Pietro Castellane:Não bato.Não aviso.Ignoro os empregados que tentam me abordar.— Você sabia?! — Minha voz explode no cômodo antes mesmo da minha entrada. Bato a porta contra a parede com um estrondo que faz os cristais dos lustres tilintarem.No meses, apenas poucos noves se passaram desde que estive nessa casa pela última vez, para anunciar a gravidez tão esperada de Marina. Na época, eu estava feliz pela felicidade de minha falecida esposa por finalmente realizar o sonho de ter seu próprio filho, então não deixei que as magoas do passado atrapalhassem o momento. Contudo, agora tudo o que sinto ao atravessar a porta dessa casa é uma mistura sufocante de raiva, incredulidade e um ultimo respingo de esperança que ao menos minha mãe não fizesse parte disso.— Boa tarde para você também, Pietro — diz sem me olhar, erguendo a mão com o controle e desligando a televisão com um clique, então pousa a xicara de café na mesa de centro ao lado de sua cadeira de rodas com uma calma irritant
Pietro Castellane:— E isso dá a vocês o direito de jogar minha vida no colo de um agiota de terno? — Rebato, meu maxilar travado.— As coisas no hospital ficaram críticas, Pietro — continua, após segundos de silencio entre nós. — Os vícios de seu pai atingiram valores que só poderíamos pagar se vendêssemos parte da rede, contudo, estávamos sendo roubados, e o valor do hospital despencou de uma forma que jamais pesávamos ser possível.Franzo o cenho, não compreendo suas falas.— Estávamos sendo roubados, os lucros eram adulterados e os verdadeiros sequer estavam sendo um terço do que deveriam, quando encontramos o culpado, ele disse que não tinha como devolver o dinheiro e quando formos da uma lição no ladrão, Miguel apareceu e quem recebeu a lição foi o seu pai, ficou todo quebrado, pela primeira vez eu realmente senti medo de um homem. Precisávamos de uma solução, rápida.— Então foram até Adélia — teorizo, as mãos cerradas. — Me venderam como se eu fosse um ativo sem importância de
Fernanda Mendonça:Nando: “Não envolva a Laura nisso!”Leio a mensagem do meu irmão, enquanto entro no elevador do hospital. Ontem ele fugiu, se recusando a me contar qualquer coisa.Fernanda: “Então me conte, que lista de mulher é essa? Qual o propósito?”Nando: “Isso não é segredo meu para lhe contar”Reviro os olhos e bufo.Fernanda: “Vamos ver se Laura vai pensar assim quando eu contar a ela que você tá selecionado mulheres.”Guardo o celular, e saio do elevador.— Oie, Emile — a cumprimento, pausando os braços sobre o balcão. — Pietro já chegou?— Nanda! — A pequena senhora levanta os olhos do computador, e sorrir, mas logo franze o cenho, os óculos descendo um pouco no nariz enquanto me olha com os olhos semicerrados. — Não deveria estar na faculdade, menina?Dou um sorriso nervoso, desviando o olhar por um instante. Meus dedos se entrelaçam, ansiosos, sob o balcão.— Sim... deveria, mas... eu preciso falar com o Pietro… é… um assunto urgente.Emile arqueia um sobrancelha, mordo
Fernanda Mendonça:Pietro virou o rosto e, por uma fração de segundo, seu olhar se conectou com o meu. Em um mergulho tão profundo que parece sufocar. E, nesse único segundo, consegui ver a tristeza em seus olhos, antes que ele voltasse seu olhar para Marina.A música cessou, e o tio dela, com um gesto cerimonial, entregou sua mão ao noivo.O som da voz do padre ecoou como um zumbido ensurdecedor. Meu peito apertava, minha garganta ardia, e as lágrimas ameaçavam escapar, todos os sons pareciam distantes e irreais.Não.Eu não iria chorar.Tentei respirar fundo, mas cada inspiração era um lembrete doloroso do que eu estava perdendo.Desviei o olhar.— Eu os declaro marido e mulher, até que a morte os separe.A voz do padre soou como um eco distante, abafada pelo pulsar do meu coração. Minha cabeça gira lentamente, como se o tempo me arrastasse para um pesadelo.Pietro.O grande amor da minha vida.O meu amor proibido.Dez anos mais velho que eu, melhor amigo do meu irmão, o homem que s
