Capítulo III

No dia seguinte, estou sentada no cubículo, a luz fluorescente iluminando as pilhas de papéis que se empilham sobre a mesa. Matt está ao meu lado, com os olhos fixos na tela do computador enquanto tentamos avançar em um arquivo designado pelo nosso gerente, Gabriel Simons. Já estamos há dias trabalhando nisso, e o prazo que nos foi dado para entregar o projeto parece apertado, quase sufocante.

— Não sei... eu realmente acho que não vamos terminar o projeto da Nova Escola a tempo — meu parceiro solta uma reclamação, passando a mão pela testa em frustração. — Vai ser quase impossível dar conta disso tudo até o final da semana.

Olho para a tela, meus dedos voando sobre o teclado enquanto tento processar as informações que ele me passou.

— Nós vamos dar um jeito — respondo, tentando manter a calma. — E pense nisso, por nossa causa, escolas e universidades gigantes vão poder dizer que estão utilizando energia renovável. Já pensou? Nosso trabalho pode mudar o futuro de muitas instituições!

Ele dá uma risada curta, ainda sem parecer convencido.

— Pois é, mas é a primeira vez que lidamos com um projeto desse tamanho. Eu já estou acostumado a trabalhar em coisas mais tranquilas, sabe? Mais... no meu ritmo.

Pisco para ele, tentando não rir da cara de pânico que ele faz.

— Não se preocupe. O Gabriel não teria dado isso para a gente se não acreditasse que conseguimos. — Tento ser otimista, passando uma mão pela pilha de papéis que ainda precisamos organizar. — Concentra, Matt! Vamos fazer isso, vai ser rápido.

Mas, como se a pressão tivesse ficado muito mais palpável no ambiente, ele suspira dramaticamente e dá um meio sorriso.

— Eu só não lido muito bem com a pressão. Seria muito melhor se você me trouxesse um café e um muffin. Não, dois muffins. — Ele diz, fazendo uma expressão de cachorrinho abandonado.

Eu quase rio, mas sou rápida para responder.

— Boa tentativa! — Digo, me levantando da cadeira e batendo levemente na mesa dele com o punho. — Vamos lá, concentre-se. Nós vamos conseguir terminar tudo isso rapidinho, eu prometo!

Naquele momento, meu celular vibra no bolso. Eu o pego, rapidamente desbloqueando a tela para ver a mensagem.

Lisa♡: "Encontre-me para um café rápido? Sem o Matt, se possível. Já faz um tempo desde que tivemos uma conversinha de mulheres."

Eu dou uma risada abafada, aceno rapidamente para o Matt, que agora está completamente focado no computador e não percebe a minha saída. Com um sorriso maroto nos lábios, deixo a sala e me encaminho rapidamente para o refeitório.

Lisa já está me esperando quando chego. Seu sorriso é todo provocante, como se soubesse que tem algo de interessante acontecendo.

— E aí, Kat? Como você está? — Ela me olha de um jeito suspeito, os olhos brilhando de curiosidade. — Tenho uma tonelada de fofocas para te contar, mas... tem algo de diferente em você. Posso sentir isso.

Eu me inclino levemente para frente, tentando parecer descontraída, mas minha mente já está dando mil voltas.

— Não, nada mudou. O que você está querendo dizer com isso? — Pergunto, tentando disfarçar o nervosismo.

Ela me encara por um instante, levantando uma sobrancelha com um sorriso maroto.

— Você não estaria escondendo um segredo de mim, estaria? O que aconteceu ontem à noite? Agora que o Matt não está por perto, pode me contar.

Ela acertou em cheio. Como ela sabe? Aquele sorriso de "eu sei de alguma coisa" me deixa inquieta, e a pressão aumenta. Eu tinha conseguido evitar todas as perguntas ontem, mas a Lisa... ah, a Lisa nunca deixa passar nada.

— Eu não posso esconder nada de você, posso? — Respiro fundo, já sabendo que não tem jeito.

— Não! — Ela responde com uma gargalhada. — Eu vi seu rosto quando você voltou de pegar sua bolsa e sabia na hora que tinha algo rolando.

Eu respiro fundo mais uma vez e, antes que eu possa me convencer a não contar, largo a verdade.

— Ok, você venceu. Encontrei um homem incrivelmente gostoso ontem... e algo aconteceu entre nós. — Digo, me sentindo um pouco desconfortável, mas também excitada com a lembrança. — Mas eu prometi não contar, então... segredo, ok? Eu ainda estou mexida, não sei o que pensar.

Eu soube que seria difícil esconder, mas, nesse momento, o simples fato de contar para ela já me faz sentir como se estivesse liberando um peso. Na verdade, estou mais do que "mexida" — estou enlouquecida com o que aconteceu. E, se eu tivesse a chance de reviver aquele beijo, faria tudo de novo, sem dúvida.

— Oh, meu Deus! Quem é ele? Eu conheço ele? — Lisa pergunta, os olhos agora saltando de curiosidade.

— Esse é o problema... eu não faço ideia! — Confesso, me sentindo meio boba.

