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NIHARA KUDIMONA A noite passada foi humilhante para mim, apesar de ter dado uma boa resposta aquela jornalista. Não gosto de saber que os meus esforços e trabalho foram postos em causa, eu jamais aceitaria troca de favores desse tipo. Vou ter que conversa com Amber de novo, desta vez não serei tão simpática. A minha irmã não quis ouvir-me, ela sabe que não sou muito de dar explicações quanto as minhas decisões, então deveria considerar isso e ouvir-me. Mas tudo bem, quando ela quiser falar estarei aqui para explicar-me. Sento-me de frente ao computador ainda no meu quarto e respondo algumas mensagens de trabalho, algumas são de solicitações de personalizados e outras felicitações e convite de parcerias. O meu olhar fixa no correio eletrónico que não pude ler porque Tobias tinha entrado na minha sala como se fosse o dono. Sorrio. Clico no correio eletrónico e passo a ler: 21 de dezembro, 14:15 DE: niltorres@g***l.com PARA: Niharakudimona16@g***l.com ASSUNTO
NIHARA KUDIMONA — Senhor Harrison, o que está a fazer aqui? — questiono assim que abro a porta. Ele está com uma bandeja de comida nas mãos e uma garrafa de vinho branco. — Vim-te dar as boas-vindas — ergue a bandeja diante de mim. Enrugo a testa. — Boas-vindas? Como assim? Não vai dizer-me que você... — Isso mesmo, eu vivo bem aqui atrás — vira ligeiramente a cabeça em direção ao apartamento de frente ao meu. — É brincadeira né? — Não, por que seria? É tão ruim assim ser minha vizinha? — fingi estar ofendido. — Não, não é isso. Só fiquei surpresa — falo em tom desconfiado. Por fim deixo-o entrar. Comemos ravióli, enquanto conversamos sobre assuntos triviais. Ao terminarmos agradeço o almoço, não tinha comido nada fazia tempo. Sigo até a cozinha, e começo a fazer uma sobremesa rápida. Musse de maracujá com pepitas de chocolate, minutos depois, voltamos a nos sentar saboreando o doce. O tempo passa voando, quando me dou conta já está perto da hora do evento.
NIHARA KUDIMONA — Não, não, larga-me por favor, não faça isso... — Tudo bem, tudo bem, você está segura. Foi só um pesadelo. Ele aperta-me entre os seus braços, sinto-o acariciando os meus cabelos tentando acalmar-me. Uma lágrima solitária cai do meu rosto e molha o seu ombro nu. — Onde estou? — ele encara-me, os seus olhos estão carregados de raiva. Levanta lentamente as suas mãos e posa-as em cada lado do meu rosto — Eu daria tudo para que isso não tivesse acontecido. Eu... — ele abaixa a cabeça, os seus ombros tremem, ouço-o fungar. Ele está a sofrer por mim? Dou um suspiro, e ergo o seu rosto, os seus olhos estão num tom de verde-escuro. Abraço-o, um braço reconfortante. Caloroso. Protetor, a quentura do seu corpo acalma-me, me dá a sensação de segurança e pertencimento. Abro os olhos de sobressalto, lembrando da minha promessa, afasto-me relutante, queria dormir nos seus braços forte, mas não posso. Não devo. — Que horas são? Eu preciso ir a
NIHARA KUDIMONA Encarámo-nos surpresos, até mesmo assustados. Tobias acabou de ser ameaçado por minha causa, estou arrepiada, os meus olhos procuram nele, alguma reação, alguma resposta. Alguma coisa. Por favor, diz alguma coisa? — Tobias, quem é esse homem? O que ele tem a ver com aquele pervertido. Vamos tirar a queixa — digo com a voz agitada. Ele olha-me, e toca o meu rosto, delicadamente. — Ei, fique calma. Está tudo bem. Não vamos tirar nenhuma queixa. Isso deve ser alguma brincadeira de mal gosto, de algum esterco. — Não, não me parece brincadeira nenhuma e, você também não acredita nisso. Por favor, ainda estamos aqui, vamos entrar e retirar a queixa, não posso e não vou ignorar está ameaça. Não se preocupe — dei um meio sorriso triste, tocando o seu rosto, passando algum tipo de tranquilidade. Nos encaramos em silêncio por breves segundos, as nossas testas apoiadas uma na outra. A respiração controlada em uníssono. Até que ele se afasta de sobressalto
