Não sabia exatamente o que pensar ante as palavras de Ramires. Senti medo, afinal a fisionomia dele estava de certo modo bem mais preocupada do que o habitual.
— Diga logo, Ramires. Quem mais está por trás disso?
— Venha comigo. Dakota vai te contar.
Foram mais alguns minutos de ansiedade até chegarmos à sala de interrogatório. Sentia minha respiração ofegante. Antes de entrar, olhei Dakota pelo vidro, estava completamente diferente das vezes que eu a tinha visto. Sua maquiagem pesada estava completamente borrada, seus olhos, perdidos no nada, estava despenteada e era nítido seu nervosismo. Entrei com Ramires e fiquei frente a frente com a mulher que havia matado meus pais, Brad, tentado me matar por mais de uma vez, e sequestrado Li. Não pude segurar o ódio:
— Por que, Dakota? É a única pergunta que eu tenho pra te fazer... Por quê?
Cheguei com Charlie ao hotel, sem saber exatamente por onde começaria a conversa. Sinceramente, não gostaria de ter que falar sobre o envolvimento de sua mãe naquilo tudo, mas era preciso. Como ser prático com um assunto desses? Eu não me sentia muito apto para aquilo, era muito mais fácil lidar com a razão do que com sentimentos. Nunca fui muito bom com isso.Chegamos ao quarto, Helen assistia desenho animado com Li. Olhou e logo notou que minha feição era de preocupação:— Aconteceu alguma coisa, Matt?— Muitas coisas, Helen... Precisamos conversar. Charlie, leva a Li para tomar um sorvete no restaurante do hotel?— Claro! Vamos, Li?— Quem é esse menino, tio Matt?— Esse é um bom menino, Li. Pode chamá-lo de tio Charlie.— Oba! Vou tomar sorvete com o tio Charlie! Viva!Dei um sorriso e perceb
Sei que todos torcem por um final feliz... Mas muitas coisas aconteceram, e tive a certeza de que nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos... A essa altura, acho que cheguei até a entender um pouco Peter Donovan.Depois de tudo esclarecido, Dakota presa e Katerine morta, tomei todas as providências para que Charlie tivesse o que era dele por direito. Fizemos um exame de DNA e constatamos que ele era de fato meu irmão.Continuei empresariando sua carreira. Charlie se tornou um astro internacional, assim como eu esperava que fosse desde o início. Aqueles fatos funestos não nos afastaram, pelo contrário, foi bom saber que tinha um irmão. Tornamo-nos íntimos e muito unidos.A partir da explosão da carreira dele, fui adiante com a decisão de passar para Helen a presidência da metalúrgica, assim como já havíamos conversado. Ela havia topado, e depois de alguns
Não saímos juntos naquela tarde... Assim que decidi que iria vender as ações da metalúrgica, Helen resolveu ficar sozinha.Não pensem que sou insensível ou coisa assim, sei que Helen adorava o trabalho dela, assim como eu adoro o meu, mas como eu já disse, quando propus que ela ficasse à frente dos negócios da metalúrgica, nunca imaginei que isso teria uma importância maior do que nós dois. Sei que presidir uma empresa daquele porte exigia muito tempo, assim como gerenciar a carreira de Charlie... Não estava sendo egoísta, apenas queria Helen comigo. Nós tínhamos muito dinheiro, não era necessário que ela estivesse tanto tempo longe de mim.Ela me pediu que saísse do quarto, estava com dor de cabeça e queria ficar sozinha. Eu abaixei meu olhar, suspirei fundo e saí... Saí mesmo. Subi na moto e comecei a pilotar
Fiquei sentado em minha cama, olhando aquele pedaço de papel dobrado, imaginando o que mais poderia haver ali... Tudo o que eu sentia já havia sido triturado como lixo em um caminhão. Mas o que mais me incomodava naquele momento era não conseguir discernir os meus sentimentos. Era um misto de amor e ódio, e até aquele momento, não tinha ideia de quanto os dois podiam estar unidos de uma forma tão perfeita. Como dois sentimentos tão opostos podem estar tão ligados? Não sei, mas estavam... O fato de Helen ter me contado tudo sem que eu desse o primeiro passo de certa forma foi um atenuante para a situação... Ela poderia negar tudo e me manipular, como havia feito até aquele momento, mas não... Ela nem sabia da conversa que eu havia tido com Charlie, não tinha como saber...A carta deslizava entre meus dedos enquanto eu resolvia se me deixaria levar ou não pelas
