, ainda assim é o meu bebê. Fico feliz que o Adam dê toda a atenção que ela precisa.
— Preciso ir, e boa sorte. — Scar me abraça. — E manda um beijo para o Alex.
— Pode deixar.
Alex é meu namorado e apesar de nos conhecermos desde que éramos crianças, estamos juntos um pouco mais de quatro anos. Há alguns meses, ele terminou o tratamento contra o câncer. Começamos a namorar depois que ele descobriu a doença, quando precisou de apoio e eu estive do seu lado.
Meu namorado mora com o irmão mais velho, o Josh, que tem uma namorada nada legal. Seus pais moram na França e vêm todo fim de semana para ficarem com eles.
Ele é um amorzinho e, com certeza, merece que eu o ame profundamente, e não apenas por ser uma pessoa muito boa. Tentei terminar algumas vezes, mas ainda não consegui. Não me parece ser justo estar com Alex, amando-o menos do que ele merece, já que meu coração pertence a outro.
A pessoa que eu amo tem um nome diferente. É uma paixão de infância, e o meu verdadeiro amor. Seus olhos azuis nunca saem da minha cabeça, e seu sorriso de tirar o fôlego aquece meu corpo por inteiro. Ele é um pouco mais velho, e isso não o impede de sempre me ajudar. É só eu dizer que preciso de algo, que ele logo ficava pronto para vir ao meu encontro. Quando eu me metia em confusão na escola, lá estava ele, para puxar a minha orelha e me salvar.
Mas, aos seus olhos, sou a irmã que ele nunca teve. Broxante, não?
Olho ao meu redor, percebendo que estou, enfim, sozinha em casa. Tem coisa melhor do que isso?!
Me lembro de que marquei de almoçar com o Alex, antes da minha entrevista. Decido limpar a casa toda antes de sair, já que a Olga, quem trabalha como governanta em nossa casa, está de folga hoje. Antes ela era a minha babá, depois passou a cuidar da Scar e, para que ela não nos deixasse, minha mãe decidiu que ela seria a nossa governanta.
Depois que a casa está limpa, tomo um banho, no qual me demoro, para relaxar.
LouiseDECIDO USAR UMA SAIA preta lápis, com uma fenda em um dos lados, camiseta social vermelha e um blazer preto por cima. Faço um rabo de cavalo para ajeitar o cabelo.Me olho no espelho, gostando do que vejo, pois até que fiquei bem vestida desse jeito. Esse tipo de roupa costuma me apavorar, gosto mais de peças básicas e sociais. O lado bom de trabalhar com os meus pais era poder usar moletom e não ouvir reclamações, a não ser da minha mãe, mas eu escolhia ignorá-la.Caso eu consiga a vaga, terei que usar roupas assim todos os dias, o que me lembra de que terei que renovar o meu guarda-roupa.Quando começo a fazer uma maquiagem bem básica, ouço uma buzina e nem preciso olhar pela janela para saber que é a Claire.— A porta está aberta — grito da janela e volto a me maquiar.Claire é minha amiga desde o primeiro ano do ensino médio. Nossa amizade dura há quase dez anos. Temos muito carinho uma pela outra e passamos por muita coisa juntas.O fato de ela sempre ter sido popular e ar
LouiseDEPOIS DE UM LONGO TEMPO de constrangimento, tanto meu quanto dele, enfim consigo colocar a cabeça no lugar para dar continuidade à conversa.— Obrigada — agradeço, meio sem jeito.— Só um momento. — Ele aperta um dos botões do telefone que está na sua mesa. — Anna, pode vir aqui, por favor?— É claro que sim, Josh — ela fala e então desliga.— Como vai seu relacionamento com o Alex?Sou pega de surpresa, pois estranho a sua pergunta. Não é muito comum que conversemos sobre meu namoro.— Bem, eu acho. — Você acha? — pergunta, todo risonho.— Era pra termos almoçado hoje, mas ele não foi. — Josh arqueia uma das suas sobrancelhas e, quando ele ameaça a dizer algo, a Anna entra.— Estou aqui. — Ela segura alguns papéis em uma das mãos, a outra está apoiada em suas costas, como se doessem. — Parabéns, Louise.— Obrigada, eu acho.— Não ligue quando ele ficar nervoso e começar a gritar — ela brinca. — Eu não grito — ele afirma.— Isso é verdade — digo, sem perceber, e ganho a aten
LouiseASSIM QUE EU CHEGO à porta da sala, paro e respiro fundo.— Droga — resmungo.— O que foi? — Scar pergunta.— Esqueci de vestir um roupão.— Huuuum — O riso malicioso de Scar não me ajuda em nada. — Será que foi por isso que o Josh tentou te beijar?— Fique quieta — repreendo-a, sentindo minhas bochechas esquentarem antes de entrar na sala. — Josh, aqui está.— Obrigado. — Ele sorri e se levanta rapidamente, pegando a pasta das minhas mãos. — Quer mais café? — Scar pergunta, e percebo o olhar curioso de Josh. — Eu pego pra você. — Ela não espera por sua resposta e já vai pegando a xícara da sua mão.— Scar. — O que foi, Louise? — devolve uma pergunta, escondendo algo por trás das palavras. — O Brown nunca veio aqui, temos que ser educadas. — Ela ri e sai da sala.— Ela não é mais tão tímida. — Pois é, Scar se soltou depois que cresceu — falo e me sento na poltrona ao lado do sofá.— E você? — Ele me encara e seus olhos azuis brilham. — Está cada vez mais linda — diz e contin
