Capítulo 2
Forcei-me a me levantar, enquanto meu corpo, ainda marcado por cicatrizes recentes, protestava a cada movimento.

O escritório de Marcus ficava logo ao lado. O cofre em sua mesa possuía uma combinação familiar: a data em que nos conhecemos.

— Eu nunca vou me esquecer desse dia. —Ele me dissera aquilo na época, com os olhos brilhando do que, na minha ingenuidade, acreditei ser amor. — O dia em que meu lobo reconheceu sua verdadeira companheira pela primeira vez.

Mas nada ali dentro parecia pertencer à nossa história.

Em vez disso, encontrei dezenas de frascos lacrados de vitaminas pré-natais para companheiras de lobisomens, empilhados sobre os testes de gravidez da Rachel.

A data mais recente era de três anos atrás - o mesmo dia em que Marcus me pediu em casamento.

Entre as evidências, havia um celular com a nuvem sincronizada a uma pasta intitulada "A Jornada do Nosso Filhote."

Imagens de ultrassonografia semanais preenchiam a tela, sendo cada uma acompanhada de anotações manuscritas de Marcus:

"O primeiro batimento cardíaco de Oliver!"

"Olha essas patinhas pequeninas!"

"Nosso principezinho está crescendo forte!"

Havia páginas de receitas cuidadosamente elaboradas, envolvendo pratos especiais para apoiar uma lobisomem grávida em cada trimestre. Marcus havia anotado os desejos de Rachel e suas reações a cada refeição.

E cada detalhe do quarto do bebê havia sido meticulosamente planejado.

"O quarto de Oliver será posicionado de frente para o sol da manhã." Ele escreveu. "Pois aposto que meu pequeno filhote vai adorar ver o nascer do sol."

As mensagens mostravam reservas na principal casa de parto da alcateia, onde a data coincidía exatamente com quando Marcus havia afirmado que estaria ausente por questões da alcateia.

Lembrei-me de como ele insistira que não estava pronto para ter filhotes, e como dissera que deveríamos esperar até após a cerimônia de marcação.

— Quero focar em nós primeiro. — Ele me dissera. — Os filhotes podem vir depois.

E só agora eu entendia a verdade: ele não queria filhotes comigo porque já tinha a família que desejava.

O compartimento inferior do cofre guardava o design de um anel de cerimônia de marcação, do tamanho exato do dedo de Rachel.

Foi então que encontrei as notificações que Marcus havia enviado para os Alfas das alcateias vizinhas. Desde o início, ele havia apresentado Rachel como sua verdadeira companheira para todos.

Os pergaminhos sagrados continham as assinaturas deles: Marcus e Rachel, Alfa e Luna.

Sua mensagem para o mestre cerimonial era clara:

"Garanta que tudo esteja perfeito para a ascensão da minha verdadeira companheira a Luna. O outro assunto será tratado discretamente."

O "outro assunto" era eu.

Eu ri até que o som se transformou em soluços.

Com as mãos trêmulas, enviei uma mensagem para minha amiga nos Territórios do Norte.

"Preciso de um curandeiro." Escrevi. "Alguém que possa reverter o envenenamento por prata. E, acima de tudo, preciso desaparecer."

Iniciei o processo formal para me remover do registro da alcateia, permitindo que acreditassem que estava aceitando meu destino como uma Ômega.

Minha amiga não questionou muito, presumindo que finalmente eu tivesse visto a verdadeira natureza de Marcus.

Suas mensagens transbordavam de alívio, como se eu finalmente tivesse despertado para a vida.

Coloquei o celular de lado e deixei que o cansaço me arrastasse para a escuridão.

Mas, desta vez, quando fechei os olhos, não sonhei com Marcus.

Sonhei com a liberdade.

No entanto, acordei com o som dos soluços de Marcus.

Ele apertava um relatório da curandeira da alcateia com força, com seus ombros largos tremendo, como se cada palavra ali o fizesse sofrer.

— Sarah... A curandeira descobriu, durante o exame, que sua loba foi gravemente ferida no incêndio. Ela não tem a capacidade de se curar sozinha.

— Sem a força da sua loba, você nunca será capaz de carregar filhotes de um Alfa. Nossa linhagem...

Ele estendeu a mão em minha direção, com seu toque suave, mas carregado de intenção.

— Mas eu não vou te abandonar. Não importa o que aconteça, você continuará sendo minha companheira.

— Assim que for liberada do hospital, podemos adotar um filhote - um filhote forte de Alfa para dar continuidade à linhagem da alcateia. Ter uma criança para cuidar vai ajudar você a se recuperar.

Eu era a única que havia perdido a minha loba, ainda assim, ele parecia mais devastado do que eu.

Sua atuação estava impecável, por isso eu não me dei ao trabalho de expor a mentira.

Após um longo silêncio, olhei para o relatório em suas mãos e assenti lentamente.

Os olhos de Marcus se encheram de lágrimas enquanto ele me puxava para o seu abraço.

— Eu cuidarei de você para sempre. Não tenha medo. Não importa o que falem sobre um Alfa com uma companheira Ômega, eu estarei com você, independentemente de tudo.

— Após a cerimônia de marcação, vou transferir a posse dos territórios da alcateia do norte para você. É o mínimo que posso fazer para garantir seu futuro.

Nossos peitos se pressionaram, mas nossos corações batiam em ritmos diferentes, contando histórias distintas.

O coração dele batia acelerado com uma excitação oculta, enquanto o meu batia firme, com uma fria compreensão.

Finalmente, Marcus falou hesitante:

— Sobre a cerimônia de marcação... Está tudo preparado, mas com sua condição...

— Tente encontrar alguém para ocupar o meu lugar. — Interrompi. — Não podemos deixar que a alcateia perca o prestígio.

Eu sabia exatamente o que ele queria dizer.

Então era melhor sugerir isso eu mesma do que ser pressionada para isso.

Pelo menos assim, eu ainda conseguiria manter um pouco de dignidade.

Enquanto isso, Marcus parecia surpreso com minha súbita conformidade.

Mas, com seu objetivo alcançado, ele não questionou minha mudança de atitude.

Seu celular tocou, quebrando o momento.

Ele olhou para a tela e depois para mim, confuso.

— Sarah, por que está cancelando o seu registro na alcateia?
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