Levantei cedo, apesar de não ter conseguido dormir quase a noite toda. Reencontrar Jen, depois de tantos anos... Ela havia marcado minha vida, fez história na minha alma... Sei que éramos adolescentes, talvez nem tivéssemos ficado juntos, mas a pior coisa que existe, a meu ver, é nunca saber como uma história vai terminar... É como nunca saber o final de um livro que termina inesperadamente... Uma música sem as notas certas para compor a melodia... Uma música sem final. Você pode tentar imaginar o encerramento, mas nunca terá certeza de absolutamente nada... Essa era a minha história com Jen.
Tomei um banho, fiz a barba, que estava por fazer há dias, passei as mãos pelos cabelos ainda molhados e fiquei me olhando no espelho por alguns momentos, tentando encontrar o Matt de dezessete anos. Não encontrei... Eu era a mesma pessoa, mas diferente. Havia adquirido experiênc
Durante o trajeto até o hospital, tentava imaginar o que aquele idiota da van preta pretendia. É fato que foi proposital, talvez os avisos de Ramires devessem ser levados em consideração... Mas por quê? Qual era o verdadeiro motivo do assassinato de meus pais? Qual seria a história nebulosa que rondava a minha família?Sentia dores pelo corpo, mas não parecia haver nenhum osso quebrado. Os paramédicos, durante o trajeto, me apalpavam, me questionavam a respeito de lugares mais doloridos que outros. Finalmente chegamos, fui recebido por uma médica, que imediatamente me levou para a sala de tomografia.Fiz o exame: nenhum órgão havia sido lesionado, sou mesmo forte como um touro... O carro capotou tantas vezes, que ao final do trajeto, mais se parecia com uma lata de sardinhas.Depois de vários outros exames, que atestaram que meu interior estava intacto, como lembranç
Levantei cedo, o corpo ainda acusava o acidente da sexta à noite. Tomei um banho, meus ferimentos já não ardiam tanto, estava até que me recuperando rápido... Olhando para trás, poderia ter sido bem pior do que foi.Desci as escadas e logo vi Bernarda.— Bom dia, menino Matt! Como passou a noite, meu filho?— Estou bem melhor, Bernarda! Já não sinto tantas dores como ontem.— Pena que esse lindo rosto ainda carrega alguns hematomas... Tome cuidado, Matt. Contrate de volta os seguranças que trabalhavam para seu pai! São todos bons. Você não deve mais ficar andando por aí sozinho. Eu não sou surda, filho. Sei que não foi um simples acidente. Ouvi aquela moça bonita falando com seu amigo aqui embaixo ontem.— O que eles estavam falando, Bernarda?— A moça não queria muita conversa com ele, n&
Foi uma semana difícil... Helen não foi trabalhar, e, sozinho, continuei a investigação dos sócios e acionistas da metalúrgica. Não cheguei a nenhuma conclusão. Recontratei os dois seguranças que acompanhavam meu pai. Não me sentia confortável com aquela situação, mas o momento exigia cautela.Trabalhava de manhã na empresa e, à tarde, ia até a produtora. O contrato com Charlie já estava pronto, o CD demo também, estava analisando as músicas para ver quais apresentaríamos nas gravadoras.Brad e eu ficamos meio estremecidos depois do encontro dele com Helen em minha casa, mas já estava voltando tudo ao normal.Não costumo ficar dando asas para situações negativas, achei melhor não tocar mais no assunto, apesar da insistência de Brad em querer saber qual o tipo de relacionament
O silêncio dentro do carro era sepulcral... Nem eu nem Helen sabíamos o que fazer, ou como processar as informações que haviam caído sobre nós como uma bomba. Como imaginar Jen sendo minha irmã? Aquilo era surreal demais e envolvia tantas coisas... Naquele momento, sentia muita raiva de meu pai, não sabia como colocar isso para fora, estava entalado. Precisava falar, antes que me engasgasse. Imagens de momentos tão íntimos com Jen passavam pela minha cabeça... Podia ser que aquele homem estivesse mentindo?— Helen? — quebrei o silêncio sem saber exatamente o que diria.— Fala, Matt. Se é que você sabe o que dizer, porque eu sinceramente, não tenho palavras.Mais uma vez, Helen descrevia o que eu estava sentindo naquele momento.— Você consegue dimensionar esta situação?— Tô tentando... Acho q
