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Por: Marli D.H.F.
Capítulo 1/Quem é Matthew?

Matthew Donovan, um homem de vinte e cinco anos de idade, nascido em Minnesota, na cidade de Saint Paul, um lugar de pessoas solícitas e simpáticas. Costumam dizer que as pessoas de lá têm um estilo “Minnesota nice” de ser. Matt é muito bonito: um metro e noventa de altura, cabelos castanhos claros, lisos e ligeiramente longos, olhos verdes, um corpo de tirar o fôlego de qualquer garota. Filho único de Giovana e Peter Donovan e, de certa forma, rico. Por que de certa forma? Como ele mesmo costumava dizer: “O dinheiro é dos meus pais, não meu!” Nunca se sentiu confortável, depois de certa idade, em usufruir de todo o conforto que tinha em sua casa, até hoje não sabe exatamente explicar o motivo disso... Tinha de tudo, mas não se sentia dono de nada.

Sempre foi rodeado de atenção enquanto era pequeno, cercado por todos os mimos, e quando adolescente, por mulheres, devido a sua beleza, status e dinheiro.

Foi criado por seu pai para usar seus instintos, jamais seus sentimentos. Durante um tempo, enquanto o fervor da adolescência ocupava toda a sua mente e seu corpo, foi até fácil... Usou muito seus instintos nessa época, teve alguns problemas por causa disso, afinal, qual garoto bonito, rico e irresponsável não tem problemas na vida? Matt teve vários, e todos relacionados ao sexo oposto.

Possuía tudo o que qualquer garoto possa sonhar, mas apesar de todo o conforto, status, dinheiro, aquilo nunca pareceu uma família de verdade. Seus pais eram distantes, brigavam o tempo todo. Viviam apenas de aparências... O motivo? Matt queria entender, mas não conseguia. Tudo parecia falso. Os sorrisos e abraços existiam apenas nas festas, jantares e reuniões na frente de outras pessoas.

A primeira vez que reconheceu sua verdadeira personalidade foi aos dezessete anos, quando encontrou uma garota que de fato gostou e por isso resolveu colocar seus instintos de lado para tentar viver um grande amor. Porém teve sua vida completamente destruída por seu pai... Ela era meiga, carinhosa, amável, desinteressada. Linda como um botão de rosa em flor. Cabelos negros, olhos azuis, boca vermelha como carmim.

Só havia um problema, que aos olhos de Matt, não representava nada, mas aos olhos da família Donovan... A garota era pobre. Ele jamais poderia se apaixonar por uma garota pobre. O nome da família, os interesses da família sempre vieram acima de tudo, e de todos. Amor não combinava com status social e dinheiro. A coitada foi praticamente arrancada da vida de Matt à força... Ela simplesmente desapareceu. E ele sofreu por meses, sem entender o motivo do sumiço de Jen — era assim que ele a chamava carinhosamente, diminutivo de Jennifer. Foi um grande e avassalador amor de colegial. Ela era bolsista na escola conceituada em que Matt estudava. Foi a primeira e a única vez que Matt amou, mesmo com sua pouca idade... Até hoje ele não sabe o que aconteceu, pois perderam completamente o contato. Apenas soube que ela perdeu a bolsa, graças a seu pai.

Começava ali uma maratona para tentar arrumar uma mulher de família rica e status social para enfiar goela abaixo de Matt. Sua família, os Donovan, donos de uma imensa metalúrgica multinacional, jamais permitiriam que seu filho se envolvesse com qualquer uma que não fosse de família tão rica quanto a deles.

E, é lógico, a revolta de Matt, fez com que ele aproveitasse de cada uma delas e depois as deixasse vendo navios.

Ninguém se importava, mas ele tinha sentimentos. Sob aquele ar de garoto sedutor havia sentimentos! Para Matt, era difícil expressá-los, afinal foi criado para não os ter, então tornou-se um pouco duro demais por isso. Mas ele os tinha, e vez ou outra acabava se engasgando com eles. Quando isso acontecia, saía sem dar satisfações, bebia, aprontava, e logo sua cara estava estampada nas colunas sociais.

Isso o incomodava demais. Não conseguir ter privacidade... Nem para descarregar sentimentos instalados na alma. Todos achavam que sua vida era fácil, mas ele sabia e sentia o peso de ser um Donovan, ou melhor, o único Donovan, o herdeiro!

