Assim que chego ao último andar, sou recebida por um saguão espaçoso, iluminado por janelas imensas que oferecem uma vista deslumbrante da cidade. Uma fileira de portas se estende à minha frente, cada uma provavelmente levando a um escritório onde decisões importantes são tomadas.
E então, o pior acontece. Esbarro, sem querer, na diretora de Recursos Humanos. — Bom dia, Srta. Sparke — digo, tentando soar profissional. Cassidy Sparke me avalia com um olhar impassível, seus olhos percorrendo meu corpo de cima a baixo como se estivesse analisando um inseto em sua mesa de trabalho. Então, sem nem um aceno de cabeça, ela simplesmente segue em frente, me ignorando como se eu fosse invisível. Que vagabunda! Respiro fundo e volto minha atenção para o que realmente importa. O problema agora é encontrar Mark. Diante das inúmeras portas à minha frente, a ideia de ter que bater em cada uma delas é frustrante. Mas então, algo chama minha atenção. Vozes. Baixas, mas distintas. Uma delas é a de Mark. Mas a segunda... Meu coração dispara. Eu a reconheço também. Uma sensação estranha percorre minha espinha quando me aproximo da sala de onde as vozes vêm. Um perfume amadeirado preenche o ar — quente, marcante e inexplicavelmente familiar. O mesmo perfume do estranho do elevador. Meu coração acelera ainda mais. Pode ser ele. Respiro fundo e bato na porta entreaberta, sentindo a adrenalina percorrer meu corpo. — Entre. Quem é? Ao empurrar a porta, meus olhos encontram primeiro Mark. Ele está no meio de uma apresentação, seus gestos firmes e seguros enquanto explica algo em um gráfico projetado na tela. Mas não estou prestando atenção nele. Estou olhando para o homem ao seu lado. E não é quem eu esperava. Ele não é o estranho do elevador. Na verdade, é alguém que nunca vi antes na minha vida. Mas, por algum motivo, a presença dele me atinge como um raio. — Sou só eu, Katerina Martin — digo rapidamente, tentando recuperar o fôlego. — Desculpe interromper. Eu estava procurando você porque preciso das informações de contato do tesoureiro da NYU para o projeto da Nova Escola. Não queria atrapalhar. Minha voz soa mais firme do que me sinto por dentro. O homem ao lado de Mark se endireita na cadeira, como se quisesse me observar melhor. E, quando seus olhos encontram os meus, o impacto é avassalador. O ar ao nosso redor parece mudar. Sinto um frio subir pela minha espinha enquanto fico completamente cativa pelo olhar cinza que me analisa com uma intensidade absurda. Meu coração martela contra as costelas. Tento desviar o olhar, mas não consigo. Ele exala uma aura imponente, algo entre o intimidador e o intrigante. Há uma força silenciosa nele, uma presença que parece ocupar todo o espaço sem precisar dizer uma única palavra. Seus traços são marcantes, e o leve sorriso no canto dos lábios adiciona um toque de mistério perigoso. — Prazer em conhecê-la, Srta. Martin — ele diz. Sua voz. É baixa, rouca e carregada de um magnetismo difícil de ignorar. Meu rosto esquenta imediatamente, e percebo que ele sabe o efeito que está tendo sobre mim. Pior ainda: ele está se divertindo com isso. — Eu entendo — a voz de Mark me puxa de volta à realidade. — O tesoureiro não gosta particularmente de falar com ninguém além do Sr. Carter ou de mim. Ele pega um pedaço de papel e anota um número, completamente alheio à tensão elétrica no ar. — Aqui está o número dele. Ele está interessado no projeto da Nova Escola, mas é resistente a mudanças. Lembre-se de ser muito complacente, mas firme — diz Mark, seu tom sério, mas sem perder a confiança. O segundo homem, no entanto, não desvia o olhar. Seus olhos permanecem fixos em mim, como se estivesse absorvendo cada detalhe. — Muito obrigada, Mark! Vou tentar fazer com que ele entenda que todos estamos trabalhando pelo