Fernanda Mendonça:Subo as escadas atrás de Pietro, observando-o alguns degraus à minha frente. Ele se move com a mesma confiança de sempre, sem hesitação. Diferente de mim, que luto para manter meus pensamentos longe do turbilhão que me envolve, ignorando o silêncio espesso entre nós.— Você está se saindo muito bem — Pietro quebra o silêncio, sua voz suave, me pegando de surpresa. — No Vivaz, elogios de você chegaram até mim.Eu paro por um instante, olhando para as costas largas dele enquanto ele continua subindo. Ele sabe. Claro que sabe. Pietro sempre sabe tudo o que acontece no hospital. Mas ouvir isso dele, mesmo que de forma indireta, me faz sentir um calor estranho no rosto.— Eu tive um excelente instrutor — respondo, um pequeno sorriso se esticando nos meus lábios antes que eu possa controlá-lo.Mesmo sendo assombrada pelo efeito devastador do beijo de Pietro, suas instruções de antes me ajudaram a manter a calma e a fazer os procedimentos com mais confiança. E, não posso n
Pietro Castellane: Os olhos dela? Uma tentação perigosa. Os lábios? Um convite silencioso, impossível de ignorar. Uma tortura disfarçada de promessa. Eu deveria me afastar. Deveria ignorar o que seu toque desperta em mim. Mas os dedos pequenos e quentes sobre os meus são como correntes invisíveis, me prendendo a ela. E, de alguma forma, seu toque é o único consolo permitido em e meio a tormenta. Minha mão desliza lentamente para sua nuca, enterrando-se nos fios dourados e sedosos de seu cabelo. A lembrança do nosso beijo na minha sala se projeta como um filme na minha mente, e minha boca saliva só de revivê-lo. Passei a semana inteira relembrando. Ansiando. Me recusando a aceitar o beijo de qualquer outra enquanto tinha que ver de longe o alvo do meu desejo de gracinha e risinhos com outro homem, tendo que conter a fera enraivecida dentro de mim. Vê-la agindo como se realmente não tivesse acontecido nada entre a gente. Como se ela não tivesse me marcado e me est
Pietro Castellane:Merda.A situação é constrangedora, para dizer o mínimo. Meu cérebro trabalha a mil, buscando uma saída, qualquer coisa que desvie a atenção do meu melhor amigo. Fernanda continua pálida, imóvel a minha frente, tentando se esconder atrás de mim, os olhos arregalados, quase sem respirar.Eu preciso reagir. Rápido.— As lembrancinhas que a Laura mandou buscar também não estão aqui — falo, forçando a minha voz a sair o mais natural possível, mesmo que por “dentro” – e pelo meu pau- esteja despedaçado pelo desejo latente que ainda pulsa entre nós.Meu melhor amigo me encara por um segundo a mais do que deveria. Como se sentisse que há algo errado. Como se estivesse tentando decifrar o que diabos aconteceu nesse quarto antes de ele entrar.Ele não pode saber.Não pode nem sequer imaginar o que acabei de fazer com amada irmãzinha dele.Se ele sonhasse… não, se ele desconfiasse…Ele me mataria sem hesitação. E se não me matasse, certamente me castraria. E, honestamente?
