Capítulo V

Assim que chego ao último andar, sou recebida por um saguão espaçoso, iluminado por janelas imensas que oferecem uma vista deslumbrante da cidade. Uma fileira de portas se estende à minha frente, cada uma provavelmente levando a um escritório onde decisões importantes são tomadas.

E então, o pior acontece.

Esbarro, sem querer, na diretora de Recursos Humanos.

— Bom dia, Srta. Sparke — digo, tentando soar profissional.

Cassidy Sparke me avalia com um olhar impassível, seus olhos percorrendo meu corpo de cima a baixo como se estivesse analisando um inseto em sua mesa de trabalho. Então, sem nem um aceno de cabeça, ela simplesmente segue em frente, me ignorando como se eu fosse invisível.

Que vagabunda!

Respiro fundo e volto minha atenção para o que realmente importa. O problema agora é encontrar Mark. Diante das inúmeras portas à minha frente, a ideia de ter que bater em cada uma delas é frustrante. Mas então, algo chama minha atenção.

Vozes. Baixas, mas distintas.

Uma delas é a de Mark. Mas a segunda... Meu coração dispara. Eu a reconheço também. Uma sensação estranha percorre minha espinha quando me aproximo da sala de onde as vozes vêm. Um perfume amadeirado preenche o ar — quente, marcante e inexplicavelmente familiar. O mesmo perfume do estranho do elevador.

Meu coração acelera ainda mais. Pode ser ele.

Respiro fundo e bato na porta entreaberta, sentindo a adrenalina percorrer meu corpo.

— Entre. Quem é?

Ao empurrar a porta, meus olhos encontram primeiro Mark. Ele está no meio de uma apresentação, seus gestos firmes e seguros enquanto explica algo em um gráfico projetado na tela. Mas não estou prestando atenção nele.

Estou olhando para o homem ao seu lado.

E não é quem eu esperava.

Ele não é o estranho do elevador. Na verdade, é alguém que nunca vi antes na minha vida. Mas, por algum motivo, a presença dele me atinge como um raio.

— Sou só eu, Katerina Martin — digo rapidamente, tentando recuperar o fôlego. — Desculpe interromper. Eu estava procurando você porque preciso das informações de contato do tesoureiro da NYU para o projeto da Nova Escola. Não queria atrapalhar.

Minha voz soa mais firme do que me sinto por dentro.

O homem ao lado de Mark se endireita na cadeira, como se quisesse me observar melhor. E, quando seus olhos encontram os meus, o impacto é avassalador.

O ar ao nosso redor parece mudar.

Sinto um frio subir pela minha espinha enquanto fico completamente cativa pelo olhar cinza que me analisa com uma intensidade absurda. Meu coração martela contra as costelas. Tento desviar o olhar, mas não consigo.

Ele exala uma aura imponente, algo entre o intimidador e o intrigante. Há uma força silenciosa nele, uma presença que parece ocupar todo o espaço sem precisar dizer uma única palavra. Seus traços são marcantes, e o leve sorriso no canto dos lábios adiciona um toque de mistério perigoso.

— Prazer em conhecê-la, Srta. Martin — ele diz.

Sua voz.

É baixa, rouca e carregada de um magnetismo difícil de ignorar. Meu rosto esquenta imediatamente, e percebo que ele sabe o efeito que está tendo sobre mim. Pior ainda: ele está se divertindo com isso.

— Eu entendo — a voz de Mark me puxa de volta à realidade. — O tesoureiro não gosta particularmente de falar com ninguém além do Sr. Carter ou de mim.

Ele pega um pedaço de papel e anota um número, completamente alheio à tensão elétrica no ar.

— Aqui está o número dele. Ele está interessado no projeto da Nova Escola, mas é resistente a mudanças. Lembre-se de ser muito complacente, mas firme — diz Mark, seu tom sério, mas sem perder a confiança.

O segundo homem, no entanto, não desvia o olhar. Seus olhos permanecem fixos em mim, como se estivesse absorvendo cada detalhe.

— Muito obrigada, Mark! Vou tentar fazer com que ele entenda que todos estamos trabalhando pelo mesmo objetivo. Queremos dar a este projeto uma chance — respondo, sentindo a pressão de sua presença, mas tentando manter a compostura.

— O Gabriel confia em você completamente. Eu sei que você não vai nos decepcionar — confirma, com um sorriso que parece tranquilo, mas algo na forma como ele fala me faz questionar.

É impossível para mim focar completamente no que Mark está dizendo. Cada palavra dele parece se perder na minha mente, consumida pela presença imponente do homem ao meu lado. Eu sei que ele está observando cada um dos meus movimentos, cada pequeno gesto.

— A julgar pela maneira como você se expressa, não tenho dúvidas de que será agradável e firme com o cara — o homem misterioso comenta, sua voz suave e profunda, como se estivesse testando minha reação.

Um arrepio agradável percorre minha espinha, e algo dentro de mim se aquece. Eu sorrio, mais por instinto do que por intenção. Sua presença, enigmática e magnética, me atrai de forma irresistível, mas eu sei que preciso me concentrar no trabalho.

Poderia ser ele? O estranho do elevador? O homem que causou uma tempestade em meus pensamentos desde aquele momento? Ele parece ser um colaborador importante, e, com sua posição no último andar, tudo parece indicar que sim. Seu perfume... sua voz... tudo é familiar, e um calor crescente se espalha pelo meu corpo enquanto a ideia começa a se solidificar.

Minhas mãos tremem, e minhas pernas parecem frouxas como algodão. Estou enlouquecendo. A possibilidade de que ele seja o homem do elevador é quase demais para processar. Então, tento me afastar, virando os calcanhares em direção à porta. Mas, antes que eu possa sair, meus olhos caem no quadro branco no fundo da sala, e o que vejo faz meu coração parar.

O menu da festa de gala de caridade está ali, claramente organizado pela Carter Corp. O que deveria ser uma exibição de bom gosto, de classe e sofisticação... Mas, então, algo salta aos meus olhos. Um problema. Um erro tão grande que me sinto compelida a falar.

— Espetinhos de vieiras com Champigny Saumur tinto? Isso não está certo!

Imediatamente, sinto a vergonha se espalhar pelo meu corpo. O que eu acabei de fazer? Por que diabos falei isso em voz alta?

Mark parece se encolher, claramente desconcertado, mas, para minha surpresa, o estranho ao meu lado sorri. Não um sorriso qualquer, mas um sorriso enigmático, algo entre o divertimento e o desafio.

— Que vinho você escolheria para as vieiras, então? — ele pergunta, a entonação de sua voz quase desafiadora, como se soubesse que eu teria algo a dizer.

Sinto um calor crescente, mas não posso recuar agora.

— Esse tipo de prato precisa de algo muito mais refinado. Saumur Champigny combina bem com carnes vermelhas, mas não funciona com vieiras — explico, sem hesitar. — Não sei quem montou este menu, mas seria uma pena permitir tal acompanhamento.

O sorriso dele se alarga, e há algo quase divertido na expressão dele.

— Incrível. Parece que hoje está marcado para ser cheio de surpresas — diz o estranho, como se estivesse satisfeito com minha resposta. — Muito bem então. Sente-se. Eu gostaria que você explicasse mais.

Leviels tenta intervir, visivelmente desconfortável com a troca que acaba de ocorrer.

— Sr. Carter, eu não acho que a Srta. Martin seja... — começa a falar, mas sua voz morre quando o estranho o interrompe com um gesto de mão.

O QUÊ! CARTER? O RYAN CARTER? Aquele cujo o nome está lá na frente do prédio?

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