Fernanda Mendonça:Pietro virou o rosto e, por uma fração de segundo, seu olhar se conectou com o meu. Em um mergulho tão profundo que parece sufocar. E, nesse único segundo, consegui ver a tristeza em seus olhos, antes que ele voltasse seu olhar para Marina.A música cessou, e o tio dela, com um gesto cerimonial, entregou sua mão ao noivo.O som da voz do padre ecoou como um zumbido ensurdecedor. Meu peito apertava, minha garganta ardia, e as lágrimas ameaçavam escapar, todos os sons pareciam distantes e irreais.Não.Eu não iria chorar.Tentei respirar fundo, mas cada inspiração era um lembrete doloroso do que eu estava perdendo.Desviei o olhar.— Eu os declaro marido e mulher, até que a morte os separe.A voz do padre soou como um eco distante, abafada pelo pulsar do meu coração. Minha cabeça gira lentamente, como se o tempo me arrastasse para um pesadelo.Pietro.O grande amor da minha vida.O meu amor proibido.Dez anos mais velho que eu, melhor amigo do meu irmão, o homem que s
Fernanda Mendonça:Ouço o tilintar de um copo. Provavelmente ela está se servindo do uísque que Pietro costuma reservar para visitas importantes, geralmente homens de negócios. O som do líquido sendo despejado ecoa pela sala como uma provocação silenciosa.— Seu pai se esforçou muito para salvar o Vivaz... — a voz de Adélia soa doce demais para o veneno que carrega.— Ele se esforçou pra perder tudo! — Pietro explode, sua voz cortante, carregada de fúria. — Aquele maldito velho viciado.— Ainda assim, é seu pai — ela continua, impassível. — E você está apenas adiando o inevitável. Me escute, Pietro. Eu posso ajudar...— Não quero ouvi-la — Pietro a corta, ríspido.— Mas vai ouvir — o tom dela muda, mais firme, mais cruel. — Você leu o contrato inteiro que o senhor Van Helsing te entregou? Cada cláusula, sem pular nada? Inclusive a parte logo depois do parágrafo que fala que, mesmo na morte, a rede será entregue a ele?Silêncio.Não escuto nenhum resposta, meu coração acelera, eu tento
Pietro Castellane:Puxo a porta num tranco, e de repente, um corpo cai por cima de mim. O susto é instantâneo. Perco o equilíbrio e caio para trás, instintivamente minhas mãos agarram a mulher trazendo-a junto.Minhas costas batem contra o chão num baque mudo, sinto o ar fugir de meus pulmões por um momento, então a sensação dos sedosos fios dourados dela formando uma cortina ao redor do meu rosto, como se o mundo lá fora tivesse desaparecido — e por um segundo, por um instante absurdo e íntimo, acho que estou sonhando. Mas não estou.Fernanda está aqui. Literalmente em cima de mim.O cheiro doce de pêssego preenche meus sentidos. Aquele perfume que, em qualquer outra pessoa, seria enjoativo…, mas nela? Nele existe algo quase viciante, que me da vontade de enfiar meu nariz em seus pescoço, esfregando como se fosse um gato.A respiração dela roça o meu queixo. Seu corpo, quente, macio, encaixa-se ao meu com um desespero inocente. E tudo em mim paralisa.Ela não devia estar aqui. Não a
Pietro Castellane:O silêncio entre nós pesa como uma âncora, afundando tudo ao redor. E, no mesmo instante, o arrependimento me corrói. Eu fui grosso. Estúpido. E com a única pessoa que não merecia isso.— Você... — desvio o olhar, o peito pesado como concreto. — Você não devia estar aqui. Não devia ter escutado nada daquilo.Ela se levanta do sofá lentamente. Por um breve momento, acredito que ela vai simplesmente sair, e a ideia de finalmente ficar sozinho me alivia. Mas esse alívio dura só até ela dar um passo à frente.— Mas eu ouvi, Pietro — sua voz vem firme, e antes que eu possa reagir, seus dedos tocam meu rosto. Ela agarra meu queixo com firmeza, me obrigando a encará-la. Seus olhos estão flamejantes, cheios de tudo o que ela sente... e tudo o que eu fujo.Tento desviar, mas ela não permite.— E ontem... — ela continua, os olhos cravados nos meus, firmes como lâminas. — Ontem eu vi o contrato aberto no seu computador. Li os nomes. Associei tudo com os homens que invadiram o
