Fernanda Mendonça:As lágrimas ainda escorrem quando finalmente chego em casa. Por um milagre não bati meu carro com as vistas embaçadas e o pé no acelerador como nunca fiz antes.Tranco a porta e encosto as costas nela. O silêncio do meu apartamento parece zombar de mim, ampliando tudo o que estou sentindo.Tristeza.Não, pior.Humilhação.Minhas mãos ainda tremem. Não sei se de ódio, de vergonha ou por lembrar do toque dele. Pietro me despiu com palavras afiadas, com gestos que fizeram meu corpo querer gritar e minha alma... encolher, se entregar... tudo ao mesmo tempo.Foi errado.Mas, mesmo querendo parar, eu não queria que parasse.A forma como ele me olhou, como me encostou naquela parede, como sussurrou cada palavra como se quisesse me fazer implodir por dentro. Como me fez acreditar que por um segundo... eu era desejável. Apenas para me jogar de volta ao chão com a frieza de quem mata sem sujar as mãos.Seco as lágrimas com força, como se arrancar a dor com os dedos fosse poss
Fernanda Mendonça:Seus lábios tomam os meus com uma fome quente e indecente, um beijo carregado de luxúria que me consome como fogo. A língua dele invade minha boca com ousadia, explorando cada espaço como se já fosse dele por direito. Um arrepio percorre minha espinha, me fazendo colar ainda mais ao seu corpo.Fecho os olhos e me entrego.Totalmente.Minhas mãos sobem por seu peito até entrelaçarem-se em sua nuca, puxando-o com mais intensidade. Em resposta, ele aperta minha cintura com força, me guiando com possessividade, como se quisesse me moldar ao corpo dele. Sinto o ritmo da música desaparecer ao redor, ficando apenas o som do sangue pulsando nas minhas veias e a pressão da boca dele contra a minha.Tudo fica mais lento. Mais denso.O beijo se torna mais voraz, mais urgente. As mãos dele descem pela lateral do meu corpo, firmes, determinadas, até pararem sobre minha bunda. Ele a segura com força, me puxando com brutalidade contra o quadril dele — e então eu sinto.Seu volume
Fernanda Mendonça:O mundo gira devagar, como se alguém tivesse diminuído a velocidade do tempo.Meus olhos ainda estão fixos em Pietro.O coração martelando contra meu peito, o gosto do beijo ainda preso aos meus lábios, misturado ao gosto metálico do medo. A roda de curiosos começa a se desfazer aos poucos, mas meu corpo continua travado no meio da pista.Tiago é o primeiro a se aproximar. Seus dedos fecham em torno dos meus braços com uma firmeza que deveria ser reconfortante, mas só me faz sentir frágil.— Fernanda... você tá bem? Ele te machucou? — Sua voz sai urgente, trêmula, os olhos passando pelo meu rosto como se procurassem algum sinal de machucado.Contudo, para mim, parece vir de muito longe.Eu tento responder. Realmente tento.Mas antes que qualquer palavra escape dos meus lábios, sou puxada bruscamente para trás com tanta força que quase perco o equilíbrio. Pietro surge como uma tempestade viva, ele agarra o colarinho de Tiago, o encarando de cima de forma ameaçadora.