mesmo objetivo. Queremos dar a este projeto uma chance — respondo, sentindo a pressão de sua presença, mas tentando manter a compostura. — O Gabriel confia em você completamente. Eu sei que você não vai nos decepcionar — confirma, com um sorriso que parece tranquilo, mas algo na forma como ele fala me faz questionar. É impossível para mim focar completamente no que Mark está dizendo. Cada palavra dele parece se perder na minha mente, consumida pela presença imponente do homem ao meu lado. Eu sei que ele está observando cada um dos meus movimentos, cada pequeno gesto. — A julgar pela maneira como você se expressa, não tenho dúvidas de que será agradável e firme com o cara — o homem misterioso comenta, sua voz suave e profunda, como se estivesse testando minha reação. Um arrepio agradável percorre minha espinha, e algo dentro de mim se aquece. Eu sorrio, mais por instinto do que por intenção. Sua presença, enigmática e magnética, me atrai de forma irresistível, mas eu sei que preciso me concentrar no trabalho. Poderia ser ele? O estranho do elevador? O homem que causou uma tempestade em meus pensamentos desde aquele momento? Ele parece ser um colaborador importante, e, com sua posição no último andar, tudo parece indicar que sim. Seu perfume... sua voz... tudo é familiar, e um calor crescente se espalha pelo meu corpo enquanto a ideia começa a se solidificar. Minhas mãos tremem, e minhas pernas parecem frouxas como algodão. Estou enlouquecendo. A possibilidade de que ele seja o homem do elevador é quase demais para processar. Então, tento me afastar, virando os calcanhares em direção à porta. Mas, antes que eu possa sair, meus olhos caem no quadro branco no fundo da sala, e o que vejo faz meu coração parar. O menu da festa de gala de caridade está ali, claramente organizado pela Carter Corp. O que deveria ser uma exibição de bom gosto, de classe e sofisticação... Mas, então, algo salta aos meus olhos. Um problema. Um erro tão grande que me sinto compelida a falar. — Espetinhos de vieiras com Champigny Saumur tinto? Isso não está certo! Imediatamente, sinto a vergonha se espalhar pelo meu corpo. O que eu acabei de fazer? Por que diabos falei isso em voz alta? Mark parece se encolher, claramente desconcertado, mas, para minha surpresa, o estranho ao meu lado sorri. Não um sorriso qualquer, mas um sorriso enigmático, algo entre o divertimento e o desafio. — Que vinho você escolheria para as vieiras, então? — ele pergunta, a entonação de sua voz quase desafiadora, como se soubesse que eu teria algo a dizer. Sinto um calor crescente, mas não posso recuar agora. — Esse tipo de prato precisa de algo muito mais refinado. Saumur Champigny combina bem com carnes vermelhas, mas não funciona com vieiras — explico, sem hesitar. — Não sei quem montou este menu, mas seria uma pena permitir tal acompanhamento. O sorriso dele se alarga, e há algo quase divertido na expressão dele. — Incrível. Parece que hoje está marcado para ser cheio de surpresas — diz o estranho, como se estivesse satisfeito com minha resposta. — Muito bem então. Sente-se. Eu gostaria que você explicasse mais. Leviels tenta intervir, visivelmente desconfortável com a troca que acaba de ocorrer. — Sr. Carter, eu não acho que a Srta. Martin seja... — começa a falar, mas sua voz morre quando o estranho o interrompe com um gesto de mão. O QUÊ! CARTER? O RYAN CARTER? Aquele cujo o nome está lá na frente do prédio?Eu não posso acreditar que, por um segundo, achei que ele era o meu estranho do elevador!