Capítulo 3
Encarei-o firmemente.

— Uma Ômega não tem lugar no registro principal da alcateia. Eu só estou... Me adaptando à minha nova realidade.

A expressão de Marcus se distorceu, demonstrando preocupação.

— Você será para sempre minha Luna, Sarah. Seu lugar está garantido aqui, na nossa alcateia.

Mantive meu olhar fixo no dele.

— Como sua futura Luna, eu deveria seguir as leis da alcateia. Não vou te envergonhar como Alfa.

Ele me puxou para mais perto, com a voz embargada de emoção.

— Você sempre pensa em mim primeiro. É por isso que você é perfeita para a nossa alcateia.

Contive um sorriso amargo diante de sua performance.

— Marcus, eu quero sair do hospital.

O corpo dele se tencionou imediatamente.

— Não, de jeito nenhum. Você não está completamente curada. Não vou arriscar.

Puxei seu braço de forma brincalhona, forçando um sorriso brilhante.

— Mas você não mencionou adotar um filhote? — Fiz minha voz suave, quase como se estivesse preocupada. — Filhotes Alfa raramente são abandonados. Será que vamos conseguir um?

Foi a primeira vez em cinco anos que agi de forma vulnerável com ele.

A expressão de Marcus suavizou.

— Não se preocupe com isso. Um amigo meu, outro Alfa, morreu em uma guerra de territórios há dois anos. O filhote dele está no abrigo de órfãos da nossa alcateia. Podemos visitá-lo.

Ele hesitou e completou:

— De vez em quando, verifico o filhote, certificando-me de que está sendo bem tratado.

Durante o trajeto até o local, Marcus esticou a mão para o banco de trás e puxou um brinquedo de pelúcia, moldado como um lobo.

Ele disse que o comprara especialmente para me animar.

Mas a etiqueta claramente indicava "Apropriado para filhotes de 3 a 12 anos."

Deixei o brinquedo de lado e fechei os olhos, fingindo estar mal.

Essa mentira de cinco anos precisava acabar.

No abrigo de órfãos, sentei-me na cadeira de rodas, com meu corpo queimado ainda fraco demais para caminhar.

Um menino pequeno, de cerca de três anos, correu imediatamente em direção a Marcus.

— Papai! — Ele gritou, envolvendo suas pernas com os bracinhos.

O rosto de Marcus se contorceu com pânico antes de ele explicar rapidamente:

— Não me entenda mal. Eu patrocino esse abrigo e já o visitei várias vezes. Mas esse filhote… Ele tem essa mania de chamar todo visitante masculino de 'papai', e só se apega a mim.

Eu acenei com a cabeça, estendendo a mão para tocar a bochecha do menino.

— Ele é tão parecido com você. Se você não tivesse explicado, eu acharia que ele fosse seu.

O menino tinha a mesma cor de olhos de Marcus, e seus pequenos traços eram um reflexo de Rachel.

— Qual é o nome dele?

— Oliver. Ele... Ele é o filhote que pensei que poderíamos adotar.

Acariciei os cabelos do menino, notando como seu cheiro carregava vestígios de Marcus e Rachel.

Mesmo com meus sentidos debilitados, não havia como enganar.

Antes que ele pudesse explicar mais, Oliver começou a chorar, perguntando onde estava sua mãe.

O rosto de Marcus empalideceu instantaneamente. Eu pude sentir o aumento do seu cheiro de medo.

E seus olhos se voltaram para mim, ansiosos.

— Está tudo bem. — Disse suavemente, forçando meus lábios a se curvarem em um sorriso gentil. — Vá confortá-lo. Ele carrega um sangue forte de Alfa, sendo o herdeiro perfeito para nossa alcateia. Sua aura já transborda com tanto potencial…

Minhas palavras o aliviaram visivelmente.

Marcus se apressou a entrar no escritório da curandeira com Oliver nos braços, e as pequenas mãos do menino segurando a camisa de seu "pai" com facilidade familiar.

Eu dei uma desculpa sobre pegar o remédio para minhas queimaduras, ficando próxima à porta.

Mesmo com meus sentidos debilitados, pude sentir o perfume de lavanda característico de Rachel vindo de dentro.

As vozes dos membros da alcateia se filtravam claramente pela fresta.

— Por que Alfa Marcus está fingindo que seu próprio filhote é um órfão? Aqueles são trajes de seda pura dos tecelões da Alcateia da Montanha - valem mais do que meu salário anual. Só os botões de pedra lunar custam milhares! Quem acreditaria que ele é um órfão?

— Você não entende. O Alfa já planejou tudo. Esse é o único caminho para o filhote se tornar o herdeiro legítimo. Seja esperto e não fale nada perto da Sarah... Ela não pode descobrir.

— Claro que a Rachel é a verdadeira escolha dele. Eles patrulhavam juntos na faculdade, sempre se oferecendo para os turnos noturnos. Eu sabia que eles iriam acabar juntos! E agora, sozinhos naquele escritório...

O riso cúmplice deles fez meu peito apertar até que eu mal conseguia respirar.

Me aproximei mais da porta, e as vozes familiares se tornaram claras.

— Como ele tem te tratado? — Perguntou Marcus suavemente.

— Bem o suficiente. Ele está fora, cuidando dos negócios da alcateia na maior parte do tempo, o que torna as coisas mais fáceis. Assim, ele não vai descobrir sobre o Oliver. Ele até fala sobre ter filhotes comigo. — A voz de Rachel estava cheia de diversão disfarçada, quase impossível de esconder.

Marcus riu, mas o som soou amargo.

— Quando o Oliver estiver oficialmente na casa da alcateia, você não terá mais com o que se preocupar. Se precisar de qualquer coisa, basta me chamar. Eu sempre vou prover para vocês dois.

— Ah, eu comprei algo para você. Um cristal de cura da Alcateia Ancestral. Me custou dez milhões, mas valeu a pena… Ele pode curar qualquer cicatriz completamente.

Rachel arfou ao abrir a caixa.

— Outro presente? Você me deu tantos presentes de casamento este ano que meu armário está transbordando! A Sarah ficaria chateada se soubesse.

Ela protestou, mas suas mãos seguraram o cristal com avidez.

Oliver se aninhou contra Rachel, esfregando o rosto em seu pescoço, como os filhotes fazem instintivamente com suas verdadeiras mães.

— Mamãe! Mamãe! Podemos ir para casa agora?

— E se a Sarah descobrir? — Rachel perguntou. — Quanto às queimaduras... Se ela souber que você me deu um cristal de cura...

— Ela não vai precisar. — Disse Marcus. — As cicatrizes de uma Ômega não importam para a alcateia.

O riso de Oliver ecoou no ambiente… Puro e feliz, seguro no amor de seus pais.
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