Louise
ASSIM QUE EU CHEGO à porta da sala, paro e respiro fundo.
— Droga — resmungo.
— O que foi? — Scar pergunta.
— Esqueci de vestir um roupão.
— Huuuum — O riso malicioso de Scar não me ajuda em nada. — Será que foi por isso que o Josh tentou te beijar?
— Fique quieta — repreendo-a, sentindo minhas bochechas esquentarem antes de entrar na sala. — Josh, aqui está.
— Obrigado. — Ele sorri e se levanta rapidamente, pegando a pasta das minhas mãos.
— Quer mais café? — Scar pergunta, e percebo o olhar curioso de Josh. — Eu pego pra você. — Ela não espera por sua resposta e já vai pegando a xícara da sua mão.
— Scar.
— O que foi, Louise? — devolve uma pergunta, escondendo algo por trás das palavras. — O Brown nunca veio aqui, temos que ser educadas. — Ela ri e sai da sala.
— Ela não é mais tão tímida.
— Pois é, Scar se soltou depois que cresceu — falo e me sento na poltrona ao lado do sofá.
— E você? — Ele me encara e seus olhos azuis brilham. — Está cada vez mais linda — diz e continua me encarando. Seu olhar é penetrante, me sinto nua quando ele me olha de cima a baixo.
— Não estou te reconhecendo.
Assim que digo isso, me arrependo. Ao mesmo tempo que fico envergonhada com esse tratamento que nunca recebi dele, estou gostando. Cala a boca, Louise, penso.
— Já tem um certo tempo que não nos vemos. Uns dois anos, talvez?— Ele cruza seus braços na altura do peito, me analisando.
— Por aí. Eu parei de ir na casa de vocês depois que o Alex melhorou.
— Falando em Alex… — Josh hesita, notando a tensão no ar. — Se eu ouvi bem, você está furiosa com ele, não está?
— Já tem algumas horas que ele está me ignorando.
— Brigaram? — Nesse momento, seu celular vibra. Ele estica uma das pernas e o tira do bolso. Quando verifica a mensagem, sua expressão muda rapidamente.
— Acho que não — respondo, incerta.
Não sei se devo falar com ele sobre o seu irmão, ou sobre nosso namoro.
— Olha, ele acabou de me enviar uma mensagem. — Josh se aproxima, me mostrando a mensagem na tela: “Vou para a nossa casa de campo”. — Talvez ele te responda daqui alguns minutos. Você sabe que lá não tem sinal, né?
— Não tem? — Eu não sabia disso, nunca fui para essa casa de campo.
— Você sabe que não. Nunca tentou falar com os seus pais, das vezes que você foi pra lá? — indaga, levantando uma sobrancelha.
— Aqui, Brown, desculpa a demora. — Scar aparece e entrega a xícara para ele. — Louise, preciso estudar. Qualquer coisa, me chama. — Ela me dá um beijo na testa. — Como ele está gato — sussurra em meu ouvido e sai.
— Aconteceu alguma coisa?
— Eu nunca fui pra essa casa de campo — afirmo.
— Como não? — Ele passa uma das mãos nos cabelos. — E semana passada? Era você que estava lá, não era?
— Alex está sumindo por alguns dias, não me responde e depois diz que está ocupado por causa faculdade — desabafo, frustrada.
Talvez ele esteja me traindo, já pensei nessa possibilidade, apesar de eu achar que seria muito cruel fazer isso enquanto não me deixa terminar o namoro. Essa atitude não combina com o Alex que conheço. Mas então penso que fico aqui, feito uma idiota esperando por ele e essa pode ser a oportunidade de que preciso para terminar esse relacionamento de merda.
— Me desculpa, eu não converso com ele. Exijo que me diga aonde está e quando volta, mas apenas isso.
— Me passa o endereço, preciso ir lá.
— Eu vou com você. — Ele se oferece, e seu apoio me traz um pouco de conforto.
— Acho melhor não. Não quero te envolver nesse tipo de coisa.
