Estou sentada novamente encostada na porta. William, mais uma vez, sentou-se defronte à mim. Quero muito saber que horas são, e se ainda falta muito para amanhecer. A música do lado de fora parece, inexplicavelmente, ainda mais alta.
Ninguém mais passou por aqui desde que o casal saiu às pressas, e Hector não voltou ainda, como eu já imaginava. Em meu íntimo, quero saber o que acabou acontecendo entre ele e Suzane. Será que ele se declarou mesmo? Se a resposta for sim, quanta coragem! E em relação aquele casal, o que será que acabou acontecendo quando eles se distanciaram demais e não conseguimos mais ouvi-los? A curiosidade inflama em meu peito.
Sinto-me como alguém que está assistindo a um filme em seu ápice total. Estar presa dentro desse banheiro parece-me como viver em uma realidade paralela à que se encontra l&
Depois de o que eu acho que seja alguns segundos de silêncio, decido me pronunciar:— Se não quiser falar, tudo bem. — digo isto apenas para que ele saiba que está tudo bem, embora, com certeza, ele saiba disso. Até por que William não me deve explicação sobre nada. Nem nos conhecemos.Ele está me olhando e, quando digo isso, sorri.— Desculpa, eu estava um pouco longe. — confessa — A gente tem muito problema dentro da banda. Em relação a muita coisa!— É a relação de vocês? — digo, tentando manter o meu tom de voz o mais relaxado possível, embora estar ao seu lado ainda esteja se
— Está sendo bem legal. — afirmo, sorrindo. Noto, então, que, pela primeira vez desde que estamos aqui, sinto-me mais relaxada e solta para ser eu mesma — Quer dizer, faz pouco tempo que entrei, mas, por enquanto, está sendo bom. — E é exatamente o que quer? — questiona, interessado. — Sim, é sim! — exclamo, convicta — Quando eu terminei o colégio eu já sabia que queria fazer Jornalismo, mas eu meio que tinha medo de que, quando eu entrasse na faculdade, eu acabasse me sentindo frustrada se não fosse o que eu realmente queria. Acho que você me entende, não é? — É claro que sim. — diz ele. — Eu pass
Eu sei que não preciso impressioná-lo, mas sei, em meu íntimo, que quero. Posso visualizar-me em pé perto demais do meu objeto de estudo naquela festa, incapaz de me mover ou falar qualquer coisa. Seu sorriso é lindo, e é final de ano, e ele está saindo do colégio. Por que você não se aproxima? Não. Eu não consigo. E então, a oportunidade vai embora rápido. — Angelina? — William me chama. Eu volto ao mundo real. — A verdade é que não sou muito boa em falar sobre mim. — digo, um pouco envergonhada da minha constatação. Mas, na verdade, é que eu não sei se quero me abrir tanto assim com alguém, por que as vezes — e muitas vezes que fiz isso — acabei me dando muito mal. William está ainda me olhando, e não sei se isso é algo que gosto ou não. Em parte é, mas seu olhar ainda me deixa acoada. —
— Tudo bem, eu começo… — diz ele, pensativo.Observo cada movimento seu executado, enquanto as lembranças do passado surgem-me a mente gradativamente, fazendo-me lembrar de acontecimentos e conversas que já não recordava há bastante tempo.Posso me ver ao lado de Marine agora, sentadas na praça de alimentação do shopping. Era para estarmos discutindo sobre o trabalho em grupo de biologia. Mas. em vez disso, enquanto esperávamos as outras meninas que faziam parte do grupo chegar, já achando que elas não viriam mais, conversávamos sobre tudo e, ao mesmo tempo, sobre nada em específico. Marine falava sobre a festa que tinha ido com seu namorado, Timóteo. Havia sido na casa de Lídia, por que os pais dela tinham viajado.É claro que William estava l&a
— É como um hobby então? — ele interpela, ainda muito curioso.Apesar de sentir-me mais à vontade com ele, ainda assim, falar-lhe sobre algo tão pessoal não é uma opção. A única pessoa que conhece o que escrevo é a minha melhor amiga.— Isso mesmo… — limpo a garganta — É a tua vez.Ele demora um pouco, parado apenas me analisando. Sinto-me um pouco envergonhada diante o seu olhar. Todavia, quando ele prossegue, acompanhando a sua fala com um sorriso que parece não sair mais de seus lábios, a leveza volta a nos acompanhar novamente.— Certo, minha vez… — põe a mão no queixo, denotando que está pensando — Gosto de poesia.— Eu sou apaixonada por poesias —quase transbordo de tanta animação repentina, o que lhe traz outro sorriso — Qual autor você gosta? — estou curiosa.— Acho que não tenho um preferido. — reitera — E você?— T
Quando o grupo se distancia o suficiente, William me solta. Eu olho em sua direção, furiosa. Que diabos esse cara acha que está fazendo? Por acaso ele está maluco? — Qual é o seu problema? — rude, resmungo, com os braços cruzados e a face endurecida. Mas ele não me responde, apenas mantém-se sem expressão. Não há mais nenhum sorriso estampando os seus lábios e a seriedade em seu rosto está me deixando ainda mais enfurecida — Você é louco? Aquele grupo podia ter nos ajudado! Agora talvez tenhamos que ficar presos aqui até de manhã — continuo, mais ele ainda não está dizendo nada. Quero socar-lhe o rosto, por que q sua falta de resposta está me deixando cada vez mais chateada. O que me irrita mais é o fato de ele estar fitando-me estranhamente. Eu quero que ele fale e explique o por que esse imbecil tampou a minha boca — Não vai falar nada? Vai ficar parado aí me olhando? Inferno! Contudo, quando estou ab
— O que disse?Eu sei o que ele disse, ouvi bem. “Por que eu goste de você, Angelina. Eu espero por esse beijo desde a época da escola.” Mas sinto como se tudo tivesse sido um delírio estranho.Ele respira fundo. Parece buscar coragem novamente para dizer o que quero escutar outra vez.— Eu disse que gosto de você. — morde o lábio.Volto o meu olhar para a sua direção, onde encontro os seus olhos me sondando em busca de alguma reação. E como é a bagunça que me ronda, é tendo ela como base que o respondo.— E só agora se deu conta disso? — meu tom soa mais afetado do que eu quero — Só agora, depois de anos?Vejo a tensão empurrar de uma vez só a leveza para bem longe, pegando-a de surpresa.— Eu… Disse que sempre esperei pelo teu beijo — a sua voz soa fraca, como se a minha acusação tivesse lhe acertado em cheio.— Eu ou
"Onde está ele, mamãe? O meu pai já está vindo?"A minha mãe me olhou fixo. Eu sabia o que aquele olhar queria dizer. Já o vira vezes demais para entender que algo não estava certo. Talvez, mais uma vez, ele não viria. Meus olhosinfantis estavam se enchendo de lágrimas. A minha mente de criança trabalhava insensantemente querendo saber o por que, mais uma vez, o meu pai não viria."Eu vou ligar para ele novamente, meu amor." a minha mãe falou, dando-me um beijo na testa antes de se afastar com o celular em mãos.Quando ela se afastou o suficiente, eu a segui, como vinha fazendo há um tempo. Vi-a cochichando no celular, sei que agora era para que eu não a escutasse. Eu escutava.Encostada perto da porta, escondida, eu ouvia o de sempre:"O que aconteceu