Matthew Donovan, um homem de vinte e cinco anos de idade, nascido em Minnesota, na cidade de Saint Paul, um lugar de pessoas solícitas e simpáticas. Costumam dizer que as pessoas de lá têm um estilo “Minnesota nice” de ser. Matt é muito bonito: um metro e noventa de altura, cabelos castanhos claros, lisos e ligeiramente longos, olhos verdes, um corpo de tirar o fôlego de qualquer garota. Filho único de Giovana e Peter Donovan e, de certa forma, rico. Por que de certa forma? Como ele mesmo costumava dizer: “O dinheiro é dos meus pais, não meu!” Nunca se sentiu confortável, depois de certa idade, em usufruir de todo o conforto que tinha em sua casa, até hoje não sabe exatamente explicar o motivo disso... Tinha de tudo, mas não se sentia dono de nada.Sempre foi rodeado de atenção enquanto era pequeno, cercado por todos os mimos, e quando adoles
Quando entrei pelo portão, foi do mesmo jeito que saí, com a mesma loucura e insensatez, a diferença é que naquele dia havia um cerco policial em volta da casa. Não conseguia ainda assimilar o ocorrido, sentia-me mal. O fato de ter me afastado completamente de meus pais durante anos me deixava desconfortável, vez ou outra. Ser quem eu sou, pensar como eu penso sempre foi quase incompreensível para a maioria das pessoas. Não consigo ver as coisas com a naturalidade que os outros veem, e minha família estava envolvida nesse meu jeito de enxergar o mundo, não tinha nada a ver comigo... Todos aqueles presentes, mimos e cobranças ridículas me afastaram cada vez mais deles. Nunca me deixei levar por riqueza e poder, para mim, o mais precioso sempre foi a liberdade. Liberdade de ser quem sou, falar o que penso, fazer o que gosto. Isso nunca combinou com o nome da família, e por isso me afastei. Jamai
Estava meio confuso quanto a tudo, queria resolver tudo sozinho, mas, para ser bem sincero, não tinha ideia de por onde deveria começar... Não podia ser um simples enterro, afinal, meus pais pertenciam às altas rodas da sociedade.Tentei fazer tudo da melhor maneira possível, algo tão grandioso quanto o nome da família... Meu Deus, quanto pesa um nome? A futilidade daquilo me incomodava profundamente, seria tão mais simples enterrá-los com uma pequena cerimônia apenas para a família... Mas que família? Irmãos, cunhados, sobrinhos... Há muito todos haviam se afastado devido ao orgulho e arrogância de meus pais. Muitas vezes me perguntei o que restava além das letras juntas que formavam a palavra Donovan... Nada restou, a não ser interesses financeiros, contratos, dinheiro. Tudo do que fugi vinha ao meu encontro, me perseguindo a toda velocidade.
Tomei um banho refrescante e me joguei na cama, o dia havia sido estranhamente diferente dos meus dias habituais. Em seguida, peguei meu velho saxofone, que continuava pendurado na parede do que um dia foi meu quarto e refúgio, entoei uma linda canção... Adoro o som do saxofone, me acalma e me ajuda a refletir. Enquanto tocava aquela bela canção de Kenny G, meu celular começou a tocar. Olhando a tela percebi que era Brad:— Eu.— Fala, meu irmão. Tá fazendo o quê?— Desenferrujando meu velho saxofone.— Não tá a fim de uns drinques e um papo? Faz tempo que a gente não se fala direito.— Tô precisando mesmo... Aonde?— No mesmo lugar de sempre.— Daqui a meia hora te encontro lá.Logo cheguei ao local onde tantas histórias aconteceram. Era um bar que costumávamos frequentar na &e