NIHARA KUDIMONA — Como você se sente sobre as alegações de que usou o seu relacionamento com Tobias para obter a sua posição na empresa? — Dona Nihara, você tem alguma coisa a dizer para as mulheres que estão a passar pelo mesmo que você? — Senhora Nihara, fontes próximas ao homem dizem que a senhora o seduzi-o. O que tem a dizer sobre isso? Tento ignorá-los e sair daqui, mas eles impedem-me a passagens. Um misto de raiva, nojo, revolta, se apossam de mim, diante de perguntas absurdas, mas eles continuam a atormentar-me. Sinto lágrimas brotando nos meus olhos. Como eles souberam do abuso? Como posso aguentar tudo isso? Como posso lidar com toda essa pressão?O meu coração acelera, falta-me oxigénio, minha cabeça roda, quando vejo os repórteres e fotógrafos apontando os seus microfones e câmaras a mim, aguardando um pronunciamento da minha parte. Eu pensei que o assunto relacionado a nosso "suposto" caso tivesse esquecido, mas agora a imprensa tem um novo motivo para perse
Tobias Bernstorff Não consigo focar em nada, os meus olhos estão fixos na tela do computador, mas minha mente está em outro lugar. Não consigo parar de pensar nela. Aquela boca carnuda, aquele corpo pequeno. Sinto o coração bater mais rápido só de imaginar a sua presença. Quando disse que estou apaixonado por ela, os seus olhos arregalaram-se, os maxilares tencionaram-se e o corpo ficou enrijecido. Queria que ela retribuísse os meus sentimentos, que me abraçasse e beijasse-me com paixão, mas ao invés disso, fugiu sem dizer uma única palavra. Levanto-me e caminho até a vidraça. Observo a cidade, tentando distrair a mente. Mas não adianta, ela é tudo o que eu consigo pensar agora. Lembro do diário dela, que li apenas uma vez, para conhecer melhor os seus gostos e preferências. Mas havia muito mais lá, informações profundas e íntimas que eu não pude continuar. Agora eu sou um homem desesperado, procurando por respostas. Preciso ler o diário novamente, mergulhar nos seus pe
Nihara Vitti Três dias passaram-se desde a confissão de Tobias, e o meu coração continua num espiral de emoções. Tenho evitado encontrá-lo na empresa, ignorado as suas ligações e mensagens. O medo domina-me, fazendo-me questionar tudo o que sei sobre amor e confiança, sê que sei de alguma coisa. Enquanto caminho pelo corredor da empresa hoje, sinto os olhares curiosos dos meus colegas. Algumas pessoas parecem desconfiar de algo, mas ninguém sabe ao certo sobre a confusão que se instalou dentro de mim. Decido ir para casa e buscar refúgio no conforto do meu apartamento, preciso de um momento para me recompor, para clarear os meus pensamentos e descobrir como lidar com essa informação avassaladora. Chegando em casa, dirijo-me à minha pequena área de treino, — algo que também me ajuda com o transtorno de ansiedade —, onde tenho um saco de pancadas pendurado. Coloco uma música ritmada nos auscultadores, calço as luvas de boxe e começo a desferir socos com toda a força que posso
Tobias Bernstorff Ouço a agitação do salão daqui do meu quarto, todos estão reunidos, enquanto eu me sinto perdido, desanimado, e solitário. A Nihara não me atende, tem-me evitado e não sei dizer se ela vem ou não. Portanto, não estou interessado em comemorar, decidi afastar-me um pouco e buscar refúgio nas minhas próprias reflexões. Sento-me de frente para a janela, segurando o diário de Nihara. Preciso ler para percebê-la, para me sentir perto dela. Ela é organizada, agrupa os seus pensamentos por temas. Observo a página de contactos e, em seguida, deparo-me com uma sessão intitulada "As coisas que amo na vida". Um sorriso involuntário escapa dos meus lábios, mas logo o meu olhar se fixa na página seguinte, marcada como "Traumas e medos." Apesar de sentir-me mal com isso, folheio as páginas, descobrindo os seus segredos. Os meus olhos ardem pelas lágrimas que se formam neles, sinto uma onda de indignação e raiva ao descobrir o maldito idiota que ousou fazê-la chorar, humilhando-a