Pietro Castellane:O som do nome de Fernanda saindo da boca de Débora provoca um gosto amargo em minha língua e intensifica ainda mais minha irritação já latente.— Não esperava ver Fernanda hoje aqui novamente, achei que tivesse a dispensado ontem... — Débora fala com um sorriso calculado, e eu percebo imediatamente o tom provocador em sua voz.— Não dispensei — respondo, seco, sem espaço para interpretação.Ela se remexe na cadeira, visivelmente incomodada. Seu olhar passa rapidamente pelos equipamentos na mesa -onde estava com Fernanda minutos antes- e retorna para mim, sustentando uma postura aparentemente calma, embora seus dedos tamborilem discretamente contra a cadeira.— Pietro, eu só queria garantir que a equipe estivesse operando com eficiência — seu tom é cuidadoso, quase calculado, mantendo uma postura aparentemente impecável. — Sei o quão generoso você é, mas você sabe que eu sempre coloco os paciente em primeiro lugar, e até você precisa admitir que a Fernanda comete erro
Pietro Castellane:— Por causa dos boatos que estão correndo soltos pelo hospital — sua voz carrega uma nota de diversão. — E, depois de vê-lo se encontrando com várias mulheres nos últimos dias, comecei a acreditar que havia um fundo de verdade nisso.Respiro fundo, sentindo um leve cansaço se espalhar pelos meus ombros.— As pessoas nesse hospital deveriam se preocupar mais em salvar vidas do que em espalhar fofocas.Débora inclina a cabeça levemente para o lado, me observando como se estivesse avaliando minha resposta.— Talvez — seus olhos brilham com algo que parece confiança. — Mas não estou interessada nos boatos. Estou interessada em você.Minha mandíbula se aperta ainda mais.— E, supondo que fosse verdade... O que te faz pensar que você é a melhor opção?Débora se inclina levemente para frente, apoiando os cotovelos sobre a mesa. Sua postura exala confiança, seu olhar preso ao meu, avaliando cada mínimo detalhe da minha reação.— Posso oferecer exatamente o que você precisa,
Fernanda Mendonça:Estaciono o carro na garagem dos meus pais, e solto um longo suspiro antes de desligar o motor. Uma semana. Sete dias me esquivando, evitando cruzar olhares, mantendo conversas superficiais...Seguro o volante com força, preciso criar coragem... Hoje é o aniversário dos gêmeos. Um dia de festa, de família e amigos reunidos... não posso correr como uma covarde, fugindo com o rabinho entre as pernas e me esconder onde ninguém possa me ver.O encontro hoje é inevitável.Engulo seco só de pensar nele, não consigo controlar as reações em meu sistema por saber que logo estarei cara a cara com ele.Desde o beijo – o melhor já experimentei –, tudo ficou estranho entre nós. Se estivéssemos no mesmo lugar, eu ou ele arrumávamos desculpas para sair. Eu era quem mais arrumava, pois está perto dele só me fazia relembrar e ansiar por repetir aquele beijo.Ao entrar na casa, sou recebida por uma enxurrada de anergia infantil. E antes mesmo de eu dar um passo, dois pequenos furacõe
Fernanda Mendonça:— Nanda, que bom que chegou!A voz animada do meu irmão me tira dos pensamentos. Fernando entra na sala, carregando pequenas mesas dobráveis. Ele as coloca no chão com um suspiro e logo se aproxima, me envolvendo em um abraço apertado.— Estava demorando, hein?— Tive que apresentar um trabalho na faculdade antes de vim, fui a última — respondo, tentando, sem sucesso, ignorar a presença de Pietro na sala.— Entendo —um olhar nostálgico passar por seus olhos por um breve momento. — No meu tempo de faculdade também era assim, corrido.Ele sorri, e por um instante, eu o observo. A mudança nele ainda me surpreende. Fernando não é mais aquele homem sombrio e fechado, que após algumas tentativas falhas de suicídio espalhou frieza e grosseria para todos, três anos após a tragédia do seu primeiro casamento — um assunto proibido dentro da nossa família.Agora, há luz em seus olhos, uma serenidade que antes não existia. E tudo isso graças a Laura. Minha cunhada foi um raio de
