Fernanda Mendonça:Minha cabeça lateja impiedosamente. A dor pulsante atrás dos olhos me faz espremê-los com força antes mesmo de abri-los. Cada pulsação me lembra exatamente do porque eu odeio beber. Meu corpo está pesado, e o simples ato de abrir os olhos parece um esforço sobre-humano.Que inferno!Solto um gemido baixo, esfregando o rosto com a palma da mão. Meu estômago se revira, e o gosto amargo impregnado na boca me faz desejar nunca mais encostar em uma gota de álcool pelo resto da vida.Com um suspiro profundo, finalmente forço meus olhos a se abrirem. A luz suave filtrada pelas cortinas me faz piscar várias vezes, enquanto tento organizar os pensamentos.O problema é que... algo não está certo.A cama é macia, os lençóis são fofos, mas... o cheiro não é nem um pouco familiar.Este não é o meu quarto!Meu coração dispara, e eu me sento num rompante, apenas para me arrepender no mesmo instante. A dor latejante me faz recostar com um gemido, e minha visão se embaralha perigosam
Fernanda Mendonça:Minha vergonha ainda está impregnada em cada célula do meu corpo quando desço as escadas para o andar de baixo.O cheiro de café e torradas invade minhas narinas, despertando meu estômago, que ronca em protesto, evidenciando que não comi nada desde meio dia de ontem, apenas enchi minha cara com bebida cara, me afogando na frustração e solidão.E agora estou aqui.Respiro fundo ao chegar na sala de jantar e paro na porta, hesitante.Pietro está sentado à mesa, segura o celular com uma das mãos enquanto bebe café na xícara, completamente tranquilo, como se eu não tivesse acordado só de lingerie na casa dele.Como se nada fora do comum tivesse acontecido.Aperto os dedos uns contra os outros, entrelaçando as mãos na frente do corpo. Não tenho coragem de me aproximar mais do que isso.Na verdade, o que eu quero mesmo é sumir.Pietro levanta os olhos calmamente, seus olhos perfurando os meus. O olhar dele é relaxado. Totalmente diferente do meu.— Sente-se — sua voz soa
Pietro Castellane: O silêncio dentro do carro é quase palpável. Fernanda está sentada ao meu lado, os dedos entrelaçados apertando-se com tanta força que as pontas dos dedos dela estão brancas. Ela está nervosa, e eu não posso culpá-la. Depois da noite que tivemos — ou melhor, da noite que ela não se lembra — é natural que ela esteja se sentindo desconfortável. E o pior, é que eu acho que ela fica uma gracinha quando está assim. Em uma rápida olhada pelo espelho retrovisor, a vejo mordendo o lábio rosado, sua perna b**e levemente. Ansiosa, com certeza ela está doida para que cheguemos logo na faculdade. — Como vai indo a sua faculdade? — Pergunto, quebrando o silêncio. Olho para ela rapidamente pelo canto do olho, observando seu perfil por apenas um segundo, antes de voltar a atenção para a estrada. Ela se sobressalta levemente com a pergunta, como se não esperasse que eu falasse com ela. — Be-bem — ela responde, a voz trêmula. — Vai indo bem — Bom — eu digo, tentando manter o t
Fernanda Mendonça:O som do meu nome e as risadas atrás da porta do vestiário feminino do hospital me fazem paralisar com a mão sobre a maçaneta.Por que eu deveria estar surpresa? Quando foi que eu não fui tópico de fofoca aqui dentro e em outros lugares?Mas ainda assim, a cada riso e palavra, machuca.— Ka, foi verdade que a Mendonça quase matou o filho do CEO? — Uma voz questiona entre os riso, a conversa agora se tornando mais séria.Meu estômago se revira e o peito aperta.— Sim — Karina responde. — Mas, ouvi dizer que ela será expulsa.— Ainda bem, não aguentava mais trabalhar com alguém como ela — ecoa outra voz.— Eu ouvi rumores na faculdade que ela não é qualquer uma — fala um terceira voz baixa, quase conspiratória.— E quem ela séria? — Karina questiona.— Filha única de Artur Mendonça.Sinto um frio na espinha.Não, não tragam meu pai para isso.— O estilista mais talentoso da Mendonça Designs? — Outra voz ressoa por trás da porta.— Fundador e CEO da empresa.— Ah, por