Fernanda Mendonça:Nenhum de nós fala durante o trajeto. O silêncio é espesso, pesado, cortado apenas pelo som da chuva que começa a cair do lado de fora. As gotas batem no para-brisas como pequenos dedos insistente, e eu me pego seguindo seus movimentos, apenas para ter algo em que focar que não seja o homem ao meu lado.Mas então, em um farol vermelho, ele vira o rosto para mim.A luz do poste ilumina seu perfil – o nariz reto, a mandíbula cerrada, os lábios apenas um pouco manchados, ele tentou limpa-los.Mas quando? E naquele momento, algo dentro de mim se parte.Porque não importa o quanto eu tente odiá-lo, não importa o quanto eu queira negar – ainda o quero. Com uma intensidade que me assusta.Pietro abre a boca para dizer algo, mas o farol fica verde, e o momento se quebra. Ele volta a olhar para a estrada, seus dedos apertando o volante com força.E eu me pergunto se ele também sente isso – esse fogo que não se apaga, não importa quanta água joguemos sobre ele.O carro final
Fernanda Mendonça:Ele não me dá tento de processar, sua invade a minha, faminta, desesperada, como se quisesse apagar cada palavra suja que saiu dos meus lábios. Seus dentes mordem meu lábio inferior com força, o gosto de sangue se mistura ao da saliva, à fúria, à luxúria.Suas mãos grandes percorrem meu corpo com brutalidade e desejo. Apertam minha cintura com força, como se tentasse me fundir a ele. Uma mão desliza para minha nuca, puxando meu cabelo com firmeza, me forçando a inclinar o rosto para recebê-lo por completo. A outra desce pelas minhas costas até agarrar minha bunda com intensidade, me erguendo, colando nossos corpos.Sinto a ereção dele pressionando minha barriga, quente, latejante, indiscutível.Ofego entre os beijos, mas ele não para. Não me dá tempo. Só intensifica. E, no fundo... eu não quero que ele pare.Meus braços sobem por instinto, envolvem seu pescoço, minhas pernas tremem sob a força do contato, e a raiva que me consumia se transforma em uma energia tão br
Pietro Castellane: — Vamos nos casar. Depois de amanhã. As palavras escapam dos meus lábios antes que eu tenha qualquer controle sobre elas, antes que eu consiga pensar no real peso delas. Não foram pensadas. Nem planejadas. Simplesmente... aconteceram. Um impulso. Cru e perigoso. O silêncio que se instala logo depois corta o ar como uma lâmina gelada. Sinto o peso da frase me desabar sobre os ombros, e meu cérebro entra em colapso, paralisado. O que caralho eu acabei de dizer? Por quê? Não importa o quão perdido eu pense estar, a resposta grita na minha mente clara e precisa. Raiva. Raiva de cada maldita palavra que ela disse hoje, me provocando até a beira da insanidade. Do jeito como esse vestido abraça cada maldita curva deliciosa do corpo dela, me tirando o ar. Do batom vermelho nos lábios, tão indecente quanto o gosto que ainda guardo na boca. E, principalmente, do beijo. O mais lascivo, mais carregado de desejo e desafio que já trocamos até agora. Mas não apena
Pietro Castellane:O mundo gira em câmera lenta.Desprevenido, o impacto explode no meu maxilar antes mesmo que eu registre qualquer movimento. Um gancho de direita perfeito, que pelo jeito foi aprimorado ainda mais desde a época da faculdade, de quando treinávamos box juntos.O estalo é seco contra a minha mandíbula, os dentes rangem com força suficiente para fazer minha visão escurecer por um microssegundo.O gosto de sangue invade minha boca, metálico e quente. Meu corpo recua instintivamente, os calcanhares escorregando no piso encerado dois passos para trás. O ar escapa dos meus pulmões num sopro quente, mas não caio. Também não revido.Levanto os olhos e encaro Fernando.Fecho minhas mãos em punhos, eu já esperava por essa reação, só não esperava que esse momento fosse agora.Eles não deveriam descobrir assim.Não dessa forma.Mas agora é tarde demais.— SEU FILHO DA PUTA!Fernando rosna, a voz carregada de ódio, o punho ainda cerrado pronto para bater de novo, os nos dos dedos
Pietro Castellane:O silêncio que se instala após a declaração de Fernanda é tão absoluto que posso ouvir o zumbido insistente do ar-condicionado na parede.Fernando abre a boca, fecha... depois abre de novo. Parece um peixe fora d’água, sufocado pelo ar denso da sala. Seu rosto atravessa todas as fases do luto em questão de segundos — negação, raiva, incredulidade, barganha e... caos.— O quê? — A palavra sai engasgada, como se ele tivesse engolido uma pedra.— Você vai… o quê? — Laura questiona, um olhar surpreso e confuso para Fernanda.— Você enlouqueceu?! — a voz de Fernando explode antes mesmo que Fernanda possa responder à cunhada. — Vai se casar com quem, Fernanda?Ela dá um passo à frente, sem hesitar. Vem até mim em silêncio e, sem dizer uma única palavra, entrelaça seus dedos nos meus. Aperta minha mão com firmeza. Meu olhar se fixa ali, em nossas mãos juntas.— Vamos nos casar, amanhã — fala com firmeza.Fernanda sorrir, seus olhos fixos nos meus, dizem muito mais do que p