— Louise, isso não foi o que a nossa mãe nos ensinou. Se ele está mentido, algum motivo tem que ter. — Ele coloca a sua xícara na mesa de centro. — Vamos, eu te acompanho. Já está tarde, é perigoso você ir lá, sozinha.
— E a sua namorada? — questiono, hesitante.
— Teresa está em Paris.
— Ela não vai se importar?
— Claro que não, ela sabe que você é a minha irmãzinha. — Ele sorri.
— Vou me trocar. — Porra! Ele ainda diz isso, que sou a sua irmãzinha! Mas então como ele explica aquela aproximação repentina de minutos atrás?!
Me levanto e subo para o quarto.
— Ele já foi? — Scar parece estar mais ansiosa que eu.
— Não. — Começo a procurar um conjunto de moletom.
— Aonde você vai? — indaga, me observando com curiosidade, e se senta na minha cama.
— Alex está em uma casa de campo — informo enquanto visto o moletom.
— Ele vem te buscar? — pergunta, preocupada. — Pera aí, Louise, me explica. Estou perdida.
— Alex enviou uma mensagem para o Josh e disse que está nessa casa de campo. — Bufo. — Josh me disse que lá não tem sinal, e ele vai me levar até lá. E ainda me olhou e disse bem assim: “Você sabe que não tem sinal, nunca tentou ligar para os seus pais quando você vai pra lá?”
— Então o Alex está te traindo?
— Olha, eu não sei bem, mas não duvido — digo, assim que termino de vestir o meu conjunto de moletom cinza e um calço um tênis branco.
— O Josh vai te levar até lá?
— Sim, eu não queria, mas ele se ofereceu, disse que é perigoso eu ir sozinha.
— Ele está a fim de você — diz, sorrindo.
— Não está, não. Acho que só ficou atraído pelo jeito que eu estava vestida, mas ele ainda diz para a sua namorada que eu sou a sua “irmãzinha.”
— Não fique triste.
— Eu não estou, já aceitei que ele nunca me verá como uma mulher, e sim como a sua “irmãzinha”. — Faço o sinal de aspas com as mãos.
— Por que você começou a namorar o Alex mesmo?
— Pra fazer ciúmes no Josh, e eu me fodi. — Sinto raiva de mim mesma quando me lembro da burrada que eu fiz. — Vamos.
Descemos as escadas e Scar apenas ri da minha infantilidade.
— Vamos? – Josh pergunta assim que me vê.
— Sim. Scar, avisa ao papai e à mamãe, por favor.
— Claro. — Caminhos em direção à porta. — Se comportem. — Ela ri.
— Do que ela está falando? — Josh pergunta quando a Scar fecha a porta atrás de nós.
— Não é nada, ela adora fazer piadinhas.
— Aaah. — Caminhamos em direção a um carro preto, e tento ler o nome que está cravado nele: uma BMW X6. Que carrão. — Por favor. — Ele abre a porta do carona, e eu me acomodo.
Josh entra e se acomoda. Quando liga o rádio, a música mal começa e ele acelera, sem dizer uma só palavra.