— Pelo contrário. Ela expressou uma opinião que estou ansioso para ouvir mais. Srta. Martin, por favor, sente-se conosco. — A voz de Carter é baixa e carregada de algo indecifrável, quase um convite velado.A maneira como ele pronuncia meu nome... é quase um crime. Há uma sensualidade natural em sua entonação que faz minha pele arrepiar. Meu corpo reage antes mesmo que minha mente processe.Eu realmente acabei de criticar o trabalho de Mark Leviels... e, de quebra, flertar indiretamente com o chefão?Engulo em seco e me sento, mantendo o arquivo do projeto Nova Escola firme no colo, como se fosse um escudo. Tento focar na tela à minha frente, mas não posso ignorar a presença intensa do Sr. Carter ao meu lado. Ele me observa, intrigado. Sua fragrância amadeirada invade meus sentidos novamente, e eu me pergunto que tipo de feitiço esse homem carrega consigo.Preciso me recompor. Se quero manter meu
Chego à minha mesa com o coração acelerado, ainda processando tudo o que acabou de acontecer. A adrenalina pulsa em minhas veias, e a única coisa que consigo pensar é: eu preciso contar isso para alguém!Sento-me apressadamente e abro o bate-papo em grupo com Lisa e Matt. Meus dedos voam pelo teclado."Eu tenho uma coisa louca para contar!!!"A resposta vem quase instantaneamente.Lisa♡: "ME CONTA TUDO! QUERO SABER!""Aqui não! Quero contar pessoalmente!"Lisa♡: "Ok! Conselho de guerra no refeitório! Matt está com você?""Não sei onde ele está..., mas não importa! Eu PRECISO te contar isso agora!"Lisa♡: "Ok, vejo você em um minuto!"Levanto-me de um salto, pego minha pasta e sigo para o elevador. Meu corpo ainda está em alerta, como se tentasse se recuperar da tensão daquele encontro. Quando a porta do elevador se abre, dou de cara com Mark.Ele me olha surpreso, mas logo seu rosto assume uma expressão mais neutra.— Você de novo? Na verdade, eu queria falar com você. — Ele diz, incl
— Intenso como? — Minha amiga estreita os olhos, com um sorriso sugestivo.— Sei lá, foi… eletrizante. Tipo… quando você encosta em algo e sente um choque leve, mas que percorre seu corpo inteiro. — Tento explicar, mas a verdade é que nem eu mesma consigo entender completamente.Matt estala a língua e sacode a cabeça.— Ah, entendi. Então o cara é um eletricista agora.Reviro os olhos, jogando um guardanapo nele.— Eu duvido que ele faria alguma coisa por você, Matt.— Mas um eletricista desses pode vir me ligar a qualquer hora. — A loira pisca, segurando o riso.Caímos na gargalhada, e Matt faz uma careta exagerada.— Eu tenho tantas imagens na minha cabeça agora… e nenhuma delas é apropriada.Lisa ainda ri, mas então sua expressão muda repentinamente.— Peraí! Você tem noção do que aconteceu? Você conheceu Ryan Carter! Ele é o solteiro bilionário mais cobiçado de Nova York! Eu quase nunca vejo ele na recepção.Ela bate palmas animada, claramente empolgada.— Ah! E falando no Carter…
Por um instante, sinto meu corpo congelar. A vergonha ameaça me engolir inteira.Se vou ser pega procurando informações sobre meu CEO gostoso, pelo menos não vou negar.Levanto o olhar, endireito os ombros e dou de ombros.— Eu te disse. Estou investindo no meu trabalho.Silêncio.E então…O sorrisinho discreto de Ryan Carter se expande um pouco mais, como se ele estivesse se divertindo com isso.Meu Deus.— Espero que tenha gostado do que viu. Mas eu tomaria cuidado com essas revistas de fofocas. — Carter comenta sua voz carregada de ironia e um leve sorriso no canto dos lábios.O tom descontraído dele me pega de surpresa. Ele realmente não parece incomodado com o fato de que eu estava, tecnicamente, lendo fofocas sobre ele.Cruzo os braços e levanto o queixo, tentando parecer inabalável.— Depois de conhecê-lo, achei que seria interessante saber mais sobre você. — Digo, mantendo meu tom profissional. — É importante conhecer quem está acima de nós na hierarquia. Quem está no topo.Ma
