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Quinze minutos depois, Hank saltou do carro, extasiado com a paisagem.
O lugar era maravilhoso! Do alto da colina podia ver um mar azul turquesa iluminado pelo azul límpido do céu, lamber com ondas de espumas brancas uma praia de areia azulada. Calculou que o tom da areia deveria ser efeito dos corais, como ocorria na praia de Pink Sands, nas Bahamas.
De frente ao mar, havia uma mulher ajoelhada, também absorta com a paisagem. Era Juliet Blair.
Alheia ao homem que a observava, Juliet levou a mão ao rosto. Enxugou uma lágrima teimosa. Não conseguia parar de pensar na conversa que tivera com Gavin.
Limpou outra lágrima. Lembrou-se do frio no estômago e do horror que as palavras lhe provocaram. Havia uma verdade tão crua naquilo, que não tinha como refutar! Não se tratava apenas dela ou da sua sobrevivência. E, sim, de dezenas de pessoas que dependiam diretam
23.− Então? Vai ou não vai me contar por que está tão pra baixo...? − Marcy perguntou, encostando o corpo na amurada do navio. Mas Hank continuava com os olhos fixos no mar e, em resposta, fez apenas uma interjeição com os ombros, como se dissesse deixa pra lá. − Já que não quer falar, pelo menos me deixe abrir o fecho pra você...!Ele se virou de costas, para que ela puxasse o fecho da roupa de mergulho. Assim que a roupa se abriu, desceu a peça emborrachada pouco abaixo da cintura.− Não acredito que você não vai mostrar o resto para as meninas! − a loira caçoou, referindo-se às estagiárias da Universidade de San Diego.− Ah, Marcy, me ajuda! − replicou azedo. − Por que não vai encher o saco do novo mergulhador?− Duane?! − ela sorriu com ironia. Colocou o
25.Hank entrou no escritório contíguo à sua suíte. Quando olhou para o fax que imprimia metros e mais metros de papel, teve vontade de sair correndo.− Meu Deus! − resmungou. − O homem enlouqueceu de vez!A única saída para aquilo era juntar as folhas, organizá-las e cumprir sua promessa: lê-las!Mas era tanto papel que precisava de uma verdadeira preparação psicológica! Voltou para a suíte, disposto a tomar uma ducha.Só depois que tomou banho, se enxugou e enrolou uma toalha de banho na cintura, foi que voltou para o escritório e se dedicou às folhas de fax.Enquanto organizava a papelada, percebeu que em meio à multidão de impressos havia um bilhete de David! E mais: escrito à mão!Seus olhos se voltaram imediatamente para aquela parte inusitada do fax. E q
27.Juliet fixou os olhos na imagem dos corais, aberta na tela de seu computador. “Concentre-se”, seu lado pragmático exigia. Precisava se concentrar no trabalho, tentar compreender por que os Blue Flower estavam desaparecendo. Precisava encontrar hipóteses e testá-las!Mas... angústia e paixão misturavam-se dentro dela, alterando seu estado de espírito, atirando-a da languidez à culpa e desta à humilhação.Um suspiro profundo escapou de sua garganta. Desistiu de se concentrar no trabalho. Deixou que os olhos vagueassem pelas estrelas, além da janela.− Não acredito que você não sinta nenhuma atração por ele! − Gavin lhe dissera naquela manhã, no Laboratório do Centro de Preservação da Vida Marinha.− É este o problema, Gav. Não vou negar
29.Apesar da reação brusca, Hank observou que ela parecia incapaz de relacionar Gavin com o sumiço dos corais! A resposta era tão óbvia e estava tão na frente dela, que parecia ridículo Juliet não perceber!− Então? Você se importa?Hank não havia entendido.− Ahn?Ela repetiu a pergunta, parada na porta da cozinha:− Eu disse que eu não tenho taças! Quero saber se você se importa!− Ah, não! É claro que não!Deixou Gavin e os corais de lado e foi até a cozinha. Quando sentou numa das cadeiras, Juliet procurou se concentrar no que fazia, evitando olhar para ele.A simples presença daquele homem na sua cozinha, tornava tudo ao redor, inclusive seus imãs de geladeira, totalmente cafona...! Ele era tão bonito, que qualquer coisa parecia horrorosa: os im&ati