Fernanda Mendonça:Enfim, sexta-feira finalmente chegou. Meus pés doem a cada passo em que entro dentro do meu apartamento. Largo a mochila no aparador e coloco meu celular em cima da mesinha de vidro no centro da sala antes de me jogar no sofá, como se meu corpo fosse feito de pedra, exausta não pelo trabalho, mas de fingir que está tudo bem.Três dias.Setenta e duas horas desde que Pietro realizou meu sonho e me beijou.Desde que me tocou daquele jeito…Minha respiração treme só de lembrar. O calor de suas mãos deslizando pelo meu corpo, o aperto firme em minha cintura, a forma como sua boca tomou a minha como se estivesse faminto, de sua língua dominando a minha, como se quisesse até o último resquício de ar me deixando de pernas bambas… Como se me quisesse tanto quanto eu o quero.Da forma como ele me fez sentir viva, desejada, importante. E então...Me rejeitou.Duas vezes!“Isso não vai acontecer de novo” — a voz dura dele ecoa novamente em minha mente, me fazendo reviver o mom
Pietro Castellane:Duas semanas...Duas semanas inteiras se passaram desde que senti o gosto doce e quente de Fernanda em meus lábios, da maciez de sua pele contra meus dedos. Da sensação da sua língua incialmente tímida ganhando mais ousadia a cada instante me invadindo e explorando enquanto seu corpo se encaixava ao meu, como se fosse a coisa mais certa do mundo. É uma lembrança tão vivida que não importa o que eu faça, não importa o quanto eu beba, não consigo apagar.É notório para qualquer pessoa a mudança em Fernanda, ela já não treme mais quando precisa enfiar uma agulha nas crianças, não se atrapalha mais em suas palavras ao ser abordada por um superior.Me sinto muito orgulhoso por ela.Mas, a frustração vem na mesma medida.Duas semanas que ela aceitou a minha decisão, e manteve distância de mim, não mais me olhando do que um segundo exato, sendo extremamente profissional impecável, sem demonstrar um único traço da mulher quente e emotiva, que correspondeu ao meu beijo, que
Fernanda Mendonça:— Naninha, quer segurá-lo também?Minha respiração falha e meus olhos se arregalam enquanto o meu coração começa a bater tão forte que sinto que ele pode saltar a qualquer instante do meu peito.Minhas mãos são tomadas por um leve tremor.Eu devo ter ouvido errado.Sem conseguir evitar, olho ao redor, encontrando todos na sala me encarando com as sobrancelhas arqueadas e as bocas levemente abertas.Débora.As estagiárias.Todas ouviram.Estão chocadas e me encaram como se estivessem testemunhado a coisa mais proibida do mundo.Ele não apenas me chamou pelo apelido que só ele usa… Pietro me convidou para compartilhar esse momento com ele, na frente de todo mundo – aqui dentro.Engulo em seco, minhas mãos suam e sinto meu rosto queimar, por um instante, penso em recusar. Em dizer que isso é um erro. Que já ultrapassamos limites demais.Mas então, meus olhos voltam para ele.Vejo as marcas das lágrimas que ele deixou escorrer por seu rosto tamanha foi sua emoção.A ang
Fernanda Mendonça:O hospital está mais movimentado do que o normal essa tarde, as vozes altas e até algumas animadas, e eu me pergunto se é apenas a rotina caótica de sempre ou se sou eu quem está com a paciência mais curta.Cruzo o corredor em direção à cantina, absorvida demais nos meus próprios pensamentos vagando entre a alegria por Pietro ter agido como agiu, e também angustia.Não posso negar o quão tocada e feliz estou, por ele ainda me olhar como alguém importante. Mas, eu não queria que as pessoas soubessem que éramos tão próximos, ou já fomos tão próximos, não queria que tivessem mais munição contra mim.— Ei, Nanda! — paro de andar reconhecendo atrás de mim.Viro o rosto e encontro Tiago caminhando em minha direção, apesar do sorriso, sua feição parece um tanto exausto.— Oi, Ti! — sorrio, ao menos a companhia dele não me estressa. Ele finalmente me alcança. — Como estão as coisas na sua ala?Ele solta um suspiro dramático, coisa rara de vê-lo fazendo, já que está sempre d
Pietro Castellane:As portas do meu escritório se abrem com violência, batendo contra a parede com um estrondo que ecoa pela sala como um trovão. O som é tão abrupto que faz com que eu levante os olhos da pilha de papéis sobre minha mesa, as mãos pousando instintivamente sobre a superfície da madeira polida.— Senhor, já disse que não pode entrar! — A voz de Emilie ecoa alterada, quase desesperada, enquanto ela tenta, em vão, impedir o avanço do intruso. — Saia por educação antes que eu chame os seguranças!Mas o homem a ignora completamente. Ele é alto, imponente, vestindo um terno preto impecável que parece ter sido cortado sob medida para destacar sua postura dominante. Seus passos são firmes, calculados, como se estivesse desfilando em um território que já considerava seu. O olhar gelado que ele lança para Emilie é suficiente para fazê-la tremer, e ela recua, os olhos arregalados, como se tivesse sido confrontada por uma força maior do que ela poderia suportar.— Saia do meu camin