— Sério? Isso é uma missão para mim! Eu sou a melhor investigadora que você conhece, e ninguém passa despercebido por mim. Eu conheço todo mundo aqui, ou quase. — Ela faz uma pausa, pensativa, olhando para o lado, como se estivesse montando uma lista de possíveis candidatos. — Falaremos mais sobre isso depois. Precisamos de um lugar mais... seguro. Onde as paredes não tenham ouvidos.

— Tá, mas e aí, tem alguma fofoca quente para mim? Sobre o que você quer falar? — Pergunto, já me ajeitando na cadeira, interessada.

Lisa sorri, um sorriso maroto, como se estivesse prestes a soltar uma bomba.

— É sobre o chefão. Ryan Carter. Eles abriram uma vaga para substituir a ex-assistente dele. Você não vai acreditar no número de candidatas disputando a vaga. — Ela diz, com uma risada abafada. — Estou atolada em ligações, tentando filtrar tudo, mas a coisa não para. Parece até semana de moda por aqui.

— Então é por isso que a gente não tem visto muito a Cassidy, né? — Comento, já conectando as informações.

— Exatamente! Ela anda ocupada entrevistando uma montanha de gente. Mas, até agora, nenhuma delas serve para o Carter. O que, convenhamos, é difícil de acreditar. — Ela faz uma pausa, como se estivesse escolhendo as palavras. — Hoje de manhã, apareceu uma candidata aqui com um currículo que era puro ouro. Ela era linda, engraçada, toda sorridente, e... sabe o que o Carter fez? Recusou.

— Sério? Então ele não está contratando só por aparência. — Faço uma careta, achando a situação ainda mais curiosa.

— Não, mas considerando o quanto ele é bonito, quem sabe ele não queira alguém que não o ofusque, né? — Ela dá uma risada e me lança um olhar misterioso.

— Você já conheceu o Carter pessoalmente? Como ele é? — Pergunto, tentando desvendar um pouco mais do CEO.

Ela se apoia na mesa, parecendo bem à vontade para falar sobre o assunto.

— Ah, ele é o tipo de cara que sabe o que quer. Um empresário de sucesso, sempre em reunião atrás de reunião, conferência atrás de conferência. — diz, com um sorriso travesso. — E, se eu tiver que confessar, ele tem um dos três melhores traseiros da Carter Corp. Mas, shh! Isso é segredo.

Isso me faz sorrir involuntariamente. A ideia de um CEO tão imponente ter essa... reputação, só aumenta minha curiosidade. E, claro, fico imaginando quem seriam os outros dois "concorrentes".

— Além disso, ouvi dizer que ele vai se casar em breve. E, para isso, ele resolveu abrir um novo departamento só para organizar o evento. — Ela continua, lançando um olhar ainda mais enigmático.

— Você não acha que isso tudo pode ser apenas fofoca? — Pergunto, arqueando uma sobrancelha.

— Ah, você sabe como é, sempre tem um pouco de verdade nas fofocas. De qualquer jeito, ouvi dizer que a vida amorosa do Carter tem sido tumultuada. — Ela balança a cabeça com um sorriso de quem sabe algo mais.

— Sabe, eu estou curiosa para conhecer esse cara. Mas, enquanto isso, tenho outras coisas com o que me preocupar e um monte de trabalho para terminar.

E, falando em trabalho, tenho mais tarefas do que imaginava. Mas, entre um compromisso e outro, uma questão não sai da minha cabeça: quem era o homem do elevador? Lisa, que passa o dia na recepção, deve conhecer praticamente todo mundo. Talvez, se eu descrevê-lo, ela consiga me ajudar a descobrir sua identidade.

— Você já ouviu um homem passar pela recepção com uma voz absurdamente sexy? — Pergunto, tentando soar casual.

Minha amiga arregala os olhos, visivelmente surpresa. Ela quase se engasga com o café antes de soltar uma risada incrédula.

— Kat, você tem ideia de quantos homens passam por aqui com vozes sedutoras? Uns dois terços! — Ela revira os olhos, tomando mais um gole da bebida. — Às vezes, acompanhar suas perguntas é um verdadeiro desafio. Mas, se você está falando do seu encontro misterioso, preciso de mais informações. Sem detalhes, não temos nada para trabalhar.

Abro a boca para continuar, mas, antes que consiga dizer qualquer coisa, meu celular vibra com uma mensagem de Matt.

Matt✯: "Pelo amor de Deus, volte logo! Esse arquivo não vai se finalizar sozinho!"

Sorrio ao ler o desespero dele.

— Salva pelo gongo! Matt está implorando para eu voltar e ajudá-lo a terminar o arquivo. Tenho que correr. Nos vemos hoje à noite! — Digo, já me levantando.

— Tchau! Mal posso esperar para provar seus novos pratos! Ah, e não pense que escapou... Vamos falar sobre isso de novo. Eu não vou esquecer. — Lisa avisa com um sorriso travesso.

Dou risada e aceno antes de sair, mas um leve desapontamento me acompanha. Ainda não tenho nenhuma pista concreta sobre o estranho do elevador...

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