Encarei Ramires e respondi:— Pelo que me consta, Ramires, sou eu que estou sendo perseguido e sofrendo ameaças de morte... Ontem meu carro foi baleado na porta de uma danceteria. Você não está insinuando que eu ou Helen matamos aquele inútil, está?— Conversando com sua amiga, sabendo exatamente o motivo que os levou até August, digo com todas as letras que motivo vocês tinham... Se ela for realmente herdeira da fortuna de seu pai e ele, sendo pai dela, poderia perfeitamente pedir a guarda e administrar o dinheiro da criança. Helen perderia a guarda e o direito sobre a administração do dinheiro. E tem mais: será que Helen de fato não tinha conhecimento da história toda? Onde você estava ontem por volta das onze horas da noite?— Eu estava em uma danceteria com Brad e Charlie e cercado de pessoas por todos os lados. E ainda tem o tiro no meu ca
Aquele mês foi de trabalho intenso, Helen me tratava de maneira muito profissional no escritório. Na quarta-feira, fizemos o exame de DNA, era só aguardar alguns dias para saber o resultado.Brad estava correndo com Charlie para as gravadoras, a fim de emplacar o garoto nas paradas de sucesso, e me punha a par de tudo. Geralmente à tarde, eu dava uma passada na produtora, mas nem sempre conseguia, a metalúrgica estava exigindo muito do meu tempo.Ramires estava na mesma. Durante aquele mês, não fui mais atacado nem por vans nem por tiros, continuava andando acompanhado por meus seguranças. Ninguém descobriu quem matou August, sem provas contra nós, Ramires deu um tempo e se concentrou na investigação do assassinato de meus pais, que simplesmente continuava o maior mistério de todos os tempos.Eu e Helen? Não sei exatamente o que estava acontecendo entre a gente. O que
A morte repentina de Brad na minha frente me abalou profundamente, não só pelo seu assassinato, mas também pelas últimas palavras ditas por ele a mim: “o inimigo está próximo”.Minha cabeça entrou em parafuso, o mataram para que ele não contasse nada a mim... Aquela van, a quem pertencia? Com certeza alguém conhecido de Brad... E meu também?Mais uma vez, estava providenciando um velório... Quem seria o próximo? A essa altura, já pedia que fosse o meu.Mais uma vez, me sentia muito mal com uma situação que fugia completamente ao meu controle.Enterrei meu amigo. Brad tinha muitos defeitos, mas sempre nos demos muito bem. Éramos mais que companheiros, éramos como irmãos. O irmão que eu nunca havia tido. Não foi nada fácil superar aquele momento. Se não fosse Helen estar comigo o tempo todo, ta
Ramires foi até a sala onde ficavam as gravações das câmeras de segurança acompanhado por mim e Helen. Eu queria ver exatamente tudo o que havia acontecido. Helen tremia da cabeça aos pés e não conseguia conter as lágrimas que insistiam em rolar por seu rosto. Aquilo me deixava mais desesperado. Não tínhamos a menor ideia de quem poderia ter feito aquilo, não sabíamos as intenções da pessoa que havia levado Li daquela maneira brutal. As fitas poderiam conter algo importante que ajudasse a elucidar o caso.Enquanto os peritos e os paramédicos cuidavam da cena do crime, nós olhávamos atentamente as gravações.Era possível ver perfeitamente a van preta se aproximando do portão, com a mesma luz negra que ofuscava os números e letras da placa. Vimos dois homens descerem do veículo encapuzados e vestidos com ro