Eu sei que não preciso impressioná-lo, mas sei, em meu íntimo, que quero. Posso visualizar-me em pé perto demais do meu objeto de estudo naquela festa, incapaz de me mover ou falar qualquer coisa. Seu sorriso é lindo, e é final de ano, e ele está saindo do colégio. Por que você não se aproxima? Não. Eu não consigo. E então, a oportunidade vai embora rápido. — Angelina? — William me chama. Eu volto ao mundo real. — A verdade é que não sou muito boa em falar sobre mim. — digo, um pouco envergonhada da minha constatação. Mas, na verdade, é que eu não sei se quero me abrir tanto assim com alguém, por que as vezes — e muitas vezes que fiz isso — acabei me dando muito mal. William está ainda me olhando, e não sei se isso é algo que gosto ou não. Em parte é, mas seu olhar ainda me deixa acoada. —
— Tudo bem, eu começo… — diz ele, pensativo.Observo cada movimento seu executado, enquanto as lembranças do passado surgem-me a mente gradativamente, fazendo-me lembrar de acontecimentos e conversas que já não recordava há bastante tempo.Posso me ver ao lado de Marine agora, sentadas na praça de alimentação do shopping. Era para estarmos discutindo sobre o trabalho em grupo de biologia. Mas. em vez disso, enquanto esperávamos as outras meninas que faziam parte do grupo chegar, já achando que elas não viriam mais, conversávamos sobre tudo e, ao mesmo tempo, sobre nada em específico. Marine falava sobre a festa que tinha ido com seu namorado, Timóteo. Havia sido na casa de Lídia, por que os pais dela tinham viajado.É claro que William estava l&a
— É como um hobby então? — ele interpela, ainda muito curioso.Apesar de sentir-me mais à vontade com ele, ainda assim, falar-lhe sobre algo tão pessoal não é uma opção. A única pessoa que conhece o que escrevo é a minha melhor amiga.— Isso mesmo… — limpo a garganta — É a tua vez.Ele demora um pouco, parado apenas me analisando. Sinto-me um pouco envergonhada diante o seu olhar. Todavia, quando ele prossegue, acompanhando a sua fala com um sorriso que parece não sair mais de seus lábios, a leveza volta a nos acompanhar novamente.— Certo, minha vez… — põe a mão no queixo, denotando que está pensando — Gosto de poesia.— Eu sou apaixonada por poesias —quase transbordo de tanta animação repentina, o que lhe traz outro sorriso — Qual autor você gosta? — estou curiosa.— Acho que não tenho um preferido. — reitera — E você?— T
Quando o grupo se distancia o suficiente, William me solta. Eu olho em sua direção, furiosa. Que diabos esse cara acha que está fazendo? Por acaso ele está maluco? — Qual é o seu problema? — rude, resmungo, com os braços cruzados e a face endurecida. Mas ele não me responde, apenas mantém-se sem expressão. Não há mais nenhum sorriso estampando os seus lábios e a seriedade em seu rosto está me deixando ainda mais enfurecida — Você é louco? Aquele grupo podia ter nos ajudado! Agora talvez tenhamos que ficar presos aqui até de manhã — continuo, mais ele ainda não está dizendo nada. Quero socar-lhe o rosto, por que q sua falta de resposta está me deixando cada vez mais chateada. O que me irrita mais é o fato de ele estar fitando-me estranhamente. Eu quero que ele fale e explique o por que esse imbecil tampou a minha boca — Não vai falar nada? Vai ficar parado aí me olhando? Inferno! Contudo, quando estou ab
— O que disse?Eu sei o que ele disse, ouvi bem. “Por que eu goste de você, Angelina. Eu espero por esse beijo desde a época da escola.” Mas sinto como se tudo tivesse sido um delírio estranho.Ele respira fundo. Parece buscar coragem novamente para dizer o que quero escutar outra vez.— Eu disse que gosto de você. — morde o lábio.Volto o meu olhar para a sua direção, onde encontro os seus olhos me sondando em busca de alguma reação. E como é a bagunça que me ronda, é tendo ela como base que o respondo.— E só agora se deu conta disso? — meu tom soa mais afetado do que eu quero — Só agora, depois de anos?Vejo a tensão empurrar de uma vez só a leveza para bem longe, pegando-a de surpresa.— Eu… Disse que sempre esperei pelo teu beijo — a sua voz soa fraca, como se a minha acusação tivesse lhe acertado em cheio.— Eu ou
"Onde está ele, mamãe? O meu pai já está vindo?"A minha mãe me olhou fixo. Eu sabia o que aquele olhar queria dizer. Já o vira vezes demais para entender que algo não estava certo. Talvez, mais uma vez, ele não viria. Meus olhosinfantis estavam se enchendo de lágrimas. A minha mente de criança trabalhava insensantemente querendo saber o por que, mais uma vez, o meu pai não viria."Eu vou ligar para ele novamente, meu amor." a minha mãe falou, dando-me um beijo na testa antes de se afastar com o celular em mãos.Quando ela se afastou o suficiente, eu a segui, como vinha fazendo há um tempo. Vi-a cochichando no celular, sei que agora era para que eu não a escutasse. Eu escutava.Encostada perto da porta, escondida, eu ouvia o de sempre:"O que aconteceu
ANOS ATRÁS— De bruxinha, Angelina? Sério? — Vanya riu, e, naquele momento, não percebi que se tratava de um sorriso debochado — Não tinha nenhuma outra fantasia mais elaborada?Olhei para as outras meninas e me encarei no espelho de corpo inteiro. Era verdade que eu não procurei muito o que vestir além de algumas outras fantasias tão comuns quanto a que estava usando, mas, na verdade, eu sempre quis me fantasiar assim novamente. Fui de bruxinha quando ainda era criança na festa de Carnaval da escola e, é claro, chamei atenção — não de uma forma boa, por que, enquanto as meninas vestiam-se com roupas de princesas, por exemplo, eu apareci com uma roupinhas que combinava mais com o halloween, olhos pi
— Eu começo? — interpela ele, aguardando uma resposta.Eu faço que “não” com a cabeça, adquirindo coragem de algum lugar que ainda não conheço bem. Você não precisa ter tanto medo de falar o que sente e quando sente, digo a mim mesma, ignorando, pela primeira vez, aquelas duas outras versões que teimam em sempre me dizer e exigir, tão convincentes, o que devo fazer. Eu sei muito bem o que devo fazer e não preciso que ninguém imponha nada sobre mim. Agora que sei o que ele sente, se torna mais fácil me abrir, não é? Eu ainda tenho medo e receio, e a coragem não se faz muito presente. Ela se fecha e se esconde para que eu não a pegue. Mas eu quero tentar, por que, como William disse a Hector, é melhor se arriscar a viver na dúvida Com esse pensament