LouiseJá faz quase uma hora que estamos na estrada, e o silêncio ainda se faz presente no nosso espaço.— Você está bem? — Josh quebra o silêncio, sua voz suave e preocupada.— Sim — respondo, tentando ignorar a ansiedade que me preenche.— Já sabe o que vai fazer, se ele estiver com alguém? — Curioso, não é?!— Já tem um certo tempo que tento terminar com ele, mas...— E ele sempre encontra um motivo pra você voltar atrás? — Ele completa a minha frase, e sua compreensão me surpreende.— Sim. — Respiro fundo, me sentindo derrotada.— Nosso pai o ensinou muito bem. — Sua expressão fica carregada de resignação.— O que você quer dizer com isso?— Meu pai sempre nos disse que somos nós que terminamos os relacionamentos e que não podemos deixar nenhuma mulher fazer isso, pois somos os Brown, e isso mancharia o nosso nome.— Sério que ele ensinou isso pra vocês? — Não creio que Anthony era assim.– Sim, meu pai é machista para algumas coisas — ele admite, dando um meio-sorriso e voltando
JoshCOM APENAS DEZOITO ANOS, comecei a comandar o império dos meus pais, e agora, com apenas trinta anos, a empresa está acima do estimado. Sou o mais novo CEO de Nova Iorque.Namoro com Teresa há alguns anos, e sei que ela me ama, mas eu não sinto nada além de gostar do sexo que temos. Ainda não encontrei nenhuma mulher que me satisfaça como ela.— Josh — Anna, minha secretária, me chama. — Precisamos de uma substituta, não vou aguentar por muito tempo.— Alguma candidata? — Estamos na minha sala, revisando alguns contratos.— Sim, aliás você pode escolher a dedo. — Ela ri. — Tem uma tal de Anna, Ashley, Scarlet, Stephany, Abigail, Louise, Mila...— Espera.— O que foi? — Qual o sobrenome da Louise?— Louise Smith.— Marque uma entrevista com ela — peço.— Huuuum. — Anna ri. — Mais alguma?— Não.Desde que eu assumi a direção da empresa, Anna trabalha comigo, posso dizer que ela é minha confidente. Sabe que eu não amo a Teresa, mas nunca revelei o nome do meu amor.Ouvir o nome da
LouiseAS LÁGRIMAS ESCORREM pelo meu rosto. Dias e noites ao seu lado, especialmente quando enfrentou o câncer, sempre estive lá, sempre o ajudei. Não é que eu esteja jogando na cara, mas ele deveria ter ao menos um pouco de consideração por mim.— Louise... — Ouço a voz do Josh. — Louise...— Já chegamos? — pergunto, meio sonolenta.— Ainda não.— Aonde estamos? — indago, assim que abro meus olhos e percebo que a chuva não deu trégua.— Em um hotel.— Por quê?— A chuva está muito forte, e mais à frente teve um acidente. Olha — responde e me mostra o celular, no qual uma notícia diz sobre o acidente e que o trânsito estava congestionado. — Pra não ficar muito cansativo, pensei em nos hospedarmos aqui. Amanhã bem cedo, vamos embora.— Ok. Ele estaciona em frente a um hotel bem simples, pelo que eu me lembre, Josh nunca foi enjoado para essas coisas, e vejo que ele não mudou, contrário do seu irmão.Corremos em baixo da chuva para dentro do hotel, a decoração é rústica, bem cara de ca
LouiseINCOMODADA COM A SUGESTÃO de Josh, me levanto da cama e caminho em direção ao banheiro.— Ele não sabe dos meus sentimentos, Josh, então não devo nada a ele. — Entro no banheiro e bato a porta.Meu coração está super acelerado. Esse homem mexe muito comigo, e nunca vai saber que o meu amor é ele. Ligo o chuveiro e coloco a mão embaixo da água. Está quentinha.Me lembro de que precioso avisar a Scar que não vou para casa hoje. Procuro pelo meu celular nos bolsos do meu moletom e não o encontro. Droga. Acho que o deixei em cima da cama.Abro a porta e dou de cara com aquela visão maravilhosa. Josh está sem camisa, de costas para mim, e fico impactada com aquele corpo.— Estamos bem, sim. — Caminho em direção à cama e não encontro o meu celular. — Ela está aqui. Quer falar com ela? — pergunta, antes de se virar e me ver. – Então tá. Imagina Scar. Eu a aviso. — Ele ri. — Tchau.— Meu celular? — Ah, desculpa — ele pede e me entrega o celular. — Estava tocando e ouvi o barulho do c
LouiseJOSH SAI DO BANHEIRO, enrolado na toalha, que cobre apenas a parte da cintura para baixo. Já fico com a calcinha molhada quando vejo as gotas de água, que caem de seu cabelo, escorrendo por todo o seu corpo. Até sua barba ainda está encharcada.— Gosta do que vê? — ele pergunta, risonho.— Vou te esperar lá embaixo. — Minha voz falha enquanto tento manter a compostura, sentindo meu rosto e meu corpo todo esquentarem.Desço e fico do lado de fora do hotel, esperando por ele.***Chegamos em cima da hora na minha casa, e Josh me espera no carro.— Não vai tomar café? — meu pai pergunta.— Não, senão vou me atrasar. Josh está me esperando.— O seu cunhado? — indaga, surpreso.— Ex-cunhado. — O que aconteceu? — minha mãe pergunta enquanto desce as escadas.— Depois eu conto tudo. Agora preciso ir.***— Desculpa — peço quando entro no carro.— Imagina, ainda vamos chegar 10 minutos antes do horário — afirma quando olha no relógio em seu punho e arranca com o carro.— Ainda dá temp