Fernanda Mendonça:O silêncio pesa sobre a sala, interrompido apenas pelo leve zumbido do ar-condicionado gelando não apenas o ambiente.Meus olhos se estreitam enquanto encaro os equipamentos espalhados sobre a grande mesa redonda à minha frente. Cada item parece me desafiar: seringas ainda embaladas, tubos de coleta, algodão, estetoscópio, esfigmomanômetro, luvas descartáveis repousando ao perto de um monitor cardíaco portátil... tudo disposto de forma impecável, levo a mão e sinto o frio metálico dos eletrodos do monitor.— O... o que...? Pra que são...? — Tento perguntar, mas minha voz falha antes que eu consiga formular qualquer frase coerente.— Pratique em mim.As palavras de Pietro me pegam completamente de surpresa, quase que os eletrodos caem de minhas mãos.— O quê? — Pergunto, como se não tivesse ouvido direito.Ele cruza os braços e inclina a cabeça levemente, como se minha surpresa fosse desnecessária.— Você precisa melhorar com os pacientes, vai treinar em mim.Sinto o
Fernanda Mendonça:— Você precisa abrir o restante — a fala de Pietro me faz arregalo os olhos no mesmo instante, meu coração acelera de uma forma que mais parece querer sair. — É parte do procedimento, não é?Tento ignorar o rubor que sinto subir pelo meu pescoço, eu tinha conseguido controlar o tremor em minhas mãos até ele jogar tudo por água abaixo com sua fala.— Cla-claro, sim… é, é parte do procedimento — murmuro, mais para mim mesma do que para ele.Com as mãos trêmulas, deslizo os dedos pelos botões restantes, abrindo a camisa dele devagar. A cada botão que desfaço revela mais pele. Conforme a peça se abre, minha visão é preenchida pelo tórax dele — firme, definido, com músculos que parecem esculpidos. Minha boca fica seca, e sinto o meu rosto começar a esquentar.Droga!Agora além de controlar o nervosismo que faz minhas mãos tremerem, também tenho que segurar a enorme vontade de tocar a pele exposta, de senti a textura com os meus dedos.— Algum problema? — A voz dele é ca
Fernanda Mendonça: O silêncio entre nós se estende, denso como névoa, carregado de algo pesado e impossível de ignorar. O nervosismo pulsa sob minha pele, uma mistura de ansiedade e desejo que mal consigo controlar.Cada segundo parece congelado no espaço entre nós, intensificando a sensação de algo prestes a acontecer, como um silêncio carregado de expectativas.Não consigo me mover.Encaro Pietro, minha mente numa batalha entre o desejo intenso que arde no meu peito e a voz da razão me lembrando da realidade que nos separa. Não consigo decidir se quero correr para ele ou fugir dessa sala imediatamente.Apenas fico ali, congelada, hipnotizada por seus olhos castanhos tão claros quanto mel, enquanto nossos olhares se arrastam lentamente dos olhos um do outro para algo ainda mais tentador.A boca.O olhar dele desliza da minha boca para os meus olhos e volta para a boca, repetidas vezes, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. E isso me deixa em um estado de alerta quase in
Pietro Castellane:O som do nome de Fernanda saindo da boca de Débora provoca um gosto amargo em minha língua e intensifica ainda mais minha irritação já latente.— Não esperava ver Fernanda hoje aqui novamente, achei que tivesse a dispensado ontem... — Débora fala com um sorriso calculado, e eu percebo imediatamente o tom provocador em sua voz.— Não dispensei — respondo, seco, sem espaço para interpretação.Ela se remexe na cadeira, visivelmente incomodada. Seu olhar passa rapidamente pelos equipamentos na mesa -onde estava com Fernanda minutos antes- e retorna para mim, sustentando uma postura aparentemente calma, embora seus dedos tamborilem discretamente contra a cadeira.— Pietro, eu só queria garantir que a equipe estivesse operando com eficiência — seu tom é cuidadoso, quase calculado, mantendo uma postura aparentemente impecável. — Sei o quão generoso você é, mas você sabe que eu sempre coloco os paciente em primeiro lugar, e até você precisa admitir que a Fernanda comete erro