Fernanda Mendonça:Subo as escadas atrás de Pietro, observando-o alguns degraus à minha frente. Ele se move com a mesma confiança de sempre, sem hesitação. Diferente de mim, que luto para manter meus pensamentos longe do turbilhão que me envolve, ignorando o silêncio espesso entre nós.— Você está se saindo muito bem — Pietro quebra o silêncio, sua voz suave, me pegando de surpresa. — No Vivaz, elogios de você chegaram até mim.Eu paro por um instante, olhando para as costas largas dele enquanto ele continua subindo. Ele sabe. Claro que sabe. Pietro sempre sabe tudo o que acontece no hospital. Mas ouvir isso dele, mesmo que de forma indireta, me faz sentir um calor estranho no rosto.— Eu tive um excelente instrutor — respondo, um pequeno sorriso se esticando nos meus lábios antes que eu possa controlá-lo.Mesmo sendo assombrada pelo efeito devastador do beijo de Pietro, suas instruções de antes me ajudaram a manter a calma e a fazer os procedimentos com mais confiança. E, não posso n
Pietro Castellane: Os olhos dela? Uma tentação perigosa. Os lábios? Um convite silencioso, impossível de ignorar. Uma tortura disfarçada de promessa. Eu deveria me afastar. Deveria ignorar o que seu toque desperta em mim. Mas os dedos pequenos e quentes sobre os meus são como correntes invisíveis, me prendendo a ela. E, de alguma forma, seu toque é o único consolo permitido em e meio a tormenta. Minha mão desliza lentamente para sua nuca, enterrando-se nos fios dourados e sedosos de seu cabelo. A lembrança do nosso beijo na minha sala se projeta como um filme na minha mente, e minha boca saliva só de revivê-lo. Passei a semana inteira relembrando. Ansiando. Me recusando a aceitar o beijo de qualquer outra enquanto tinha que ver de longe o alvo do meu desejo de gracinha e risinhos com outro homem, tendo que conter a fera enraivecida dentro de mim. Vê-la agindo como se realmente não tivesse acontecido nada entre a gente. Como se ela não tivesse me marcado e me est
Pietro Castellane:Merda.A situação é constrangedora, para dizer o mínimo. Meu cérebro trabalha a mil, buscando uma saída, qualquer coisa que desvie a atenção do meu melhor amigo. Fernanda continua pálida, imóvel a minha frente, tentando se esconder atrás de mim, os olhos arregalados, quase sem respirar.Eu preciso reagir. Rápido.— As lembrancinhas que a Laura mandou buscar também não estão aqui — falo, forçando a minha voz a sair o mais natural possível, mesmo que por “dentro” – e pelo meu pau- esteja despedaçado pelo desejo latente que ainda pulsa entre nós.Meu melhor amigo me encara por um segundo a mais do que deveria. Como se sentisse que há algo errado. Como se estivesse tentando decifrar o que diabos aconteceu nesse quarto antes de ele entrar.Ele não pode saber.Não pode nem sequer imaginar o que acabei de fazer com amada irmãzinha dele.Se ele sonhasse… não, se ele desconfiasse…Ele me mataria sem hesitação. E se não me matasse, certamente me castraria. E, honestamente?
Fernanda Mendonça:Enfim, sexta-feira finalmente chegou. Meus pés doem a cada passo em que entro dentro do meu apartamento. Largo a mochila no aparador e coloco meu celular em cima da mesinha de vidro no centro da sala antes de me jogar no sofá, como se meu corpo fosse feito de pedra, exausta não pelo trabalho, mas de fingir que está tudo bem.Três dias.Setenta e duas horas desde que Pietro realizou meu sonho e me beijou.Desde que me tocou daquele jeito…Minha respiração treme só de lembrar. O calor de suas mãos deslizando pelo meu corpo, o aperto firme em minha cintura, a forma como sua boca tomou a minha como se estivesse faminto, de sua língua dominando a minha, como se quisesse até o último resquício de ar me deixando de pernas bambas… Como se me quisesse tanto quanto eu o quero.Da forma como ele me fez sentir viva, desejada, importante. E então...Me rejeitou.Duas vezes!“Isso não vai acontecer de novo” — a voz dura dele ecoa novamente em minha mente, me fazendo reviver o mom