Fernanda Mendonça:Nenhum de nós fala durante o trajeto. O silêncio é espesso, pesado, cortado apenas pelo som da chuva que começa a cair do lado de fora. As gotas batem no para-brisas como pequenos dedos insistente, e eu me pego seguindo seus movimentos, apenas para ter algo em que focar que não seja o homem ao meu lado.Mas então, em um farol vermelho, ele vira o rosto para mim.A luz do poste ilumina seu perfil – o nariz reto, a mandíbula cerrada, os lábios apenas um pouco manchados, ele tentou limpa-los.Mas quando? E naquele momento, algo dentro de mim se parte.Porque não importa o quanto eu tente odiá-lo, não importa o quanto eu queira negar – ainda o quero. Com uma intensidade que me assusta.Pietro abre a boca para dizer algo, mas o farol fica verde, e o momento se quebra. Ele volta a olhar para a estrada, seus dedos apertando o volante com força.E eu me pergunto se ele também sente isso – esse fogo que não se apaga, não importa quanta água joguemos sobre ele.O carro final
Fernanda Mendonça:Ele não me dá tento de processar, sua invade a minha, faminta, desesperada, como se quisesse apagar cada palavra suja que saiu dos meus lábios. Seus dentes mordem meu lábio inferior com força, o gosto de sangue se mistura ao da saliva, à fúria, à luxúria.Suas mãos grandes percorrem meu corpo com brutalidade e desejo. Apertam minha cintura com força, como se tentasse me fundir a ele. Uma mão desliza para minha nuca, puxando meu cabelo com firmeza, me forçando a inclinar o rosto para recebê-lo por completo. A outra desce pelas minhas costas até agarrar minha bunda com intensidade, me erguendo, colando nossos corpos.Sinto a ereção dele pressionando minha barriga, quente, latejante, indiscutível.Ofego entre os beijos, mas ele não para. Não me dá tempo. Só intensifica. E, no fundo... eu não quero que ele pare.Meus braços sobem por instinto, envolvem seu pescoço, minhas pernas tremem sob a força do contato, e a raiva que me consumia se transforma em uma energia tão br
Pietro Castellane: — Vamos nos casar. Depois de amanhã. As palavras escapam dos meus lábios antes que eu tenha qualquer controle sobre elas, antes que eu consiga pensar no real peso delas. Não foram pensadas. Nem planejadas. Simplesmente... aconteceram. Um impulso. Cru e perigoso. O silêncio que se instala logo depois corta o ar como uma lâmina gelada. Sinto o peso da frase me desabar sobre os ombros, e meu cérebro entra em colapso, paralisado. O que caralho eu acabei de dizer? Por quê? Não importa o quão perdido eu pense estar, a resposta grita na minha mente clara e precisa. Raiva. Raiva de cada maldita palavra que ela disse hoje, me provocando até a beira da insanidade. Do jeito como esse vestido abraça cada maldita curva deliciosa do corpo dela, me tirando o ar. Do batom vermelho nos lábios, tão indecente quanto o gosto que ainda guardo na boca. E, principalmente, do beijo. O mais lascivo, mais carregado de desejo e desafio que já trocamos até agora. Mas não apena
Pietro Castellane:O mundo gira em câmera lenta.Desprevenido, o impacto explode no meu maxilar antes mesmo que eu registre qualquer movimento. Um gancho de direita perfeito, que pelo jeito foi aprimorado ainda mais desde a época da faculdade, de quando treinávamos box juntos.O estalo é seco contra a minha mandíbula, os dentes rangem com força suficiente para fazer minha visão escurecer por um microssegundo.O gosto de sangue invade minha boca, metálico e quente. Meu corpo recua instintivamente, os calcanhares escorregando no piso encerado dois passos para trás. O ar escapa dos meus pulmões num sopro quente, mas não caio. Também não revido.Levanto os olhos e encaro Fernando.Fecho minhas mãos em punhos, eu já esperava por essa reação, só não esperava que esse momento fosse agora.Eles não deveriam descobrir assim.Não dessa forma.Mas agora é tarde demais.— SEU FILHO DA PUTA!Fernando rosna, a voz carregada de ódio, o punho ainda cerrado pronto para bater de novo, os nos dos dedos