Pietro Castellane:Ela prende a respiração. Eu sinto. Sinto o corpo dela tenso, em alerta máximo, cada músculo contraído como um animal acuado. Está tentando manter o controle, tentando fingir que pode me enfrentar de igual para igual. Mas o tremor sutil no queixo a denúncia.E eu decido quebrá-la.— Você acha que está pronta pra ser minha esposa?Minha voz desce como uma lâmina fria, calculista. Deixo meus olhos percorrerem seu rosto com uma lentidão cruel— seus lábios entreabertos, o pescoço exposto, o inicio de seus enormes seios, até encontrar novamente seu olhar desafiador.— Você nem faz ideia do que isso significa. Nem imagina o que eu seria capaz de fazer com você se me pertence, Fernanda.— Então me mostra — ela diz, num sussurro corajoso, ainda que a respiração dela denuncie o medo.Um riso seco escapa da minha garganta. Um som sem humor. Sem compaixão.— Você quer que eu te mostre, é? — Minha voz sai grave, carregada de tensão e veneno. Me aproximo até colar o corpo ao dela
Fernanda Mendonça:As lágrimas ainda escorrem quando finalmente chego em casa. Por um milagre não bati meu carro com as vistas embaçadas e o pé no acelerador como nunca fiz antes.Tranco a porta e encosto as costas nela. O silêncio do meu apartamento parece zombar de mim, ampliando tudo o que estou sentindo.Tristeza.Não, pior.Humilhação.Minhas mãos ainda tremem. Não sei se de ódio, de vergonha ou por lembrar do toque dele. Pietro me despiu com palavras afiadas, com gestos que fizeram meu corpo querer gritar e minha alma... encolher, se entregar... tudo ao mesmo tempo.Foi errado.Mas, mesmo querendo parar, eu não queria que parasse.A forma como ele me olhou, como me encostou naquela parede, como sussurrou cada palavra como se quisesse me fazer implodir por dentro. Como me fez acreditar que por um segundo... eu era desejável. Apenas para me jogar de volta ao chão com a frieza de quem mata sem sujar as mãos.Seco as lágrimas com força, como se arrancar a dor com os dedos fosse poss
Fernanda Mendonça:Seus lábios tomam os meus com uma fome quente e indecente, um beijo carregado de luxúria que me consome como fogo. A língua dele invade minha boca com ousadia, explorando cada espaço como se já fosse dele por direito. Um arrepio percorre minha espinha, me fazendo colar ainda mais ao seu corpo.Fecho os olhos e me entrego.Totalmente.Minhas mãos sobem por seu peito até entrelaçarem-se em sua nuca, puxando-o com mais intensidade. Em resposta, ele aperta minha cintura com força, me guiando com possessividade, como se quisesse me moldar ao corpo dele. Sinto o ritmo da música desaparecer ao redor, ficando apenas o som do sangue pulsando nas minhas veias e a pressão da boca dele contra a minha.Tudo fica mais lento. Mais denso.O beijo se torna mais voraz, mais urgente. As mãos dele descem pela lateral do meu corpo, firmes, determinadas, até pararem sobre minha bunda. Ele a segura com força, me puxando com brutalidade contra o quadril dele — e então eu sinto.Seu volume
Fernanda Mendonça:O mundo gira devagar, como se alguém tivesse diminuído a velocidade do tempo.Meus olhos ainda estão fixos em Pietro.O coração martelando contra meu peito, o gosto do beijo ainda preso aos meus lábios, misturado ao gosto metálico do medo. A roda de curiosos começa a se desfazer aos poucos, mas meu corpo continua travado no meio da pista.Tiago é o primeiro a se aproximar. Seus dedos fecham em torno dos meus braços com uma firmeza que deveria ser reconfortante, mas só me faz sentir frágil.— Fernanda... você tá bem? Ele te machucou? — Sua voz sai urgente, trêmula, os olhos passando pelo meu rosto como se procurassem algum sinal de machucado.Contudo, para mim, parece vir de muito longe.Eu tento responder. Realmente tento.Mas antes que qualquer palavra escape dos meus lábios, sou puxada bruscamente para trás com tanta força que quase perco o equilíbrio. Pietro surge como uma tempestade viva, ele agarra o colarinho de Tiago, o encarando de cima de forma ameaçadora.