31.Hank subiu ao quarto de Juliet, mas não entrou. Encostou-se no batente da porta, camisa aberta, calça desabotoada, o pau duro ressaltado através do tecido.Ela estava de braços cruzados, fitando-o fixamente. Justiça seja feita, pensou. O homem era maravilhoso! E não seria, mesmo, nenhum tormento, transar com ele. Mas aquele exemplar forjado diretamente no Olimpo, apenas a encarava. Não fazia nada. Não falava nada. E certamente permaneceria naquela porta pelo resto da vida, se ela não fizesse alguma coisa!− V-você não vem...? − balbuciou.− E você quer que eu vá...? − ele redarguiu, com a voz embargada.Juliet abaixou a cabeça. Droga! Por que ele não acabava com aquilo de uma vez?! Por que Hank tinha que ser tão... tão... bonito?!− Você quer. − ela sussu
33.Hank estacionou o jipe do outro lado do hotel. Desceu do carro e bateu a porta. Correu os olhos pela praia e se deteve nas tochas iluminando a noite. Era o luau. Tinha certeza de que Gavin Kimball estava no meio daquela gente, pouco se importando, ou até comemorando, o estrago que havia feito em sua vida!Precipitou-se para a escada de pedra. Estava determinado a arrebentar aquela cara suína e só pararia de bater quando o porco estivesse coberto de sangue!− Doutor Caruzzo! Que bom que veio ao luau!Hank estreitou os olhos. O novo mergulhador, o queridinho de Marcy, o tal Duane, havia se materializado à sua frente. E como já não gostava mesmo dele, sequer parou de andar para retrucar:− Vai se fuder, garoto!O rapaz se colocara em seu caminho! E agora prensava as mãos espalmadas em seu peito.− Calma aí, Doutor! O senhor não vai a lu
35.Quando a manhã de domingo o encontrou, Hank estava nadando seus costumeiros seis quilômetros. Tinha o coração partido e a alma em frangalhos. Mas havia encerrado a história com Juliet Blair. Era adulto e tinha vivido o suficiente para saber que as feridas cicatrizariam e um dia, quando menos esperasse, se apaixonaria de novo.De volta ao navio, descobriu que não estava disposto a passar o domingo enclausurado. A equipe estava de folga desde o sábado, porque era certo que cairiam na esbórnia durante o luau! Se quisesse, encontraria um milhão de coisas para fazer. O problema é que não queria.Não bastasse a tristeza, havia a luta titânica contra a esperança. Parte dele ansiava por um telefonema de David... ou um contato de Mac’Allister. Qualquer coisa mínima, boba, que servisse de justificativa para ir atrás de Juliet... de novo!
37.Hank subiu a colina de moto.Quando desligou o motor, olhou longamente para o bangalô de Juliet. Estava tão magoado, tão machucado, que não conseguia pensar em nada, a não ser em dar um fim na própria dor, mesmo que isso custasse a dor dela!Fez tudo o que precisou, com gestos lentos e calculados. Retirou o capacete... colocou-o no guidom da moto.... abaixou-se... olhou no retrovisor... ajeitou os cabelos... caminhou até a varanda.Quando girou a maçaneta, viu que a porta não estava trancada.− Pra quê trancar a porta, não é Doutora? − disse baixinho, com um sorriso perverso na boca. − Quem é que viria aqui te molestar...?Entrou na casa. Deteve-se no meio da sala, para ouvir os barulhos que vinham do andar de cima. Eram passos femininos, andando de um lado para o outro. Depois... silêncio. Por fim, o barulho de uma ducha.