LouiseJá faz quase uma hora que estamos na estrada, e o silêncio ainda se faz presente no nosso espaço.— Você está bem? — Josh quebra o silêncio, sua voz suave e preocupada.— Sim — respondo, tentando ignorar a ansiedade que me preenche.— Já sabe o que vai fazer, se ele estiver com alguém? — Curioso, não é?!— Já tem um certo tempo que tento terminar com ele, mas...— E ele sempre encontra um motivo pra você voltar atrás? — Ele completa a minha frase, e sua compreensão me surpreende.— Sim. — Respiro fundo, me sentindo derrotada.— Nosso pai o ensinou muito bem. — Sua expressão fica carregada de resignação.— O que você quer dizer com isso?— Meu pai sempre nos disse que somos nós que terminamos os relacionamentos e que não podemos deixar nenhuma mulher fazer isso, pois somos os Brown, e isso mancharia o nosso nome.— Sério que ele ensinou isso pra vocês? — Não creio que Anthony era assim.– Sim, meu pai é machista para algumas coisas — ele admite, dando um meio-sorriso e voltando
JoshCOM APENAS DEZOITO ANOS, comecei a comandar o império dos meus pais, e agora, com apenas trinta anos, a empresa está acima do estimado. Sou o mais novo CEO de Nova Iorque.Namoro com Teresa há alguns anos, e sei que ela me ama, mas eu não sinto nada além de gostar do sexo que temos. Ainda não encontrei nenhuma mulher que me satisfaça como ela.— Josh — Anna, minha secretária, me chama. — Precisamos de uma substituta, não vou aguentar por muito tempo.— Alguma candidata? — Estamos na minha sala, revisando alguns contratos.— Sim, aliás você pode escolher a dedo. — Ela ri. — Tem uma tal de Anna, Ashley, Scarlet, Stephany, Abigail, Louise, Mila...— Espera.— O que foi? — Qual o sobrenome da Louise?— Louise Smith.— Marque uma entrevista com ela — peço.— Huuuum. — Anna ri. — Mais alguma?— Não.Desde que eu assumi a direção da empresa, Anna trabalha comigo, posso dizer que ela é minha confidente. Sabe que eu não amo a Teresa, mas nunca revelei o nome do meu amor.Ouvir o nome da
LouiseAS LÁGRIMAS ESCORREM pelo meu rosto. Dias e noites ao seu lado, especialmente quando enfrentou o câncer, sempre estive lá, sempre o ajudei. Não é que eu esteja jogando na cara, mas ele deveria ter ao menos um pouco de consideração por mim.— Louise... — Ouço a voz do Josh. — Louise...— Já chegamos? — pergunto, meio sonolenta.— Ainda não.— Aonde estamos? — indago, assim que abro meus olhos e percebo que a chuva não deu trégua.— Em um hotel.— Por quê?— A chuva está muito forte, e mais à frente teve um acidente. Olha — responde e me mostra o celular, no qual uma notícia diz sobre o acidente e que o trânsito estava congestionado. — Pra não ficar muito cansativo, pensei em nos hospedarmos aqui. Amanhã bem cedo, vamos embora.— Ok. Ele estaciona em frente a um hotel bem simples, pelo que eu me lembre, Josh nunca foi enjoado para essas coisas, e vejo que ele não mudou, contrário do seu irmão.Corremos em baixo da chuva para dentro do hotel, a decoração é rústica, bem cara de ca
LouiseINCOMODADA COM A SUGESTÃO de Josh, me levanto da cama e caminho em direção ao banheiro.— Ele não sabe dos meus sentimentos, Josh, então não devo nada a ele. — Entro no banheiro e bato a porta.Meu coração está super acelerado. Esse homem mexe muito comigo, e nunca vai saber que o meu amor é ele. Ligo o chuveiro e coloco a mão embaixo da água. Está quentinha.Me lembro de que precioso avisar a Scar que não vou para casa hoje. Procuro pelo meu celular nos bolsos do meu moletom e não o encontro. Droga. Acho que o deixei em cima da cama.Abro a porta e dou de cara com aquela visão maravilhosa. Josh está sem camisa, de costas para mim, e fico impactada com aquele corpo.— Estamos bem, sim. — Caminho em direção à cama e não encontro o meu celular. — Ela está aqui. Quer falar com ela? — pergunta, antes de se virar e me ver. – Então tá. Imagina Scar. Eu a aviso. — Ele ri. — Tchau.— Meu celular? — Ah, desculpa — ele pede e me entrega o celular. — Estava tocando e ouvi o barulho do c