Pietro Castellane:O silêncio que se instala após a declaração de Fernanda é tão absoluto que posso ouvir o zumbido insistente do ar-condicionado na parede.Fernando abre a boca, fecha... depois abre de novo. Parece um peixe fora d’água, sufocado pelo ar denso da sala. Seu rosto atravessa todas as fases do luto em questão de segundos — negação, raiva, incredulidade, barganha e... caos.— O quê? — A palavra sai engasgada, como se ele tivesse engolido uma pedra.— Você vai… o quê? — Laura questiona, um olhar surpreso e confuso para Fernanda.— Você enlouqueceu?! — a voz de Fernando explode antes mesmo que Fernanda possa responder à cunhada. — Vai se casar com quem, Fernanda?Ela dá um passo à frente, sem hesitar. Vem até mim em silêncio e, sem dizer uma única palavra, entrelaça seus dedos nos meus. Aperta minha mão com firmeza. Meu olhar se fixa ali, em nossas mãos juntas.— Vamos nos casar, amanhã — fala com firmeza.Fernanda sorrir, seus olhos fixos nos meus, dizem muito mais do que p
Fernanda Castellane:Castellane.Agora eu sou Fernanda Mendonça Castellane.Quantas vezes sonhei com esse dia...Quantas vezes desejei esse sobrenome, silenciosamente, olhando para as estrelas cadentes, acreditando que se fechasse os olhos com força, o universo me ouviria.E agora está feito.Mas não da forma como imaginei.Mas isso não vem ao caso.— Já transferir para sua conta — confirmo, minha voz cortando o silêncio espesso que domina a casa de praia onde nos escondemos.Enquanto todos acreditam que estamos viajando em uma super e chique lua de mel pelo mundo, usando o dinheiro que meus pais guardaram para meu casamento. — Cumprir com a minha parte do acordo.Pietro não responde.Ele continua de costas para mim, concentrado demais em cortar a carne sobre a taboa, para o jantar. A lâmina desliza sobre o alimento, mas o som parece ecoar em meio a tanto silêncio.Meus dedos se entrelaçam no colo, ansiosos. O cheiro do mar invade pela janela aberta, misturando-se ao perfume cítrico d
Pietro Castellane:Entro no quarto com a calma calculada de um predador que sabe, sem sombra de dúvida, que a presa já se rendeu.Fecho a porta atrás de mim. O som seco da fechadura se trancando ecoa como um aviso final: daqui, ninguém sai. Nem ela. Nem eu.Ajoelha bem diante de mim, a menos de um passo de distância.Nua.“Pronta para te servir, marido” As palavras que saíram de sua boca há segundos ainda vibram dentro da minha mente, reverberando como um sussurro sujo e delicioso que atiça cada parte do meu corpo.Fernanda abaixa a cabeça, em submissão e essa atitude envia ondas quentes de fluxo sanguíneo diretamente para o meu pau.As mãos dela entrelaçadas repousando sobre as coxas, tão quietas e obedientes, apenas esperando e esperando, o momento se estende, e não me importo, preciso beber dessa imagem deliciosa.Quantas vezes, em silêncio, no escuro do meu quarto, fantasie exatamente com essa cena? Ela exatamente assim... sem medo, sem hesitação, apenas esperando por mim.Sem ne
Pietro Castellane:— Sabe... — começo, a voz baixa, como um sussurro que roça a pele. — Quando privamos o corpo de um sentido, todos os outros ficam mais alertas.Dou mais um passo ao redor de Fernanda, a observando, a tira de pano vermelho em contraste perfeito com sua pele branca. Seu corpo exposto apenas a minha mercê. — Sua audição fica mais aguçada — sussurro em seu ouvido, deixando meu hálito tocar sua pele. Ela estremece. — O olfato, mais atento. O paladar... mais exigente.Dentro da gaveta do criado mudo ao lado da cama, pego uma garrafa de vinho e o saca rolhas. Fernanda vira o rosto da direção do som, que com certeza está ecoando ainda mais alto que o normal. Abro a garrafa.— Abra a boca — ordeno, minha voz deslizando com firmeza.Céus, a quanto tempo eu não dou uma ordem como essa?Ela obedece sem questionar, os lábios entreabertos, e isso me faz sorrir. Melo meu dedo com o liquido rubro e encosto suavemente contra sua língua. Ela envolve o meu dedo com os lábios, inundand