Caminho direto para a sala de Gabriel, sentindo a tensão aumentar a cada passo. Assim que entro, encontro meu gerente esperando por mim, impaciente. Ele se levanta no instante em que me vê, como se estivesse prestes a vir atrás de mim caso eu demorasse mais alguns segundos.Ótimo. Isso definitivamente não parece bom.— Katerina, obrigado por vir tão rápido. — Gabriel me cumprimenta com um aceno de cabeça. — Tenho algumas informações importantes para compartilhar com você.Ele aponta para a cadeira à sua frente.— Sente-se. O Mark deve estar chegando a qualquer momento.Obedeço, cruzando as pernas e tentando parecer mais calma do que realmente estou.— Certo… por onde começamos? — pergunto.Gabriel respira fundo, como se estivesse organizando os pensamentos antes de falar.— Primeiro, eu revisei sua apresentação e sua análise final sobre o projeto da Nova Escola. Também dei uma olhada no evento de caridade que você propôs. E tenho boas e más notícias.Cruzo os braços, tentando decifrar
No elevador, meu coração bate como se eu estivesse indo para um interrogatório do FBI. Isso é loucura. Absolutamente insano. Com certeza alguém cometeu um erro grave, e eu estou prestes a ser a mensageira azarada que terá que corrigir isso.Assim que as portas se abrem no andar do Sr. Carter, eu saio decidida. Melhor resolver esse mal-entendido o quanto antes, antes que percebam que confiaram na pessoa errada para esse cargo.Meus olhos encontram uma secretária sentada atrás de uma mesa impecável. Não é a mesma sirigaita que vi outro dia, mas a energia de "não estou aqui para ser simpática" é praticamente a mesma. Ela digita furiosamente no teclado, com a postura de quem está resolvendo algo muito mais importante do que qualquer coisa que eu tenha a dizer.Pelo jeito, no setor executivo, até as recepcionistas precisam exalar superioridade.— Bom dia… com licença… eu gostaria de falar com o Sr. Carter. — digo, tentando soar profissional, mas provavelmente parecendo uma estagiária perdi
Eu fico alucinada com a confiança dele. Ele fala como se estivesse me oferecendo um bilhete dourado para um mundo exclusivo e inalcançável.— Faça um teste de um dia. — Ele continua. — Te dou até esta noite para decidir.O encaro por um momento, avaliando minhas opções. Eu adoraria olhá-lo de cima, mas ele tem, no mínimo, uma cabeça a mais que eu. Péssimo para minha tentativa de superioridade.— Certo. Um dia. — digo, tentando soar indiferente.— Ótimo. Vou te enviar as primeiras tarefas por e-mail.— Por que agora? — arqueio uma sobrancelha. — Depois de tudo, eu só tenho algumas horas para decidir.Ele sorri de lado, e eu sei que deveria virar as costas e jogar esse "teste de um dia" bem na cara dele. Mas é mais forte do que eu.Eu amo desafios. E, se me lançam um, sou incapaz de recuar… mesmo que todas as probabilidades estejam contra mim.— Ligue para o escritório do Henri e agende o encontro de quinta-feira. — Ele dispara, sem nem piscar. — Reenvie o contrato da Parkson para revis
Eu e Lisa nos encontramos para almoçar no nosso restaurante de sempre. Quando entro, a vejo já sentada, rindo sozinha enquanto olha para o celular.— Oi, Lisa.— Oi, lindona! — ela responde sem tirar os olhos da tela.Eu estreito os olhos para ela.— Alguma coisa engraçada?— Só um meme... Mas vamos ao que interessa. O que é essa coisa tão importante que você queria me contar?Respiro fundo, sentindo a realidade do que aconteceu ainda se assentar na minha cabeça.— É uma coisa meio surreal... Você lembra do meu "pequeno incidente" com o Big Boss? Aquela história que acabou me levando a trabalhar no menu da festa do Mark?— Aham...? — Ela me olha com mais atenção.— Pois bem... Hoje de manhã, o Mark me chamou e me disse que eu ia mudar de cargo.— Como assim?!— Pois é. O senhor Carter decidiu que quer que eu seja sua nova assistente.Os olhos de Lisa se arregalam como se eu tivesse acabado de dizer que fui convocada para um reality show.— Espera... O Ryan Carter quer você como assist