LouiseJOSH SAI DO BANHEIRO, enrolado na toalha, que cobre apenas a parte da cintura para baixo. Já fico com a calcinha molhada quando vejo as gotas de água, que caem de seu cabelo, escorrendo por todo o seu corpo. Até sua barba ainda está encharcada.— Gosta do que vê? — ele pergunta, risonho.— Vou te esperar lá embaixo. — Minha voz falha enquanto tento manter a compostura, sentindo meu rosto e meu corpo todo esquentarem.Desço e fico do lado de fora do hotel, esperando por ele.***Chegamos em cima da hora na minha casa, e Josh me espera no carro.— Não vai tomar café? — meu pai pergunta.— Não, senão vou me atrasar. Josh está me esperando.— O seu cunhado? — indaga, surpreso.— Ex-cunhado. — O que aconteceu? — minha mãe pergunta enquanto desce as escadas.— Depois eu conto tudo. Agora preciso ir.***— Desculpa — peço quando entro no carro.— Imagina, ainda vamos chegar 10 minutos antes do horário — afirma quando olha no relógio em seu punho e arranca com o carro.— Ainda dá temp
Louise— O QUE FAZ AQUI? — Josh pergunta enquanto pega o seu martini. — Vim com a minha irmã e o seu namorado. — Aponto na direção deles.— Ela namora o Adam Clifford?— Sim, ele mesmo. — Faço um sinal para que o barman me entregue outra bebida. — Pode ser um Bloody Mary desta vez.— Só um momento, princesa. — Ele pisca e sorri para mim de novo, e eu retribuo desta vez.— O que está acontecendo? — Josh pergunta, uma sobrancelha arqueada.Ele veste uma calça jeans preta, uma camiseta branca e uma jaqueta de couro por cima. O seu cabelo está penteado para trás e parece estar cada vez maior.— O quê?— Por que está agindo assim comigo? — Ele toma um gole dá sua bebida.— Assim como? — Finjo não entender, embora saiba do que ele está falando. No escritório, tenho que ser paciente, pois ele é o meu chefe e eu não sei o motivo pelo qual ele andou me evitando todos esses dias, desde a nossa viagem.Mas, fora do escritório, posso ignorá-lo.— Está sendo grossa.— Eu? — Não se faça — ordena.
JoshTALVEZ EU ESTEJA sendo um pouco invasivo por ter atendido o celular da Louise, mas eu não queria atrapalhar o seu banho. E, embora Scar seja muito simpática, não conversamos nada demais. O beijo da Louise é maravilhoso, fiquei nas nuvens, mas preciso manter distância, pois sei que isso não vai dar certo. O medo que ela tem de raios complicou ainda mais as coisas para mim. Deitar perto dela me deixou com o pau duro, assim como sentir a sua pequena mão em meu peito, o seu cheiro doce e maravilhoso preenchendo minhas narinas.No dia seguinte, acordo com ela ao telefone. Quando ela me vê apenas de cueca, o seu semblante muda totalmente. Preciso manter distância, por mais que eu não queria, pois tenho que me resolver com a Teresa, antes de qualquer coisa.Ignoro Louise durante a semana toda e fico pensando em como vou terminar com a Teresa e contar isso para o meu pai.***— Josh, precisamos conversar — Alex diz. Acabei de chegar em casa, mas sei que algo aconteceu para que ele pareça
JoshA FESTA JÁ ESTÁ ANIMADA quando chego. Luzes piscam, a música está alta e o ar, carregado de energia. Tento me esquivar dos vários fotógrafos presentes aqui. Os Clifford adoram impressionar, e sempre conseguem de fato.Matthew ainda não apareceu e não sei se ele realmente virá. Não vou negar que sinto a sua falta em lugares assim, sempre dou risada dos foras que ele leva.— Um martini, por favor — peço, assim que me aproximo do bar.Pego a minha bebida e começo a andar pelo ambiente, pensando que deveria ter chamado Louise para ter vindo. Poderia ter dito a ela que era assunto de trabalho, o que não seria mentira. Mas posso sobreviver em qualquer evento sem uma assistente. Eu trazia a Anna, porque ela gosta desse mundo, e isso me deixou mal acostumado a ponto de não querer ficar sozinho, pelo menos não nesse tipo de evento.Seco o meu copo de martini e vejo uma bela mulher de cabelos castanhos me encarando na pista, dançando sozinha. Me aproximo aos poucos, mas desisto assim que o