Fernanda Mendonça:Ouço o tilintar de um copo. Provavelmente ela está se servindo do uísque que Pietro costuma reservar para visitas importantes, geralmente homens de negócios. O som do líquido sendo despejado ecoa pela sala como uma provocação silenciosa.— Seu pai se esforçou muito para salvar o Vivaz... — a voz de Adélia soa doce demais para o veneno que carrega.— Ele se esforçou pra perder tudo! — Pietro explode, sua voz cortante, carregada de fúria. — Aquele maldito velho viciado.— Ainda assim, é seu pai — ela continua, impassível. — E você está apenas adiando o inevitável. Me escute, Pietro. Eu posso ajudar...— Não quero ouvi-la — Pietro a corta, ríspido.— Mas vai ouvir — o tom dela muda, mais firme, mais cruel. — Você leu o contrato inteiro que o senhor Van Helsing te entregou? Cada cláusula, sem pular nada? Inclusive a parte logo depois do parágrafo que fala que, mesmo na morte, a rede será entregue a ele?Silêncio.Não escuto nenhum resposta, meu coração acelera, eu tento
Pietro Castellane:Puxo a porta num tranco, e de repente, um corpo cai por cima de mim. O susto é instantâneo. Perco o equilíbrio e caio para trás, instintivamente minhas mãos agarram a mulher trazendo-a junto.Minhas costas batem contra o chão num baque mudo, sinto o ar fugir de meus pulmões por um momento, então a sensação dos sedosos fios dourados dela formando uma cortina ao redor do meu rosto, como se o mundo lá fora tivesse desaparecido — e por um segundo, por um instante absurdo e íntimo, acho que estou sonhando. Mas não estou.Fernanda está aqui. Literalmente em cima de mim.O cheiro doce de pêssego preenche meus sentidos. Aquele perfume que, em qualquer outra pessoa, seria enjoativo…, mas nela? Nele existe algo quase viciante, que me da vontade de enfiar meu nariz em seus pescoço, esfregando como se fosse um gato.A respiração dela roça o meu queixo. Seu corpo, quente, macio, encaixa-se ao meu com um desespero inocente. E tudo em mim paralisa.Ela não devia estar aqui. Não a
Pietro Castellane:O silêncio entre nós pesa como uma âncora, afundando tudo ao redor. E, no mesmo instante, o arrependimento me corrói. Eu fui grosso. Estúpido. E com a única pessoa que não merecia isso.— Você... — desvio o olhar, o peito pesado como concreto. — Você não devia estar aqui. Não devia ter escutado nada daquilo.Ela se levanta do sofá lentamente. Por um breve momento, acredito que ela vai simplesmente sair, e a ideia de finalmente ficar sozinho me alivia. Mas esse alívio dura só até ela dar um passo à frente.— Mas eu ouvi, Pietro — sua voz vem firme, e antes que eu possa reagir, seus dedos tocam meu rosto. Ela agarra meu queixo com firmeza, me obrigando a encará-la. Seus olhos estão flamejantes, cheios de tudo o que ela sente... e tudo o que eu fujo.Tento desviar, mas ela não permite.— E ontem... — ela continua, os olhos cravados nos meus, firmes como lâminas. — Ontem eu vi o contrato aberto no seu computador. Li os nomes. Associei tudo com os homens que invadiram o
Pietro Castellane:Ela prende a respiração. Eu sinto. Sinto o corpo dela tenso, em alerta máximo, cada músculo contraído como um animal acuado. Está tentando manter o controle, tentando fingir que pode me enfrentar de igual para igual. Mas o tremor sutil no queixo a denúncia.E eu decido quebrá-la.— Você acha que está pronta pra ser minha esposa?Minha voz desce como uma lâmina fria, calculista. Deixo meus olhos percorrerem seu rosto com uma lentidão cruel— seus lábios entreabertos, o pescoço exposto, o inicio de seus enormes seios, até encontrar novamente seu olhar desafiador.— Você nem faz ideia do que isso significa. Nem imagina o que eu seria capaz de fazer com você se me pertence, Fernanda.— Então me mostra — ela diz, num sussurro corajoso, ainda que a respiração dela denuncie o medo.Um riso seco escapa da minha garganta. Um som sem humor. Sem compaixão.— Você quer que eu te mostre, é? — Minha voz sai grave, carregada de tensão e veneno. Me aproximo até colar o corpo ao dela