Assim que completou dezoito anos, olhou para seus pais e simplesmente disse adeus. Foi um verdadeiro alvoroço.

 Matt não olhou para trás, pegou uma mochila com algumas roupas, sua moto, seu inseparável violão e partiu ao som da voz de seu pai e lágrimas de sua mãe:

— Você e essa rebeldia... Sei que vai voltar, vai viver de quê? Saiba que não lhe dou um centavo... Você vai morrer de fome, seu inútil! Nem a faculdade que eu pago você frequenta mais. Nem emprego vai arrumar... Eu te garanto! Eu, Peter Donovan, vou acabar com você! — berrava seu pai, parado à porta ao lado de sua mãe.

Nessa época, ele havia entrado na faculdade de Administração completamente contra sua vontade, pois não combinava em nada com sua personalidade. Sua vontade era fazer algo relacionado a artes, música... Suas grandes paixões.

Ele acelerou a moto e saiu pelos imponentes portões da mansão Donovan.

Enfrentaria, daquele momento em diante, todo tipo de situação constrangedora, afinal, em uma coisa seu pai tinha razão... Ele não tinha nada além do nome, que poderia lhe abrir algumas portas — mas até essas seriam fechadas, se porventura seu pai desse apenas uma palavra.

Tinha algum dinheiro guardado e seria suficiente durante algum tempo. Hospedou-se em um hotel barato, até decidir o que faria com sua vida daquele momento em diante.

Logo resolveu que faria faculdade de música, mudou-se para o alojamento da faculdade, fez amigos e começou a ter uma vida relativamente normal.

Teve muitos romances, que acabavam terminando quando as garotas associavam o nome Donovan a ele... Isso era realmente uma tortura. De certa forma, seu sobrenome acabou contribuindo para que ele usasse cada vez mais seus instintos e cada vez menos seus sentimentos.

Matt acabou se acostumando com isso. Engavetou sentimentos, aceitou o peso do nome e resolveu tocar sua vida. Arrumou um emprego em uma gravadora e acabou se envolvendo no mundo da música. Tornou-se produtor de alguns cantores famosos.

Mas, apesar de tudo, quando estava sozinho, a única coisa que sentia era um profundo vazio.

Seu mundo era agitado, mas a melhor parte de seu dia era quando pegava seu violão e tocava algumas de suas canções preferidas... Perdia-se na melodia e viajava.

Algumas vezes, via em sua mente a silhueta da doce e linda Jen... Onde estaria?

Isso sempre o incomodou. Por que ela sumiu sem falar com ele, sem um adeus, uma explicação... O que seu pai teria feito?

Já havia se passado tanto tempo...

Seu telefone celular tocou, certo dia. Ele largou o violão e os pensamentos, e atendeu.

— Eu.

— Matthew Donovan?

— Eu mesmo.

— O senhor poderia comparecer à casa de seus pais?

— Aconteceu alguma coisa?

Matt ficou confuso, passou a mão pelos cabelos, afinal, depois de sua saída, ele nunca mais voltou. Falava vez ou outra com sua mãe, mas nunca sentiu vontade de voltar para a casa que lhe fez viver uma vida tão falsa.

— Seus pais, senhor, foram assassinados.

— O quê? — Matt inquiriu com a voz travada.

Não era o melhor filho do mundo e nem o mais presente. Durante sete anos, manteve-se afastado, evitou ao máximo contato com o mundo que, a seu ver, era constituído de hipocrisia e falsidade. Mas ouvir de um estranho, pelo telefone, que seus pais haviam sido assassinados... Sentiu-se mal com a situação, chegou a sentir um peso na consciência. Mesmo com a diferença de ideologias e pensamentos, eles ainda eram seus pais. Matt puniu-se, pois uma reaproximação futura, como ele imaginava que seria quando sentisse vontade de vê-los, não seria mais possível. Uma lágrima desceu por sua face e queimou sua pele.

— Eles foram brutalmente assassinados, senhor. Precisamos que venha o mais rápido possível.

Matt desceu alguns lances de escada, sentindo o suor escorrer pela face. Passou a mão pelos cabelos, jogando-os para trás, colocou seu capacete e saiu em disparada rumo à casa que há sete anos não entrava.

Deste ponto, deixo a narração dos fatos por conta dele: o garoto rebelde, que cresceu e teve sua vida completamente transformada por acontecimentos jamais imaginados por ele, e dificilmente, por qualquer pessoa em sã consciência.

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